Tuesday, April 27, 2010

“O Tempo Dos Imperadores Estranhos” (impressões pessoais)



Doze dias depois de ter iniciado a leitura desta obra, apesar do pouco tempo que tenho agora para a leitura, consegui acabar o livro em tempo recorde. Isto só demonstra o quão interessante e intenso foi.

A acção passa-se em plena II Guerra Mundial e tem como protagonista um soldado de nome Arturo Andrade que, tal como muitos soldados espanhóis, combatia ao lado dos Alemães na tentativa de Hitler conquistar a Rússia. No seio da comitiva espanhola estranhos crimes proliferavam e este soldado foi incumbido de descobrir o assassino que castigava as suas vítimas alegadamente usando rituais maçónicos.

Nas minhas habituais tentativas de descobrir quem é o assassino sempre que leio um livro deste género, há a dizer que de início desconfiei de Espinosa que era o melhor amigo de Arturo. Com o desenrolar da história desconfiei de qualquer um dos comandantes dadas as ordens contraditórias que debitavam. Depois pensei que o criminoso fosse Octávio devido ao muito que sabia sobre a Maçonaria e só depois da cena do álbum das fotografias é que eu tive quase a certeza que o culpado era Cecílio Estrada.

É uma história que está muito bem imaginada, com um argumento forte. Aliás, eu acho que em Espanha há grandes escritores. Já anteriormente gostei muito de um livro (“A Quarta Aliança”) também da autoria de um espanhol. Faço apenas uma pequena crítica: demora muito tempo entre o primeiro e o segundo crime.

Em suma, foi uma leitura agradável de um livro que me prendeu do início ao fim e quando assim é só posso ter gostado.

Mentalidades retrógradas

Passam trinta e seis anos sobre o 25 de Abril, saliente-se, e já estamos em pleno século XXI e ainda há gente neste miserável País que simplesmente me causa repulsa e quase não merece comentários. Se depender dessas pessoas, as mentalidades nunca hão-de mudar em relação à condição feminina.

Foi com alguma revolta que ouvi uma avozinha fazer o seguinte comentário ao pedido da neta que queria uma bola daquelas de aliviar o stress, daquelas com uns piquinhos, tipo ouriços e que têm umas cores convidativas:

- “As bolas são para os meninos, não são para as meninas!”

Enfim…Palavras para quê? Está explicado porque razão o Desporto Feminino não evolui. Com a educação que levam as jovens neste País não admira. Quantos vintes e cincos de Abril serão precisos para enfiar na cabeça dura de pessoas como esta que já se passou o tempo em que a mulher servia para estar em casa e que nada lhe era permitido. Se Salazar envenenou aquela mente, teve trinta e seis anos para achar o antídoto para esse veneno do qual imensa gente infelizmente ainda sofre os efeitos.

As jovens deste País que se aventuram no desporto, tal como eu, têm de fazer a travessia do deserto para, contra a vontade das mães principalmente, poderem prosseguir a sua carreira e poder abraçar o sonho de fazer aquilo de que gostam. Lá que a minha mãe que vive na aldeia e nunca dali saiu tem essa mentalidade ainda se compreende, agora uma pessoa que vive numa cidade como Coimbra, uma cidade que muito contribuiu para que hoje pensemos e possamos agir livremente, uma cidade que viu Zeca Afonso, Adriano Correia de Oliveira e outros cantar liberdade, isso soa a ridículo mesmo. O que me preocupa é saber quantas mais pessoas pensam assim. Pessoas que castram as suas filhas e netas de toda a liberdade que tanto trabalho deu a conquistar, que as privam de viver a felicidade plena.

Sinceramente, fiquei muito chocada com este tipo de resposta. Jamais imaginei ouvir isso em pleno ano de 2010 e em plena cidade de Coimbra. Nem sei o que pensar, a não ser que as mentalidades em Portugal ainda são tão retrógradas que nem se sabe o que fazer para as mudar. Serão precisos mais trinta e seis anos?

Dia Mundial do Livro e dos Direitos de Autor



Fiquei a saber esta manhã que neste dia, 23 de Abril, se comemora o Dia Mundial do livro e dos Direitos de Autor. Será uma oportunidade de reflectir o quanto a leitura tem sido importante na minha vida.

Desde sempre gostei de ler e sempre tive algum jeito para escrever. Praticamente desde a escola primária. O gosto pela leitura mais assídua veio através da colecção “Uma Aventura” de Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada (agora Ministra da Educação). Ainda hoje colecciono esses livros, apesar de já ter passado dos trinta anos. Prometi que quando trabalhasse faria a colecção inteira e vou cumprindo à medida que os vou achando nos locais por onde passo. Terão sido os primeiros livros que li e recomendo-os aos jovens que queiram ganhar o gosto pela leitura.

O livro que eu mais gostei de ler até hoje (e já li imensos) foi “A Maldição” do Stephen King que li em Agosto do ano passado. Trata-se de uma história incrível com traços sobrenaturais que prende o leitor do princípio ao fim. Nunca houve um livro que me empolgasse tanto.

O último livro que li foi precisamente “Os Lusíadas”, tal como está assinalado neste blog onde eu, entre outras coisas mais ou menos interessantes que se passam na minha vida, também faço a minha crítica ao livro que acabei de ler.

Neste momento ando a ler “O Tempo Dos Imperadores Estranhos” do espanhol ignacio del Valle que dentro de dias também merecerá um post neste blog.

Os meus gostos literários vão para thrillers com ou sem um enquadramento histórico ou político, histórias com muita acção e que cativem o leitor do princípio ao fim. Não gosto muito daqueles romances ao género das novelas em que uma história de amor é o centro da acção.

Leio um pouco de tudo, até para enriquecer e diversificar um pouco as bases culturais que vou adquirindo através da leitura. Uma grande parte do que tenho aprendido deve-se ao facto de ler muito. Em termos geográficos ou contextuais, o facto de ter o hábito da leitura torna-se decisivo. Como exemplo dou agora o livro que eu estou a ler e que se passa numa época específica- a da II Guerra Mundial. Já li anteriormente alguns livros que se passavam nessa época. Através dos conhecimentos cruzados que se adquirem com a leitura de várias obras, sempre se fica com uma ideia sobre como eram aqueles tempos. Sem a leitura tal conhecimento não era possível.

Agora tenho menos tempo para ler mas não dispenso alguns minutos de leitura por dia nas pausas. Há que fazer um esforço. Para mim a leitura tornou-se quase um vício tal como o tabaco ou o álcool é para alguns. Gasto imenso dinheiro em livros e tento sempre aproveitar os que saem nas revistas ou jornais que sempre são mais baratos.

O preço dos livros é um grande problema. Talvez isso afaste algumas pessoas da leitura. É de louvar alguns jornais e revistas promoverem a circulação de livros mais baratos para que sejam acessíveis a todos. Num país com imensas pessoas no desemprego e sem condições económicas, uma forma de lhes fazer chegar o conhecimento através da literatura era disponibilizar obras essenciais mais baratas. Talvez se resolvesse o problema da falta de hábitos de leitura em Portugal.

Adoro ler. É algo que me dá um enorme prazer e satisfação, por isso não poderia deixar passar esta efeméride sem escrever algo. Quem sabe um dia também eu escreva um livro. Já me disseram para fazer isso mas o tempo é escasso.

Saturday, April 24, 2010

O jarro azul

Mais uma noite bastante agitada. Quase tanto como os próprios dias de há cerca de dois meses a esta parte, posso assegurar.

Nem de noite tenho sossego com as questões do trabalho, uma vez que me deparo a sonhar com coisas com que lido mais de doze horas por dia. O mundo do trabalho tem vindo a povoar de forma definitiva os meus sonhos mas às vezes há umas nuances engraçadas.

Andavam a fazer obras perto de minha casa. Eram inúmeras máquinas todas iguais. Precisava de sair para ir almoçar. Escusado será dizer que se tratava de um almoço de trabalho. A preocupação de apanhar os transportes nem a dormir me deixa em paz.

Andava a trabalhar nessas obras um senhor já idoso da minha terra que gosta imenso de uma pinga. Então a minha mãe pegou num jarro de um azul brilhante cheio de vinho e começou a fazê-lo circular pelos funcionários. Não havia copos. Todos tinham de beber directamente daquele jarro.

“Mas onde diabo estava aquilo?” pensava eu enquanto ele circulava de mão em mão. Se há coisas que nos sonhos terão um certo simbolismo, estou convicta de que aquele jarro azul será uma delas. Só não sei o seu significado.

Friday, April 23, 2010

O misterioso desaparecimento do café

Este é um momento bastante cómico que eu, independentemente de em Setembro renovar o meu contrato de trabalho, vai ficar gravado na minha memória durante muitos e muitos anos. Já há muito que não me ria tanto!

Depois do almoço, como sempre acontece, fui beber um café. Pedi á minha colega da Padaria para mo tirar enquanto contava as moedas pequenas para pagar.

Apresentei-lhe os trocos em cima da caixa e ela contou o dinheiro. Depois disse:
- Olha que faltam cinco cêntimos!

Enquanto revolvia a carteira em busca da moeda em falta, vi que ela realmente punha qualquer coisa em cima do balcão mas…

Perguntei-lhe se ela já tinha tirado o meu café e ela respondeu afirmativamente. Só que, nem eu, nem ela o estávamos a encontrar. Não estava por ali mais ninguém e em cima das mesas só havia chávenas vazias.

- Isto é muito estranho!- disse eu- Aqui anda coisa!

Reacção da minha colega (visto ainda dava mais vontade de rir, acreditem): começa a benzer-se com movimentos bruscos e por mais do que uma vez e a rezar, como quem afasta qualquer força maligna que ali estivesse.

Ia então eu a começar a dizer:
- Já que há aqui almas penadas para beber cafés, podiam vir ajudar a fazer o trabalho.

Foi então que ela descobriu o mistério: tinha colocado em cima do balcão um prato com uma lata vazia (o que eu realmente a tinha visto lá colocar) e tinha colocado o café na pia de lavar a loiça.

Ri até não poder mais, tal como ela. Aquela imagem dela a benzer-se e a rezar foi incrível.

Novos sabores, novas sensações



Um dia de folga merecido depois de um árduo dia de trabalho em que muito tive de batalhar até me doer cada parte do meu corpo. Este dia iria, portanto, saber bem e em todos os sentidos.

Sempre dava para ficar na cama até bem perto do meio dia e só depois ir dar uma volta a pé.

Lá pela tardinha passei pelo Pingo Doce para comprar algo para merendar antes do jogo entre o Inter de Milão e o Barcelona para a Liga dos Campeões.

Lembrei-me de comprar uma bebida de soja para ver se gostava e um saquinho do famoso pão com ameixas e nozes também para provar. Seria a primeira vez que ingeria qualquer um daqueles produtos. Ambos eram novos para mim.

De referir que adorei ambas as coisas e já estou arrependida porque não trouxe mais pacotinhos de bebida de soja. Quanto ao pão, vou repetir também a compra. Está aprovado!

Feijoa atropelada por caravana política




Este é mais um pequeno pesadelo para mostrar o quanto eu me preocupo com os meus gatos, apesar de estar longe e bastante ocupada.

Estava uma noite escura e eu tinha ido para a rua esperar por uma caravana política. Ia haver eleições e os partidos políticos estavam a ter das últimas oportunidades naquela campanha eleitoral de convencer os eleitores. Para essa noite estava prevista passar á minha porta uma caravana de motos do…Bloco de Esquerda. Radicais como são, tinham de vir de veículos de duas rodas.

A esperada caravana política foi passando e, assim que passou o último velocípede, comecei a ouvir um barulho estranho na estrada. Olhei para o local de onde achava que vinha o som e vi uma mancha branca que se movia freneticamente. Era a gata Feijoa que agonizava na estrada.

Fiquei desesperada e fugi do local o mais depressa possível para não assistir ao seu sofrimento. Fui para dentro a chorar baba e ranho e a recordar o último dia em que comia sardinhas fritas e ela comia as espinhas mesmo da borda do meu prato.

Acordei extremamente aliviada por tudo não ter passado de um sonho.

Tuesday, April 20, 2010

Sempre com desconhecidos

Muito estranhos foram alguns sonhos que tive esta noite! Depois das corujas a meio da tarde e dos leitões prontos para assar, eis que se entra no mundo de parvoíce ainda maior.

Estávamos na época do Natal e Ano Novo (repare-se, estamos em Abril e a Páscoa foi há duas semanas atrás). Em vez de estas festividades serem passadas no seio familiar, embora o cenário fosse numa primeira instância a minha casa, não conhecia as pessoas que comigo se encontravam a confraternizar. Sei que antes tinha viajado para lá de autocarro e que havia estranhas bebidas.

Havia uma acolhedora fogueira acesa e um rádio tocava. Eu ia-me servindo de licorosas e bastante alcoólicas bebidas com gomos de laranja e açúcar no fundo. A certa altura estava tão bem acompanhada por Baco que já nem sabia quando o copo estava cheio. Com as mãos viscosas da bebida entornada, ia-me juntando aos companheiros que já notavam que eu estava etilicamente bem disposta, apesar de me esforçar por parecer sóbria.

Chegou a meia-noite mas ainda parecia de dia. Se calhar era por isso que o relógio biológico das corujas do sonho anterior andava desregulado. E o que é que costuma acontecer na meia-noite da Noite de Natal? Chega o Pai Natal, obviamente mas...

Abriu-se um grande portão (o de minha casa?) e entrou um grupo de pessoas com presentes. Algumas estavam vestidas de Pai Natal e outras não. Todas traziam presentes que alegadamente seriam para trocar ou para tirar um papelinho com um número à sorte. Foi o que eu fiz e saiu-me uma bosta de um presente que eu nem soube o que dizer ou fazer. Era um embrulho pequeno (que engraçado, era exactamente igual a um que veio ontem pelo correio para a minha irmã, só por coincidência). Ainda não sei o que o embrulho da minha irmã contém mas este tinha um pacote de manteiga de vaca (por acaso ontem aqui em casa vi imensa manteiga de porco) e uma outra embalagem semelhante que dizia “”queijo de leite de veada (já que existe queijo de leite de búfala...). E eu que esperava presentes melhores!

Agora o cenário é outro. Preparo-me para entrar incógnita numa casa de alguém que não conheço. Já lá tinha ido mais vezes, sempre às escondidas mas teimava em lá voltar. Não me perguntem a razão de tão estranha atitude. São coisas dos sonhos mesmo.

Percorri todas as divisões da casa com extremo cuidado e constatei que nada estava como da última vez que lá estive. Um dos quartos estava enfeitado com brinquedos e na cama havia uma colcha verde da cor das caixas da fruta e dos legumes com que eu trabalho todos os dias. Antes naquela divisão não havia nada daquilo. Brinquedos naquela casa então é que não havia mesmo. Aparentemente não viviam lá crianças.

Passei cuidadosamente para outro quarto que estava quase despido de mobiliário e enfeites. Naquele sim havia antes muita coisa. Enquanto conjecturava sobre as mudanças na casa, senti passos e logo me fui esconder debaixo de uma mesa. Acho que já era habitual eu esconder-me lá mas desta vez fui apanhada porque, ao me tentar agachar, deparei com um conjunto de caixas de papelão cheias de objectos. As habitantes da casa, duas raparigas fortes de cabelos encaracolados que eu não conheço na realidade abordaram-me e perguntaram-me sorridentes o que é que eu andava a fazer no andar de cima de sua casa. Olhei para uma delas e constatei que ela devia estar aí com uns sete ou oito meses de gestação. Ficou explicado porque é que havia mudanças. Simplesmente aquele seria o quarto do bebé que ela esperava.

Lamento desapontar que queria outro desfecho para esta minha incursão pela casa alheia mas não tenho a culpa de o sonho ter sido assim.

Aquela nuvem que passa

Não, não vou falar sobre a canção que tem este nome. A situação até parece ser bem séria. Para já está a causar grande transtorno a quem tem de se deslocar de avião no espaço aéreo europeu.

Quem como eu tem acompanhado de relance as notícias constata que a nuvem de cinzas causada por um vulcão na Islândia está a preocupar bastante toda a comunidade, ande ou não de avião.

O fenómeno promete não afectar a Península Ibérica mas parte da Europa viu o seu espaço aéreo encerrado e inúmeros voos ficaram em terra por haver bastante risco de os aviões se danificarem seriamente, de as pessoas sofrerem danos na saúde e, essencialmente por não haver visibilidade.

O Presidente da República Cavaco Silva que tinha, justamente com uma vasta comitiva, feito uma viagem oficial à República Checa ficou ali retido por alguns dias, aproveitando para passear um pouco. Há trabalhos e decisões que esperam cá no nosso cantinho pelo Chefe de Estado mas aquela nuvem faz com que ele se refastele visitando os belos monumentos que dizem que Praga tem.

As cerimónias fúnebres do Presidente da República da Polónia, falecido num acidente aéreo na Rússia, foram adiadas. Se o vulcão tivesse entrado em erupção alguns dias mais cedo, talvez ele ainda estivesse vivo e a tentar, tal como Cavaco Silva, regressar de uma viagem oficial a um outro país. É a vida!

Alguns concertos e outros eventos culturais um pouco por toda a Europa foram cancelados ou adiados. Quem comprou bilhetes para os concertos ou organizou alguns eventos ficou seriamente prejudicado por aquela nuvem de cinzas que ainda promete causar alguns danos. Da última vez que aquele vulcão entrou em erupção (na altura ainda não havia aviões) demorou cerca de dois anos para que voltasse de novo a adormecer. As companhias aéreas já se queixam dos prejuízos sem precedentes. Se assim continuam as coisas haverá uma enorme crise no sector.

Segundo alguns cientistas, ainda estão por avaliar os eventuais danos que a erupção deste vulcão e consequente nuvem podem causar na saúde pública a médio e longo prazo.

O Mundo está mesmo descontrolado. Há cerca de dois anos atrás não se ouviam falar nestas coisas. De nuvem de cinza parece que é a primeira vez em trinta e três anos de vida que ouço falar. De tornados, trombas de água e afins em território nacional vai-se falando cada vez com mais frequência de há cerca de cinco ou seis anos a esta parte. Em 20010 já houve cerca de uma dezena de sismos devastadores. O último ocorreu na China ainda esta semana. É o Planeta a vingar-se das atrocidades que o Homem lhe tem vindo a infringir ao longo do tempo?

“Os Lusíadas” (impressões pessoais)



O que dizer desta obra fundamental da Literatura Portuguesa e que todos nós estudámos no Ensino secundário (não sei em que ano mas isso também não interessa)? Bem, para dizer a verdade, naquela época nem lia as obras simplesmente para embirrar com a professora de Português. Não nos dávamos e pronto.

Vamos então à obra lida na íntegra, por iniciativa própria e muitos anos depois das aulas no liceu! Comecemos por falar sobre Camões e com uma revelação inédita. O maior poeta portugu~es faleceu e foi sepultado na localidade da Moita, concelho de Anadia, distrito de Aveiro- a minha terra. O poeta tinha um caso amoroso com uma mulher daqui da freguesia. Os seus restos mortais estiveram enterados na igreja e depois é que foram levados para Lisboa. O povo e o pároco da freguesia revoltaram-se contra a trasladação do poeta mas de nada valeuu. Lisboa é o Mundo, o resto é paisagem.

Lendo esta obra, constato que Lu´s de Camões seria um homem extremamente culto, dadas as refer~encias mitológicas tão diversas e as refer~encias geográficas que emprega na obra. Refira-se que naquele tempo não se tinha acesso á informação como se tem hoje. A minha questão é esta: será isto riqueza cultural ou simplesmente é a diferença entre o conhecimento que se tinha naquela época e o de hoje? Eu penso que se Camões tivesse a oportunidade de ler algum dos meus textos sentiria o mesmo. É notória a diferença de vocábulos que mais de meio século nos separam.

Esta obra encontra-se dividida em tr~es partes, no meu entender. A primeira é quando são relatadao os feitos dos Lusitanos antes da partida das nnaus para o oriente, a segunda relata a viagem e suas incidências e a terceira faz uma antevisão do que se iria passar dali em diante nas terras entretanto conquistadas.

No início da obra temos o Concílio dos Deuses para decidirem sobre a ajuda aos navegadores portugueses. É engraçado que eu, sem querer e sem sequer me lembrar disso, também elaborei um texto exactamente com uma espécie de concílio, não de deuses, mas das Entidades superiores que é exactamente a mesma coisa. A diferença era que aquela reunião era para castigar e não ajudar. Foi esse texto depois que me fez ter a ideia do blog. Pena t~e-lo perdido mas quando o achar prometo colocar aqui as passagens mais significativas.

Quando leio qualquer coisa que se pase no mar e principalmente num barco assim sem as condições daqueles navios onde decorrem os cruzeiros, penso o quanto é estimulante uma viagem com aquela que Vasco da gama e seus companheiros fizeram. Estar de noite no meio do Mar e olhar as estrelas deve ser uma experiência espectacular. Um dia sonhei com isso e foi muito bom. Foi uma sensação única. As possibilidades de eu meesma viver esta aventura são muito remotas, para não dizer impossíveis mesmo. Fica este meu desabafo secreto: navegar em alto mar numa embarcação sem tecto e sem nada numa noite de verão deve ser memorável.

E não podia analisar “os Lusíadas2 sem uma refer~encia ao tão famoso Canto IX. Pois…exactamente aquele sobre as aventuras amorosas dos nossos navegadores com as ninfas (e as mentes preversas aqui já batem palmas enquanto imaginam as barbaridades que eu vou dize mas lamento ter de as desiludir). Afinal este episódio foi fantasia de quem? De Camões para embelezar a obra e prender o leitor ou de Vasco da Gama e seus parres que, depois de muito terem passado e de finalmente terem chegado á índia naturalmente se sentiram numa espécie de paraíso? Ter relações amorosas com entidades que nem sequer são humanas só mesmo de alguém muito carente e após uma longa jornada de sofrimentos no mar como aqueles por que passou a comitiva portuguesa. De qualquer maneira está muito bem conseguido, fosse lá com que intenção fosse.

Resumindo, foi uma obra difícil de ler pelas diferenças de vocabulário e também porque a minha motivação para ler poesia ser abaixo de zero. Li alguns trechos no secundário para as aulas mas é a primeira vez que leio a obra na íntegra. É mais um enrquecimento cultural que se ganha e pode-se dizer a quem quiser ouvir quue já se leu a maior obra portuguesa de sempre. Toda a gente a devia ler. É um dever nacional.

O temporal




Este é um pequeno momento onírico mas com grande significado, visto que para esta quarta-feira está previsto tempo mau com rajadas de vento, chuva, granizo e tudo o mais que possa atrapalhar em termos de condições meteorológicas.

Ia a sair de casa na minha terra com o meu guarda-chuva preto. Mal saio do portão para fora, logo uma tempestade irrompe de repente. Vejo aproximar uma espécie de tornado. Já vi imagens em que nos Estados Unidos as pessoas viam aquelas nuvens negras aproximar-se e fugiam o mais que podiam. Aqui também foi a mesma coisa, só que eu protegi-me da enorme e violenta rajada de vento com o guarda-chuva. Estava a ver que ele me levava mas consegui aguentar-me firme e de pés bem assentes no chão.

De manhã o céu até se apresentava azul, embora com algumas poucas nuvens. Mesmo assim, não arrisquei a ir para o trabalho a pé, não fosse o tempo mudar repentinamente.

À noite é que já apanhei um pouco de chuva mas nada daquele temporal que dizem que houve por Lisboa.

As pessoas perante nós

Nós, deficientes visuais, para além dos obstáculos físicos que naturalmente nos surgem temos também de lidar com o grande obstáculo que é a compreensão humana.

Será assim tão complicado lidar connosco sem nos causar embaraços? Parece que sim. No espaço de muito pouco tempo, às vezes tendo como protagonista a mesma pessoa, chega-se do oito ao oitenta.

Há que ter calma e pensar que para algumas pessoas é completamente novo lidarem com alguém com uma deficiência visual. Antes nunca sequer tinham visto um de perto. Por vezes é difícil manter a cabeça fria face a algumas atitudes mas tem de se fazer um esforço hercúleo para não se magoar a pessoa como ela, sem querer, nos magoa a nós.

Passemos a alguns exemplos vagos mas que acontecem em todo o lado e a toda a hora. Ao princípio, a maioria das pessoas pensa que, por termos uma deficiência somos seres incapazes de fazer seja o que for. Andar na rua então...
“Vais a pé para baixo?!!!! É muito longe, há trânsito...”
E eu lá tenho de desdobrar vezes sem conta a ladainha de que estou habituada a andar a pé quase desde que nasci, que o único transporte que tenho para me deslocar da minha inacessível aldeia são as minhas pernas. Além disso, estou muito gorda, não por comer em demasia mas pela falta do exercício físico que fazia enquanto atleta de alta competição e o médico mandou-me fazer caminhadas. Agora que mudou o horário e que o tempo começa a estar convidativo, toca a ir dar as benditas caminhadas a ver se a minha roupa me volta a servir.

Uma pessoa nos Covões há uns anos atrás estava a perder a visão devido ao glaucoma. Essa nem foi propriamente pela falta de convívio com deficientes visuais, visto ter um filho que cegou por acidente. Ela estava a ver trinta por cento enquanto que eu tenho dez por cento de acuidade visual. Ela não dava um passo sozinha e muitas vezes fui eu que via menos do que ela a guiá-la. A explicação é simples: é um choque enorme para uma pessoa adquirir a cegueira ou a deficiência visual quando vê cem por cento. Apanhando-se a ver trinta por cento que seja, é muito complicado adaptar-se. Eu já nasci assim e tive desde a nascença de me adaptar e ganhar estratagemas de defesa para viver autonomamente.

- “Cuidado! Olha que cais!”
Que dizer disto? Por onde começar? Bem, começo por dizer que a probabilidade de eu cair por qualquer motivo é a mesma de outra pessoa qualquer cair, com a excepção dos deficientes motores ou dos idosos que têm uma probabilidade um pouco mais alta de cair. Desde quando se ver mal é sinónimo de se cair com mais frequência. Vou num autocarro, já tem acontecido, o autocarro tem de travar de repente, há um turbilhão de pessoas que cai lá para trás e eu continuo agarrada a qualquer coisa. Já aconteceu isto mais do que uma vez e nem se pense que as pessoas que caíram eram idosos a quem as artroses já martirizam. Quase todos eram jovens. De salientar que nunca fui parar ao hospital devido a uma queda. Se levei pontos em alguma parte do meu corpo foi devido a operações e não devido a quedas. Há pessoas que dizem que foram parar ao hospital por causa de quedas, que partiram a cabeça, os dentes, se pisaram todas. Mas o que é isso? Dou as minhas quedas, claro que dou mas na maioria das vezes é mais por distracção do que por falta de vista. Mais uma vez a explicação está nos mecanismos que o facto de ser deficiente visual desde a nascença dá mas não só. Devido ao Desporto, tenho uma enorme capacidade de equilíbrio e uma força brutal que só não uso para outras coisas devido ao r isco de descolar a retina.

Ainda nos autocarros que é onde ocorrem mais cenas deste género:
-“Quer-se sentar?” e a pessoa, por vezes uma idosa com os sacos de compras atrelados levanta-se. Na maioria das vezes recuso mas alturas há em que me aproveito da situação. Normalmente isso acontece quando tenho de colocar a carteira na mochila ou quando eu própria venho carregada de sacos. Nem se pense que é por não ver. Simplesmente dá jeito. Outra situação muito frequente que acontece (e aí a culpa é de dois ou três colegas meus do mais mandrião que há, do género de ter de pedir licença a um pé para mexer o outro e do género de daqui a mais não caberem nas portas, tal é o sedentarismo) é o facto de alguns condutores pararem mesmo em frente da ACAPO quando se apercebem que há um deficiente visual. Normalmente eu saio na paragem antes e vou aqueles escassos minutos a pé (se eu assim não fizesse, também não haveria aquelas fotos dos carros nos passeios que aqui tenho mostrado). Às vezes os condutores insistem para que fique. Eu alego que ali não é paragem. Às vezes até saio na paragem a seguir ou até mais lá para baixo como tem acontecido. Mas não, deficiente visual que por acaso vá num autocarro que passe nos Combatentes logo vai para a ACAPO quando na verdade vai para o trabalho. Eu não sou como dois colegas meus do género que atrás referi que apanharam o autocarro numa paragem para saírem na paragem seguinte. De risos.

E já que falo de autocarros, termino esta secção com uma história deliciosa. Que pena a Marina Mota nos ter pedido histórias engraçadas antes de este episódio se ter passado! No ano passado tivemos uma pequena festa de Carnaval nas instalações da ACAPO. Consistia apenas num baile e concurso de melhore disfarces. Eu comprei uma máscara horrível que tinha visto em Anadia e que toda essa noite me ri só de pensar o susto que um artista de Fiães que tinha feito batota no Hattrick apanharia se estivesse muito quentinho a tratar das suas mil e uma equipas pela madrugada e alguém lhe assomasse à janela com aquela máscara. Tinna de pensar numa indumentária à altura para acompanhar a máscara. Então lembrei-me de uma camisa enorme aos quadros que tenho e de uns corsários roxos para me vestir de um monstro qualquer. Tinha no entanto de arranjar um pau ou algo assim para empunhar. A minha mãe arranjou-me um cabo de uma vassoura e lá fui eu com ele até Coimbra. Ia no autocarro (escusado será dizer que era num que ia para as imediações da ACAPO). Preparava-me para sair na paragem habitual. Não sei se daquela vez o condutor me perguntou se queria sair pela frente e na ACAPO se as criaturas simplesmente me viram deslocar para a porta envergando o pau da vassoura. Só sei que quase me rebentei a rir com os comentários de duas idosas (tinha de ser! Essas pensam que somos doutro planeta e, assim que nos vêem começam a rezar baixinho). Diz uma para a outra:
- “Coitadinhos! Ainda me causa impressão como conseguem andar na rua. Valha-nos Deus!”
E a outra responde:
- “Estamos na época da Quaresma, altura de pedir a Deus por estes infelizes.”
Volto a recordar que tudo isto foi provocado pelo facto de eu trazer um cabo de uma vassoura para uma festa de Carnaval e que alguém mais cego do que os próprios cegos confundiu com uma bengala branca.

“Percebeste....ou queres que te faça um desenho?”
Sei que isto é uma expressão aparentemente inofensiva e que se usa sem intenção de magoar ou molestar mas odeio quando me dizem isso e sei de deficientes visuais que vão mesmo à cara de quem abriu a boca antes de pensar. Isto para magoar não há melhor. Conheço uma pessoa que tem o hábito de dizer isto a toda a gente e tem o azar de mo dizer a mim também. Da primeira vez sempre lhe respondi que era má a interpretar desenhos por não reparar nos pormenores, na segunda calei-me mas senti vontade de lhe dizer das boas ou até de lhe ir à cara (tem sorte em eu pensar que não é por mal que diz isso e porque nunca lidou com ninguém como eu, se fosse com uma pessoa que eu conheço já tinha levado uma tareia). Da próxima leva um aviso, até para prevenir embaraços futuros e se houver próxima então não sei o que faça. É isso e a mania que algumas pessoas têm de, lá por conseguirmos ver uma coisa, não significa que reparemos noutras.

Resumindo, há que ter calma e paciência connosco. Nem sempre é fácil para nós ou para quem lida connosco mas temos de nos aprendermos a adaptar às diferenças uns dos outros.

Saturday, April 17, 2010

“O Padrinho (Impressões pessoais)



E cá vamos nos dar a nossa opinião sobre um livro que, segundo as pessoas com quem tenho falado, deu um grande filme. Como eu não vi o filme para dar a minha opinião sobre como foi esta empolgante história passada para a grande tela, fico-me pelo livro.

Esta é a obra-prima do escritor americano de origem italiana Mario Puzo datada do ano de 1972. Nesta obra, o escritor retrata a vida de alguns compatriotas seus emigrados na América que continuam a levar uma vida aparte da sociedade que os recebeu.

É do conhecimento público que a Máfia está muito presente na Sicília e muitos dos emigrantes italianos que se exilaram na América após as guerras tinham familiares próximos que pertenciam à organização e, mesmo que quisessem, não poderiam fugir dela facilmente.

A leitura deste livro fez-me lembrar as séries de “O Polvo” que eu via quando era miúda e estava sempre ansiosa para que chegasse o dia da semana em que elas fossem para o ar na RTP. Lembro um episódio curioso: fui operada às amígdalas logo no dia em que era exibido o último episódio de uma das séries e só o espectro de não poder assistir ao final me trazia alguma mágoa. Mas tudo correu bem e eu, com gelo na zona intervencionada, lá assisti ao final. Adorava quando os mafiosos se matavam uns aos outros com aquelas metralhadoras enormes. A Polícia também era um dos alvos a abater pelos mafiosos. Lembro-me de um delegado de Polícia que andava no encalço deles que foi abatido na rua com setenta e tal balas cravadas no corpo. A sua companheira de investigação, Sílvia Conte, na série seguinte continuou a saga de os perseguir. Chato era quando eles se vingavam de seres inocentes como assisti uma vez à morte de um miúdo que, apesar de ser filho de um mafioso de primeira, era uma criança indefesa. A mãe, por pertencer a uma família diferente, foi poupada à morte mas teve o amargo desgosto de ver o seu filho sucumbir a golpes de arma de fogo no meio da rua.

Em nada difere este livro desse cenário da troca de favores, do tráfico de influências e da desconfiança que existe mesmo no ente mais próximo. Quem pertence a este mundo obscuro tem de ser cauteloso nos passos que dá diariamente. Qualquer pequeno deslize pode conduzir à ruína. Deve haver muita pressão e muito medo ali. A vida daqueles seres deve ser pouco recomendável para se viver. Estar sempre alerta, com medo que algo surja mesmo de quem menos se espera não é nada agradável.

Adorei bastante a leitura deste livro, apesar de agora me ser escasso o tempo para ler. Fui lendo aos poucos mas sempre com o bichinho de tentar saber o que ia acontecer a seguir, tal como acontecia quando assistia a “O Polvo”.

A forma como algumas passagens da história nos são contadas e a descriação de algumas personagens com recurso ao humor também é um condimento para nos prender. Lembro-me por exemplo do cobarde Carlo Rizzi- casado com a filha do Padrinho. Era um indivíduo que tinha mais palavras que acções. Morria de medo de quem lhe podia fazer frente e em casa maltratava a sua indefesa mulher que ainda por cima se encontrava grávida.

Johny Fontaine era outro personagem desta história que também era muito engraçado. Graças a ser afilhado de Vito Corleone, obteve a fama e o sucesso que normalmente não obteria com o seu talento. Pessoas com maior talento que ele ficariam de fora de uma carreira auspiciosa no mundo das Artes. A forma como o seu padrinho conseguiu persuadir o seu irredutível chefe a dar-lhe o papel que tanto desejava no filme foi também memorável. O indivíduo não iria dar de maneira nenhuma aquele papel a Johny. Ainda por cima ele roubou-lhe a namorada e os dois não se davam realmente bem mas Corleone decidiu servir-se da paixão que o empresário de cinema nutria por cavalos, particularmente por um que lhe custou uma fortuna e assentou a sua intervenção aí. Quando acordou numa manhã, o produtor cinematográfico tinha o seu cavalo preferido degolado aos pés da cama.

O balanço geral que faço deste livro é muito positivo. Uma obra cativante do princípio ao fim. Parece que estamos a assistir a uma verdadeira série televisiva. Apesar da leitura deste livro, não senti curiosidade em ver o filme por ser agora difícil para mim ler as legendas. É por isso que não vejo cinema. As pessoas admiram-se como ainda há pessoas que não gostam de cinema mas eu pertenço ao escasso grupo dessas aves raras. Tenho amigos cegos totais que gostam de filmes. Custa a compreender, visto que alguns nem uma palavra sabem de Inglês. Quem sabe eu mude de ideias e veja o filme quando passar só para ver como foi esta obra adaptada para tal efeito.