Tuesday, September 07, 2010

As estranhas casas de banho de Esmoriz

Adormecer a pensar em coisas disparatadas só tem de levar a sonhos igualmente disparatados em que os excrementos estão presentes.

Dizem que dá sorte sonhar com excrementos mas eu sou tão desgraçada que nem tempo tenho para registar um simples Euromilhões. Com sonhos destes, talvez me calhasse um prémio chorudo que me resolvesse os meus problemas. Como seria bom!

Antes de adormecer naquela noite quente, comecei a imaginar cenas disparatadas, daquelas mesmo que imaginamos e começamos a rir às gargalhadas. Eu tenho muitos episódios desses.

Acabava de verificar as classificações da Volta a Portugal deste ano em que a Rabobank participou e em que não teve uma boa classificação. Apesar de eu saber as causas do último lugar do ciclista Coen Vermeltfoort, logo inventei uma situação algo engraçada que estoirasse literalmente com a moral de qualquer atleta, mesmo que estivesse numa forma espectacular.

Imagine-se o seguinte: um quarto de hotel com duas camas ocupadas por duas pessoas. Um hotel muito chique com os quartos repletos de mobiliário e candeeiros antigos por todo o lado. Candeeiros bem chiques e raros, daqueles que ultrapassaram séculos e séculos. Haveria também uma pequena cómoda ou uma mesa mesmo com algumas bebidas para um aperitivo antes de dormir (haveria alguns que se iriam enfrascar até para dormir melhor, mas não é aí que eu quero chegar).

Bom, imagine-se o hotel silencioso. Não se ouve uma melga. Apenas aqui e além o ressonar de alguns hóspedes. É noite escura e está tudo apagado. O Coen dorme profundamente mas está a ter pesadelos com aquilo que mais o aterroriza. No fundo toda a gente tem pesadelos e, no seu subconsciente, sempre haverá alguma coisa que perturbe profundamente, por mais absurda que seja.

Numa versão mais rebuscada que nem foi a minha primeira, os nossos amigos até estiveram a ver um thriller. Isto serviria para a história ficar mais composta. A primeira versão até foi diferente. Estando cansado, deitou-se primeiro e o colega vendo-o a dormir entrou com o intuito de não fazer barulho e acabou por fazer o maior estardalhaço que alguma vez se fez á face da Terra porque entrou às escuras e derrubou alguns objectos que depois, num espectacular efeito de dominó, acabariam por derrubar outros.

Mas aí estaria mais alguém a deitar-se no hotel. Não teria o mesmo efeito da versão definitiva da minha pequena história. Era madrugada, o Coen dormia e tinha pesadelos. Na cama ao lado, o colega levantou-se para ir à casa de banho. Simplesmente isso. Não querendo acender as luzes, nem fazer barulho para não importunar o sono descansado do colega, optou por ir às escuras e em bicos de pés. O cuidado era extremo, ora tentem imaginar! Só a imagem do indivíduo circulando no quarto com os braços esticados à frente como os sonâmbulos ou tacteando as paredes dá vontade de rir. Com tantos candeeiros no quarto. Ao menos levasse o telemóvel! Não, não leva porque, se bem se recordam, ele levantou-se com muito jeitinho para ir à casa de banho. Pegar no telemóvel implicava tocar no candeeiro em cima da mesa-de-cabeceira. Reparem o extremo cuidado do indivíduo!

De repente há uma mão colocada em falso, uma mão que toca num candeeiro ou mesmo um encontrão dado com o corpo na mesinha ou na cómoda das garrafas. Tudo tomba e faz a maior das chinfrineiras.

Coen, que estava a ter um pesadelo, acorda sobressaltado com aquele barulho. Olha e vê apenas uma sombra negra bem atrapalhada. Está escuro e ele não reconhece quem ali está. Para dizer a verdade, de tão sobressaltado e assustado que acordou, nem consegue identificar onde está. Assusta-se terrivelmente e fica perturbado. É com esse espírito que parte para a estrada. Apesar de já saber o que se passou, ainda se sente abalado com o susto que levou.

Adormeci a compor e a recompor pequenos pormenores nesta história que, no geral tinha sempre o mesmo alinhamento: um quarto escuro, uma pessoa a dormir e outra acordada e a pessoa acordada que deixa a outra em sobressalto porque parte sem querer toda a quinquilharia que adorna desnecessariamente o quarto.

E ao fim de duas páginas de texto, já estão a perguntar os mais atentos o que é que isto tem a ver com o título que coloquei em cima. Ainda o posso mudar, se quiserem mas...para vos chatear vai ficar assim.

Sonhei então que ia num passeio de camioneta. Numa excursão talvez. Passava por casas que recebiam os últimos raios alaranjados de Sol de um belo final de tarde. Estava a adorar aquelas imagens que me eram transmitidas pela janela do autocarro. Estava a adorar aquele passeio.

Haveria nessa noite em Esmoriz um jogo entre o Beira-Mar e o Esmoriz. Mas não era o Esmoriz que existe na realidade, era aquele Esmoriz que existiu há tempos na minha série de Hattrick e que era um bot muito fraquinho e que levava altas goleadas. Essa equipa, por ser tão fraca, originou a que eu desse largas à minha criatividade e imaginação e fizesse alguns textos bem engraçados que devem estar, se não estou em erro, no outro blog.

Para quem não joga jogos virtuais deste género, há que explicar que um bot é uma equipa criada pelo sistema informático que gere o jogo para substituir uma equipa que foi banida por batota ou foi simplesmente abandonada por alguém que desistiu de jogar. Esse Esmoriz era bot porque o dono desistiu pura e simplesmente. Todas as transferências dessa equipa estavam limpas de batota.

Quando tinha dessas equipas na minha série, escrevia textos em que descrevia os seus recintos desportivos a precisar urgentemente de grandes obras de remodelação. Os balneários e as casas de banho eram do piorio.

Não sei porque agora transcrevi esses recintos desportivos sem condições para os meus sonhos tanto tempo depois. Sonhar com casas de banho é muito normal, segundo os especialistas sem, no entanto, conseguirem dar uma explicação plausível para tal fenómeno. Eu costumo sonhar regularmente com casas de banho, especialmente quando tenho vontade de ir até lá. Talvez por a vontade de ir à casa de banho ser real, nunca consigo ir a qualquer das casas de banho dos sonhos. Quando consigo lá ir, nunca me satisfaço. Por vezes as casas de banho não têm portas, estão ocupadas, as suas sanitas são estranhas ou estão tão sujas e molhadas que não se pode lá entrar. Também já me lembro de ter sonhado que não fui à casa de banho por haver janelas abertas para a rua ou para outros compartimentos onde haveria gente a observar.

Neste caso concreto, havia um pouco de tudo. As casas de banho, de uma requintada porcelana cor de rosa, estavam sujas e mais pareciam lavatórios. Não havia portas que fechassem numas casas de banho, noutras as portas já tinham sido arrancadas. O chão estava simplesmente imundo de urina e excrementos. Lavatórios e sanitas tinham pouca diferença.

Vendo tudo sujo, algumas sanitas ocupadas e sujas, lá trepei para um lavatório. Lembro-me de me terem contado que uma aluna na Escola Secundária de Anadia, vendo as casas de banho todas ocupadas, subiu para o lavatório para nele urinar. Só que a estrutura não aguentou com o peso da estudante e cedeu. Neste caso deu-se a mesma cena. Subi, a estrutura cedeu e eu logo desci. Era tarde demais. Aquele lavatório estava a abarrotar de porcaria. Era urina e excrementos que formavam uma papa castanha uniforme e malcheirosa. Quando desci e vi o lavatório a tombar para um dos lados, logo o agarrei mas o seu conteúdo pouco agradável virou para cima de mim deixando-me toda suja e com vergonha de sair dali.

Foi nesse estado que acordei. Felizmente era um sonho. Um sonho muito estranho, diga-se.

Em bom Português, adormeci com pensamentos de merda, tinha de sonhar mesmo com merda.

No comments: