Tuesday, September 21, 2010

Carros especiais para Portugueses

Ia eu a descer a rua num final de tarde e deparo com um carro em cima do passeio. Olhem que novidade! Ali naquela zona é normal haver carros em cima do passeio. Chego mesmo a ir pelo meio da estrada, sujeita a ser atropelada só porque os senhores automobilistas estacionam ali os seus fiéis veículos.

Desta vez o carro estava completamente de esguelha. Nem estava no passeio, nem no meio da estrada. A porta do lado do condutor estava aberta e um indivíduo conversava com outras pessoas, também elas paradas no passeio a obstruir a passagem, como se estivesse sentado na esplanada.

Reparem bem, era um carro que até nem era nada pequeno, de cor escura, com as portas abertas, estacionado mais ou menos na forma diagonal no passeio e havia ali um pequeno grupo de pessoas em que se incluía ainda o condutor do veículo. Tive de contornar o carro e as pessoas que ali estavam. Não fui pela estrada porque assim tinha de ir mesmo pelo meio mas fui por uma zona térrea. Claro que comecei a barafustar com o homenzinho e mostrei-lhe o grande desvio que tive de fazer. Ele pediu-me desculpa mas eu nem quis saber. Continuei a discutir, até porque por aquele passeio abaixo havia à vontade uns dez carros ali estacionados indevidamente.

Poucos metros abaixo existe uma rotunda que é um perfeito degredo. Sinceramente não sei por que colocaram ali semáforos para peões. Para a esmagadora maioria dos automobilistas que ali passam, aqueles semáforos servem apenas para enfeitar. Por detrás até há um jardim e tudo. Há artistas que param quando o semáforo para peões está vermelho e arrancam como se estivessem a acelerar para uma prova do Rali de Portugal quando o semáforo fica verde para se poder atravessar na passadeira. Enfim…

Se os automóveis fossem seres providos de sentimentos, deviam sofrer imenso com os seus donos. Provavelmente até haveria um estudo dos muitos que agora se fazem por aí em que os automóveis portugueses eram os mais deprimidos e insatisfeitos da Europa. Se tivessem a capacidade de se vingar, os popós fariam com que os Portugueses sofressem também com os seus caprichos e teimosias.

Como esse dia nunca há-de chegar infelizmente, talvez a Tecnologia se encarregue de conceber uns automóveis especiais para os Portugueses perderem certos costumes. Começando pelos estacionamentos, o carro do futuro simplesmente se recusa a ser estacionado de qualquer maneira e em qualquer lado. Simplesmente não consegue andar nos pavimentos dos passeios e tem uns sensores que detectam portas. Num raio de trinta metros em relação à entrada de um edifício, não se consegue fazer com que o carro fique ali. Lá tem o tuguinha de andar a pé, que até se consola. E então é vê-lo protestar se acaso encontra carros que ainda não possuem os meios tecnológicos estacionados junto às portas ou em cima do passeio. Era bem feito!

Este carro teria também grande dose de responsabilidade cívica. Em qualquer passadeira, tenha ou não semáforos, o carro anda quase ao ritmo do de uma pessoa a pé. Se acaso os outros carros que seguem atrás continuam a acelerar, azar o deles porque vão bater e pagam as consequências. No caso de a passadeira ter semáforo, o carro possui uns sensores que travam a viatura imediatamente e só é possível removê-la dali quando o semáforo para peões fica vermelho.

O melhor destes veículos está guardado para o fim. Se pensa sair à noite e enfrascar-se até à alma, pode contar desde já em ficar a pé. Junto ao volante há um sensor que detecta se a pessoa que se senta no lugar do condutor consumiu álcool ou não. Dormem dentro do carro, os bêbados, que sempre é melhor do que andar na estrada a ver os semáforos todos verdes, independentemente da cor real que apresentam, e causar graves acidentes.

Talvez estes veículos nunca cheguem a existir mas, caso isto fosse posto em prática, seria um excelente castigo para quem não se lembra de andar na estrada ordeiramente.

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