Sunday, July 30, 2006

Adormecer no comboio é gravíssimo

No dia seguinte era feriado e eu já tinha planeado ir até casa buscar umas coisas desde que soube que tinha de ir a Espanha. Hoje arrependo-me de me ter ausentado naquele dia e não ter assistido a algumas coisas.

Tinha de ir de comboio porque nos dias feriados não há outro tipo de transportes. O pior era o cansaço acumulado de uma pessoa se andar a deitar tarde por causa do Mundial e de andar sempre num corrupio constante.

Imaginem que eu já estava a dormir na paragem do autocarro! Ia ser lindo, ia! Quando o autocarro chegou é que eu acordei confusa sem saber onde estava.

Chegar à estação sem fechar os olhos e sonhar com qualquer coisa foi tarefa heróica, mas conseguiu-se. No comboio é que não convinha muito pegar no sono.

Antes do comboio arrancar estive alguns minutos no interior da carruagem à espera da hora certa de partida. Morfeu teimava em não me largar. Se adormecesse no comboio ainda ia parar ao Porto e depois era lindo. Depois de fazer as figuras tristes que referi no teto anterior, ainda ia fazer o escandaloso espectáculo de ir parar sei lá onde e ainda me estar a lamentar.

Nos autocarros costumo adormecer. Foram poucas as vezes que eu não saí na paragem, foram! Da outra vez a camioneta foi parar ao Arnado e eu fiquei pior que péssima porque ainda não sabia o caminho para lá.

Adormecer no comboio não deve ter assim muita piada. Bem, se eu ouvisse dizer aos outros que tinham adormecido durante a viagem de comboio e tinham acordado bem longe, dava vontade de rir. Se isso me tivesse acontecido a mim, se calhar poderia achar piada mais tarde. Na altura ficaria mais do que chateada.

Acordar com uns valentes abanões do revisor a perguntar para onde é que eu queria ir seria aterrador. Mais dramático seria se ele dissesse que já íamos no Porto ou sei lá onde e eu tivesse de pagar uma multa. Por essas e por outras tinha de ir de olhos bem abertos para não ser surpreendida por Morfeu que não parava de me tentar o juízo.

Não adormeci e cheguei a casa bem cedo para procurar as coisas que eu precisava de levar para um mês ou três semanas que iria estar sem ir a casa.

Queria adiantar também umas coisas no computador mas ameaçava vir trovoada. Na minha terra a trovoada não é nada meiga. Ainda é pior que em Coimbra. Por essas e por outras é que estes textos estão mais que atrasados.

Seria só um dia em casa. Aquele pessoal não dá pontes a ninguém. Mesmo assim ficaria a ver os resumos do Mundial até tarde. Dormiria no...autocarro.

Ataque de choro

Acordei sobressaltada sem perceber o que se estava a passar. Estava confusa! Ouvi qualquer coisa que me fez acordar de repente. Era o já esperado temporal que se fazia sentir lá fora sem dó nem piedade de quem queria dormir. Virei-me para o outro lado, mas tive a sensação que a minha cama andou uns centímetros devido ao estrondo incrível de um trovão que sacudiu tudo e fez cair algumas coisas que estavam em cima da mesa. Palavra de honra que pensei que era um tremor de terra. Ainda não estava bem acordada e a ouvir aquilo...

Continuava a chover como se fosse Inverno. Estava escuro quase como se fosse noite. Que raio de tempo! Agora que o Verão está à porta é que o tempo se põe assim? Como anda mudado o clima!

Era um dia marcado pelo início dos Campeonatos do Mudo de Ginástica Acrobática. Finalmente! Haveria a cerimónia de abertura que é sempre um momento especial, tão especial que há pessoas que vão para lá com o saco lacrimal carregado até abarrotar.

Tentei ir mais cedo para o Pavilhão de modo a presenciar os preparativos para o início dos eventos. Fui ver alguns treinos e tive o primeiro contacto com mais uma modalidade desportiva que eu não conhecia. Fiquei maravilhada com as habilidades que aqueles atletas faziam. Como é possível fazerem aquilo? Gostei particularmente de um grupo de chineses que faziam uns exercícios espectaculares.

Nas bancadas eram outros que despertavam a minha atenção. Já à hora do almoço tinha-me cruzado com alguns deles. Parece que ninguém ali falava inglês, o que era um verdadeiro desperdício. Tanto que eu queria falar com alguns deles! Achava-os especiais!

Acabaram os treinos. Foi dada ordem para que todas as pessoas do público saíssem de modo a preparar tudo para os momentos que aí vinham.

Os voluntários também tinham de se preparar para ocupar os postos onde iriam ficar. Eu fiquei na porta por onde entravam e saíam alguns intervenientes no espectáculo.

O Pavilhão ficou mergulhado na mais profunda escuridão de modo a ser criado um certo ambiente. O que iria acontecer? Ao som de temas que marcaram outras competições desportivas, a cerimónia iniciou com o desfile de todas as delegações participantes. Foi nesse momento que uma certa nostalgia tomou conta de mim e me fez recordar os desfiles por que passei ao longo do tempo em que fui a grandes eventos.

Mas houve um momento que para mim foi fatal. Andem mais umas linhas para cima. Eu escrevi há pouco que havia algumas pessoas nas bancadas que despertavam em mim algo muito especial e que era uma pena não poder falar com elas. Pois eles passaram pelo local onde eu estava. Tinham de ali passar, para mal dos meus pecados! Tantos atletas de tantos países que ali estavam e só eles passaram por ali. É incrível! Iam alegres e divertidos a fazer o que, pelo que me deu a entender da pouca convivência com eles, são peritos em fazer: dançar. A música nem dava para isso mas...

Foi a partir daí que começou a minha desgraça. Comecei-me a lembrar do que se passou em 1999 no dia do desfile dos nossos campeonatos.

Jamais me esqueci do dia 7 de Setembro de 1999 e nunca me esquecerei por mais anos que viva. Foi um dos dias mais especiais da minha vida. Representava a Selecção Nacional pela primeira vez e havia também um desfile naquela tarde bonita. Os atletas estavam à espera de ordens para avançarem. Enquanto toda a gente esperava entrar no Estádio eu olhei em redor para ver quem ali estava. Havia uma delegação que, curiosamente e tal como esta, também surgiu do desmembramento da Antiga União Soviética. Eles não sabem uma de Inglês! Nesse dia também os achei engraçados. Também eram muito diferentes uns dos outros em termos físicos. Também não falei com eles e arrependi-me. Se calhar não podia fazer nada porque a falta de comunicação iria impedir que se tivesse qualquer tipo de diálogo. Na altura fiquei sem saber porque razão não os abordei.

Dessas memórias saudosas passei para outras mais recentes e fui vagueando nos meus pensamentos mais nostálgicos. Quando dei por mim chorava convulsivamente como a chuva que, entretanto, caía lá fora. Ainda hoje, e depois de ter passado algum tempo, me custa a entender o que se passou. Aquele pessoal passou por mim e eu fiquei assim. Parece que tinham feitiço! Principalmente um deles. Eu iria encontrá-lo todos os dias em que eles estiveram por aqui.

Algumas pessoas repararam que eu estava assim e perguntaram-me o que é que se estava a passar. Na verdade, nem eu sabia a razão pela qual fiquei naquele estado lastimável e vergonhoso. Sim, porque ir para uma cerimónia chorar que nem uma Madalena sem motivo aparente é uma vergonha. E saber que tudo se passou à rapidez de um trovão que ecoou lá fora e de uns rapazes que, simplesmente, se limitaram a passar no local onde eu estava?

Obviamente que nem reparei no que restou da cerimónia. Ela iria ser repetida uma semana mais tarde e eu iria ter uma segunda oportunidade de assistir ao espectáculo em si.

Bacorada do dia:
"Um dia tem sete dias." (realmente há dias que custam demasiado a passar.)

Estatística seis anos depois

Realmente há coincidências bem curiosas!

Acordei a meio da madrugada. A televisão estava ligada e havia gritaria num filme que estava a passar naquele horário pouco apropriado. Ainda meia a dormir apressei-me a apagá-la.

Algumas horas depois tinha de me preparar para mais um dia. Reparei que estava bastante escuro. Estava mesmo na hora! Não me tinha enganado nem tinha sonhado que tinha ouvido o despertador! A escuridão devia-se ao estado do tempo que não era o mais apropriado para a época do ano em que nos encontrávamos. Chovia com alguma intensidade. Querem ver que vamos ter outra vez uma enxurrada na sala de aula? Era da maneira que não tínhamos as sempre temidas e dispensáveis aulas de Matemática. Mas essas aulas iriam entrar numa temática que me agradava.

Só de atravessar a rua molhei-me um pouco. A chuva estava brava! Fui ver as coisas do costume. A Rabobank continuava o seu périplo pelas estradas da Europa e com bons resultados. O pior são algumas quedas que comprometem o rendimento de alguns ciclistas. Disse que o Menchov tinha caído. O Erik Dekker também teve igual sorte.

Quem vem aí em força é o Óscar Freire. Não sei se ele vai ao Tour, mas já está a competir de novo ao mais alto nível.

Ainda da Rabobank chega a notícia de que o jovem Robert Gesink vai passar para a equipa principal. Ele que, por exemplo, foi o terceiro classificado da Volta ao Algarve deste ano.

Nas aulas também se prestava atenção ao que se passava lá fora com a chuva a cair. Os acontecimentos recentes a isso obrigavam (ver texto “E eu não disse que ia chover?”). Era frequente eu olhar para o chão. Falou-se de comida a certa altura. Eram pratos esquisitos que o pessoal andou a inventar para se ganhar (ou perder) apetite para o almoço.

Como a água não entrou na sala, tivemos aula de Matemática. Só que íamos iniciar com a Estatística. Que curioso! Eu já explico o que é que tem a Estatística. Recuemos seis anos no tempo. Nem mais um dia. 13 De Junho de 2000. Por acaso era terça-feira também. Para acabar o Bacharelato tinha de concluir a maldita cadeira de Matemática. Era mesmo isso que faltava para eu ir à minha vida. Tinha tido uma péssima nota na primeira frequência que era sobre equações e outras coisas que eu não percebo nada. A frequência do segundo semestre teria de estar divinal, coisa que não era fácil de conseguir por mim.

Nesse dia 13 de Junho havia um jogo entre a Eslovénia e a Jugoslávia. Ora o que é que eu fiz? Na véspera da frequência estive todo o dia e quase toda a note a fazer exercícios de Estatística. Objectos de estudo: jogadores dos Balcãs que participavam no Euro 2000. Se eu estudasse com algo que me prendesse a estudar, teria óptimos resultados. Cheguei à frequência e foi só trocar os dados. Lembrava-me bem da forma como tinha feito os exercícios. O jogo entre a Eslovénia e a Jugoslávia terminou empatado, mas eu fiquei a ganhar porque tirei uma nota que me permitiu terminar a cadeira folgadamente.

E íamos dar Estatística logo no dia em que fazia seis anos que eu cometi a proeza de fazer aquela memorável frequência. Essa foi boa!

Depois de me ter preparado, fui para o Pavilhão. A chuva era diluviana e, mesmo com guarda-chuva, apanhei uma molha até aos ossos. Tive de enxugar a roupa no corpo. Houve alturas em que senti os pés gelados. Estava a guardar a porta de entrada e ia observando a noite medonha que estava na cidade de Coimbra. Chovia copiosamente, fazia um vento desagradável e os relâmpagos que iluminavam a paisagem nocturna anunciavam uma noite de temporal. Apesar do mau tempo, estava a ser agradável para mim estar ali. A revolta da Natureza contrastava com o meu estado de espírito. Sentia-me bem, apesar da roupa estar colada ao corpo. Era estranho.

Outras pessoas estavam na rua sem se importarem com a tempestade. Conversava-se, faziam-se planos para os dias que aí vinham e que prometiam também agitar, tal como a trovoada naquela noite.

A viagem para casa foi feita à luz arroxeada dos relâmpagos e ao ribombar longínquo dos trovões. Apressei-me. Não me estava a apetecer apanhar outra chuvada.

Situação do dia:
Dando uma volta pelas provas de Ciclismo que se foram fazendo na Holanda ao longo destes dias, descobri uma forma curiosa de algumas equipas...Se é que se pode chamar “equipa” a algo deste género. Quem vê esta lista de participantes na prova ao longe pensa que isto é um equipa a quem faltam elementos mas, na verdade, a “equipa” apenas era constituída por dois ciclistas. Os nomes eram duplicados para parecerem muitos. Podiam era repeti-los mais duas vezes para dar a ideia que era uma “equipa” completa. Já agora: quantos elementos estavam autorizados a alinhar por “equipa”? É que cada uma alinha com o número de elementos que bem lhe apetece. Outra coisa: por onde andará o nosso amigo Frank? É que a equipa dele alinhou apenas com seis ciclistas e eu já não o vejo há muito numa prova.

Bacorada do dia:
“Vamos dar as medidas de tendência central? Média, Moda, Mediana, Quadris...” (já que se falou em moda, falar em quadris não era completamente descabido.)

Rescaldo da inundação

Este título…Rescaldo de quê?!! Rescaldo de uma inundação?! Bem, devia ter dito antes “balanço”, mas sempre ouvi referirem-se ao “balanço” de algo como sendo o “rescaldo”. Mas o rescaldo de uma inundação?!!

Devo me ter deitado bastante tarde. Estava a ler o livro “Uma Aventura no Comboio” e ia vendo os resumos do Mundial 2006.

Sei que sonhei que alguns dos meus gatos tinham sido atropelados à minha porta. Era o Mong e não sei mais qual. Seria um presságio para o que eu ia assistir naquele dia.

O dia amanheceu enevoado e ameaçava chover. Por falar em chuva, como estariam as instalações da ACAPO depois da inundação? As instalações da ACAPO já estavam secas, mas havia um cheiro esquisito entranhado. Cheirava a humidade ou lá o que era. Restava saber se os computadores estariam a postos para eu resolver uns assuntos pendentes.

Tudo estava em ordem com o computador e eu pude ver se me tinham mandado alguma mensagem acerca da ida a Espanha. Na impossibilidade de me contactar de outra forma, a responsável por esse assunto podia ter usado o correio electrónico para me dar notícias. Realmente foi isso que aconteceu. Teria de começar a trabalhar para preparar tudo para estar em Madrid no dia 3 de Julho.

Depois de ter consultado a correspondência, fui ver o que se estava a passar no Ciclismo e, mais precisamente, o que é que a Rabobank andava a fazer. Denis Menchov venceu categoricamente a 4ª etapa do Dauphine Libere que é uma prova que serve de teste para o Tour. O ciclista russo também experimentou o chão numa outra etapa da mesma prova, mas não foi nada de grave.

Por falar em Tour, a nossa equipa este ano parece que vai levar o Thomas Dekker à competição mais importante do Ciclismo. Será também o último Tour do Erik Dekker que termina a carreira no final desta época. A aposta será- mais uma vez- na camisola da Montanha pelo dinamarquês Michael Rasmussen. O esboço da equipa já está feito, depois é só escolher quem dá melhores garantias de êxito individual e colectivo.

Sonhei com gatos em apuros e tive de ver uma cena que me fez lembrar esse sonho. Estava um carro estacionado em frente á Telepizza com um gato fechado lá dentro que miava horrivelmente. Fui e vim do almoço e o carro com o gato ainda lá estava. Mas as pessoas não sabem que não devem deixar assim os animais? Vão ver que o pobre do gato esteve ali por mais tempo. O dono também precisava de ficar fechado algures para ver o que era bom!

Algumas horas depois, tive de passar no memo local onde estava o carro para ir para o Pavilhão e o gato não podia mais de tanto miar lá dentro. Aquilo doía! Apeteceu-me partir o vidro para o pobre animal sair!

Fui ver o que poderia fazer naquele fim de tarde no Campeonato do Mundo de Ginástica. Fui para a tenda onde se vendiam os produtos do evento. Havia uma grande variedade de artigos para escolher e eram bem engraçados! Aproveitei e comprei também um boné laranja (tinha de ser).

Havia, no entanto, uma gritaria de mulheres que se ouvia lá em cima. Era uma senhora que devia estar incomodada com algo e discutia com toda a gente. Era de gritos mesmo!

Apareceu por lá um senhor russo que falava português e que se chamava…Vladimir. Eu disse-lhe que a maioria dos russos tinham esse nome e ele sorriu com ar divertido. Boa disposição era o que se queria ali. Nada de confusão, barulho e gritaria.

Chegou a hora de “fechar a loja”. Havia que arrumar tudo muito bem e de modo a caber nos recipientes. De referir que essa tarefa não era fácil porque ainda restava muito material e as caixas eram só duas. Depois de muito esforço, lá conseguimos guardar as coisas para o dia seguinte.

Chegou rapidamente a hora de ir para casa. Será que o carro com o gato ainda está no mesmo local? Vejam lá as horas da noite que eram! O gato já estava rouco. Com a rua mais deserta ainda era mais horrível o seu pedido de ajuda. Aquilo causava uma sensação triste, medonha, algo que fazia com que uma terrível angústia invadisse o nosso espírito e se entranhasse de uma forma que dificilmente poderia sair.

Era véspera de Santo António e as marchas de Lisboa davam na televisão. Tinha de esperar pelo programa do Mundial 2006 para ver os resumos dos jogos do dia. Aquela emissão de marchas populares parecia prolongar-se até de manhã! Enquanto esperava, entreti-me a ler um pouco. Estava tão cansada que parecia não sair da mesma página do livro. Apaguei a luz e fiquei à espera, mas o sono e o cansaço venceram.

Situação do dia:
Passou alguém por mim na rua com uns calções tão foleiros, tão fatela, tão ridículos, tão horríveis…que eu não me atrevia a vestir uns iguais. Nem que me pagassem uma grande fortuna!

Bacorada do dia:
“Uma folha tem outras folhas sobrepostas.” (mas...como é isso possível?!!!)

Monday, July 24, 2006

Tudo pronto para apoiar Portugal





Era domingo! Um domingo passado na cidade e em que eu me levantei tardíssimo, claro está. Não me levantei mais tarde porque tinha de estar no Pavilhão às 13.00h.

Depois de um refrescante banho de água fria, que era para acordar, estava a postos para mais um domingo. O banho de água fria é só porque aquele esquentador é difícil de ligar. O calor também convida a tomar um banho fresco.

Antes de sermos distribuídos pelos pontos do Pavilhão onde iríamos ficar ainda tivemos uma reunião para limar algumas arestas.

Fui para uma porta com vista para o Dolce Vita. As pessoas vinham dessa catedral do consumo conimbricense e davam ali uma espreitadela, talvez atraídas pelo rufar dos bombos.

Eu e um outro colega ficámos nessa zona. Como já estava farta de estar ali parada e de pé, sentei-me numa cadeira amarela de plástico que fui buscar. Ninguém por ali passava àquela hora. Ainda estaria tudo a almoçar e as compras no Dolce Vita ficariam mais para a tardinha.

O único movimento que havia era do pessoal que vinha para os ensaios das cerimónias e que cortava o silêncio. Eram muitas crianças que iam fazer uma representação de uma batalha (pelo que me deu a perceber).

Havia um grupo que trazia uns bombos e era isso que chamava algumas pessoas até ao Pavilhão. Munidas dos seus sacos de compras, as pessoas não resistiam em vir para a entrada escutar mais de perto o que se estava a passar ali.

Assim foi o dia até ao regresso a casa. Tudo estava preparado para apoiar Portugal no Mundial 2006 (ver fotos).

Portugal nem jogou assim tão bem, mas cumpriu o objectivo que era ganhar a Angola pela margem mínima. Também não valia a pena estar a massacrar um país irmão que fala a mesma língua e que no final festejou connosco.

Situação do dia:
Toupeira dum raio! Depois de tomar banho arranjou um par de chinelos bastante original (ver foto). O incrível é que, no quarto havia outro par exactamente igual. Igual não, de pés contrários. Felizmente, a Toupeira Dum Raio não saiu assim à rua. É que ia ser uma vergonha!

Friday, July 21, 2006

Ser voluntária desportiva

Como tinha acontecido aquilo que se sabe e que até teve honras de Telejornal, levantei-me mais tarde. Também só tinha que fazer à noitinha quando fosse para o Pavilhão.

Era o primeiro dia do voluntariado dos Campeonatos do Mundo de Ginástica Acrobática. Depositava grandes expectativas neste evento. Era uma oportunidade de conhecer gente nova, interessante e de ficar a conhecer mais uma modalidade desportiva que não é muito divulgada. Pelo menos eu desconhecia.

Quando se abraça ser voluntária desportiva, vai – se em busca de algo de novo. Algo que enriqueça a nossa vivência enquanto seres humanos e enquanto amantes do Desporto.

É através de iniciativas como esta que eu tenho a possibilidade de ter aquilo que perdi a partir do momento em que piorei dos olhos e me foi impossível participar em eventos desportivos com regularidade. A forma de ser útil num mundo que me dá prazer e felicidade é dar um pouco de mim e ajudar os outros para que se viva o Desporto e se possa conviver com o maior respeito e desportivismo.

A confraternização com elementos de outras culturas e que praticam outras modalidades desportivas também é algo que sempre me fascina. É algo que me faz sentir bem. Estar entre essas pessoas faz de mim uma pessoa mais aberta e desinibida pelo facto de estar livre de tudo o que me prende e me impede de ir de encontro às coisas que me alegram uma vida marcada pela dor e pelo sofrimento de viver num mundo que não é o das outras pessoas e que é demasiado sem cor. Não é fácil arranjar argumentos para contrariar algo que todos os dias me impede de ser feliz

Enquanto não ia para o Pavilhão, estive a ver o jogo entre a Inglaterra e o Paraguai. Foi um bom espectáculo de futebol em que os ingleses venceram.

Tinha de estar no Pavilhão às sete da tarde. Até fui mais cedo, tal era o entusiasmo. Nestes primeiros dias não havia muito para fazer, mas sempre havia de se passar algo.

Fui para a sala onde estavam os equipamentos. O objectivo era dar o material a quem ainda não o tinha ido levantar. Havia pouco movimento ali. Esporadicamente lá ia aparecendo um ou outro voluntário que ainda não tinha a sua indumentária.

No palco principal ouviam-se músicas que eram cortadas, voltadas atrás, à frente…nunca chegavam ao final. Aquilo metia uma certa impressão porque já se estava a repetir. Estavam a preparar as coisas para que tudo corresse bem em termos de cerimónias e de instalação sonora.

Dois colegas meus que ali estavam ficaram ao pé de mim e fomos conversando. Assim o tempo passava mais depressa. Ainda não se passava nada de relevante que pudesse despertar alguma adrenalina. Não havia atletas, público, confusão…

Já era noite quando eu regressei a casa. Nos cafés havia gente que aproveitava a noite menos fria para conversar um pouco na esplanada. O Mundial de Futebol estava aí e Portugal ia entrar em campo não tardava nada.

Situação do dia:
Os voluntários tinham direito a levar equipamento para usarem durante os campeonatos. Tínhamos de usar também um boné azul-escuro. Um desses bonés ainda trazia o alarme!

Bacorada do dia:
“Carlos Gamarra acabou a primeira frase do Mundial 98 sem cometer uma única falta.” (quer se dizer: sem dar um único erro ortográfico)

E eu não disse que ia chover?

“Vai chover amanhã e é para Coimbra!” Disse isto em sentido figurando, referindo-me à reunião marcada para esse dia 9 de Junho que prometia ser agitada.

Ainda eufórica do final de tarde da véspera, lá tinha eu de enfrentar aquele complicado dia. As coisas teriam de se resolver entre nós e os nossos superiores que ali vinham para esclarecer as coisas.

O dia amanheceu cheio de Sol. Se me dissessem que ia chover, não acreditaria. Chover mesmo só na reunião. Mas seria mesmo assim? E quem mandou dizer que ia chover muito para os lados da ACAPO?

Os coordenadores entraram na sala e nós ficámos em silêncio a ouvir o que eles tinham para nos dizer. Em tom calmo, o coordenador lá foi esclarecendo as nossas dúvidas e falou individualmente com cada um de nós.

Ao contrário do que era de prever, a reunião acabou por decorrer de forma pacífica e com toda a gente disposta a colaborar de forma a que tudo corresse bem daqui para a frente e que as partes envolvidas se mostrassem satisfeitas.

Não “choveu” nessa altura, mas ainda ia chover mesmo. E fortemente.

Quando saí para o almoço, reparei que o tempo tinha mudado radicalmente. O Sol já não brilhava no Céu que já era negro. Vinha lá chuva! Ainda estive para ir até casa buscar um guarda-chuva, mas pensei que era só uma ameaça.

Tinha de passar pelo Pavilhão para ir buscar o equipamento necessário para o voluntariado dos campeonatos do Mundo de Ginástica Acrobática. Naquele momento começavam a cair os primeiros pingos de chuva e o Céu ameaçava desabar sobre a Terra.

Apressei o passo de forma a molhar o menos possível a roupa que me ia ser necessária já para o dia seguinte. Quando vi que as coisas se estavam a complicar em termos climatéricos, comecei a correr cada vez mais rápido. Isto passou-se depois de almoçar, saliente-se.

Pousei o equipamento em cima da minha cama e trouxe o guarda-chuva. Aquela tarde iria ser inesquecível também. Não era uma tarde como a da véspera, mas iria passar-se algo que eu jamais julgava, alguma vez, acontecer.

No início da aula de Braille ouviram-se dois violentos trovões e a luz ameaçou falhar. Alguém exclamou:
- “Oh! Lá anda o São Pedro a arrumar a casa!”

Na aula falava-se da reunião da manhã, do Regulamento Interno (que eu estava a ler) e, curiosamente, de Bocage que tinha um poema intitulado “A Água”. Nesse poema, a certa altura, o poeta sadino dizia: “Meus senhores, aqui está a Água!” A água, essa, caía lá fora com tamanha violência que era possível ouvi-la no interior da sala. Porém, estávamos longe de imaginar o que iria acontecer ali.

Continuámos na sala de aula alheios ao que se passava lá fora. Era só uma chuvada que iria passar depressa, nada mais. Era melhor não ligar porque a chuva é uma coisa normal. Mas seria assim naquele dia?
Foi incrível a maneira como não nos apercebemos do que se estava a passar ali. Hoje pergunto como é que cinco pessoas estiveram naquela sala naquelas condições sem se aperceberem de nada e ignorando os sinais exteriores de que algo de anormal se estava a passar.

De facto, era grande a algazarra pelos corredores e impressionante o barulho que a chuva fazia a cair. Nós comentávamos que aquela gente- para estar assim a fazer tanto barulho- parecia que nunca tinha visto chuva na vida, ou então, já se tinha esquecido de como era chover. É que já não chovia há muito tempo. A primeira hipótese aqui levantada por mim- por incrível que pareça- deu resposta à agitação das pessoas. Elas nunca tinham visto chover ali com aquela intensidade.

Enquanto isso, a aula foi decorrendo até faltarem cerca de três minutos para o final. Foi na altura em que a nossa professora de Braille se deslocou de um lado para o outro da sala para arrumar os nossos trabalhos. Ao chegar à entrada exclamou:
-“Está aqui tudo cheio de água!”
Eu, sem olhar para o chão ainda disse:
- “Se calhar, a chuva vinha tocada a vento e a água entrou por debaixo da porta. Como a porta da rua também estava aberta…”
Não acabei a frase porque, ao mesmo tempo que falava, estava a olhar para o chão e fiquei completamente sem palavras ao ver o que nunca tinha visto ali.

Como foi possível cinco pessoas não se aperceberem que estavam numa sala de aula com os pés submersos e que as coisas que estavam no chão já estavam cobertas de água? Foi demais!

Tal como na véspera, belisquei-me para me certificar que não estava a sonhar. É que aquilo era inacreditável! Se me dissessem que algum dia iria assistir a uma coisa dessas, eu não acreditava. Gostava de ter ali naquele momento a minha máquina para captar aqueles incríveis e insólitos momentos.

Abriu-se a porta e a água subiu ainda mais no interior da sala. Foi-nos dada ordem para ficarmos onde estávamos. Essa era boa! Aprisionados na própria sala de aula! Nunca tinha pensado em algo tão macabro, nem nos meus pensamentos mais irreais.

Eu e a professora de Braille que é também uma amiga de há longos anos ficámos ali. Fomos impedidas de sair de onde estávamos. A parecer que não, aquilo até estava a ser hilariante. E o coordenador que, ainda há poucas horas, gabara as nossas excelentes instalações. Estava agora ali a presenciar todo aquele aparato.

A água que inundava o chão da sala era morna. Nós ríamos só de pensar que se podia fazer daquele espaço uma piscina improvisada. Então havíamos de chorar? Para molharmos ainda mais o chão?

Na outra sala onde outros meus colegas tinham Informática já havia quem se tivesse colocado em cima das mesas para precaver uma maior subida das águas. Imaginem a cena!

Entretanto, a luz tinha sido desligada para não haver curto-circuito. Isto significa que, para além de termos água pelos tornozelos, também estávamos às escuras. Tirei o meu telemóvel de dentro da minha mochila encharcada e apressei-me a ligar para a minha irmã. Ela deveria pensar que era uma brincadeira, mas não era dia 1 de Abril.

Naturalmente, ela não entendeu nada. Ainda por cima a chamada caiu. Ela ligou-me e disse que tinha ficado assustada com a minha chamada. Para que tivesse a noção do que estava a acontecer, ia mexendo na água que estava no chão enquanto falava com ela.

Os meus colegas que tinham saído da sala faziam o mesmo. A pergunta que mais se ouvia era se tinha chovido também para as respectivas localidades onde se encontravam os seus interlocutores.

E a última aula? Obviamente que não havia condições para se frequentar aulas normalmente. Íamos ter Informática e a luz estava cortada precisamente para evitar incidentes. A solução foi irmos para casa mais cedo. Uma hora e meia a mais de fim-de-semana!

Cheguei a casa com os pés molhados. Com a azáfama de ir depressa para as aulas, esqueci-me da chave. A sorte é que a minha senhoria estava lá e abriu-me a porta. Da próxima vez que isso acontecesse, iria viver momentos dramáticos. Esperem para ler esse texto que vale a pena!

O telemóvel estava sem bateria e tive de o pôr a carregar. Quando o liguei vi que tinha notícias sobre a candidatura à Bolsa de Estudo da ONCE. Só na segunda-feira seguinte resolveria o assunto.

Com todos estes acontecimentos que vão passar a fazer parte do livro das minhas memórias, esqueci-me completamente do jogo inaugural do Mundial 2006. Impensável!

Friday, July 14, 2006

Final de tarde inesquecível

Já há muito tempo que não acordava tão bem disposta! Estaria a adivinhar que aquele dia iria ser tão especial? Só sei que me senti como há muito tempo não me sentia. Se não fossem as lesões da queda no treino da véspera tudo estava perfeito.

Acordei até a rir alto. Tinha sonhado com o Jos Van Emden (mal sabia eu que iria estar com ele algumas horas depois). Não me lembro bem do sonho. Mas o que me fez rir foi um outro sonho. O meu subconsciente já estava no Mundial 2006 que estava prestes a começar. A cena passava-se num jogo entre uma equipa dos Balcãs e a Holanda. As equipas estavam perfiladas para ouvir os hinos nacionais. Durante a entoação do Hino Nacional da Sérvia (ou do país adversário da Holanda), um jogador de nome Dragoslav riu-se. O árbitro nem deixou que o Hino terminasse. Saiu de onde estava e apresentou-lhe o cartão vermelho. Acordei à gargalhada e depois pensei: “num jogo a sério, esta situação poderia acontecer? Poderia um árbitro expulsar um jogador antes de um jogo começar? A equipa entraria já com dez jogadores ou substituiria o jogador expulso, visto que a partida ainda não tinha começado?” Quem souber de arbitragem que faça o favor de me esclarecer que sou ignorante nessas leis tão insólitas que nunca acontecem. E se acontecessem realmente?

Sentia-me bem e pronto. Algo me fazia sentir assim, mas não dava para detectar a causa de tanta euforia. O dia estava belo e a temperatura naquela manhã também estava amena. Saí à rua. Só a perna é que me doía um pouco. Se calhar nem ia dar para treinar naquele dia. Afinal não ia precisar de treinar mesmo. Aquela tarde seria especial.

A caminho da ACAPO encontrei um colega meu e fiquei a observar se ele ia bem colocado no passeio. À quinta-feira chego sempre um pouco mais tarde e o tempo passado no computador mal dá para ver o correio. Parece que naquele dia comecei mesmo por ver as notícias do Ciclismo. Em boa hora me lembrei que começava o Grande Prémio CTT Correios. Essa prova iria passar pela Região Centro e a Rabobank Continental estava presente.

O ano passado a prova passou por Coimbra e Figueira da Foz, mas era impossível eu ir lá porque tinha muitas dores nos olhos e não tinha vontade nenhuma de sair de casa. Fiquei triste porque era uma oportunidade que tinha de estar com eles e, provavelmente, não haveria mais nenhuma. Nessa Prova a Rabobank Continental venceu colectivamente e eu fiquei bastante satisfeita. Num momento tão difícil como aquele, precisava de algo que me animasse.

Fui logo à Internet e vi que era naquele dia que a prova passava por perto. Logo meti mãos à obra para tentar contactar com alguém para me ajudar. Havia contactos de pessoas ligadas à organização e eu entrei em contacto com elas. Prontamente se oferecerem para me prestar todo o apoio. Foram impecáveis!

O resto do dia foi passado numa roda-viva. Ainda não sabia se ia até á Figueira da Foz, mas algo me dizia que ia ter sucesso. Naquele dia estava anormalmente confiante, alegre e com uma boa sensação a invadir-me o espírito. Só a greve dos autocarros da cidade me aborrecia um pouco. E eu que pensava que essa greve não me iria afectar! É que eu não costumo andar de autocarro.

Ainda sem saber o que me esperava arrisquei então ir para a Figueira da Foz. Alguns amigos aconselharam-me a não ir porque chegaria lá muito tarde. Mesmo assim arrisquei.

No comboio encontrei um casal de enfermeiros reformados que iam, curiosamente, para o mesmo hotel. Umas nuvens esquisitas como eu nunca vi invadiram o Céu e faziam prever que algo se iria passar. Realmente algo se passou, mas no dia seguinte.

O telemóvel tocou. Apesar de ser tarde, eles esperariam por mim. O resto da viagem foi feito a conversar com as pessoas que havia encontrado. Apesar de toda a euforia, não podia esquecer que o dia seguinte iria ser complicado. Haveria uma reunião que prometia ser tensa. Ao olhar para aquelas nuvens estranhas e bastante negras disse:
-“Vai chover para Coimbra amanhã!”
As pessoas não entenderam o que eu queria dizer e concordaram que aquelas nuvens trariam chuva. Só que a chuva era outra. Fiquei a saber que tenho muito jeito para a premonição. Esperem pelo próximo texto que vai prometer muito.

As nuvens foram desaparecendo à medida que se ia chegando mais perto da Figueira da Foz. Lá o Céu estava azul e a temperatura estava agradável. Tudo estava perfeito para aquele final de tarde que eu jamais iria esquecer e pelo qual esperei tanto tempo.

Apanhei um táxi e rumei ao hotel. À entrada era uma amálgama de cores. Todos os carros da maioria das equipas participantes estavam ali concentrados. Curiosamente não vi o da Rabobank. Um ciclista italiano passeava-se só em toalha junto ao seu carro.

Entrei. O recepcionista já sabia o que se passava e quando viu o primeiro elemento de laranja logo o colocou ao corrente da situação. Quem já lá vinha era o Director Desportivo que parecia conhecer-me bem pelo que foi dito a meu respeito o ano passado. Alguns ciclistas também sabiam que eu tinha problemas nos olhos, que era desportista e perguntavam como é que eu estava agora. Admirei-me como alguns ciclistas que não estavam ali o ano passado também sabiam algo sobre mim.

A conversa foi se estendendo, primeiro com os atletas e Director Desportivo e depois com os outros elementos que dão apoio aos atletas. Eles prepararam-me uma surpresa. Ligaram para o senhor do Algarve que me ajudou o ano passado e que os colocou ao corrente de tudo. Já há muito que não falava com ele porque não tenho tido grande tempo agora com as complicações que por aqui há. Ao ver que eu estava bastante feliz, ele ficou bastante contente por ter, finalmente, realizado aquele sonho.

Um a um, os atletas tiveram de ir descansar para estarem prontos para a jornada do dia seguinte. Também lá estavam os ex-atletas da Rabobank Continental Heijboer e Elijzen que agora alinham na Cofidis. Também tirei fotos com eles.

A conversa estava agradável, mas depressa chegou a hora de apanhar o comboio de volta para Coimbra. Não esperei o táxi junto à entrada porque os senhores fizeram questão que eu fosse para a rua. Deram-me algumas lembranças desta época e continuámos a conversar agora sentados nuns bancos em redor do carro. A noite estava agradável. Sabia bem estar ali a respirar aquele ar puro e a trocar dois dedos de conversa. Parecia que estava a viver um sonho. Por várias vezes me belisquei para me certificar se estava acordada.

O táxi chegou e, com ele, o final desse encontro. Estou profundamente grata a todas as pessoas que contribuíram para que este inesquecível final de tarde se realizasse.

A viagem de regresso foi rápida. Ainda ia a pensar no que tinha acabado de acontecer. Apanhei outro táxi e fui para casa. Aquele final de tarde foi a melhor coisa que me aconteceu ao longo destes últimos anos. Foi algo que irei guardar para sempre na minha memória.

E a reunião do dia seguinte? Estava tão animada que não queria que nada me estragasse aquele estado de graça. Pois é, no dia seguinte iria acontecer algo que eu jamais vou esquecer também. Algo que ainda hoje quando estou a escrever isto me custa a acreditar que aconteceu ali onde eu estou todos os dias. Afinal eu disse que ia chover!

Situação do dia:
O táxi chegou quando eu estava a adorar estar ali. A noite estava amena e a companhia também ajudava a que eu me sentisse feliz. Nem notei que já estava atrasada. Carregada de coisas entrei no táxi e aí iniciou-se uma louca corrida até à estação. Só na estação seguinte consegui ainda apanhar o comboio.

Bacorada do dia:
“Não me importava de ter mais alguns metros.” (e depois para caber nas portas! Já viram o transtorno que era?)

Sunday, July 09, 2006

Sonho de aula, treino de pesadelo

Ao contrário do que sucedera na véspera, acordei de bom humor. Sonhei que estávamos na nossa sala de Informática e que lá também estavam a ter aula alguns ciclistas da Rabobank Continental. Um presságio? A aula estava a correr bem. Não consta que algum computador tivesse bloqueado. O que é certo é que toda a gente estava bastante descontraída, faziam-se apresentações, contavam-se cenas engraçadas...Premonição?

Mas a realidade era diferente, claro está. Se fossem esses os alunos...

Deixem lá que o treino também ia prometer! E bastante.

Situação do dia:
Ainda estava a equipar-me e já estava a ouvir barulho a mais para meu gosto. As outras pessoas queixavam-se do mesmo. Parecia uma claque de futebol...e era mesmo uma claque de futebol. Só que a Académica não estava ali a jogar. Que foram eles para lá fazer? Estorvar quem andava lá a fazer o seu treino. Estorvaram de tal maneira que conseguiram acabar com o meu treino. E se eu me tivesse aleijado a sério? É incrível como aquelas pessoas foram para o meio da pista por onde os atletas iam passar, punham-se a mandar bocas...colocaram coisas no meio das pistas para uma pessoa tropeçar e cair. Foi o que me aconteceu. Colocaram algo no meio da pista e eu caí. Felizmente para eles, não me aleijei muito e para não me chatear fui correr para a relva.

Bacorada do dia:
“Coimbra, 5 de Junho de 2002” (mais um que não sabe a quantas anda)

A cidade mais quente

Acordei de madrugada. Não sei ao certo que horas eram, mas estava a amanhecer. Umas cólicas horríveis tinham-me feito despertar assim subitamente. Nem me conseguia pôr direita. Se calhar estava a dormir em má posição. É que este tipo de coisas acontece-me de quando em vez.

Tinha à cabeceira uma garrafa de chá verde. Bebi um pouco e voltei-me a deitar. Estava algo transpirada, mas tinha a sensação que o pior já tinha passado. Acendi o rádio e ainda passei por sono até o despertador tocar para eu me levantar.

Ainda não me levantei muito bem, mas esperava por mim um dia igual aos outros, principalmente aos últimos- quente como no deserto. Naquele dia Coimbra ameaçava bater o recorde de cidade mais quente. Previam-se 38 graus. Ou seriam 40? As versões divergiam, consoante os intervenientes nas conversas que se ouviam aqui e ali. Não se falava de mais nada senão do calor!

Afinal tudo não passou de uma previsão falhada e a cidade até esteve mais fresca que, por exemplo, nos últimos dias de Maio. Andou tudo assustado para nada!

Para além de se ouvir falar no calor, outro assunto dominou a actualidade. O Gil Vicente poderia descer de divisão na secretaria porque os clubes que desceram foram fazer queixa do clube de Barcelos por causa do “caso Mateus”. Quando eu vou almoçar, costuma estar uma carrinha sempre estacionada no mesmo sítio com o rádio sintonizado na “Bola Branca” e foi aí que eu ouvi a notícia por alto. Não ia ficar ali parada a ouvir rádio no meio da rua!

Como aconteceu aquilo de manhã, naturalmente não estaria a cem por cento para treinar. Fui-me testando e fiz ainda alguns piques. Era o que dava para fazer. Felizmente, o dia não estava tão quente como o pintavam as previsões meteorológicas.

Situação do dia:
Como estava “um dia insuportável de calor” a aula de Mobilidade decorreu dentro do salão. Eu sou aquela pessoa que se sabe- em matéria de andar em linha recta de olhos vendados. Fujam! Por duas vezes fui contra uma mesa que estava muito fora de mão, bem ao fundo. Só para ficarem com uma ideia de como eu sou.

Bacorada do dia:
Açúcar Saludães” (é agulha ou carolino?)

Onde fica o Pavilhão??!!!!

Toupeira dum raio! É uma vergonha uma criatura perguntar onde fica um local onde passa todos os dias! Nem ao Diabo lembra uma coisa dessas.

O facto de ser segunda-feira não serve de desculpa para tamanha azelhice. Ainda por cima depois de um domingo que até correu bem.

Uma segunda-feira de manhã é sempre uma segunda-feira de manhã e eu ando sempre a vaguear entre o sono e a vigília. Estava eu a "reflectir mais profundamente" quando algo fez um barulho insuportável dentro da sala que se propagou bastante. Foi uma pauta de escrever a Braille que tinha caído.

Fora essa barulhenta e insuportável situação, nada se passou de extraordinário naquela segunda-feira quente de início de Junho.

Depois das aulas continuaria a fazer figuras tristes porque achava que não sabia onde era o Pavilhão.

Meti-me ao caminho. Sabia onde era o Pavilhão. Entrar é que foi engraçado. Depois de lá estar dentro tudo correu com normalidade. Vai ser interessante participar no Campeonato do Mundo de Ginástica Acrobática. Sempre irão acontecer coisas bonitas. Se eu na altura soubesse...

Situação do dia:
Mas por onde se entra? E a mania de complicar as coisas e ir por caminhos que depois são um verdadeiro desastre? Vejam só o que a artista fez. Subiu umas escadas que abanavam todas (que masoquista). A criatura subiu, mas estava com medo que elas caíssem e fosse lá parar abaixo. E agora para as descer? Recorde do mundo de lentidão a descer umas escadas. Depois eram as portas. Eram tantas que descobrir qual delas dava para entrar era mais complicado que acertar no euro milhões.

Bacorada do dia:
“Antes de inicialmente...” (estou comovida com este preciosismo linguístico!)

Ser Cidadão Português (texto para aula)

SER CIDADÃO PORTUGUÊS

Já que me é dada a oportunidade de me exprimir sobre o que é ser Cidadão Português, não a posso deixar passar sem fazer algumas considerações.
O Cidadão Português é um ser humano como qualquer outro e, por isso, deve ser respeitado na plenitude dos seus direitos, liberdades e garantias. No entanto, Portugal ainda é um País algo distante do progresso de uma Europa à qual também pertencemos.
Com uma das Constituições mais bem elaboradas no papel e com todos os pressupostos para ser um País bastante desenvolvido, Portugal continua a viver como se estivesse isolado do Mundo e das normas internacionais que protegem os cidadãos mais vulneráveis como as crianças, as mulheres, as minorias étnicas ou os deficientes.
É este último grupo de Cidadãos e Cidadãs Portuguesas que merece uma análise mais cuidada da minha parte, pois sinto na pele o que é ser diferente num País que se mostra preconceituoso e intolerante face à diferença. Nós nada fizemos para nos encontrarmos nesta condição de não termos as mesmas oportunidades que as outras pessoas.
A Sociedade é cruel e o Estado que nos devia proteger ainda dá um péssimo exemplo ao não apostar em nós e nem sequer nos deixar mostrar que somos seres humanos iguais aos outros e que só precisamos que os nossos direitos sejam garantidos na prática e não no papel.
Estou em crer que em nenhum dos vinte e cinco estados-membros da União Europeia os Cidadãos com necessidades especiais são tão desrespeitados e tão ignorados. Onde está a fiscalização para a lei que prevê a eliminação de barreiras arquitectónicas nos edifícios? Onde está a fiscalização para as quotas de emprego para pessoas portadoras de deficiência? Onde está o acesso à cultura e ao lazer por pessoas com necessidades especiais? Onde está um sistema de Saúde e Segurança Social capaz de dar resposta às situações mais delicadas que aparecem?
As leis, de facto, estão lá e consagram-nos tudo a que temos direito. Se chegasse à Terra um ser vindo de outro planeta, não era de espantar se ele escolhesse Portugal para viver após fazer uma análise minuciosa de várias Constituições de diferentes países dos mais variados pontos do Globo. No entanto, facilmente se iria arrepender ao verificar que esse País perfeito que ele idealizou primeiramente é um País onde há atropelos às leis, onde se trocam favores por queijos da Serra ou garrafões de azeite, onde há jogadas de bastidores e onde a injustiça social se faz sentir ao abrir de cada porta.
A crise económica que o País atravessa é apenas uma desculpa para que não se atribuam as ajudas a que temos direito enquanto Cidadãos. Ou será que também somos Cidadãos apenas no papel? O mesmo papel que nos concede direitos e garantias que não nos estão a beneficiar.
E assim é a vida desse ser tão peculiar que é o Cidadão Português com algum tipo de dificuldade que o impede de ser aceite pela sociedade. É um Cidadão igual aos outros com todos os direitos, deveres, liberdades e garantias e, ao mesmo tempo, é diferente pelo facto de simplesmente não ter direito aos seus direitos.

Dick Dekker e os outros holandeses



A noite de sábado para domingo é passada na Internet. Essa noite acabou por ser bastante produtiva: encontrei, por acaso, aquilo que andava a procurar há anos: o paradeiro de Dick Dekker.

Dick Dekker foi um ciclista que teve muito sucesso nas estradas portuguesas nos inícios dos anos 90. Ganhou duas etapas da Volta a Portugal em 1989 e um Grande Prémio Joaquim Agostinho em 1992 ou 1993. Depois nunca mais ouvi falar dele. Ouvi falar de outro ciclista que pensava que era ele, mas que é seu irmão- o Erik Dekker. Foi daí que começou a minha paixão pelo Ciclismo Holandês. Como eu pensava que Dick e Erik eram o mesmo atleta, também fiquei fã da Rabobank até hoje. Só em 2002 é que eu desfiz o engano e fiquei a saber que Dick é quase um desconhecido na Holanda. Terminou a carreira em 1995 e nunca mais soube dele até ao dia 4 de Junho de 2006. Muito tempo!

Por acaso encontrei o nosso amigo Dick Dekker naquela equipa holandesa que eu tenho dificuldade em dizer o nome. É aí que alinha o Frank Kwanten e, por isso, eu refiro-me a essa agremiação velocipédica como “a equipa do Frank”. Andava a ver- por curiosidade- quem eram os responsáveis dessa equipa que foi criada com ciclistas que pertenciam a equipas que deixaram de existir e fiquei espantada ao ver que um dos directores desportivos era o Dick. Na foto tinha mais semelhanças com o irmão que há uns anos atrás.

Sobre outros holandeses, mas mais jovens e que jogam futebol, havia a final do Europeu de sub 21 no estádio do Bessa. A Ucrânia era a equipa adversária. Como existem muitos imigrantes ucranianos em Portugal, fizeram-se reportagens e foi fácil vermos gente conhecida que está a viver em aldeias próximas da nossa. Era uma oportunidade que aquelas pessoas tinham de estar em contacto com as suas origens.

Apesar de ter uma certa simpatia por povos de Leste, sempre torço pela Holanda que é o País do Ciclismo e da Rabobank que são duas coisas que eu adoro.

Eu nunca vi uma equipa a jogar como a Holanda jogou na primeira parte. Fiquei deslumbrada com a precisão dos seus passes e com a forma como criavam jogadas de ataque sem precisarem de correr muito. Um passe daqueles é o que todo o jogador precisa para fazer um jogo do outro mundo.

Os ucranianos tentaram equilibrar o jogo na segunda parte. Criaram lances de perigo, mas o guarda-redes holandês Kenneth Vermeer não borrou a pintura e impediu que os ucranianos marcassem.

Os holandeses levantaram o troféu e animaram todos quantos se deslocaram ao Bessa e os que assistiram ao jogo pela televisão. É a alegria e exuberância deste povo a funcionar. Claro que eu fiquei contente com o desfecho deste jogo. Isso nem se questiona!

Situação do dia:
Toupeira dum raio! Já aqui há tempos relatei uma situação semelhante (ver texto “Mas era feriado?!!”). É a mania de colocar vinho em garrafas de outras bebidas para confundir uma pessoa. Se da outra vez fui a tempo de não provar aquela bebida horrível chamada vinho, desta vez provei mesmo. É que me disseram que havia Ice Tea no frigorífico e eu apanhei a primeira garrafa que encontrei.

Bacorada do dia:
“Europeu 2001” (quem dera!)

Encontro adiado por um dia



Não consegui dormir bem naquela noite. Só me vinham à cabeça imagens do Max. Ia ser doloroso olhar para cima da gaiola e verificar que algo faltava ali. Era um vazio enorme. Por vezes mandava-o calar porque ele fazia um barulho insuportável. Daqui para a frente um silêncio triste iria povoar aquele lugar.

O Sol bateu na minha janela a anunciar que já era hora de me levantar e de pôr os pés ao caminho em direcção a Anadia. Não me estava a apetecer mesmo nada sair de casa. Estava triste, chateada, nervosa. Parecia que o Mundo estava a desabar sobre a minha cabeça.

A minha mãe pensou que eu estava a dormir e veio me chamar. Eu fiquei mais um pouco a olhar a janela fechada. A minha mãe voltou para fora e andava agora pelas redondezas a chamar o Slava que ainda não tinha dado sinal. Ia ser um dia complicado. Ir-me ia enganar. Felizmente!

Iria até Anadia ou ficaria ali a ouvir a minha mãe chamar pelo gato toda a manhã? Aquilo punha-me nervosa! Da decisão que eu tomasse naquele momento iria depender a sorte ou o azar que teria. Hoje vejo que tomei a decisão correcta: a de sair de casa e deixar a minha mãe a chamar o Slava pelos pinhais até não poder mais.

Em Anadia procurei coisas sobre o Mundial 2006 e fui até ao mercado semanal onde se vendem coisas baratas e bem engraçadas. Foi uma sorte eu ter passado por ali naquela hora!

Ia a sair quando vi algumas pessoas a marcarem a estrada. Iria ser ali uma meta de uma qualquer corrida. Estava eu a acabar de perguntar para que era a meta quando o carro que passou naquele momento me fez estremecer. Era o carro da...Duja-Tavira! Melhor sorte não podia ter. A prova que ontem terminara em Coimbra ia hoje terminar em Anadia. Se eu me despachasse...

Meti-me ao caminho rapidamente. Nem dei pelos quilómetros a passar. Estava um dia bastante quente, mas isso pouco interessava. Tinha de chegar a casa, equipar-me a rigor, almoçar e ir novamente para junto do mercado.

As coisas acabaram por ser menos complicadas porque o meu pai tinha de ir buscar a minha irmã. Iria com ele e viria para cima a pé. Mais seis quilómetros! Era por uma boa causa!

Equipada com as cores da Rabobank lá fiquei a observar o que se passava por ali. Pela rádio ouviam-se as incidências daquilo que era um emocionante final de etapa. Vários ciclistas tentavam atacar, mas logo eram apanhados pelo pelotão que rolava freneticamente.

O vencedor foi encontrado através de um sprint massivo. Depois de passar a confusão iria para junto do carro da Duja-Tavira para cumprimentar o meu amigo.

Dirigi-me para lá lentamente. Quando me viu equipada à Rabobank, ele logo se levantou e sorriu. Ficou contente e algo surpreendido por eu o ter vindo visitar. Ele disse-me algo que- dias mais tarde- iria ser importante para mim: a Rabobank estaria em Portugal na semana seguinte.
Aquele dia terá sido apenas o começo de uma fase bastante feliz da minha vida. Momentos que eu julgava não serem mais possíveis de viver a partir da data em que fiquei a saber que me esperava uma vida complicada em virtude da minha doença e da impossibilidade que ela me proporciona em realizar tudo o que eu mais desejo. Como tenho vindo a referir, devido á falta de tempo, escrevo estes textos com algum atraso e já sei que tive um mês de Junho de sonho, ao contrário do que se passou no mesmo período do ano passado. Esperem pelos próximos textos para poderem perceber o que se passou. Mereci esses momentos por tudo o que passei e pelo muito que lutei. A ajuda de algumas pessoas a quem estou profundamente agradecida também se revelou importante para que algumas coisas se pudessem realizar. Outras contribuíram involuntariamente para que eu recuperasse a vontade de viver e olhasse para a minha vida com outros olhos, nem que fosse por breves instantes. Aguardem que eu partilhe o que de bom se passou com todos vocês!

Naquele sábado estava feliz e- tal como da parte da manhã- nem dei pelos quilómetros a passar . Em casa também estava a minha irmã que eu já não via há algumas semanas. Como o tema que dominava todas as conversas era a forma como os gatos estavam a desaparecer, ela desfez alguma dúvida que ainda pudesse existir acerca das causas da morte do Max. No sábado anterior, a minha irmã já tinha reparado que ele não comia e miava de uma forma triste. Foi isso que ela me disse quando me ligou também naquela semana, mas nunca pensei que fosse grave. A causa da morte terá sido a ingestão de uma substância corrosiva como o veneno para os ratos.

Portugal ia ter mais um jogo de preparação para o Mundial 2006. O adversário era o modesto Luxemburgo com quem a Nossa Selecção já havia jogado na fase de qualificação. Apesar de algumas dificuldades criadas pela equipa luxemburguesa, o resultado não podia ser outro que não a vitória portuguesa.

Tinha planeado passar apontamentos, mas acabei por guardar isso para mais tarde. Era já noite cerrada quando ouvi uma grande algazarra na rua. A minha mãe falava com alguém de forma animada. Era o gato Slava que tinha voltado. Prontamente lhe demos de comer (foto) e água. Por onde teria andado?

Situação do dia:
O calor quando vem é para todos e cada um tenta minimizar os seus efeitos como pode. O gato Mong arranjou um local bem fresco para se resguardar: a caixa com areia onde os gatos fazem as suas necessidades. Há gostos para tudo!

Dia triste e complicado



Não me enganei! Apesar de o dia ter nascido com Sol brilhante e Céu bastante azul, o clima já vinha conturbado da véspera.

Há coisas que nos fazem pensar que o Mundo se transformou perigosamente em algo que nos tornou seres sem sentimentos e sem compreensão pelos problemas dos outros. Os aspectos económicos sobrepuseram-se aos valores humanos e fizeram com que valores fundamentais com a Saúde, a Justiça e a Dignidade fossem ignorados.

Quando se lida com seres com fragilidades há que ter um certo cuidado e não equiparar esses seres a outros que não sabem o que é viver com dificuldades a nível da Saúde, essencialmente. Estas leis são um verdadeiro atentado á dignidade das pessoas que vivem os seus dias carregando um fardo enorme: o de terem um problema de Saúde crónico.

Todo o dia foi marcado por esse assunto- como era de esperar- e não havia conversa nenhuma que não fosse dar ao mesmo. Quando eu saí para almoçar havia uma animação para os lados do Dolce Vita. Havia música que estava bem alta e uma movimentação anormal. Pensei que fosse algo organizado pelos alunos da ESEC, nas não era.

Cheguei às aulas e fiquei a saber que era ali a meta de uma prova de Ciclismo. Gostaria imenso de ir até lá, mas não se pode faltar a aulas. Ainda mais numa altura como esta. Tenho um amigo na Duja – Tavira. Gostaria imenso de me encontrar com ele, mas seria complicado naquele dia isso acontecer. Ao contrário do que eu na altura pensei, não iria esperar muito tempo para ter outra oportunidade de estar com ele.

Devido a essa prova, o trânsito estava bastante condicionado em Coimbra. Era sexta-feira e havia que ir passar o fim-de –semana a casa. Fomos todos de carrinha até aos locais onde cada um iria apanhar o respectivo transporte. Levei a minha amiga à paragem e estivemos a conversar até que o autocarro dela viesse.

Depois de um fim-de-semana passado em Coimbra e de uma semana complicada, estava ansiosa por chegar a casa. Só que as coisas por lá também não estavam melhores.

Assim que cheguei, encontrei o gato Mong sozinho sentado num banco. A minha mãe apareceu alguns minutos depois com uma péssima notícia: o gato Max (foto) tinha morrido nessa manhã depois de uma semana de extrema agonia e o gato Slava andava desaparecido. Curiosamente, poucas semanas antes havia sonhado que tinha chegado a casa e a minha mãe dava-me exactamente essas mesmas notícias. Acordei aflita e preocupada. Mas porque é que esses sonhos se realizam e os bons não?

A minha irmã já me tinha telefonado e tinha dito que o Max andava rouco ou doente. Conta a minha mãe que ele apareceu junto aos vasos das flores na rua com ar estranho. A partir desse dia e durante alguns dias a minha mãe não o viu. Ele não costumava desaparecer assim. Não era com o Ju que era capaz de andar uma semana desaparecido. A minha mãe estranhou a ausência e encetou uma busca ao sobrado a ver se ele lá estava. O Ju fora encontrado naquele local em condições miseráveis. Encontrou-o já sem hipóteses de sobreviver. Estava tão fraco e tão miserável que a cada dia que passava a minha mãe desejava encontrá-lo morto.

Ao que parece, ele aparentava ter sido envenenado com veneno para os ratos ou com ratos que ingeriram o veneno. A minha mãe pensou que ele tinha sido atropelado, mas se tivesse sido esse o caso, não morria assim tão lentamente.
Durante aqueles dias em que Max agonizava no curral para onde costumam ir os gatos doentes, Slava esteve sempre do lado de fora da rede a fazer-lhe companhia. Eles eram inseparáveis. Max morreu pela madrugada do dia 2 de Junho de 2006. Slava terá sido o primeiro a saber e desapareceu ao longo daquele dia.

Como o gato não aparecia, a minha mãe chegou a colocar a hipótese de terem envenenado comida com um pesticida que vai corroendo por dentro e mata muito lentamente. No dia seguinte iria procurá-lo por toda a parte.

Bacorada do dia:
“Ainda ontem há bocado vi o gato.” (Quando???!!!!)