Saturday, July 31, 2010

Some photos of buses









Enquanto repunha melão…



Lembrei-me desta música.

Dormir até tarde, sinal de muita actividade onírica

Que bom! Uma folga para poder descansar um pouco de uma árdua semana de trabalho e dormir até muito mais tarde.

E como é que se recarregam energias? Despejando o subconsciente de tudo o que foi acumulando durante toda a semana.

Já lá vão alguns dias desde o episódio do contentor do lixo que cheirava a podre, mesmo assim o meu subconsciente guardou essa informação até hoje.

Cheguei ao meu quarto depois de vir de férias (por acaso as férias são só para a semana) e havia um cheiro intenso a podre no ar. Mas haveria por aqui ratos e colocaram-lhes veneno para eles morrerem? É que não estamos em minha casa onde isso acontece por ser muito perto dos pinhais. Os roedores morrem envenenados e temos depois de os procurar quando já tresandam a podre.

Comecei a vasculhar para ver de onde vinha aquele péssimo odor que já me estava a incomodar. Desconfiava que era do caixote do lixo (até nem aqui tenho nenhum na realidade) e coloquei-o fora da porta do meu quarto. Se isto não fosse um sonho, a atitude mais sensata seria ir logo ao contentor despejá-lo, fossem que horas fossem da noite. Não, nos sonhos quando o lixo cheira mal simplesmente se deixa no corredor. Ainda bem que não vivemos no mundo dos sonhos! Se para algumas coisas até seria bom, para outras nem por isso. Pesando os prós e os contras de se viver no mundo onírico, venceram os contras e situações como esta seriam desaconselháveis acontecerem a todo o instante. Já viram o que seria se toda a gente deixasse o lixo à porta dos quartos a apodrecer?

Sem o lixo dentro do quarto, já se respirava outro ar mas voltei outra vez a recolher o caixote para dentro do quarto. Ora aí está uma atitude extremamente masoquista da minha parte. Dormir com aquele fedor devia ser agradável, não? Claro que não. Aquilo cheirava cada vez mais mal e era cada vez mais insuportável de respirar. Até parece que o escasso tempo que esteve no corredor fez com que o que lá estava apodrecesse mais um pouco.

Perguntei o que tinham colocado no lixo e foi-me dito que, enquanto eu passava férias, estiveram por ali duas ou três pessoas (a dormir num quarto individual?). Uma delas, por acaso uma criança, sentiu-se mal, indo mesmo para o hospital. Terá, alegadamente vomitado para o caixote do lixo. E andava assim tão podre? Então estava perdida! Esperem…não seria o mesmo protagonista do outro sonho de há dias atrás que ficou incompleto e eu nem sei como acabou? (ver texto “A carninha estava estragada”) Sendo esse, não me admirava nada. A carne que estava a comer já não estava boa…

Comecei a investigar arduamente o que aconteceu. Enquanto isso…

Passemos a coisas mais divertidas. De facto foi muito divertido, pelo menos a figura que eu fiz. Fui seleccionada para participar nesta nova versão do “Quem Quer Ser Milionário”. Já me passou pela cabeça inscrever-me. Não perdia nada em o fazer. Até penso que, tal como está agora feito, sem se ter de carregar em botões, até está acessível a deficientes visuais. Não sei é como é que agora dá para inscrever. Até seria giro testar a minha vasta cultura geral que eu apregoo aos sete ventos que tenho e toda a gente concorda comigo. Só que ali fazem perguntas tão difíceis que nem ao Diabo lembra.

Quando fui chamada a ocupar o lugar de um outro concorrente na cadeira, dirigi-me a Malato aos saltos e a rir-me imenso. Parecia um bobo da corte e toda a plateia se ria de mim. Foi-me feita uma pergunta que eu, alegadamente, até sabia mas estava eufórica demais para responder correctamente. Claro que errei e os meus quinze segundos de fama não foram mais do que isso. Assim saí do concurso sem honra, nem glória.

Ao ver a triste figura que fiz dias mais tarde, senti imensa vergonha de ter ido para lá fazer figuras tristes.
.
Acordei. Era quase meio-dia.

Friday, July 30, 2010

Por vezes nem acho adjectivos para me qualificar

Esta é mais uma das minhas rocambolescas aventuras que por vezes acontecem com esta desprezível criatura que sou eu.

Aos sábados faço os possíveis e os impossíveis para me despachar e sair a horas decentes. Sei que não há tantos autocarros como nos dias úteis e, para chegar a casa a horas decentes, lá tenho de correr um pouco. Há dias em que vou para a paragem do autocarro com as mãos por lavar, tal é a correria.

Até me despachei. Cheguei à paragem cedo e pousei as coisas que trazia no banco da paragem. Detesto vir assim carregada mas nem tudo me cabia na mochila. Com toda esta confusão nem me lembrei se tinha arrumado ou não o meu casaco.

Quando o autocarro chegou eu entrei. Quando me ia a acomodar e a acomodar também a minha tralha vi que não trazia o casaco. Entretanto o autocarro já tinha começado a andar e havia um passageiro com problemas em picar o bilhete.

O condutor ia a falar ao telemóvel, provavelmente porque a máquina de picar os bilhetes estava com alguma avaria. Eu tive de berrar para que o condutor me deixasse sair para voltar para trás e recuperar o meu casaco.

Lá tive eu de voltar atrás a correr. Vendo o banco da paragem vazio, logo fiquei desapontada. Esta história não teria piada se eu, apoiando a mochila no banco vazio da paragem e abrindo-a não tivesse constatado que afinal o casaco estava bem enroscado lá dentro.

Com toda esta história, já tive de vir a pé até lá abaixo depois de um esgotante dia de trabalho, que até me consolei. Escusado será dizer que estive uma eternidade à espera de autocarro. Bem feita!

Para além de ter vindo a pé e de ter esperado imenso pelo autocarro, quando poderia ir tranquila e ordeiramente para casa, ainda tive de aturar alguns passageiros.

E cheguei finalmente a casa, mesmo à hora do jogo de apresentação do Benfica começar.

Multas para quem não cuida da higiene pessoal

Caros Políticos,

Venho por este meio informar Vossas Excelências de que me ocorreu uma ideia brilhante para acabar com a crise em Portugal. Sei que Vossas Excelências passam os dias a discutir arduamente na Assembleia da República sem chegar a nenhuma conclusão viável para resolver o problema do Défice.

Acredito que não seja fácil inventar novos impostos e tentar conseguir outras receitas extraordinárias para aumentar a entrada de milhões de euros em falta nas Vossas Finanças. Aumentam-se os impostos, congelam-se os salários, cobram-se portagens nas auto-estradas de utilização gratuita e inventam-se formas de os cidadãos não se esquivarem a esse pagamento.

A minha ideia é mais abrangente. Quantos cidadãos usarão aquelas auto-estradas? Quantos se irão desviar delas, mesmo que tenham de fazer um grande desvio só para não pagarem a portagem? É por isso que tenho dado voltas e mais voltas a pensar numa solução mais eficaz. Como cidadã preocupada com o que se passa no meu País tenho esse direito.

Sou uma modesta operária que lida com imensa gente. Quem sai pouco à rua e se cinge apenas á Assembleia da República com Vossas Excelências, certamente não repara naquilo que passo a apresentar de seguida.

Todos os dias constato que há uma quantidade enorme de cidadãos nacionais que me aparecem à frente com um total desleixo pela sua higiene pessoal mais elementar. Chego a pensar se essas pessoas se sentem bem assim. Agora que estamos em plena época de Verão, torna-se quase impossível estar a conviver com algumas pessoas num raio de dois metros. Chegam mesmo a causar mal-estar físico.

O que eu venho propor é muito simples- a cobrança de multa a quem frequente um local público e o ande a infestar com o seu mau odor corporal. Eu garanto que se fariam por dia largas centenas de milhar de euros. Acreditem.

Já que queriam recorrer á tecnologia dos chips para as portagens, para que esta ideia vingue, também há que recorrer a sofisticados instrumentos tecnológicos. Assim, à entrada de qualquer estabelecimento haveria um pequeno aparelho que poderia ser chamado simplesmente de medidor odorífero. Tal como acontece com o medidor de decibéis ou até com o medidor de alcoolemia, este instrumento teria também uma escala. Quanto maior fosse o valor apresentado nessa escala, maior seria a coima aplicada ao cidadão infractor.

Com esta medida, além de se produzir uma receita extraordinária para o Estado, também se estaria a contribuir para um melhor ambiente e uma convivência mais saudável entre os cidadãos. Acreditem, é quase impossível travar qualquer tipo de relação com alguém que não prima pelo cuidado com a higiene pessoal. Havendo muita gente que, apesar de haver sanções pecuniárias para quem não toma banho ou não muda de roupa, continua a não ter hábito de higiene, em pouco tempo Portugal deixaria de figurar nas agências de rating americanas como um país à beira da falência.

Sem mais, fico a aguardar ansiosamente a Vossa leitura a este post do meu blog e a aguardar por reacções da Vossa parte.

Atenciosamente:
(Assinatura ilegível e feita à pressa)

É duro ser-se famoso

Elvis Presley já morreu há trinta e três anos, salvo erro, e hoje ainda é uma lenda viva com fanáticos a perderem a cabeça e a darem todo o dinheiro e mais algum por objectos que lhe pertenciam.

A loucura agora chegou ao extremo de se vir leiloar brevemente um kit (esta palavra está muito na moda) com objectos usados na sua autópsia. Esta gente está doida mesmo!

Quando ouvi a notícia esta manhã na rádio pensei: mas esta gente está mesmo perdida de todo! Quem é a alminha que vai comprar estas coisas, degladiar-se num leilão bastante concorrido para as poder ter? Um louco? Não, apenas um dos muitos fanáticos do cantor norte-americano.

Eu até desconhecia que Elvis tenha sido autopsiado, talvez por sempre ter ouvido dizer que havia dúvidas quanto à sua morte. Defendia-se que Elvis a forjou. Para fugir ao fanatismo tresloucado da multidão que não o largava?

Era ainda um bebe quando Elvis Presley morreu. Obviamente não cheguei a conhecer o impacto que tinha sobre os seus admiradores em todo o Mundo. Pelo que me contam e pelo que eu depreendo, a sua fama era imensa e talvez na época não houvesse outra personalidade com mais impacto na sociedade. Comparando com alguém dos dias de hoje, talvez Michael Jackson que faleceu há um ano atrás se aproximasse. Como digo, não consigo medir a influência e a fama de Elvis Presley.

Tantos anos passados sobre a sua morte (confirma-se que ele morreu, até a etiqueta que identificava o seu cadáver vai a leilão), a loucura em redor do “Rei” ainda ganha dimensões ridículas. Há uns anos ouvi dizer isso, já é normal que um copo com um resto de água por onde Elvis bebeu no final de um concerto foi vendido por um balúrdio. Tanta gente a passar fome e a água de Elvis a valer o seu peso em ouro!

Leiloaram-se guitarras (isso já é mais normal), as suas roupas (desde que não fossem cuecas sujas, também não havia nada a dizer) e alguns objectos pessoais. Leiloar o material usado no tratamento dos restos mortais de Elvis é que não cabe na cabeça de ninguém. Só na de quem teve a ideia de os guardar e fazer bom dinheiro com eles. Enfim, é mesmo dura a fama!

Agora eu pergunto: e se o cadáver não era realmente de Elvis Presley? E se ele realmente forjou a sua morte para se livrar da perseguição de fanáticos e vive agora como um normal cidadão numa ilha deserta, como defendem alguns? Isso é que ia ser uma barraca! Eu adorava ver Elvis (a menos que ele esteja também a ganhar à custa dos leilões) a marcar presença naquele evento. Estaria velho, pouca gente o reconheceria mas…vinha dizer que aquilo era o último grito da loucura e que para tudo havia limites.

Se realmente Elvis morreu, há que deixar a alma do pobre homem descansar em paz. Contentem-se em ouvir a vasta obra musical que ele nos deixou e esqueça-se todo este circo.

Estou eu para aqui a escrever e só agora me ocorreu a pergunta que se impõe: de que morreu realmente Elvis Presley? Não sei se alguma vez soube essa informação. Sei que ele morreu em Agosto de 1977. O dia não sei precisar.

Para acabarmos com esta crónica bem mórbida, recordemos Elvis Presley com a minha música favorita dele- “Always On My Mind”. De referir que eu imitei Elvis a cantar este tema na Festa de Natal da ACAPO em 2008. Este é o vídeo original. É mesmo o Elvis. Não sou eu.

A carninha estava estragada

Acho que já sei a causa de alguns pesadelos mais ou menos perturbadores que venho tendo. Há tempos referi aqui que alguns tipos de pesadelos começaram a surgir depois de eu ter começado a trabalhar.

Sempre cresci a ouvir dizer que sonhar com carne era sinal de morte ou de mau agoiro. Que fulano sonhou com carne antes de morrer, que sicrano teve um acidente dias depois de ter sonhado com carne…

E quem lida com ela todos os dias? Quem trabalha em talhos ou coisa assim? Essa era a minha questão e agora estou a sentir na pele o que é isso. Se a causa dos sonhos é um tratamento que o nosso subconsciente dá à informação acumulada pelo nosso cérebro durante a vigília, estando eu em contacto com a carne que os meus colegas do talho transportam todos os dias, é natural que agora sonhe mais com carne do que antigamente.

Depois desta pequena introdução, vamos ao que interessa! Ontem vinha uma colega minha com sobras de carne que esteve a arranjar para o lixo. Eu comecei a cantar esta música.



O meu subconsciente tratou a informação da seguinte forma: vinha uma enorme caravana de veículos e pessoas a pé a passar por minha casa. Como em todo o pesadelo que se preze, atrás vinham as inevitáveis ambulâncias. Muitas, de preferência.

A carne entra já numa outra fase em que estamos nos corredores onde costumamos trabalhar- os ateliers e as câmaras. Melhor, era uma representação onírica desse local. Uma mulher de nome Anabela dava a um bebé recém-nascido carne que tirava do carro da minha colega. Para meu espanto, ele comia que se fartava até que…começou a rebolar no chão com dores de barriga.

A última informação que obtive quando acordei foi que a carne estava estragada ou envenenada. Já eram horas de acordar e não houve a oportunidade de adormecer para confirmar.

Fica mais uma ideia para um argumento de um livro de terror. Estes pesadelos sempre servem para alguma coisa.

Peixe-gato



A vantagem do meu trabalho é que, dia após dia, vou aprendendo sempre algo de surpreendente. São muitos os frutos que agora conheço e dantes não conhecia e sempre vou aprendendo para que servem e como se confeccionam certos produtos, se bem que não os tenciono confeccionar.

Já aqui falei do lulo (ainda há pouco comi dois) e da feijoa sem ser a minha gata. Há outros frutos tropicais bem coloridos, perfumados e interessantes para descobrir num hipermercado perto de si. Todos chegam da América Latina e sempre questionamos como é que aquilo se come. Depois lá se inventa, tal como fiz com os lulos que toda a gente me dizia que serviam para fazer sumo. Eu abro-os ao meio e como a sua polpa bem sumarenta e rica em vitamina C.

Hoje apareceu-me alguém a perguntar se havia…filetes de peixe-gato. Peixe-gato? Terei ouvido bem. Mesmo depois de eu ter mandado a cliente para a peixaria perguntar, ela estava a meu lado e ouviu eu a conjecturar sobre a existência de tal peixe. Ela disse que também não conhecia mas que lhe disseram que era muito bom. Eu acredito.

Imediatamente na minha cabeça comecei a imaginar que aspecto teria o peixe-gato. Metade peixe e metade gato, tal como acontece com as sereias que têm uma parte constituída por um formoso corpo de mulher e a outra com barbatanas, tal como qualquer peixe? Um rabo de gato com umas listas em vez de escamas e barbatanas? Então por que raio é chamado assim?

Passaram-me todos os disparates e mais alguns pela mente e logo achei que um texto abordando esta temática seria de valor. Então aqui está ele, logo na altura com a promessa de ir investigar o que era o peixe-gato quando chegasse a casa.

Assim fiz. Como é que não me lembrei que o peixe-gato podia ser chamado assim devido aos seus longos bigodes que fazem lembrar os de um gato? Era mais divertido imaginar um peixe a surgir das águas do rio com uma cabeça de gato do que ter dele apenas os bigodes.

Se os filetes de peixe-gato são deliciosos ou não, ainda não posso confirmar mas hoje fiquei a saber mais alguma coisa sobre peixes.

Discutiram por minha causa

Como já não vou mais a casa antes das merecidas férias, hoje trouxe já o saco que hei-de levar para a praia. Tinha folga e fui para Coimbra de tarde. Estive ainda algum tempo à espera do autocarro. Encostei o enorme saco encarnado que já tem histórias de viagens para contar ao banco da paragem e fui matando o tempo a ouvir música.

Quando a camioneta da TRANSDEV chegou, perguntei ao condutor onde podia colocar o saco. Ele disse que tinha de ir pela porta de trás mas esta parecia-me fechada. Ele voltou a repetir, desta vez aos berros. Foi aí que uma passageira se atirou a ele como uma fera temível. Com uma voz incrivelmente aguda, a senhora tratou de dizer ao condutor que eu era deficiente e acrescentou mesmo:
- NÃO É PRECISO USAR ÓCULOS PARA VER ISSO.

O condutor defendeu-se com o facto de não me conhecer. Eu entrei e dei o dinheiro trocado ao condutor que continuava empenhado em discutir com a passageira que o acusava de não ter sensibilidade nem educação. O homem transpirava imenso, trazia a camisa desabotoada até meio do tronco (apesar do calor, aquilo não eram maneiras de se apresentar) e estava vermelho, quase a ponto de ter uma apoplexia a qualquer instante. Entretanto a passageira discutia com ele e espetava-lhe os dedos em riste quase na cara.

Eu fui para trás, para onde estava o meu saco que entretanto alguém (não sei se a mesma pessoa) me ajudou a colocar lá. Desliguei a música por momentos e empenhei-me em ouvir a discussão que estava no auge. O conteúdo não passava das mútuas acusações de falta de respeito e educação.

As coisas acalmaram um pouco, apesar de o condutor ter perguntado à sua antagonista se esta o ia enervar o resto da viagem. A viagem não durou muito para a minha defensora. Numa terra cujo nome agora não me ocorre, algures entre Anadia e Mealhada, ela saiu. Para a despedida, novo round ainda mais intenso começou. Segundo a passageira, o condutor não tinha parado no local indicado para ela sair. De ao pé de onde eu estava ela gritou:
-MAS EU TOQUEI A CAMPAÍNHA E O SENHOR NÃO ME DEIXA SAIR?

Recuperando a animosidade de há uns minutos atrás, o condutor respondeu que a paragem estava á esquerda. Novas acusações de falta de educação e de profissionalismo foram proferidas alto e bom som.
- Tenho de aturar de tudo?- rosnou o condutor para os outros passageiros quando finalmente a sua antagonista saiu também a resmungar.

De referir que o condutor veio um bom pedaço a insurgir-se contra aquela passageira já depois de ela ter saído. O motivo da discussão, o meu saco, foi relembrado. O funcionário da TRANSDEV foi mais longe ao questionar como é que o marido da sua opositora a aturava. É que ele só a viu daquela vez e já estava farto dela.

Não sei se foi o motorista, se foram os seus interlocutores que mudaram a conversa de rumo. O assunto da passageira que se insurgiu contra o motorista por este não me vir ajudar e, mais tarde, por alegadamente a ter deixado mais à frente na paragem cessou.

Para a história fica então uma discussão bem acesa por minha causa à qual eu assisti de camarote, ou melhor, sentada num dos bancos do mesmo autocarro em que ela teve lugar. Não mexi uma palha para intervir.

"Um Capricho Da Natureza" (impressões pessoais)



Não deixou de ser uma feliz coincidência eu ter iniciado a leitura deste livro em plena época do Mundial 2010 que se realizou na África do Sul e ter terminado a sua leitura à passagem do nonagésimo segundo aniversário de Nelson Mandela que foi comemorado com este dia a ele dedicado.

Este livro escrito por Gordimer- Prémio Nobel da Literatura em 1991 retrata a história de uma activista política branca que defendia a causa dos negros na África do Sul em plena época do apartheid.

Esta obra vale pelo contexto político. Ao lermos ficamos com uma ideia de como se vivia num país dominado pela segregação racial que levou Nelson Mandela a estar cerca de vinte e sete anos na prisão até se tornar no primeiro presidente negro sul-africano. Sem dúvida, tempos conturbados.

Este livro, no entanto, não me cativou por aí além porque a autora faz muitos rodeios, tal como em tempos eu critiquei os autores portugueses por recorrerem a esses preciosismos, também esta autora faz uso deles em abundância, com frases longas e difíceis de perceber sem voltar atrás.

As imprecisões na obra também levam à sua difícil compreensão. A protagonista foi acolhida durante o seu exílio por um casal de embaixadores de onde? Da Bélgica, depreendi eu.

O país da Europa de Leste onde Hillela viveu, a julgar pelos nomes das personagens, apenas e só, seria a Checoslováquia? Ainda pensei na Polónia também. É uma possibilidade mas falava-se da Estrela Vermelha e isso levava-me até à Jugoslávia. Só que na Jugoslávia ninguém se chama Karel nem Pavel. A menos que sejam de outros países vizinhos a viver lá. Uma grande embrulhada.

O marido de Hillela foi presidente de que país africano? Zimbabué? Para saber com precisão esta informação teria de ver quem presidia à OUA aquando da publicação deste livro e isso dá um pouco de trabalho.

Ressalve-se as referências nesta obra a Portugal. Não deixa de ser curioso. Vasco, o amante da mãe de Hillela era português e a protagonista questionava-se muitas vezes se não seria filha dele. Quando Ruth, a mãe de Hillela, reencontrou a filha em Angola o marido de Hillela propôs que ela fosse passar uns tempos a Lisboa.

Em suma, a leitura deste livro tornou-se algo enfadonha e arrastou-se mais do que o previsto, até porque apanhou a época do Mundial. No entanto fiquei com uma ideia mais clara de como seria viver na África do Sul em plena época do apartheid.

Tal como prometi há uns tempos atrás aquando da morte de José Saramago, a próxima obra que irei desde já começar a ler será “A Viagem Do Elefante”.

Cindy Lauper ou Madonna?



Ouço muitas vezes na M80 que Madonna, a ter uma rival, essa seria Cindy Lauper. Eu, como odeio Madonna, opto, por exclusão de partes, pela sua antagonista. Pelo menos adoro algumas das suas músicas. Eu não conhecia bem esta. Só nestes dias é que a ouvi e gostei.

“Cidade Despida”

Foi pena eu ver apenas os cinco ou seis últimos episódios desta série policial à portuguesa. Tratando-se de uma série policial, claro que me interessaria não perder um único episódio mas, por uma razão ou por outra, não deu para acompanhar.

Catarina Furtado aparece aqui em grande destaque como personagem principal. Ela é a agente Ana Belmonte que todas as semanas tem um crime para investigar com a sua equipa. Confesso que não nutro grande admiração por Catarina Furtado e sei que há outras pessoas que eu conheço que também têm igual sensação inexplicável.

Nesta série há que dar os parabéns à conhecida apresentadora. É complicado fazer de agente policial mas ela esteve simplesmente genial. Acho que está melhor como actriz do que a apresentar esses programas pirosos com gente famosa em vez de concorrentes comuns.

A agente Ana Belmonte vivia intensamente a sua profissão e mal tinha tempo para o seu companheiro André que só a espaços via. O último episódio viria a reservar uma grande surpresa. Quem disse que em Portugal não há bons escritores de ficção policial? Esta ideia foi muito bem conseguida.

No último episódio o alvo a abater era presumivelmente a agente Ana Belmonte. Ao longo de todos os episódios via-se que a agente era perseguida e fotografada. Depois iam-lhe enviando as fotos até que chegou a hora dela ser convidada a assistir a uma exposição onde eram mostradas fotos com modelos fotográficos mortos. Noutra galeria havia uma foto em tamanho grande construída por meio dessas fotos pequenas que a agente foi recebendo. Ela ficou alarmada. Se as duas mulheres das outras fotos estavam mortas, ela seria a próxima vítima do criminoso.

Ainda na galeria, André- que devia estar num concerto- apareceu e surpreendeu a companheira. Poderia ser apenas coincidência.

Ana Belmonte desconfiava de todos os seu colegas. De entre os outros membros da equipa, eu desconfiava que o criminoso fosse Vargas através do seu comportamento. Ele apenas estava a investigar por contra própria e o seu objectivo era proteger a colega, o que veio a fazer.

A agente passou a ter medo de andar na rua (não deixa de ser irónico, sabendo-se qual o desfecho desta história). Então com o criminoso em casa sentia-se segura? Foi uma ideia genial, essa de André ser um assassino sem que a sua companheira desconfiasse de tal. Ela que investigava os casos de crime mais complicados.

Enquanto a investigação prosseguia sem a agente que tinha ido para casa, esta encontrou um bilhete para ir a certo local salvar o seu namorado das garras do criminoso. Entretanto Vargas acabava de descobrir que era André o assassino. Só depois disso é que descartei a possibilidade de o colega de Ana Belmonte ser o culpado.

Quem seria o mascarado que Catarina Furtado perseguia impiedosamente, mesmo depois de ele a ter apanhado e fotografado? Restava o próprio André. Quando viu surgir o rosto familiar do seu companheiro por detrás da máscara, a agente Ana Belmonte ficou desconsolada.

O episódio chegava ao fim com a última cena a passar-se no quarto onde dormiam. Desta vez, em vez de dormir nos braços de André que sempre a conforta, Ana Belmonte dorme numa imensa cama vazia.

Espero que façam uma segunda temporada desta série. Cá estarei eu para a ver desde o início.

Wednesday, July 28, 2010

Como ainda me lembro deles?



Mundial 2010, Nova Zelândia e então pus-me a pensar se conheceria algum grupo musical ou artista dessas paragens. Então lembrei-me destes. Sempre que ouvia falar em Nova Zelândia, logo me lembrava desta música com a certeza absoluta de que eles eram de lá. Alguém me disse.

Por via das dúvidas fui confirmar e é mesmo verdade.

P.S: Esperem…esta história ainda não acabou. É que acabo de achar este vídeo um pouco mais recente. Longe da fama e da gloria de outro tempos, ele lá vai fazendo o que pode nem que seja com meia dúzia de gatos pingados a assistir. Não é convidado pela M80 para vir até cá (também a distância é muita). A menos que se esteja a preparar para regressar à ribalta naquele mega-evento que eu idalizei. (o blog vai um pouquinho atrasado mas esperam-se textos surpreendentes, sendo o intercâmbio dos antípodas um deles.)

Daniel Carriço nauseado?



Ver texto “De tudo aconteceu neste sonho”

Escrevi na altura, há sensivelmente um mês atrás:

“A primeira parte deste sonho passa-se comigo a ver um noticiário ou um programa específico dos muitos que passam sobre o quotidiano da Selecção Nacional na África do Sul. Nessa reportagem passava como som de fundo a canção “A Minha Casinha” dos Xutos & Pontapés. Daniel Carriço estava na Selecção (quando acordei fiquei com dúvidas se o central do Sporting havia ou não sido convocado mas não foi mesmo). O treino decorria debaixo de um Sol escaldante na África do Sul (mentira que lá até é Inverno, só por acaso). De repente a música que está de fundo mudou de ritmo e viu-se na imagem o jovem jogador a sentir-se mal devido ao calor. Depois vem o médico da Selecção acalmar as hostes que nada se passou e que aquela indisposição se deveu exclusivamente às altas temperaturas que se faziam sentir.”E…eu estava realmente a ver o noticiário depois de um dia de trabalho enquanto adiantava serviço para este humilde espaço. Normalmente presto mais atenção à actualidade desportiva (também é, obviamente, a que alimenta mais este blog).

De repente ouço dizer que Daniel Carriço sofreu uma lesão que poderia ser grave. Essa lesão ocorreu durante um jogo integrado no estágio de preparação da nova época que o Sporting realizou em França. O adversário desse jogo, se não estou em erro, foi o Paris Saint Germain. O jovem central do Sporting teve de abandonar essa partida então por suspeita de uma lesão grave. A diferença era que no sonho o jogador estava a treinar no estágio da Selecção Nacional.

O médico do Sporting, penso eu que era ele, pois estava a escrever e não dei conta de quem era, afirmou que a lesão não era grave, apesar das suspeitas iniciais. O que me deixou ainda mais intrigada quanto ao sonho foi o pormenor da referência ao facto de o jogador se ter sentido nauseado. No sonho foi isso que aconteceu.

Agora pergunto- até porque, se forem a textos mais antigos neste blog podem constatar outros exemplos similares- será só comigo que acontecem destas coisas? Toda a gente se deve lembrar daquele célebre sonho da Moita do qual o título não me recordo e que se realizou doze dias depois de ter sido sonhado. E do daquela rua em Coimbra toda iluminada que afinal era na Portagem? Terei eu poderes de adivinhação através dos sonhos? Se sim, posso desenvolver esses poderes e ganhar algum dinheiro.

Outra pergunta bem intrigante que faço: porquê Daniel Carriço? Essa não tem mesmo explicação. São as tais coisas que a razão desconhece. Até nem é um jogador que me desperte a atenção. Se fosse outro o protagonista já se compreendia, agora um jogador que me é completamente indiferente na realidade é que não compreendo. Coisas dos sonhos!

Fica o registo destas coisas curiosas entre o subconsciente e a realidade. Um imenso mundo para descobrir dentro do nosso próprio cérebro.

Tuesday, July 27, 2010

Os gananciosos

São três e meia da madrugada. Percival Figueiredo dorme a sono solto ao lado da sua esposa. Nos seus sonhos deve pairar o espectro da riqueza fácil…à custa da desgraça dos outros.

A noite está calma. O trânsito da cidade acalmou um pouco, apesar de ser sábado à noite. Até admira Percival estar a dormir tão descansado! Noites há em que ele se senta na sua poltrona de estimação à espera de fregueses, isto é, que alguém morra para ele vir a correr prestar os seus serviços à família enlutada.

Dos hospitais onde ele tem contactos ninguém ligou e dos bombeiros também não. “Mas será que hoje toda a gente chegue direita a casa? Nem um acidentezinho aí com umas dez vítimas?”. Farto de esperar, o cangalheiro adormece finalmente mas sempre com o espírito alerta.

O silêncio do quarto de Percival apenas é quebrado pelos seus intensos roncos que já levaram a sua mulher a consultar um especialista em apneia do sono e até a comprar as milagrosas fitas adesivas “Breath Right”. Nada nele faz efeito, apenas um toque de telefone a dizer que há defunto fresquinho.

Agora ao silêncio da noite é quebrado pela sereia de uma ambulância do INEM. Percival salta da cama ainda de olhos fechados, enfia as calças, a camisa e desce as escadas enquanto se calça. No seu parque de estacionamento estão seis viaturas funerárias de alta cilindrada. Percival escolhe a primeira que encontra. Tem azar. O carro não está a pegar.
- BOLAS! Era mesmo o que faltava! Lá se vai mais um negócio! Se o Anjos chega primeiro…

Não, ele não está a falar de anjos que levem o falecido directamente para o Céu. Fala de José Manuel Anjos- o seu rival directo nos negócios da morte. O Anjos vai mesmo para a porta dos hospitais e lares de terceira idade á espera de clientela. A sua Funerária dos Anjos é uma empresa que, apesar da crise, tem tido um lucro imenso. É por isso que Percival a inveja com todas as suas forças.

Percival, desta vez com um segundo veículo (um vistoso Mercedes cinzento- pena que seja para um fim tão triste), persegue a toda a velocidade o veículo do INEM que grita e ronca pelas ruas em extrema agonia enquanto segue a velocidade supersónica.

Há pouco trânsito nas ruas da cidade. Mesmo assim há regras a respeitar e a Polícia está atenta. Àquela hora nem tem contemplações em mandar parar uma viatura funerária que ainda por cima foi feita para andar devagar nos funerais. Mas não era a primeira vez que aqueles carros eram vistos a passar os duzentos quilómetros por hora dentro das localidades. O historial de multas dos veículos da frota da Funerária Percival já tem mais páginas do que os livros do Dan Brown.

O polícia toma nota de mais uma infracção cometida pela viatura cinco (a seis foi a que não pegou). Percival lá seguiu contrariado. A multa teria um valor simbólico, se compararmos o dinheiro que iria ganhar se chegasse primeiro que o seu concorrente directo.

Percival percorre as ruas desertas da cidade com mais calma. Desta vez repara na cor dos semáforos e tudo. Enquanto conduz, vai recordando lutas passadas em que ele e José Manuel Anjos foram protagonistas. Lembra aquela perseguição a uma ambulância em hora de ponta em que fez uma ultrapassagem a um veículo pesado. Ambos tiveram de parar e houve uma discussão feia.

Outra perseguição dos dois carros funerários a outra ambulância deu origem a um acidente em que ambos ficaram feridos sem gravidade e em que, tanto um como o outro, deverão ter rezado imenso para que o seu adversário morresse para lhe fazer o funeral.

O ponto de honra das quezílias entre eles foi em casa do Tó Bóias quando a sua sogra, vítima de uma doença terminal, estava mesmo a partir para o Além. Sem nunca ninguém ter sabido em que circunstâncias os dois cangalheiros souberam que a senhora estava no fim da vida, eles ali estavam à cabeceira do seu leito de morte á espera de se apoderarem do corpo quando este já não apresentasse qualquer vestígio de vida. Ainda a senhora não tinha soltado o último suspiro, já Percival se apoderava do corpo.

José Anjos não gostou da atitude do colega de profissão e apelidou-o de ganancioso e interesseiro. Começou dali a confusão e os dois envolveram-se numa brutal cena de pugilato digna de um ringue de luta livre. No calor da discussão, Percival pegou numa jarra de flores e tentou acertar em cheio no Anjos. Como as mãos estavam transpiradas com os nervos, a jarra escapou-se para trás e o seu conteúdo deslizou pelas suas costas abaixo. Era Inverno e estava um frio de rachar. Assim encharcado, Percival tremia que nem varas verdes, causando o riso nos presentes que, naquelas circunstâncias não se teriam rido assim.

O porteiro do hospital abre as portas a Percival e pergunta-lhe o que faz ali a uma hora tão inoportuna. Percival responde ao porteiro que para morrer não há horas inoportunas.

Percival apresenta-se na recepção do hospital ofegante e ansioso por uma perspectiva de negócio. Mesmo antes de dar as boas noites ao recepcionista, pergunta como está o doente que a ambulância acabava de depositar.
- O Senhor José Anjos parece que sofreu uma doença súbita quando estava na casa de banho e foi transportado para os cuidados intensivos.

Percival beliscou-se para se certificar de que estava bem acordado. Então o seu adversário era a vítima? O telefone toca na recepção do hospital. O recepcionista responde ao interlocutor apenas com monossílabos. Quando finalmente desliga o telefone informa:
- O Senhor José Anjos acaba de falecer.

Foi a melhor notícia que Percival alguma vez julgou receber. Fazer o funeral ao seu oponente era bom demais! A rejubilar de alegria, pegou rapidamente nas chaves da viatura e arrancou a toda a velocidade pelas ruas desertas de uma cidade calma e adormecida.

Por vezes a euforia a mais deixa-nos desatentos ao que realmente temos de prestar atenção. Percival vinha eufórico e a atenção na estrada foi negligenciada. Numa zona onde não havia casas, o carro que vinha em excesso de velocidade (agora com José Anjos morto já não se justificava) saiu da estrada e saltou o rail de protecção. Em baixo havia uma ribanceira onde acabou por se despenhar. Quando os bombeiros chegaram não tiveram mais nada a fazer senão confirmar o óbito.

Acabava assim a ganância desmedida de dois homens que não tinham escrúpulos e caíam no ridículo para conseguirem-se anular um ao outro. Valeu-lhes de muito.

Para quê fazer o estágio profissional?

Estou cada vez mais desapontada com a atitude de algumas pessoas. Já antigamente estava e agora começo a achar que é melhor ir pelos meus próprios meios. Até nem parece que lidam com uma pessoa que estudou e que só quer o melhor para si.

Quando me questionam sobre a viabilidade ou não de ainda fazer o estágio profissional está tudo dito e mais comentários não serão necessários. Então querem que eu ande toda a vida a fazer algo de que não gosto quando tenho estudos para muito mais?

Realmente é verdade, fazer o estágio e depois vir para a rua, deixar um emprego certo para se fazerem nove ou doze meses de estágio e depois vir para o desemprego não valerá muito a pena. Para mim até vale por descarga de consciência e estabelecimento da ordem natural das coisas. Atente-se que só por questões de saúde ainda não tenho o estágio profissional realizado. E ia-o realizar num local escolhido por mim e com o qual me identificava bastante.

A experiência que iria ter com a realização do estágio profissional também iria ser mais enriquecedora do que qualquer dinheiro, isto sem falar que iria auferir quase o dobro do que estou a auferir sem haver qualquer risco desnecessário para a minha saúde como agora está a haver.

Agora quero tentar retomar o meu sonho antigo da rádio e achei um local onde eu gostaria de fazer o estágio profissional, se ainda fosse possível. Não me ajudam? Não vale a pena? Tenho de andar toda a vida a trabalhar no duro depois de ter estudado com tanto sacrifício e tendo o talento que tenho? Pois bem, deixa passar o período de férias, que logo me vou virar sozinha.

Isto não inviabiliza a realização dos meus outro projectos. Terei mais disponibilidade, sobretudo psicológica, para os realizar com mais empenho e mais ânimo. Quem sabe de mim sou eu, mais ninguém. Ninguém pode aferir sobre a minha felicidade, sobre o que eu devo ou não fazer para a conseguir. Contando que não mate nem roube, vou até ao fim do Mundo para correr atrás do que perdi há anos atrás.

Sou uma pessoa que dá pouco valor ao dinheiro em detrimento da realização pessoal. Se tiver de arriscar a fazer o estágio profissional, mesmo que depois vá para a rua, nem hesitarei. Por mais que as pessoas questionem as minhas opções, em primeiro está a minha realização enquanto pessoa, que poucas oportunidades tenho de a satisfazer.

Setembro será um mês decisivo para o meu futuro. Aquela consulta irá decidir muita coisa. Se houver alguma alteração, tanto faz as pessoas quererem-me segurar no meu actual emprego, como não. Eu mesma me irei embora e apresentarei toda a documentação médica necessária. Espero que isso não aconteça mas é o mais certo.

Gostam muito de zelar pelo meu bem, pelo meu futuro. Mas qual futuro? Uma pessoa que vê até esta idade e pode ficar cega um dia tem algum? Precisamente para precaver a chegada desse dia é que eu ando a tentar adaptar as coisas a essa realidade. Convençam-se disso! Não será do dia para a noite que me irei adaptar à realidade de estar completamente cega e, se há duas coisas das poucas que ainda poderei fazer, essas coisas são a rádio e a escrita.

Deixar de ter a possibilidade de fazer o estágio profissional para continuar com um emprego que não me irá valer de nada no futuro? E se eu fizesse um estágio tão bom que ficasse? Tudo pode acontecer. É por aí que se tem de tentar.

Convençam-se de uma coisa: nenhuma das ideias que eu tenho em mente é por acaso. Todas as possibilidades e toda a minha situação foi pensada. Justamente porque estou sempre preocupada com a instabilidade da minha doença é que não me posso comprometer com nada a longo prazo. Um estágio profissional em vez de um emprego seria o ideal, tal como foi este contrato de curta duração. Se depois não tiver mais nada, irei dedicar-me a escrever. Pode ser que resulte.

Hugo Almeida no Benfica?

Hoje nos jornais surge a notícia do eventual interesse do Benfica no avançado português Hugo Almeida.

A confirmar-se seria uma excelente contratação para o Glorioso que procura um avançado capaz de superar a eventual saída de Cardozo. Sendo um jogador português, só há que aplaudir esta escolha, caso ela se concretize mesmo numa transferência viável.

Hoje em dia o Benfica é uma autêntica sociedade das nações e faltam as referências portuguesas. Ainda neste Mundial só dois jogadores do Benfica integraram a Selecção Nacional- Fábio Coentrão e Ruben Amorim. Houve mais jogadores do Benfica mundialistas mas estiveram espalhados por Uruguai (Maxi Pereira), Argentina (Di Maria), Paraguai (Cardozo), Brasil (Luisão e Ramires) e Argélia (Halliche e Yebda que ainda pertencem aos quadros do clube mas não fazem parte do plantel).

Aliás, com a globalização do Futebol, todas as selecções e todos os clubes sofrem do mesmo mal. Este terá sido um dos factores que, por exemplo, levou ao insucesso da Itália. Hoje os clubes têm poucos jogadores nacionais e as selecções nacionais estão repletas de jogadores que actuam em campeonatos estrangeiros.

Vejo com bons olhos o regresso de um bom avançado como Hugo Almeida ao Futebol Português e ao Benfica. É sempre bom ver os bons jogadores a representar o Glorioso e Hugo Almeida, não obstante o passado como jogador do Porto, seria bem-vindo.

Monday, July 26, 2010

Golden Shair

Todos os dias, sempre que me é possível, vejo os noticiários. Ultimamente tem havido um défice de diversidade nas notícias. Fala-se sempre na mesma coisa e, quanto mais falam sobre esses assuntos, menos eu os compreendo.

Temas respeitantes a Economia e negócios nunca me fascinaram. Considero-os enfadonhos e pouco interessantes. Causa-me até uma certa impressão como é que alguém se consegue interessar por estas temáticas. Também se todos nós fôssemos iguais, o Mundo não teria piada. Se calhar os economistas, contabilistas, matemáticos e afins acham pessoas como eu desinteressantes e enfadonhas também.

Estas notícias sobre Negócios para mim são um labirinto. Esta que agora está no topo da actualidade para mim é complicada de entender. A minha interpretação é a seguinte (vai sair disparate pela certa): a Portugal Telecom detém acções de várias empresas de telecomunicações no Brasil e noutros países. A Telefónica (Portugal Telecom de Espanha) quer comprar as acções da empresa brasileira Vivo. Está a oferecer uma determinada quantia para levar por diante o negócio. O Estado Português não gostou de estar na iminência de perder a empresa brasileira e activou a golden shair- um termo curioso e com muita piada. Golden shair- cadeira dourada, que giro! É com cada termo que estes economistas apelidam as coisas!

Mas o que é que eu percebi que era a golden shair? Não é uma poltrona dourada na prática. Penso que se trata de uma posição privilegiada que o Estado tem na administração de certas empresas, mesmo que não seja o accionista maioritário. Activando a golden shair, mesmo que todos os accionistas da empresa queiram tomar certa decisão, o Estado pode-se opor, como aconteceu neste caso de venda da Vivo à Telefónica. Estou a ir bem, senhor Economista? Se não estou, paciência! Não nasci para entender estas coisas.

Por mim podem vender o que quiserem, fazer todo o tipo de negócios que entenderem, que vou continuando a levar a minha vidinha de sempre. Apenas achei curioso o termo e não pude deixar de dedicar a ele umas curtas linhas no meu humilde blog, mesmo se nada tivesse para dizer.

P.S.: Poucos segundos depois de ter acabado de escrever este texto, passava no meu computador a música perfeita para a sua banda sonora. Ora ouçam!

Agora é que os Espanhóis incham

E finalmente chegou o grande dia. O dia em que Espanhóis e Holandeses (não deixa de ser curioso por razões históricas) vão medir forças no relvado para discutirem o título de Campeões do Mundo de Futebol.

O último jogo do primeiro Mundial disputado em território africano prometia ser um verdadeiro espectáculo de Futebol ofensivo. Holanda e Espanha são duas selecções com um meio-campo muito forte e jogadores capazes de desequilibrar num rasgo de génio.

As expectativas não foram desapontadas e houve remates a cada uma das balizas que só por muito azar não deram golos para cada um dos lados. O jogo estava aberto e equilibrado.

Foi Iniesta, jogador do Barcelona, quem marcou o único golo do jogo que valeu um Campeonato do Mundo. Visivelmente emocionado, Iniesta dedicou o seu tento e a vitória a Dani Jarque- jogador espanhol falecido há tempos. Não me recordo bem das circunstâncias da sua morte mas penso que foi de forma súbita num treino.

Quem também estava com o coração muito perto da boca era Iker Casillas que não teve contemplações e beijou a jornalista que o estava a entrevistar, por acaso a sua namorada. A imagem corre o Mundo e levanta muitas discussões éticas e deontológicas. No calor de emoções fortes como estas alguém vai pensar em questões éticas e deontológicas? Só se os jornalistas fosse máquinas e não seres humanos.

Agora que a primeira competição mundial de Futebol no continente africano chega ao fim, que o troféu foi enfeitado com as cores vermelha e amarela e que já se calaram e guardaram as vuvuzelas, é altura de eu fazer um balanço daquilo que saltou mais à vista.

Para mim a melhor equipa a jogar Futebol neste Mundial foi a Alemanha. É uma autêntica máquina! Os seus contra-ataques deverão ser os mais eficazes em todo o Mundo. Trata-se de um conjunto com alguma juventude que está agora a despontar. Nos próximos anos será uma selecção imbatível.

Do lado oposto temos a França e a Itália. De entre estes dois colossos que vieram apenas marcar presença neste Mundial, escolho a França pela vergonhosa participação que teve. Os jogadores fizeram greves, boicotes, insultaram a equipa técnica…enfim. A Itália também esteve péssima. É uma equipa ultrapassada que já precisa de mudar um pouco. Ficar em último atrás da Nova Zelândia é muito mau, se bem que a Nova Zelândia até tenha surpreendido pela positiva.

Falemos de jogadores! A grande revelação para mim foi o avançado uruguaio Luís Suarez. Trata-se de um excelente avançado que foi decisivo em alguns jogos. Diego Forlan já não é revelação nenhuma. Simplesmente confirmou que agora é um dos melhores. Quanto ao seu companheiro, foi até a figura deste Mundial por aquele lance no jogo com o Gana que protagonizou.

A grande desilusão fala português. Cristiano Ronaldo esteve irreconhecível neste Mundial em que prometeu explodir. Talvez estivesse já a pensar nas férias que iria ter junto do filho? Não fez mesmo nada que se visse a não ser protestar e comportar-se de forma inadequada ao seu valor.

Para terminar este balanço, não posso deixar aqui de mencionar mais uma vez um jogador ao qual achei piada. Já a ele dediquei um texto atrás neste blog. Estou a falar de Simon Elliott- um neozelandês que até nem tem clube. Os seus remates de longe a que chamei kiwis em vez de ameixas ainda assustaram os guarda-redes adversários.

Ainda não acabei. Abram alas para a grande figura deste Mundial, a mais cintilante, a que deu mais nas vistas. A grande figura deste Mundial disputado na África do Sul é…a vuvuzela. De facto ninguém ficou indiferente ao seu som e muito foi feito para o combater. Sem êxito. Por todo o lado se ouviam, mesmo quando não se estava nos relvados de Futebol.

Esperamos estar por aqui em 2014, com ou sem Portugal que não passou dos quartos de final por incompetência absoluta de Carlos Queirós. Será que em 2014 teremos finalmente Mourinho ou mesmo Jorge Jesus? Esperamos para ver!

A canção de chocho



Um dia destes pediram esta música no “Agora Escolha” da M80. É incrível como eu, cada vez que oiço isto, ainda me recordo de certas histórias deliciosas que se passavam na minha infância. E se eu fosse colocar esta história na página do Top da M80? Seria giro mas só não coloco porque trabalho e tenho pouca disponibilidade.

Já estava a ver o diálogo travado entre mim e Pedro Marques:
Pedro Marques:- Então? Sei que tem uma história curiosa com este tema.
Eu (perdendo a compostura e desmanchando-me a rir): - Pois é, isto leva-me à minha infância e ao tempo em que a minha falecida avó ainda era viva….bla bla bla…whiskas saquetas…(rindo-me até danificar o telemóvel com lágrimas e baba)…e a combinação da minha avó…hihihihi…e cantávamos isto para a ver chateada…ela estendia a mão para nos bater…nós fugíamos a cantar…

Segundo parece agora, esta música liderou o top português em 1983. É neste contexto que agora a volto a ouvir e novamente não deixo de sorrir ao ouvir o seu refrão.

Naquela altura eu tinha uns sete anos e a minha irmã aí uns cinco. Segundo os psicólogos na altura, nós, por termos os problemas que temos, éramos umas crianças muito precoces e com inteligência acima do normal para a nossa idade. Hoje, chegadas à idade adulta, quase nem se nota essa diferença, pelo menos na minha irmã. Eu ainda conservo em adulta alguns traços dessa “vantagem” que não gostaria de ter em relação aos outros. A minha busca por saber algo ainda hoje é obsessiva, tal como naquela altura. Já disse aqui que costumava fixar estas tabelas de contagem de música. Isso aconteceria uns anitos mais tarde. Por agora limitávamo-nos a usar a imaginação e a moer o espírito à nossa falecida avó que ainda hoje recordamos com grande saudade.

Onde é que eu ia? Já me perdi. Ah! Quer esta ladainha que atrás rascunhei dizer que tínhamos uma imaginação e uma criatividade acima da média. Atente-se no refrão desta música. Nas nossas mentes de criança (na minha principalmente) parecia que eles falavam em chocho, roxo e afins.

A nossa avó ainda usava aquela peça de roupa interior feminina que já está fora de moda há anos (creio que naquela altura já estava mas as pessoas de idade ainda a usavam)- falo da combinação. Quando estava calor ela dormia com uma combinação alaranjada, rosa, lilás- não sei de que cor era mas estaria próxima dessas três, por incrível que pareça. Justamente por não sabermos de que cor era a combinação da nossa avó, quando víamos que ela a usava dizíamos repetidamente uma para a outra:
- “Hoje a avó está de chocho.”

Ela ficava algo zangada e, para a vermos mais fula ainda, começávamos a cantar isto mais ou menos assim (atenção que eu vou escrever mais ou menos como percebíamos e cantávamos, naquela altura não sabíamos Inglês)
- “Xy de xy, de chocho a avó vai! Xy de Xy de chooochoooo.”

Para sempre esta música ficou conhecida como a canção do chocho. De facto ainda hoje o título desta música, bem como o nome do grupo são algo de complicado. Adoptemos então este título saído da imaginação fértil de duas meninas dos arreores de Anadia e recordemos isto com um sorriso e com saudades da infância, quando fazíamos traquinices à nossa saudosa avó Marina.

Com dignidade e empenho

Não é novidade para ninguém, faço mesmo questão em não esconder, que não estou muito satisfeita no local onde estou a trabalhar. Os motivos são vários, bastante diversificados e já têm sido expostos em textos anteriores que eu tenho andado a escrever ultimamente como forma de descarregar o que me vai na alma.

Fico lisonjeada quando a entidade patronal me dá aval positivo e quer que eu continue para alem do términos do meu contrato. Sinto-me um pouco desconfortável ao saber que os desaponto por alegadamente não poder continuar. Esta ambiguidade no meu interior está a deixar-me sem saber o que fazer da minha vida.

Uma decisão eu já tomei. Irei continuar até 1 de Setembro a demonstrar todo o meu empenho nas minhas tarefas laborais, aconteça o que acontecer dali para a frente. Com toda a dignidade tentarei suportar até lá todos os obstáculos físicos e psicológicos que possam surgir ainda para além do que já aconteceu e que não foi nada agradável para o meu estado de espírito que nos últimos dias tem sofrido com a recordação de datas e acontecimentos que eram dispensáveis na minha vida e que, graças a eles, hoje estou na situação em que estou quando podia ter tudo a que tinha direito.

Custa um pouco chegar ao pé de alguém que depositou grande confiança em mim e dizer que, em princípio, não irei continuar. Apesar de agradecer tudo o que fizeram por mim e por me terem dado a oportunidade de demonstrar as minhas capacidades- coisa que quase nenhuma empresa faz por nós em Portugal- valores mais altos se levantam.

A saúde mental e física é, sem dúvida, o maior desses valores. São conhecidas as minhas limitações em fazer certo tipo de tarefas, as mesmas limitações que arruinaram a minha carreira desportiva há seis anos atrás. Em inícios de Setembro irei ter uma consulta e aí se verá o que está a acontecer com a minha situação. Tenho um pouco de receio que esteja algo a correr mal por estar exposta a situações de risco. Não estou apenas a falar da exposição ao esforço físico. Também a pressão psicológica poderá levar ao agravamento da minha saúde ocular.

Falo da frustração que sinto por ver que os meus colegas desempenham com mis eficácia e rapidez todos os tipos de tarefas. Digo-lhe que é frustrante para eles verem-me alegadamente a render menos. Digo-lhe que o que os meus colegas poderão sentir em relação a mim é legítimo e perfeitamente normal. Que só ando a atrapalhar o trabalho deles, que não mereço sequer vencimento. Ele argumenta que a minha contratação foi um risco calculado, que muito faço eu, que apesar de alegadamente não ser tão produtiva como os meus colegas, me esforço mais do que eles por executar as tarefas com as limitações que tenho. Tem toda a razão. Há dias em que chego a casa de rastos, completamente esgotada.

Para além da minha frustração em ser menos produtiva que os outros, também vivo com a frustração de ter estudado, de ter algum talento e de estar ali presa até não sei quando. Isso assusta-me e entristece-me ao pensar que se estão a esgotar todas as possibilidades de fazer aquilo de que gosto. A forma como vim ali parar após uma gigantesca e indesejável volta que deu a minha vida também é um factor negativo. Tinha tudo em determinada altura para singrar na vida, apenas me faltou sorte e saúde. Isto é que é difícil de compreender por colegas minhas e por quem está de fora.

Tenho tido algumas ideias ultimamente a pensar no meu futuro, tenho reflectido imenso e chegado a algumas conclusões. Disse-me um amigo meu que uma pessoa com deficiência não é ninguém se não tiver uma profissão ligada às artes. Cada vez mais me convenço disso. Ele é músico. Não ganha muito mas vai ganhando o suficiente para ir investindo cada vez com mais força naquilo que lhe dá prazer- tocar, cantar e compor para vários grupos e artistas. Igualmente tenho outros amigos que vingam em profissões artísticas e no Desporto, tal como eu um dia logrei vingar. Sendo artista, seja em que área for, a sociedade vai olhar para a pessoa deficiente como uma pessoa capaz. Ninguém a pressiona. Tudo o que ela faz é fruto do talento que tem. As dificuldades que, por exemplo, eu agora estou a sentir por causa da produtividade e da competição não se colocam. Temos um trabalho único e consentâneo com as nossas dificuldades e limitações. Se um dia vier a ser reconhecido, não será por pena ou caridade, será por mérito nosso.

De há cerca de um mês a esta parte que cada vez mais me vou vendo a fazer algo na escrita criativa. Desde os tempos em que andava na escola primária até ao Ensino Superior, tive professores que sempre me gabavam o talento para escrever. Enveredando por aí resolveria muitos problemas. Para já a falta de visão não seria um entrave. Mesmo quando cegasse completamente poderia continuar a escrever. Quer as pessoas queiram, quer não, isso é o que me espera. Quando esse dia chegar não sei o que irei fazer. Foi por um dia destes ter chegado a casa e ter notado a sala mais escura numa bela tarde de Sol que esta ideia ganhou força. Há dias em que eu vejo melhor do que em outros. Em dias que eu vejo pior penso sempre que será o fim e fico deprimida.

Depois há os meus pais, principalmente a minha mãe, que está um pouco frustrada com o emprego que arranjei. Naturalmente que ela queria que eu arranjasse algo relacionado com o meu curso. Para eu fazer com que ela se sinta mais orgulhosa na sua velhice, tenho de escrever. Lembro-me que ela andou de porta em porta lá na aldeia com um pequeno conjunto de folhas que eu escrevi para um trabalho académico. Toda a gente gostou e ela veio do lugar a resplandecer de felicidade. E aquilo não era nada.

Gostaria de escrever um livro. Sobre quê? Para começar escreveria a minha biografia. A minha vida já tem muito que contar, apesar de ser relativamente jovem. Outro projecto engraçado seria a ideia que nasceu neste mesmo espaço- a descrição de sonhos. Será que alguém no Mundo se lembrou disso? Já tenho alguns, os que fui publicando aqui no blog e outros que foram sendo escritos na esperança de também virem para aqui mas houve um atraso enorme e eles não vieram aqui parar. Ainda continuam guardados no computador e por editar. Alguns são bem engraçados.

Como estou a trabalhar, mal tenho tempo para descansar, quanto mais para escrever. É isto que me entristece- estar presa a um emprego que não me dá prazer, que me absorve e me frustra.

Sinceramente não sei o que fazer à minha vida.

Perigos reais

Se dúvidas havia quanto a renovar ou não o meu vínculo contratual, hoje penso que as deixei de ter por completo.

Ainda ponderei a renovação para desbloquear a minha situação laboral e poder receber subsídio de desemprego após um ano e meio a trabalhar. Quem sabe aí encontraria algo mais adequado para mim? Algo mais leve e sem riscos para a minha saúde.

Hoje, tal como acontece quase todos os dias, havia muita mercadoria para transportar e havia muitos veículos que costumamos usar para transportar os produtos no meio do caminho. De facto, não poderiam estar noutro sítio. Quando tentei arredar um outro carrinho de ferro que estava a obstruir a passagem do meu, eis que dei acidentalmente uma forte pancada com a minha perna direita no outro carro. A dor foi intensa e durou algumas horas.

Para quem não sabe, há dezassete anos tive graves problemas de saúde e parte do osso da minha perna direita foi extraído devido a um nódulo que, felizmente, não se confirmou ser maligno. Foi uma época complicada da minha vida em que sofri bastante à espera dos resultados dos exames. Hoje revi esse pesadelo. Relembrei a tarde em que um médico me disse que só estava à espera dos resultados para me mandar para a ortopedia 1. Foi das piores tardes da minha vida. Lembro-me que houve um outro senhor a quem ele disse a mesma coisa e, ao longo do resto dessa tarde de Julho, apoiámo-nos um ao outro. Anos depois, contaram-me que a ortopedia 1 era para onde iam as pessoas com doenças terminais nos ossos. Fiquei arrepiada.

Hoje de manhã quase que entrei em pânico, até porque a perna me doía bastante. Nem sabia onde me enfiar. Os meus olhos estavam cheios de lágrimas e a tensão nervosa era intensa. Felizmente poucas pessoas me perguntaram o que eu tinha e nenhum cliente o fez, para meu alívio.

Não é a primeira vez desde que estou a trabalhar que bato com qualquer coisa naquela perna. Se eu soubesse que corria esse perigo, por mais pequenas que fossem as possibilidades, jamais aceitaria trabalhar ali. Por mais cuidado que se tenha, é impossível estarem os corredores livres de obstáculos e até colegas minhas se magoam nas pernas assim. Só que eu não quero passar por aquele pesadelo novamente. Passei meses em hospitais e tive muitas dores, muito sofrimento. Passar por isso outra vez seria demais para mim.

Para além dos riscos que há para o meu problema nos olhos, agora surge também o perigo real de lesionar a minha perna. Se é para colocar em risco a minha saúde, por mais que a minha situação económica e laboral fique complicada novamente, prefiro abdicar do dinheiro em vez da saúde.

Se não ter dinheiro é triste, mais triste é perder a saúde.

Sunday, July 25, 2010

Rainha Santa



Fossos e buracos



De manhã, quando saía de casa para o trabalho, enquanto descia de elevador até ao rés do chão senti um certo arrepio. Aquela era, provavelmente, a versão onírica daquele elevador. Era cinzento, tinha os números vermelhos, enfim…

E se o elevador avariasse também? É que já não é a primeira vez que sonho com elevadores que não obedecem. Bem…ainda não sonhei com um caso idêntico ao de um filme holandês em que certo elevador de um certo prédio estava como que assombrado. Nem o mecânico que o ia reparar escapou à sua ira.

Neste sonho passou-se o seguinte: saí do trabalho e ainda fui â ESEC perguntar qualquer coisa. Ao acordar deste sonho lembrei-me que a escola também tinha elevadores mas eram verdes ou castanhos. Já não me lembro.

No meu sonho apanhei um elevador cinzento semelhante ao do meu prédio. Também tinha muitos números em vermelho para muitos andares mas era maior, muito maior e mais alto. Ia então descer para o rés-do-chão mas não foi isso que aconteceu. O elevador começou a subir vertiginosamente, voltando a descer quando atingiu o último andar. Quando já não havia mais andares para subir, começou a descer violentamente. Ao executar esta descida, começou a inclinar. Segurando-me como podia, ia bastante apreensiva com medo de cair no fosso. Entretanto o elevador normalizou e já indicava no mostrador andares negativos. Daí a nada estava no centro da Terra, não?

Voltei a carregar no zero e o elevador obedeceu-me ordeiramente. Quando finalmente sai, outras pessoas entraram e perguntaram se a avaria já tinha sido resolvida. Não ganhei para o susto.

Como o tema da noite consistia em cair ou evitar cair em buracos, eis que surge um sonho com um contexto totalmente diferente. Pois é, as férias estão aí e nada melhor do que uma ida até á praia e uma partidinha de um Futebol muito estranho.

Velhos e novos, mulheres e homens, cegos e normovisuais juntavam-se numa animada peladinha. Em vez de balizas, havia enormes buracos escavados na areia. Daqueles que demoramos imenso a tornar profundos. A menos que seja mais do que uma pessoa a entreter-se a fazê-los. Lembro-me que fiz um há uns anos na Costa Nova (salvo erro) e coloquei-lhe uma toalha por cima. Depois esqueci-me, fui para me deitar na toalha e acabei por lá cair.

Nesta futebolada na praia, as pessoas mandavam a bola bem alto. Eu esforçava-me por chegar-lhe mas tinha medo de cair naqueles buracos. Era por pouco que não chegava à bola e era também por pouco que não caía nos buracos escavados na areia.

Em suma, passei a noite inteira a livrar-me de cair nos buracos.

Uma ilha só para mim

Com a crise que por aí anda (e não é só aqui em Portugal) alguns países fazem o que podem e o que não podem para colocar o seu défice e a sua dívida internacional em valores mais equilibrados. A situação mais alarmante é a da Grécia que adoptou um rígido plano de austeridade que todos os dias é contestado pelos cidadãos nas ruas. Todos os países da Zona Euro se propuseram a ajudar os gregos e agora mais dívidas há para pagar.

Terão sido, portanto, os Gregos a terem a ideia de vender algumas ilhas do seu território para fazerem face à falência que os assola. Malditas agências de rating americanas! Há pelo menos mais dois países que seguiram o exemplo grego e colocaram também algumas ilhas à venda a preços muito convidativos- Moçambique e a Nova Zelândia.

Espero ardentemente que me calhe um prémio chorudo no Euromilhões para poder comprar uma dessas ilhas e ir para lá. Era da maneira que me livrava de muita gente e de muitas situações complicadas que sempre me incomodam.

Se acaso acontecesse, coisa que eu não acredito, eu ganhar o prémio máximo teria de escolher um desses três destinos para instalar por lá o meu quartel-general. Mas que destino escolher? A Grécia seria uma possibilidade porque sempre me poderia dedicar ao turismo para aqueles lados mas...eu queria sossego e a Grécia é demasiado perto de Portugal e das chatices.

Nunca escolheria Moçambique. Completamente descartada. Fala-se lá Português e só isso bastaria para as pessoas me chatearem ainda mais. Se tivesse dinheiro, compraria essa ilha mas para oferecer como local de retiro para os meus pais. O meu pai, que andou na Guerra Colonial em Moçambique, gostaria um dia de voltar àquele território. Por que não viver lá em determinadas épocas do ano e voltar a comer dos frutos tropicais tão do seu agrado quando os trazemos do supermercado? Teria novamente macacos em casa e usufruiria das maravilhas naturais do país que só teve oportunidade de conhecer enquanto se escondia no mato da ofensiva inimiga.

Para mim restava-me ir para a Nova Zelândia. Era o mais apropriado para quem quer cortar com a vida que leva. Como diz Ricardo Araújo Pereira “vou fazer a minha vida para outro lado onde as pessoas dizem ah e tal...” mas não chateiam porque aquilo passaria a ser meu e mais nada. Se me querem chatear, que chateiem os vizinhos! Eu corria logo o primeiro ou a primeira que se metesse na minha vida. Ora eu vim de tão longe para ter sossego e agora chegam-me aqui uns (na verdade até já lá estavam, eu é que sou má) e resolvem-me importunar?

Para evitar dissabores e mexericos fingiria não saber falar Inglês ou não entender o que eles me perguntavam. Todo esse esforço até seria evitado caso os nativos da ilha fossem maoris. É que eu não entendo mesmo nada do que eles dizem. Boa! Vamos encher a ilha de maoris!

Mas...eu penso que os maoris também falam Inglês. Oh não! Bem, se eu vier para ali com ar de ditadora, eles nem abrem a boca, sabendo ou não falar Inglês. Ali só os mando trabalhar para mim enquanto eu me refastelo a ler ou a ouvir música ao sol. Mandaria construir uma enorme casa (para os outros limparem, claro esta, se eu hoje sou pobre que nem sei lá o quê e não mexo uma palha…) com um grande jardim enfeitado com feijoas. A exportação desse exótico fruto ajudar-me-ia a ganhar uns trocos por fora, se bem que não precisasse disso. Nunca se sabe…

Então e o tão almejado Complexo Desportivo que tanto sonhavas erguer quando fosses rica? Agora mudaste de ideias, foi? Claro que não. O Complexo Desportivo agora teria Spa e tudo. Há que adaptar as infra-estruturas à realidade do local onde estão situadas. Já não seria possível eu ajudar os atletas deficientes de Portugal...a não ser que...abrisse lá também um- lá está- para ganhar umas massas por fora. A partir do outro lado do Mundo podê-lo-ia gerir. O da Nova Zelândia seria uma pequena filial desse e serviria para fomentar a prática do Futebol, tal como o conhecemos por cá pelo nosso burgo. Era da maneira que aquele artista já tinha clube. Como eu gosto muito dele, da sua forma de encarar o jogo, iria convidá-lo para me ajudar a fundar um clube chamado...New Zealand Red Boys- o Benfica lá do sítio. Depois faria um protocolo com a equipa-mãe- o Glorioso para a captação de talentos. Eu estou cá com umas belas de umas ideias...

Ainda há pouco disse que ficaria esticada ao sol a ler, a ouvir música e a consultar a net através da rede sem fios. Isso é uma maneira de falar. Nos intervalos do meu tempo de extremo ócio trabalharia, até porque é triste uma pessoa engordar, mesmo que de vez em quando vá dar uns mergulhos no mar, com ou sem ondas de três metros como as de S. Martinho do Porto do ano passado.

E então os teus amigos e a tua família? Que ingrata tu és! Claro que a minha família lá ia passar uns dias de férias para descansar da loucura do dia-a-dia. A minha irmã só lá iria se não me chateasse com os seus falsos moralismos e os meus amigos, só os altamente seleccionados lá poriam os pés. Os outros não iriam.

E ai dos turistas que se portassem mal! Eram corridos dali para fora e tanto me fazia que fugissem á pressa em barcos daqueles insufláveis que existem nas lojas chinesas. Por falar nisso, a minha viagem para lá seria feita inteiramente de barco. Se o barco fosse descoberto e desse para ver as estrelas e a Lua, era maravilhoso. Já há muito que tenho esse sonho de navegar em alto mar assim. Quando há tempos reli “Os Lusíadas” esse sonho reacendeu no meu espírito. Como quem ganha o Euromilhões fica mais excêntrico do que nunca, toca de dar largas a essa excentricidade. Nem que se demore mais de dois anos a chegar ao destino! Vai valer a pena, oh se vai!

Como não ganho o Euromilhões, nem compro uma ilha para fazer o que quiser, por aqui vou gozando mais uma folga na companhia dos meus amigos, por acaso os mesmos que levaria para a tal ilha distante. Há muito que não passava um dia assim!

Thursday, July 22, 2010

O melhor pacote do Verão



Quem teve a ideia deste anúncio está de parabéns. Vale pela originalidade e pelo arrojo. Realmente colocar o Sapo a balançar o …pacote ao som de uma música mexida e com uns calções foleiros é de génio. Se fosse eu estaria ainda agora a queimar os neurónios se me fosse pedido para imaginar um anúncio ao…pacote de serviços do Sapo, o melhor do Verão.

Se este dia não tivesse acontecido

Hoje, 6 de Julho de 2010, ando um pouco deprimida. Enquanto reponho frutas e legumes, não paro de pensar na volta que a minha vida deu desde aquela manhã de 6 de Julho de 2004.

Bastou um momento, poucos minutos, escassos segundos, uma meia dúzia de palavras para mudar para sempre o rumo da minha vida. Bastou uma notícia que desabou sobre mim para nada voltar a ser igual.

Naquela manhã esperava ansiosamente à porta do consultório nos Covões pela consulta. Estava morta por voltar a fazer aquilo de que eu mais gostava- praticar Desporto- depois daquilo que eu pensava que era uma normal paragem a seguir à intervenção cirúrgica aos olhos. Já não aguentava passar nem mais um dia sem calçar as sapatilhas, vestir o equipamento e dar uma corrida pela estrada como fazia naquela altura.

Chegada a minha vez, a primeira coisa que perguntei foi se já podia retomar a minha actividade desportiva. Foi nessa altura que, precisamente, tudo mudou e a última coisa que gostaria de ouvir foi mesmo a que ouvi naquele momento. O médico aconselhou-me a terminar a minha carreira por haver o perigo de descolamento da retina com o esforço. A pressão exercida sobre os olhos é enorme e com o esforço aumenta, o risco de cegar é enorme.

Fiquei desolada. Foi como se me tivessem despejado um balde de gelo em cima. Por momentos pensei tratar-se de um pesadelo do qual iria acordar. Um daqueles sonhos em que se chora compulsivamente como eu estava a chorar naquele momento e depois acordava ainda a soluçar abraçada à minha almofada.

Não era um sonho, infelizmente. Passaria a ser a minha realidade dali em diante. Tudo o que me dava alento para mim tinha acabado naquele momento. Todos os sonhos ruíram como um castelo de caras. O Desporto era a minha vida e, sem ele, viver não fazia sentido.

Através do Desporto aprendi a lidar com o facto de ser deficiente, coisa que me revoltava anteriormente. Comecei a sentir que tinha vida tal como as outras pessoas, que podia usufruir de tudo a que eu tinha direito. Foi graças ao Desporto que me tornei numa outra pessoa. Toda a gente reparava que estava mais sociável e que até me arranjava melhor. Eles tinham razão! Desaparecendo toda a revolta por ser diferente, o espírito fica livre para simplesmente viver. Via-me a dedicar-me com mais afinco às actividades de cada dia e os obstáculos tornaram-se mais fáceis de ultrapassar.

Graças ao Desporto pude conviver com pessoas de diferentes países com problemas semelhantes aos meus. Isso para mim era muito importante. Só o simples facto de se interagir com pessoas vindas de lugares com culturas diferentes da minha me enriquecia enquanto Ser Humano. Tinha amigos em diferentes países, amigos que nunca mais vi a não ser pela televisão. Hoje, seis anos volvidos, uma das minhas maiores mágoas é não saber onde estão nem como estão todas essas pessoas de quem guardo fotos e objectos que trocámos como relíquias, como uma pequena parte da sua presença na minha vida.

Graças ao Desporto tive a oportunidade de viajar e conhecer melhor esse Portugal que desconhecia. Nunca antes havia estado em Lisboa, no Alentejo ou no Algarve. Se tivesse continuado e dado seguimento ao que estava a fazer antes de ter sido operada, provavelmente teria viajado quase por todo o Mundo- aquele Mundo que conheço unicamente através do muito que leio. A cultura e a vida nos outros países fascinam imenso. Conheci a Polónia e poderia ter conhecido também a Holanda. Com muito sacrifício e a muito custo consegui ir mesmo à Holanda em circunstâncias que nada tiveram a ver com o Desporto. Foi um aparte.

Nem aqueles que foram meus colegas cá em Portugal voltei a ver. A última vez que estive com grande parte deles foi precisamente no dia em que anunciei a minha retirada, no longínquo dia 19 de Fevereiro de 2005 já depois de ter sofrido uma segunda intervenção cirúrgica. Sei que os meus colegas não me esqueceram, de vez em quando perguntam por mim ao Senhor Mário mas nunca mais surgiu a oportunidade de estarem comigo nem eu com eles. E já estiveram em Coimbra, por exemplo. Até nisto não tenho sorte nenhuma. Como tenciono eu reencontrar todos os meus amigos estrangeiros que comigo partilharam momentos bonitos e inesquecíveis se nem com os portugueses estou? Ser deficiente visual é duro e revoltante. Hoje não percebo por que razão alegadamente há pessoas que conseguem ter inveja de mim. Lamentável. Eu se não tivesse problemas, não invejaria a vida de uma pessoa que sofre muito como eu.

Foi nessa altura em que as coisas me corriam bem que até aconteceu aquilo que eu pensava nunca acontecer comigo- apaixonar-me por alguém de verdade. Eu pensava que o amor era um capricho, uma loucura, algo que me era impossível de compreender. Também foi preciso um único momento, poucos segundos, um rápido olhar para acontecer algo que eu julgava jamais acontecer comigo. Ele nunca soube, nunca lho disse e a distância passou naturalmente a esbater essa paixão. Tive contacto à distância com ele até 2006. Hoje essa paixão esbateu mas não deixo de sentir algo quando penso nele. Já não acordo a meio da madrugada de lágrimas nos olhos depois de sonhar que o reencontro por entre uma multidão de pessoas que envergam equipamentos coloridos e que nos abraçamos. Em 2005 quando as coisas pioraram, era ele que, sem saber, me dava força e coragem para continuar a viver. Só a sua presença, embora de forma remota, me fazia sentir que algo me prendia à vida.

Foi o Desporto que me fez, naquele ano de 2004, deixar a minha casa e partir para um novo rumo na minha vida. Tive de me adaptar com grande dificuldade, de lutar bastante até as coisas estarem dentro da normalidade. Quando isso aconteceu finalmente, eis que surge o agravamento da minha doença e a primeira operação que anunciaria o fim de todos os meus sonhos.

Uma semana antes de ser operada surgiu uma proposta para fazer o estágio profissional numa revista desportiva que havia na altura. Fui eu mesma quem mandou para lá o currículo por me identificar bastante com aquela publicação que aliava o dever de informar a alguma criatividade e imaginação. Muitos artigos que lia semanalmente nessa revista inspiravam-me novos temas para eu própria fazer os meus artigos. Tive grande azar na altura em que me foi feita essa proposta. Caso não tivesse acontecido nessa altura, teria arriscado ir para Lisboa, certamente haveria oportunidade de treinar com outras condições e hoje provavelmente não estaria aqui, não haveria todo o imbróglio que me impede de estar inscrita no Centro de Emprego e procurar algo como deve ser. Fico ainda mais triste hoje só de saber que, por ter tido este azar, estou onde estou. Com o meu talento, provavelmente, teria ficado ou sido encaminhada para voos mais altos.

Na altura escrevia para o jornal de Miranda do Corvo, desenhava, fazia rádio e ainda dava ideias para projectos ambiciosos para a associação. Depois daquela consulta tudo se perdeu também. Não foi só o Desporto. Tive de abandonar a instituição porque deixei de ter condições psicológicas para continuar lá. Tinha para lá ido em busca de melhores condições de treino, agora não fazia sentido continuar. Não estou arrependida de ter saído. Simplesmente teve de ser e o futuro, infelizmente, veio-me dar razão porque aquilo era o início do que eu iria passar no ano seguinte com mais duas operações e seus efeitos. Não tive sorte, só isso. Estava a fazer imensas coisas de que gostava. Tive de abdicar de tudo por antever que coisas piores dali vinham. Isso está escrito no meu mapa genético, o mesmo que diz que um dia, inevitavelmente, vou cegar completamente.

Nunca mais tive oportunidade de fazer rádio, um dos meus grandes sonhos da juventude, apenas ofuscado pelo sonho maior de ser alguém no Desporto. Na altura que precedeu a minha primeira operação, as pessoas diziam que eu podia entrar para o estúdio de rádio de lágrimas nos olhos, até com os olhos inchados de dias inteiros passados a chorar, o certo é que saía de lá com um sorriso estampado na cara. Lutei anos a fio por finalmente ver o meu programa realizado mas...tenho pouca sorte na vida e nem isso foi possível. Agora há uma hipótese remota de voltar a lutar por esse sonho mas hoje parece que há quem me condene a estar ali para sempre a repor frutas e legumes. É a vida que tenho!

Estive cerca de um ano e meio sem escrever fosse o que fosse. Não me sentia em condições. Só em finais de 2005, inspirada por alguns acontecimentos no seio do nosso grupo de formação, me aventurei a rascunhar aquele...como hei-de chamar...texto que não publiquei em lado nenhum enquanto os meus colegas que tinham mais dificuldade do que eu em lidar com os computadores recebiam a atenção devida do formador. Meses mais tarde, depois de muito ouvir falar em blogues sem saber o que eram e para que serviam e depois de saber que os Gato Fedorento ficaram conhecidos através do seu blog com o mesmo nome, resolvi tentar a minha sorte e abrir este blog que já conheceu muitos avanços e recuos. Nada que se compare ao sucesso que tinha a minha página de Desporto para Deficientes Visuais que também morreu em 2004 quando a minha carreira desportiva foi assim brutalmente interrompida. Não tive coragem de a reabrir noutro servidor. Tenho o conteúdo dela guardado num CD mas não tenciono fazer nada com ele novamente. Fica a recordação de ter sido a única página na altura em Português com informações sobre Desporto Adaptado, de servir de apoio a alguns trabalhos académicos e de ter sido pretexto para uma entrevista minha na Rádio Vaticano em Roma.

Apesar da pouca visão que ainda tenho, diz a crítica que desenhava bem. Alguns meses depois de eu ter saído de Miranda do Corvo, por acaso na véspera da minha segunda operação, telefonaram-me a dizer para eu lá ir. Não podia porque nesse dia tinha de ser internada. Mas o que é que eles me queriam? Estava lá a decorrer uma exposição de trabalhos dos utentes. Entre eles foi também exposto um dos meus últimos desenhos que fiz enquanto lá estive. Era um desenho um pouco ousado, se calhar até era por isso que olhavam tanto para ele. No desenho estava representada uma praia com pessoas integralmente nuas com ar feliz enquanto se banhavam e apanhavam sol. Quando diziam àquelas pessoas que aquele desenho tinha sido feito por alguém praticamente cego, ninguém conseguia acreditar. Queriam que eu lá fosse mas isso foi impossível. Depois disso, sensivelmente um ano depois, fiz um desenho que há-de estar algures neste blog num dos primeiros textos. Já não me lembro para que era mas penso que tinha qualquer coisa a ver com acessibilidade para pessoas com mobilidade reduzida. Também ele foi exposto no átrio da Câmara Municipal de Coimbra juntamente com todos os outros realizados nesse âmbito. A partir daí, também não voltei a desenhar. Tudo o que eu fazia nessa altura e que me dava prazer desapareceu.

Hoje resta-me a escrita mas, como eu trabalho e o trabalho me absorve grande parte do tempo, também isso se está a perder. Pensando bem, tenho este trabalho porque aconteceu o 6 de Julho de 2004 e ainda estou a pagar a factura da sua existência. Por isso hoje sinto-me triste por tudo na minha vida ter mudado assim de forma tão indesejável.

Ninguém compreende por que estou assim. Ninguém sabe a dimensão do que se passou e do que isto significou para mim. Lamento o Destino que foi escrito para mim. A minha vida é feita de oportunidades falhadas, parte delas por ter este maldito problema. Quando me habituo a viver com a sua existência, quando tento ignorá-lo, eis que ele surge e se revolta para me lembrar a todo o instante que o possuo. Quem consegue viver assim? E ainda me dizem que há pessoas com inveja de mim. Custa a acreditar que alguém inveje a vida de alguém que trabalha num supermercado dignamente a repor frutas e legumes mas com talento para ir mais além. Apenas não vai porque tem um problema que lhe rouba a todo o momento a oportunidade de ser feliz e porque aconteceu o 6 de Julho de 2004.

Maçãs podres



O rumor já circulava há alguns dias. A transferência de João Moutinho do Sporting para o Porto- a concretizar-se- prometia animação ao defeso em Portugal.

O antigo capitão do Sporting apareceu mesmo para treinar no Centro de Treinos do Olival devidamente equipado de azul enquanto que o presidente do Sporting caracterizava Moutinho como sendo a maçã podre do balneário leonino, acusando-o de ter tido um comportamento deplorável nos últimos tempos.

Eu, que lido com fruta todos os dias, soltei uma valente gargalhada e antevi rir-me ainda mais quando achasse uma maçã podre no dia seguinte. Só que há um pequeno aparte: as maçãs que normalmente há por lá pelo meu local de trabalho são encarnadas e quando apodrecem ficam castanhas. Maçãs verdes que quando apodrecem ficam azuis? Que fenómeno!

A transferência estava mais do que confirmada. Moutinho trocou o Sporting pelo clube rival por menos de metade da sua cláusula de rescisão e o Sporting também recebeu em troca o central Nuno André Coelho que não estava nos planos do clube presidido pelo mítico Pinto da Costa. Nas hostes leoninas havia que dar uma explicação convincente, mas mesmo muito convincente aos sócios e adeptos para a razão da transferência do capitão de equipa, logo para um clube rival e por metade da sua cláusula de rescisão.

José Eduardo Bettencourt compareceu na sala de imprensa a dar explicações muito pouco claras para a inesperada saída de Moutinho para o Porto. Referindo-se em termos pouco abonatórios ao antigo capitão, o presidente do Sporting ainda referiu que nenhuma proposta para além daquela havia chegado para a venda do jogador. Obviamente que ninguém acreditou!

Em Março o Lokomotiv de Moscovo, se não me engano, estava disposto a contratar Moutinho e Izmailov (outro jogador de quem correm rumores que será o próximo a trocar Alvalade pelo Dragão). Os dirigentes do Sporting recusaram a proposta argumentando que os jogadores seriam precisos para os jogos da Liga Europa. Como se o Sporting aspirasse a vencer a competição! O fracasso nessas transferências levaria, dias mais tarde, ao “caso Izmailov”. Já nessa altura os dirigentes do Sporting deveriam ter aberto os olhos e feito o que tinham a fazer: deixar os jogadores sair e seguirem a vida deles onde se sentissem melhor.

A confirmar-se a debandada de outros jogadores para além de Moutinho, a culpa será inteiramente dos dirigentes que estão completamente a léguas daquilo que é hoje a realidade do Futebol mundial. Hoje em dia, por mais que se tente, já é impossível segurar um jogador para sempre num clube. Mesmo que se prometam mundos e fundos. Todo o jogador é ambicioso e o sonho de experimentar outras realidades futebolísticas não vale quanto dinheiro se queira colocar numa cláusula de rescisão que na prática funciona como qualquer documento existente à época da escravatura que já ficou para trás há séculos.

Sou da opinião de que a FIFA ou a UEFA deveriam intervir para acabar com estes abusos das cláusulas de rescisão e impusessem novas regras ao mercado futebolístico que está a entrar num beco sem saída. Os interesses dos jogadores devem ser defendidos primeiro que tudo. As cláusulas de rescisão incomportáveis são uma forma moderna de escravatura, disse e repito.

O Sporting e outros clubes por aí colocaram fasquias muito altas para salvaguardar que as suas estrelas permaneceriam o maior tempo possível ligadas aos seus emblemas, mesmo que para isso perdessem o sorriso na cara e a vontade de fazerem aquilo de que mais gostam. O resultado é este que se está a ver agora no Sporting e o que se viu na mesma colectividade desportiva ao longo de toda a penosa época passada.

Tenho amigos sportinguistas que defendem que a desastrosa época realizada o ano passado teve a ver com a presumível vingança de alguns jogadores por não os terem deixado partir para voos mais altos. São os próprios adeptos do Sporting a dizer isto e agora o discurso do presidente vem, de certa forma, ao encontro desta teoria que não deixa de ter lógica. Moutinho terá liderado o protesto de jogar mal para pressionar os dirigentes a deixar sair os jogadores? Recorde-se que Moutinho veio, no início da época, manifestar o seu desejo de abandonar Alvalade. Um ano depois concretiza-o e logo para o clube rival. Rumores? Teorias descabidas? Nem por isso. As provas estão à vista.

Que este caso sirva de lição a todos os dirigentes portugueses e não só: os jogadores, por mais valiosos e imprescindíveis que sejam, não são mercadoria, são seres humanos e, como tal, têm os seus sonhos e ambições. João Moutinho agiu de forma desesperada. Sentiu-se com as pernas cortadas, com a vida pendurada por um simples papel absurdo, com números inapropriados que hipoteca o querer e a vontade do homem que existe para lá do jogador de Futebol. Encorajados por este caso, muitos Moutinhos se prepararão para a revolta contra a verdadeira selva que são as cláusulas de rescisão incomportáveis.