Saturday, December 30, 2023

“A Casa Do Lago” (impressões pessoais)

 

Quase a fechar o ano em termos de leituras, fica este romance passado em 1936 ás portas da Segunda guerra Mundial.

 

Todas as famílias importantes guardam os seus segredos mais obscuros e, muitas vezes, nem tudo o que parece é. Caroline é uma implacável e irascível matriarca de uma abastada família inglesa. Mordaz, cáustica e implacável, a velha implica com tudo e todos, especialmente com a sua neta mais nova a quem trata pior do que um cão.


em contrapartida, a matriarca da família idolatra o seu filho Jack que é também um ser repugnante, viciado em violentar meninas adolescentes e, aparentemente, morto na grande guerra.  Mas será que está realmente morto? Perguntem à repugnante sua mãe! Ela deve saber onde ele está e, especialmente, o que é que ainda continua a fazer.

 

Numa época de grandes convulsões políticas, Caroline vinca as suas posições, não tendo qualquer problema em julgar tudo e todos. Mas será que ela é um poço de virtudes. Ela que tem de preservar as  aparências a qualquer custo, nem que para isso tenha de sacrificar a vida dos seus familiares.

 

Uma daquelas personagens que causa tal antipatia e repulsa, que apetece esganar com as  próprias mãos.

 

Friday, December 29, 2023

O último brilho da Lua

 

Era uma noite quente de final de agosto. Previa-se uma lua-cheia brilhante, de uma tonalidade alaranjada. Seria uma superlua a que todos desejariam  assistir.

Gentes da cidade deixaram o brilho das luzes artificiais para se deslocarem para os campos, de  preferência para sítios ermos onde não houvesse grande concentração de árvores e se pudesse olhar o Céu livremente.

Como a noite se previa agradável, muitos levaram mantas para se sentarem no chão e comida para partilhar. Vivia-se este acontecimento como se fosse uma festa. Ninguém vivo hoje teria oportunidade de experienciar outro fenómeno semelhante, pois anunciavam que outro fenómeno deste género ocorreria dali a trezentos anos.

Uma conjugação estranha dos astros levaria a lua a aproximar-se perigosamente da terra e a ser maior e mais brilhante do que ocorre   habitualmente em noites de lua-cheia.

Velhos e novos já ocupavam os seus lugares antes do anoitecer. Não queriam por nada perder o surgimento da Lua. Para as gentes do campo especialmente, iria ser um acontecimento que estava a ser encarado até com uma pontinha de receio. As crianças não escondiam o entusiasmo. Eram autorizadas a estarem despertas pela noite dentro e não escondiam o sorriso na cara. Perguntavam aos adultos quando é que surgiria a Lua, tal como na véspera de natal perguntam se o pai natal ainda demora muito a trazer os seus presentes.

Eram oito horas da noite e sentia-se no ar uma certa magia, um certo mistério, um certo suspense. O Sol estava prestes a esconder-se para dar lugar á  rainha da festa mas a claridade teimava em não dar lugar á escuridão.

Os minutos passavam e uma estranha faixa de luz amarela era cada vez mais visível no horizonte. O que seria?

Por entre conversas de circunstância, sorrisos e algumas trocas de comida e bebida para aconchegar o  Estômago, os presentes foram constatando que aquela faixa amarela de luz se tornava rapidamente laranja e vermelha em alguns pontos. Era estranho, assustador e deslumbrante ao mesmo tempo.

Alguém estranhou que ainda continuava de dia e já passava das nove e meia da noite. Outro dos presentes disse que tinha feito  uma caminhada há duas semanas por essa hora e ainda conseguia ver o caminho em perfeitas condições, nada de extraordinário.

Finalmente a faixa dourada descolou do horizonte e constataram que era uma enorme bola redonda. Seria aquilo a Lua?

De olhos arregalados e boca aberta de espanto, as pessoas estavam atordoadas a olhar para o Céu. Pareciam  hipnotizadas de espanto. A bola de luz que seria a Lua preenchia grande parte do firmamento e a luminosidade era tal como se fosse de dia.

Nas extremidades, a grande Lua era de um tom sanguinolento, caminhando para o centro era de uma tonalidade dourada e brilhante. Era um espetáculo bonito e aterrador ao mesmo tempo.

Por aquilo que pareceu uma eternidade, ninguém falou. Afinal, o que haveria para dizer? Tanta coisa e, ao mesmo tempo, nada. Que palavras conhecidas poderiam descrever evento tão raro e maravilhoso. Dava a sensação que bastava estender a  mão e logo conseguíamos retirar a Lua do Céu e segurala nas nossas mãos como se fosse um gigantesco  balão.

Pela madrugada os telemóveis dos que fotografavam o  Céu avidamente deixaram de funcionar. Simplesmente foram desligados ao mesmo tempo como que por magia. A gigantesca bola que era a Lua, pouco a pouco, foi ganhando uma tonalidade branca e começou a brilhar intensamente. Começaram-lhe a chamar Lua de prata. Era uma claridade que até ofuscava, quase como a luz do sol.

De repente e sem aviso prévio, aquela enorme luz brilhante simplesmente se apagou mergulhando tudo na mais medonha e terrífica escuridão. Foi como quando apagamos uma luz acesa em nossas casas usando um interruptor.

Crianças choraram, velhos benzeram-se e muita gente sentiu um arrepio funesto. Nunca tinham visto um Céu tão negro.

Os mais corajosos ainda estavam de olhos postos no firmamento a olharem para o vazio. Era estranho nem uma única estrela ser visível.

Assim se passou aquela noite. Muitas vieram a seguir. Tão escuras e tenebrosas como a do último brilho da Lua. As horas de sol davam normalidade aos dias mas as noites inspiravam um clima estranho e agoirento.

Mesmo nas cidades as pessoas recolhiam cedo. Tinham dificuldade em olhar para aquele autêntico poço negro que era o Céu. Ninguém conseguia explicar o que se passou com a Lua e com as estrelas naquela noite.

Dez anos foram passados desde o último brilho da Lua. A vida cá em baixo adaptou-se. Deixaram de haver marés. O Mar parou no tempo e a areia da praia tornou-se grossa e de uma tonalidade cinzenta.

Agora ver a Lua somente em fotos ou vídeos guardados religiosamente para mostrar ás gerações vindouras que o Céu tinha vida antes daquela noite em que a Lua brilhou intensamente para depois simplesmente desaparecer num abrir e fechar de olhos.

Estou sentada num banco á porta de minha casa. É uma noite de finais de agosto bastante quente. São nove da noite e o dia vai escurecendo. Escurece muito rápido. A temperatura cai a  pique e o arrepio que me percorre o corpo significa muito mais do que o súbito arrefecimento noturno.

Algo de muito estranho e maligno se apoderou dos astros.

 

 

 

Thursday, December 28, 2023

“Tundavala” (impressões pessoais)

 

Quase a terminar este ano, literatura portuguesa.

 

Paula Lobato De Faria traz-nos esta história passada em plena ditadura, quando a guerra colonial, particularmente em Angola, atingia o seu auge.  São vidas que se cruzam, laços familiares, de amor e de amizade numa sociedade marcada pela censura e por uma rígida conduta social marcada por fortes  influências católicas.

 

O divórcio não é permitido e isso leva a que as mulheres, particularmente, tivessem de viver com alguém que as maltratava para o resto da vida e muitas vezes os casamentos eram arranjados e não fruto do amor entre o casal.

 

Para separar muitas vezes casais recorriam-se a expedientes como a denúncia á PIDE que depois iria prender um membro do casal ou condená-lo a um exílio.

 

A guerra colonial também não dava tréguas e Portugal era a chacota do resto do Mundo. Se hoje vemos a comunidade internacional a condenar a Rússia por causa da guerra na Ucrânia, no passado era Portugal que era posto no banco dos réus por insistir num império colonial quando há muito tal deixou de ser viável no Mundo.

 

Mais uma vez me ponho a pensar. Tive muita sorte em ter nascido depois do 25 de abril.