Friday, October 29, 2021

“Acidentes” (impressões pessoais)

 

Mais uma incursão pela poesia. Mais um escrutínio pela alma de alguém que gentilmente a expos ao Mundo.

 

Sim, porque continuo a dizer que a poesia é a voz da alma, daí não se perceber muitas vezes o que o poeta quer dizer. Como é complicada tal linguagem! Como se vai por atalhos linguísticos para explicar coisas tão simples?

 

Continuo a dizer que é preciso conhecer o estado de alma no momento da elaboração de um poema para o compreender. Para mim é tão complexo entender alguns poemas como compreender uma complicada equação.

 

Mesmo assim eu tento. Tento sempre  concentrar-me mas acabo sempre por me perder. ´ É como se através da porta aberta pela alma alheia se abra um atalho para a minha própria alma. Tal como acontece a um atalho de um programa qualquer de um computador. Nem trinta segundos me embrenho num poema, por mais esforço que faça.

 

No caso deste livro de Hélia Correia, a linguagem até é simples. Os jogos de palavras e a forma como a autora constrói as frases é que tornam complicada a compreensão do poema.

 

Eu, que um dia destes também me hei de aventurar a escrever poemas, simplesmente tento observar como outros os escrevem. Sinto que as regras rigorosas da construção de poemas de outrora já não existem mais. Constato que Hélia Correia nem rimas faz. Para que me hei-de preocupar com isso?

 

Chego à conclusão que, de uma forma ou de outra, já escrevi um poema. Alguns destes textos coloquei-os aqui.

 

“Zodíaco” (impressões pessoais)

 

Como sabem, adoro romances policiais mas este livro é diferente.

 

Não se trata de um livro de ficção, como noventa e nove por cento dos policiais que leio. Os mais distraídos poderão pensar que sim mas por detrás desta obra está um exaustivo trabalho de investigação que muito respeito e admiro.

 

Já não é a primeira vez que leio um livro deste género. O crime ocorre mesmo, o que torna o livro mais interessante. Uma coisa é alguém contar histórias de crimes que não aconteceram e outra completamente diferente é escrever livros sobre crimes que aconteceram mas que são tão hediondos que podiam muito bem ser ficcionados. É o caso deste serial killer que começou a atormentar certas localidades em finais dos anos sessenta e matou um número indeterminado de pessoas. Era conhecido como Zodíaco e não foi apanhado.

 

Ao longo deste processo, este assassino implacável escrevia cartas aos jornais desafiando as autoridades, enviando pedaços de roupa ensanguentada das vítimas e ameaçando matar mais gente.

 

Houve quem sobrevivesse á malvadez deste assassino inexorável. Muita gente o viu e mesmo assim não detiveram ninguém.

 

Ao longo desta obra é feita uma minuciosa viagem pela investigação deste crime. Um bom manual para quem quer aprender a escrever romances policiais, desta vez sobre crimes que não ocorreram. Todos os pormenores estão aqui referenciados, envolvendo as mais diversas áreas de investigação criminal. Imagine-se que já li centenas de livros policiais e nenhuma conta ao pormenor os procedimentos de uma autópsia a uma vítima de homicídio. Muito bom mesmo.

 

Com este livro aprendi muito.

 

Thursday, October 28, 2021

Temia que este dia chegasse

 

Muitas vezes dei comigo a pensar como seria se um dia o meu craque- o Mehdi taremi- marcasse os golos que dariam uma vitória aos azuis. Como reagiria. E como seria se o Benfica não conseguisse um resultado positivo, tal como esteve para acontecer nesta jornada 9?

 

Bem, este dia chegou no passado sábado. Curiosamente nem estava a acompanhar o jogo e encontrava-me na rua no meio de muita gente, para complicar um pouco a minha vida.

 

Fui assim confrontada com o enorme jogo que ele fez em Tondela em que sozinho deu a volta a um jogo que os portistas praticamente começaram a perder desde início.

 

Já todos sabem que eu provavelmente sou a fã número um do Taremi aqui em Portugal. Nem entre os adeptos do clube onde ele joga existem pessoas tão dedicadas a ele como eu.

 

Devo confessar que por vezes ele é o culpado das minhas lágrimas, as de alegria e as de tristeza. Estas últimas pelo facto de as pessoas do meu clube não o terem querido lá, quando tudo se encaminhava para esse desfecho. Eu andava muito entusiasmada com esse facto. Penso que já disse aqui isto: se o Taremi tem ido para o Benfica, eu iria logo ao Estádio da Luz, fosse de que maneira fosse. Infelizmente levo com ele a jogar por aquele clube que cresci a odiar. Outros jogadores houveram que fizeram o mesmo caminho e me deixaram triste. Um deles acabaria mais tarde por jogar mesmo no Benfica mas esta história sobejamente conhecidade como começou esta minha predileção pelo taremi vem de um momento muito delicado na minha vida- a perda da visão e tudo mais que tal mudança acarreta.

 

A partir dessa noite em que o Taremi sem o saber me colocou um sorriso na cara muitos meses depois, torcia mais pelo Rio Ave do que pelo próprio Bem fica que só me dava tristezas. A menos que em janeiro o Taremi viesse para o Benfica- o que não aconteceu. Depois vem Jorge Jesus e é o que se sabe.

 

Lágrimas de alegria e emoção chorei eu quando o Taremi sozinho levou o Rio Ave ás competições europeias. Ainda hoje me surgem lágrimas nos olhos ao reviver essa tarde. Talvez das emoções mais fortes que vivi no Futebol. Seriam também os últimos golos marcados por ele que festejei efusivamente. Agora, por mais que aprecie que ele marque golos, são com a camisola daquele clube do qual não gosto. Ainda há as competições europeias. Aí eu ainda festejo os golos que ele marca mas gostaria de ter rédea solta para vibrar com os golos do jogador que eu admiro, aquele jogador que uma noite, sem o saber, me colocou um sorriso na cara. Sorriso esse que curiosamente foi visto pela última vez quando em maio de 2019 festejei pela primeira vez na praça da República em Coimbra o título do Benfica. Nunca antes tinha saído á rua,  para a confusão, mas pressenti que ia ser a última vez, até porque teria uma consulta de oftalmologia poucos dias depois e estava a perder a visão de forma galopante. Dias depois viria aquele dia que mudou a minha vida para sempre e com ele as privações de muita coisa, inclusive a de ver Futebol e grandes golos marcados pelos melhores jogadores.

 

Quando eu digo que já chorei algumas vezes por causa do Taremi também tem a ver com o facto de nunca ter visto um golo que ele tenha marcado. Não me consigo lembrar dele no jogo em que o Irão defrontou Portugal e, como ele veio jogar para cá depois de  eu estar assim, limito-me a imaginar como foram as jogadas. A primeira vez que isso aconteceu foi depois de um golo curiosamente marcado pelo Rio Ave contra a equipa cuja camisola agora enverga. Descreveram-me o golo mas  não é a mesma  coisa.

 

Pior foi quando o Taremi marcou aquele golo na Liga dos Campeões frente ao Chelsea. Esse golo eu festejei efusivamente. Um em muito tempo. Houve um amigo meu que, pensando que me deixava feliz, pensando que eu ainda pudesse ver alguma coisa, tratou logo de me enviar um vídeo desse golo. Com muito orgulho, pois ele é também iraniano. Depois toda a gente me disse que era um belo golo. Eu limitava-me a encolher os ombros. Já vi muitos golos bonitos na vida mas agora não os  consigo ver mais. Uma das coisas que me fazem chorar ainda quase diariamente é quando está a passar um jogo na televisão que não tenha relato na rádio. Eu acompanho quase todos os jogos na Golo Fm. Ainda tento ver mas só distingo a relva e pouco mais. Distingo os jogadores quando eles vestem de vermelho ou laranja mas quando  há planos fechados. Naturalmente estas feridas custam a sarar.

 

Quem nunca viu na vida, acostumou-se a ouvir os relatos bem cedo. Eu ouvia muitas vezes o relato e, ao mesmo tempo, tinha a televisão ligada sem som. Queria observar grandes jogadas e grandes executantes.

 

Hoje talvez as emoções do Futebol me estejam mais á pele. Talvez seja por isso que defendo o Taremi com unhas e dentes, mesmo contra pessoas do meu clube. Lembro-me de ter travado  há uns tempos uma discussão com duas pessoas- por acaso do Sporting- um deles por acaso meu amigo há muitos anos. Se a memória não me falha, foi antes de ele vir para o Porto.

 

Ferve-me o sangue com muita facilidade ao ver comentadores principalmente afetos ao meu clube a dizerem que ele engana os árbitros e por aí fora. Até lhe chamam nomes. Mas por outro lado ainda há adeptos e comentadores do Benfica que têm consciência de que ele só não está no Benficaporque o nosso clube teve a mania das grandezas. Jorge Jesus e Luís filipe Vieira principalmente pensaram alto e queriam Cavani. Quando viram que o avançado uruguaio era inacessível, já era tarde demais e Jorge Jesus, não tendo Cavani, teria o seu suplente na seleção do Uruguai. Ainda me doi quando contam que  o Taremi tinha em vista o Benfica e não Porto ou Sporting. Nos bastidores muitas pessoas contam essas histórias, o que lhes confere grande índice de veracidade. Essa veracidade é corroborada por um facto: quando o Rio Ave foi jogar ao Estádio da Luz em novembro ou dezembro de 2019, o Taremi estava lesionado. Na altura, Carlos Carvalhal tinha mesmo apontado a permissividade do árbitro que tinha apitado o jogo anterior dos vilacondenses frente ao Paços De Ferreira em que o Taremi passou o jogo todo a apanhar porrada e os  cartões ficaram no bolso. Pediu mesmo mais proteção para o taremi, dado ser um jogador acima da média e chegou mesmo a afirmar que ele seria mais protegido se jogasse num dos três grandes. Os jogadores pacenses lesionaram o Taremi nesse jogo. Mesmo assim, ele pediu para jogar contra o Benfica na Luz. Eu ouvi o relato desse jogo. Diziam que ele tinha uma perna toda ligada. Ao intervalo ele foi substituído. No final do jogo, Carlos Carvalhal veio dizer que ele nem a trinta por cento estava para jogar. Só jogou porque pediu. Depois desse jogo, esteve fora de competição algum tempo, regressando contra o Moreirense em que saiu do banco nos últimos instantes e ainda marcou um golo que deu o empate ao rio Ave. Se as pessoas ficam loucas com o poder ou com umas eleições que ganham ou perdem e esquecem valores humanos, lamento.

 

É por tudo isto que fico triste com a forma como as coisas aconteceram. O Futebol tem destas coisas. Desperta em nós emoções, por vezes irracionais. Também fico triste por uma coisa: se eu soubesse na altura que o Taremi ia para o Porto e não para o Benfica, tinha escrito com tempo ao rio Ave para pedir pelo menos uma camisola daquele jogador que naquela noite por momentos me fez esquecer de tudo o que estava a passar. Sei que eles têm até uma política muito boa de responsabilidade social e iriam ajudar. Se então soubessem o quanto festejei aquela ida ás competições europeias…naquela tarde emocionei-me a sério. Até eu me surpreendi.

 

Depois de debitar aqui um pouco o que me vai na alma, os sentimentos confusos e ambíguos que me assaltam, devo dizer que Benfica e Sporting venceram apenas por 1-0. Os leões em alvalade ante o Moreirense e o Benfica em Vizela. Também o Sporting de Braga foi a Barcelos vencer pelo mesmo resultado.

 

Quanto ao destaque da jornada, penso que já tudo foi dito lá atrás.