Thursday, June 30, 2022

“Infiel” (impressões pessoais)

 

Agora uma biografia de uma política e ativista somali dos direitos das mulheres, especialmente das mulheres muçulmanas.

 

Em 2007 tive oportunidade de fazer um curso de verão na cidade de Utrecht na Holanda e  tivemos uma aula só de política. Nessa ocasião foram abordados estes acontecimentos que estão retratados neste livro, nomeadamente os assassinatos de pim Fortuyn e de Theo Van  Gogh. Na altura não sabia que a causa direta destes assassinatos tinha sido a autora deste livro. Pelo menos não fiquei a perceber.

 

Trata-se de uma mulher de coragem, sem medo de dizer o que pensa, mesmo que tais pensamentos sejam arrojados e por vezes perigosos para ela e para quem a rodeia.

 

É incrível o que ela passou para chegar até ali. O que passam muitas mulheres e crianças em países africanos. A desumanidade que é a mutilação genital feminina que ainda hoje se pratica no meio de comunidades africanas que nem o facto de viverem em países ocidentais que condenam tal prática se desencoraja de fazer. Um autêntico atentado à condição humana, especialmente à condição de mulher.

 

Haja mais vozes como estas, sem medo de abalar os alicerces de uma cultura instituída e o Mundo será seguramente melhor.

 

Wednesday, June 29, 2022

Por metade de uma broa pequena

 

Ninguém me atendia e eu desesperava.

 

Sonhei que tinha ido a uma caminhada. Havia uma estrada por cima do sítio onde estávamos a caminhar com um acesso somente feito por umac orda que tínhamos de trepar segurando em cada um dos lados.

 

Para não cairmos, tínhamos de agarrar com toda a força ao que restava da estrada que ameaçava ruir também. Vejam só a minha situação. Sem ver e a sujeitar-me a este tipo de coisas que só acontecem em sonho.

 

Quando me disseram que para ir buscar pão ou broa tinha de subir a essa frágil corda e que me tinha de agarrar á ponta da estrada, nem queria acreditar e ninguém se disponibilizou para ir buscar metade de uma pequena broa a uma padaria que havia do outro lado dessa estranha rua.

 

Lá tive eu de me içar  para a estrada e ali ficar pendurada a balançar perigosamente, tendo o vazio á minha espera.

 

As outras pessoas também estavam assim penduradas mas rapidamente eram atendidas e mais rapidamente desciam.

 

No entanto, eu via atenderem toda a gente e eu a ficar para trás. Tinha as mãos cansadas e dormentes de segurar a estrada. Sentia a sedimentação nas minhas mãos. E se a rocha  se desprendesse?

 

Eu já chorava á medida que o cansaço se apoderava de mim. Estava quase a anoitecer e eu ainda ali pendurada. Estava mesmo desesperada.

 

Por fimo alguém sugeriu que eu descesse antes que ficasse mais escuro e que eu ficasse mais cansada de estar ali naquele equilíbrio precário.

 

Tinha também medo de descer. Aliado ao cansaço e á escuridão, seria uma mistura explosiva. O abismo lá em baixo ameaçava receber-me de braços abertos.

 

Quando cheguei á estrada em baixo, suspirei de alívio. Nada me tinha acontecido. Ia secando as lágrimas.

 

Por fim, alguém me trouxe metade de uma pequena broa. Eu tinha pedido metade porque julgava que erambroas grandes.  Lá tive eu de me contentar com esta parca refeição.

 

A jornada onírica também chegou ao fim.

 

Tuesday, June 28, 2022

“Sinal De GPS Perdido” (impressões pessoais)

 

Continuamos com autores portugueses, mas um género muito diferente.

 

Sinceramente, adoro ler literatura de viagens. Viajar também seria um dos meus sonhos, caso me fosse possível. Agora, que eu deixei completamente de distinguir sobretudo as paisagens, esse sonho adormeceu completamente.

 

Quando vou a um local ainda tiro fotos de algumas paisagens mas preciso de perguntar a alguém o que ali está. Muitas vezes fiz caminhadas onde se subiu arduamente e no final todo aquele esforço valeu a pena. A paisagem era simplesmente arrebatadora. Tudo isso ocorreu sem sair de Portugal. Imagine-se se tivesse tido a oportunidade de conhecer locais descritos neste livro de crónicas.

 

Felizmente existe alguém como Gonçalo Cadilhe para nos descrever os sítios por onde vai passando. É uma forma de sonharmos acordados. Nós, que não temos possibilidade de viajar. Eu, que enquanto leio o livro pedalo no mesmo lugar e imagino que o faço nas montanhas mais desafiadoras da Bolívia ou do Peru.

 

Leitura aprazível, sem dúvida.