Monday, September 27, 2010

Mais motivada e mais feliz

Depois da consulta da semana passada que culminou com a minha mudança de secção da Fruta para a Padaria, uma nova vida surgiu para mim no interior do meu local de trabalho.

Alturas houve ao longo destes seis meses em que me senti fortemente desmotivada, só não desistindo por consideração às pessoas que depositaram grandes esperanças em mim e porque as portas da empresa teriam sempre de ficar abertas para a eventualidade de outra pessoa deficiente visual vir a ser ali integrada. Se assim não fosse, teria desistido na hora.

Ponderei fortemente não renovar o meu vínculo mas havia grande vontade das pessoas em querer que eu continuasse. Fiquei sem saber o que fazer, embora a minha vontade fosse não continuar. Havia problemas demais e havia um desgaste psicológico enorme que me estava a deixar esgotada.

Com a mudança de posto de trabalho, parte dos problemas que eu sentia passaram a fazer parte do passado. Esta mudança deveria ter sido feita logo de início, uma vez que as funções desempenhadas no meu actual posto de trabalho são mais adequadas a deficientes visuais. Tenho vários amigos meus que também trabalham em supermercados e todos estão a embalar pão que é o que eu faço agora e sempre foi o que gostei mais de fazer. Mas as coisas desenvolveram-se de outra maneira e eu senti que para ficar teria de enveredar por outro caminho, por mais tortuoso e arriscado que fosse. Assim cumpri o meu primeiro contrato na Fruta sujeita a toda a espécie de riscos e mais exposta às quase intransponíveis barreiras mentais das pessoas.

Muitas vezes a frustração era bem evidente. Interrompiam o que eu estava a fazer para me pedir ajuda, eu não podia ajudar, muitas vezes as pessoas não compreendiam e tratavam-me mal e eu deixava de fazer o meu trabalho. Raro era o dia em que saía com a sensação de dever cumprido. Não por que eu não me esforçasse e não desse o máximo. Era a sensação de impotência. Gostaria de poder ajudar mas as minhas limitações não me permitiam. Aliado ao facto de ainda sermos encarados de uma forma não muito positiva pela sociedade, todos estes factos contribuíam para que não me sentisse bem e questionasse a cada dia que passava o que andaria ali a fazer.

Agora raramente estou em contacto com as pessoas. Ainda estou mas na maior parte do tempo estou nos bastidores, por assim dizer, a embalar o pão. Faço o meu trabalho tranquilamente sem ninguém que me perturbe e isso nota-se no meu rendimento. Tenho terminado as minhas tarefas a tempo e horas. Como é bom sair e deixar tudo feito! É mesmo motivante. Muitas vezes acabo o meu trabalho e ainda tenho tempo de ajudar as minhas colegas a desempenhar outras tarefas, na medida das minhas possibilidades.

Por tudo isto, pode-se dizer que ganhei uma nova vida, um novo alento. Em suma, voltei a sorrir, algo que há uns meses atrás julgava impossível.

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