Sunday, November 26, 2006

O pesadelo lilás

Quando acordei fiquei aliviada ao constatar que era outro o quarto onde me encontrava e que tudo não havia passado de um sonho tão infeliz. Quase sempre acontece o inverso. Quando acordo e constato que tudo não passou de um sonho fico a amaldiçoar a hora em que acordei. Desta vez passou-se o contrário e não tive outra alternativa senão apontar as incidências desse sonho recheado de acontecimentos um pouco sinistros.

Eis o que eu apontei no meu caderno no dia 7 de Setembro de 2006 para depois publicar de forma mais desenvolvida no blog:

Sonhei que estava com a minha irmã num local animado. Era uma rua que me dava a sensação de conhecer bem. Havia edifícios modernos e as pessoas passeavam ali alegremente.

A certa altura foi anunciado que a Federação Portuguesa de Basquetebol estava a sortear bilhetes para ir até à Polónia para apoiar a Selecção Nacional. Havia umas senhas numeradas que tinham dado para o efeito. Precipitámo-nos até lá, mas não conseguíamos abrir uma porta de vidro.

Ao fim de muito esforço abrimos a porta e tudo se resolveu.

Encontrávamo-nos agora numa rua com edifícios muito modernos. Tratava-se de uma grande cidade que eu não podia identificar, ao contrário do local que referi anteriormente. Connosco estava também um jovem mulato que parecia ser nosso amigo. Era um rapaz baixo, com o cabelo muito curto ou mesmo rapado que usava um blusão lilás. Andávamos os três por aquele local e tirávamos fotos juntos.

Estamos agora os três na paragem das traseiras do liceu de Anadia onde apanhávamos a camioneta para casa quando lá estudávamos. Ali esperávamos também um autocarro. O local era descrito no sonho conforme ele era na altura. O casaco do nosso companheiro era agora mais roxo- uma cor que domina este sonho.

Olhei para o céu. Umas nuvens negras surgiram sem aviso e, no mesmo instante, começou a chover copiosamente. À pressa, ia tentando proteger objectos que não se podiam molhar arrumando-os desordenadamente dentro de uma mochila. É que aquela tempestade surpreendeu mesmo toda a gente.

É com este estado de coisas que chega o autocarro que nos leva até casa. A mochila já toda encharcada dificulta a minha tarefa de arrumar as coisas. Tinha de me despachar, senão perdia o autocarro. De referir que o autocarro era parecido com os que circulam pela cidade de Coimbra.

Atrapalhada com as coisas molhadas e com a mochila, tento arrumar as coisas à pressa. A minha irmã já está dentro do autocarro e o condutor começa a discutir. Quer que eu me despache rapidamente. Isso ainda me enerva mais.

Olho vagamente para trás e constato que uma multidão rodeia o nosso amigo que se encontra caído no chão molhado. Parece que ele se sentiu mal subitamente. As pessoas afirmam que não há nada a fazer. Ele morreu logo ali.

Peguei nas coisas que ele trazia e entrei finalmente no autocarro. Não conseguia conter a tristeza. Olhei pelo vidro da janela. Já era noite e o caminho estava repleto de candeeiros roxos que me faziam sentir ainda mais triste. Não sei explicar a tristeza imensa que sentia naquele momento do sonho.

Esta cena não se passa em 2006. Passa-se em 2004 ou 2005.

Não sei como, mas os preparativos fúnebres eram lá em casa. Procuro algo de importante que pareço ter esquecido. É grande a minha atrapalhação a abrir, a remexer e a fechar gavetas.

Estava no quanto da minha irmã. Era noite de Futebol e a chuva caía na rua. Associei: estava uma noite igualzinha à que se fazia sentir quando o Feher morreu. Nem mais! Parece que o nosso amigo foi homenageado no estádio. Vestia uma camisola amarela numa foto que lá tinham. Era do Paços de Ferreira ou do Beira-Mar.

Continuava a arrumar as minhas coisas numa só gaveta, apesar de estar a ver que elas não cabiam lá todas.

Havia umas datas por baixo daquela foto: parece que ele nasceu a 18 de Fevereiro. Vagamente pareço ter visto que a data daquele dia era 24 de Maio. 24 de Maio de...2005? Realmente foi um dia terrível para mim.


Na televisão fazem também uma emissão especial dedicada àquele jovem. A homenagem foi feita com um espectáculo de música.

Acordei e pensei nas incidências deste sonho e cheguei a algumas conclusões:
1. Estivemos numa aula a falar de um colega nosso que é de Moçambique. Curiosamente ele nasceu a ...18 de Fevereiro.
2. Ainda nessa aula calhou em conversa dizer que a minha irmã queria em tempos ir para Angola.
3. O papel que eu fiz com os contactos da agência funerária. No sonho procurei esse papel numa gaveta repleta de coisas.
4. Portugal jogou com a Polónia.
5. Comprei uma mochila nova no Pingo Doce e tive de mudar as coisas.
6. A segunda data já eu expliquei em cima o seu significado.

De referir que voltei ainda a adormecer e que sonhei uma coisa completamente oposta. Caminhava na mesma por uma rua desconhecida. Passaram por mim muitos rapazes de bicicleta que me diziam “olá”. Ignorei e segui em sentido contrário ao que eles vinham. A rua ia dar a uma praia cheia de guarda-sóis coloridos e de homens bonitos. O resto do sonho não posso contar.

O dia estava algo enevoado. Quer chova ou faça sol, lá temos de ir para ali ter aquelas aulas tão aborrecidas. O que vale é que aparecem assim algumas coisas caricatas. Ontem faltou a luz e a seguir o alarme desatou numa berraria desenfreada e hoje havia uma garrafa de plástico vazia mesmo no centro do salão. Não sei o que estava ali a fazer.

E como era de prever, as pessoas que tiveram a ideia de mudar o horário chegaram à conclusão (após exaustivas reuniões e noites de extremo cansaço) que o melhor era manter o horário na mesma. Foi o que quisemos ouvir!

Enquanto um colega meu criticava os computadores e os programas, eu ia vendo o que se estava a passar com os ciclistas da Rabobank. Foi então que constatei que o Thomas Dekker teve uma bela prenda de anos: um cão (onde é que eu já vi isto este ano?) atravessou-se à frente dele e ele caiu. Parece que se magoou numa mão. Mas porque é que os cães- com tanto ciclista de tanta equipa que anda na estrada- escolhem sempre os ciclistas da Rabobank para deitarem ao chão? Se calhar não gostam do laranja?

Outro ciclista da Rabobank que também caiu nessa mesma prova foi o espanhol Juan António Flecha. Parece que nesse dia nem deviam ter ido para a estrada!

Voltei a fazer um treino de bicicleta e usei um método que motiva bastante uma pessoa. Disso falarei mais em pormenor num dos próximos textos.

Já que os atletas deficientes se encontram no país da equipa que viu dois dos seus ciclistas caírem, os atletas nacionais resolveram fazer o mesmo. É incrível o azar!

Situação do dia:
Isto nem devia acontecer! Houve duas pessoas que resolveram estacionar os seus fiéis veículos onde eles mais estorvavam: à entrada da ACAPO e à hora da saída das aulas. O resultado pode ser visto nas fotos que se seguem. Para que mais ninguém faça a mesma coisa e que se lembre que há pessoas deficientes visuais a passar ali.

Bacorada do dia:
“Facilitar o mais fácil possível” (assim era uma maravilha!)

Quando os dirigentes lesionam de forma estúpida os atletas do seu próprio clube

Eu não sabia que o Litmanen ainda jogava. Como nunca mais o tinha visto...

Parece que joga numa equipa sueca cujos seus dirigentes até lesionam involuntariamente os seus atletas- imagine-se- a abrir refrigerantes.

Parece que só dessa forma tão insólita é que o jogador nórdico se lesiona. Se a moda pega...

Não deixa de ser cómico os dirigentes contratarem craques para enriquecer as suas equipas e depois acabam por os lesionar com tampas de garrafas de refrigerantes e outras coisas que não lembram a ninguém. E já que o jogador em questão nunca se lesionou dentro do terreno de jogo...

Nessa manhã enevoada de Setembro, tive de me levantar bem cedo. Agora somos três e o horário foi mudado a título experimental. É que essa mudança de horário já estava condenada a não resultar porque as pessoas vêm de longe e não podem estar às nove horas nas aulas.

Antes de começar as aulas tive a luminosa ideia de passar o conteúdo daquele CD para o meu leitor de mp3 para assim poder ouvir todas aquelas músicas.

As aulas começaram com a divulgação das notas de alguns módulos. Eis as minhas notas:
Matemática-20 (isto é inédito!)
DCPS- 19,5
ORMT-19,6
Isto é facílimo para mim! Gostava de algo mais difícil.

Nesta fase em que tudo tem de estar preparado para sermos integrados em empresas em regime de experimentação e numa altura em que duas turmas se vêem e desejam para partilhar o escasso material e as inadequadas instalações, os formadores foram para uma das suas inúmeras reuniões e eu fiquei a ditar a ficha aos meus colegas. Essas fichas seriam passadas a computador da parte da tarde e seriam depois devidamente preenchidas tendo em vista os nossos objectivos a nível profissional.

Depois de uma manhã inteira de volta das fichas, apetecia-nos sair das aulas e ter o almoço à nossa espera. No entanto, tivemos de ser nós a esperar longos e dolorosos minutos pelo almoço. Contingências da maldita mudança de horário! Mais um motivo para que o horário volte a ser como era dantes.

Tivemos uma aula de Braille em que tivemos de cortar folhas e inventar uns números de telefone. Como estava pouco inspirada para fazer esse tipo de coisas, resolvi ver no meu estojo as canetas que tinham publicidade para passar esses números de telefone. Lembram-se daquela caneta que eu encontrei no autocarro que levou os ingleses ao aeroporto? (ver texto “Sempre a correr”) Pois bem, um dos números de telefone que eu escrevi nessas pequenas folhas era dessa agência funerária que é uma empresa como as outras.

Só um aparte: escrevi os números de telefone, mas esqueci-me dos indicativos e isso deu confusão. E eu a inventar e-mails dessas empresas...E será que uma agência funerária tem mail?

Não treinei para assistir ao jogo entre a Finlândia e Portugal que terminou empatado a uma bola. Tal como na véspera, adormeci ao intervalo. É o cansaço!

Fui conversar um pouco com as minhas colegas lá de casa. Agora sim, já tenho alguém perto de mim para trocar umas ideias. Com a distracção quase me esquecia de ver "A Herança" mas fui bem a tempo de constatar que ganharia o prémio caso estivesse a jogar. O enigma era facílimo. Mais fácil de resolver, certamente, que o "caso Mateus".

Este caso que abalou todas as estruturas do Futebol Português conheceu também uma decisão definitiva de modo a impedir que a FIFA castigue o Nosso País. O Gil Vicente vai para a Liga de Honra e o Belenenses já pode jogar na I Liga. Parece que o clube de Barcelos não se conforma e promete não comparecer aos encontros.

Situação do dia:
A equipa de arbitragem num jogo tem de estar em perfeita sintonia. Às vezes essa sintonia é demais e o árbitro principal pode entrar em rota de colisão com os seus auxiliares. O resultado é algo semelhante àquilo que aconteceu no jogo entre a Finlândia e Portugal: árbitro e árbitro auxiliar atropelaram-se mutuamente e chocaram um com o outro.

Bacorada do dia:
"Os mortos que morrem..." (outra da família daquela "se a tua mãe morre outra vez...")

Desporto para Deficientes: esse mundo cão

Eu já aqui tive oportunidade de manifestar o meu desencanto por verificar que alguns dirigentes estão a transformar aquilo que deveria ser um exemplo de humanismo, de solidariedade e de confraternização entre pessoas com problemas e interesses comuns em algo monstruoso e selvático.

Estou, naturalmente, a falar do Desporto para Deficientes a nível mundial. Ao ver aqueles três atletas no pódio com as suas medalhas ganhas com tanto suor e tanto sacrifício, mergulhados no silêncio da vergonha, fiquei a reflectir um pouco no que estão a fazer àquilo que devia ser uma coisa nossa, bonita e que ajudasse as outras pessoas a enfrentarem os desafios e obstáculos que a vida lhes vai colocando no caminho.

Tudo se passou nos Jogos Paralímpicos de Sydnei. A equipa de Basquetebol de Espanha estava imparável e arrecadou a medalha de ouro de forma indiscutível. Depois um atleta que a integrava veio a público dizer que a maioria dos jogadores não possuía qualquer tipo de deficiência mental. Tudo não passou de uma ideia dos dirigentes para angariar mais apoios para o Desporto Adaptado.

Estava assim aberto um precedente bem negro para o já obscuro mundo do Desporto praticado por atletas- já de si com reduzidas oportunidades de participar em provas desportivas. Estes dirigentes e as suas ideias maquiavélicas estão a matar o Desporto para Deficientes e os seus princípios essenciais. De cada vez que se fax algo semelhante, há sempre uns tantos atletas que tinham o sonho de participar naquelas competições que ficam em casa por os seus lugares terem sido ocupados por pessoas que também não tiveram o mínimo de escrúpulos ao alinharem num plano desse género sem pensarem que isso iria prejudicar todos os outros atletas como está a suceder agora.

Gostava imenso de saber o que ia na cabeça daquelas pessoas que contribuíram para que assistíssemos a uma cerimónia protocolar tão triste. Teriam essas pessoas pensado no que estavam a sentir aqueles três atletas ali no pódio a olhar para as medalhas que haviam ganho sem que tivessem cumprido o sonho de ver as suas bandeiras subir ao som de um hino?

Ao pactuarem com o princípio dos “falsos deficientes” para darem mais visibilidade aos eventos desportivos, os dirigentes não pensam no que acontece de mau ao Desporto e aos atletas que têm realmente uma deficiência. O nivelamento por alto dos resultados nas competições faz com que se restrinja o número de atletas participantes e que sejam retiradas provas em que participem pessoas com deficiências mais profundas.

Isso já se pode comprovar nas listas de mínimos para os próximos Jogos Paralímpicos. Algumas provas foram retiradas em prol do nível competitivo sem se pensar no dano psicológico e motivacional que isso vai causar nesses atletas. E isso lá importa para os sanguinários dirigentes que regem o Desporto praticado por nós?

Temo que esta atitude leve a que cada vez mais as federações recorram a pessoas contratadas para se fazerem passar por deficientes e deixem os verdadeiros deficientes em casa a lamentarem-se da sua sorte, como fizeram os espanhóis.

Para combater este tipo de comportamento altamente nocivo há que tomar medidas. Em primeiro lugar, penso que o Desporto para Deficientes devia ser uma variante do Desporto onde os valores humanos estivessem acima dos valores competitivos e dos valores monetários. Penso que assim todos se sentiriam melhor, consigo próprios e com os outros. Ao restringir o número de atletas e o seu nível, está-se a privar alguns cidadãos que passam necessidades de se projectarem e de conviverem com os seus semelhantes com quem o contacto se torna impossível.

Os melhores atletas deveriam, no entanto, de ter oportunidade de competir com os melhores e entre os melhores. Acho que deveriam ser integrados com os atletas ditos normais e classificados à parte, caso se sentissem injustiçados. Se conseguissem algo entre os normais, seriam classificados a par com eles. Acho que era o melhor prémio dado a esses atletas que conseguem superar as suas limitações.

Assim eu penso que acabaria a falcatrua que cresce cada vez mais à medida que se afunila mais o acesso às competições. Eu não compreendo como uma pessoa aceita o jogo desses senhores e se faz passar por deficiente, mesmo tendo consciência de que está a transformar o nosso Desporto em algo inqualificável.

Sou um pouco suspeita para falar nisto porque não sei o que é viver sem ter uma deficiência e é muito difícil para mim pensar nos motivos que levam uma pessoa vulgar a fazer-se passar por deficiente mental, visual ou por pessoa ainda mais deficiente que aquilo que é.

Se eu fosse uma vulgar atleta que andava por aí a treinar e algum dirigente viesse ter comigo e me oferecesse dinheiro ou lá o que fosse para eu me fazer passar por deficiente, penso que não aceitaria. Por mais que o meu sonho fosse representar o meu Pais, preferiria que esse dia tivesse de chegar com o meu mérito e não pelo demérito dos outros que ficariam em casa para eu ir e conseguir arrecadar uma medalha de ouro com uma marca surpreendente, correndo ao lado de atletas que não estão em igualdade de circunstâncias comigo.

Mas aqueles atletas espanhóis quando aplicavam resultados surpreendentes aos adversários não pensavam que estavam a fazer algo deplorável, a aproveitar-se deles para conseguirem os seus intentos?

Isto são situações que me entristecem e me preocupam. Até nas coisas feitas a pensar em nós somos descriminados e os dirigentes sem escrúpulos fazem o que querem de nós. É lamentável observar que o Desporto para Deficientes se transformou num mundo cão!

Previa-se um dia quente. Levantei-me bem cedo como tem de ser numa casa onde agora vivem mais duas pessoas. Ontem alteraram o horário sem sequer nos consultarem e gerou-se a revolta. Dizem que é a nível experimental. Se assim é, julgo que essa mudança de horário não vai por diante.

Para minha casa veio uma amiga minha que eu conheci em Miranda do Corvo. Iria reencontrá-la nesse dia e isso animava-me. Ajudei-a a mudar as coisas antes de ir para um treino que teve de ser alterado.

Depois de me terem dito que não se podia treinar no Estádio, seguia o meu caminho de volta para a ACAPO. Foi aí que alguém me chamou. Era alguém que eu não esperava que me reconhecesse na rua. Fiquei bastante surpreendida, pois já não via essa pessoa há anos.

A solução foi fazer um treino de bicicleta antes de ir para casa ver o jogo dos sub 21 entre Portugal e a Polónia. Portugal venceu por 2-0. Eu já estava a dormir, daí não me ter lembrado dos autores dos golos.

Do dia- para alem das esperadas medalhas dos meus colegas nos mundiais de Atletismo- chegou também a notícia da vitória de Sérgio Paulinho na décima etapa da volta a Espanha. O ciclista português chegou à meta isolado e conseguiu que, trinta anos depois, a vitória falasse a nossa língua.

Situação do dia:
O treino teve de ser alterado porque a Académica treinava à porta fechada.

Bacorada do dia:
Pilota de Fórmula 1” (como?!!!!!)

Uma coruja na noite

Era véspera do regresso às aulas e, ainda por cima, o meu estado de espírito- como se sabe- não é o melhor. Daí não ser admiração nenhuma a minha falta de sono nessa noite. Havia problemas a mais, inquietações, falta de motivação e de ânimo para enfrentar tudo isso.

Passei por sono de forma mais superficial. Algo me havia feito acordar assim tão sobressaltada. Sentei-me na cama e olhei para todos os lados. Da rua veio algo que me fez estremecer. Os meus sentidos estavam todos alerta e o meu coração parecia querer saltar do peito. Era uma coruja que entoava o seu cantar sinistro. Eu detesto ouvir esses pássaros tão horríveis a cantar na rua. Aquela coruja cantava mesmo junto ao meu quarto e isso assustou-me.

Sempre ouvi dizer que as corujas quando andam perto das casas a cantar anunciam morte. Isso assusta-me. Não gosto de as ouvir, apesar de as ter ouvido milhares de vezes e nada ter acontecido. Inexplicavelmente tenho medo de ouvir o cantar da coruja. Quando uma se aproxima, logo corro a acender as luzes e ela foge com o seu canto agoirento que se pensa anunciar desgraça.

Isto foi o suficiente para eu me manter acordada o resto da noite. Subi o volume do rádio e mantive as luzes acesas durante largos minutos. A noite de sono já estava estragada.

Rapidamente chegou a hora de o despertador tocar para mais uma segunda-feira. Mais uma semana! Seria o reencontro com os meus colegas e o regresso de tudo o que pode aborrecer uma pessoa ainda mais do que ela anda.

Enquanto tomava banho, o cantar de um galo fez-me também arrepiar, mas não era nada. Se fosse ainda a mesma coruja era pior.

Foi com cara de enterro que cheguei a Coimbra. Encontrei a minha amiga no autocarro e estivemos a conversar sobre as férias e o que tinha ou não tinha acontecido.

Quando chegámos à ACAPO, foi o habitual reencontro. Um colega nosso deu-nos uma coisa que, dias depois, me iria servir de uma espécie de prémio de consolação: um CD com música holandesa que a minha colega mandou converter de uma cassete para mp3. Haveria de inventar algo que me iria dar uma certa alegria.

Ficámos a saber que as experimentações em empresas que temos de fazer iam já começar no dia 18 de Setembro. Até lá, tudo tinha de estar preparado para começarmos a ser integrados em empresas em contexto real de trabalho.

Com o regresso a Coimbra, começaram também os treinos de Atletismo. Mais uma época igual a todas as outras que começa. Este ano- e mais do que nunca- sinto-me desmotivada porque as pessoas me privam de ter objectivos. Um atleta que treina fora de Lisboa, mesmo que consiga mínimos, está condenado a não ir a provas. Ainda bem que aqui em Coimbra não nos fecham as portas e ainda podemos ter alguma rodagem. Como será a vida de um atleta sem provas, sem objectivos, sem brilho, sem ter sequer a oportunidade de ser visto, de provar que consegue se manter ali, apesar das parcas condições de treino.

O primeiro treino da época foi, no entanto, marcado pelo calor insuportável e pela avaria no cronómetro que fez com que contasse apenas as voltas dadas. Assim iria ser ao longo de toda a semana enquanto eu não arranjasse o cronómetro ou não comprasse outro. Sim porque, se eu quero um cronómetro novo, tenho de o comprar às minhas custas.

Depois do treino fui fazer compras ao Pingo Doce como é hábito. Foi aí que deparei com uma situação que já me aconteceu, mas por outros motivos. Um senhor foi para pagar as suas compras, mas a carteira tinha ficado em casa. Ainda bem que tinha ficado em casa e não lhe tinham roubado o dinheiro como me aconteceu a mim quando queria pagar um sumo e um pacote de batatas fritas.

Portugal conseguiu uma medalha nos mundiais de Atletismo para Deficientes. Aquilo nem parecia uma cerimónia protocolar, parecia mais uma coisa inqualificável por culpa de alguns dirigentes que andam por aí. Devido ao que se passou com a equipa de Basquetebol de Espanha em 2000, as provas para deficientes mentais foram retiradas e os atletas não competem de forma oficial. Recebem na mesma as suas medalhas, mas o hino não é tocado. Isto é, no mínimo, vergonhoso!

Por falar em vergonha: assistiu-se a um debate sobre o estado do Futebol Português. O registo foi em tudo parecido com o da entrevista ao presidente do Gil Vicente na passada sexta-feira. A gritaria, o autoritarismo, a arrogância e a tentativa de explicar as coisas à força dominaram o referido debate. Uma coisa ficou clara: toda a gente chama a si a razão, se bem que ninguém saiba o que é a razão.

Situação do dia:
Estou mesmo abaixo de forma no que toca a arranjar as coisas para levar para o treino. Comecei os treinos logo a esquecer-me dos chinelos. Tive de tomar banho descalça e escorreguei devido à muita água que se encontrava no chão. Deslizei alguns metros mas não caí.

Bacorada do dia:
“Verígrafo” (não faço ideia do que isso seja!)

Sunday, November 19, 2006

Contagem decrescente para o final das férias

E está em andamento a contagem decrescente para o términos das férias. Sempre deu para descansar um pouco e para esfriar a cabeça. Apesar de ter ido poucas vezes à praia, as férias correram dentro da normalidade. Finalmente vou regressar a Coimbra e tentar esquecer novamente o que se tem passado ao longo destas últimas semanas.

Como sempre acontece aos domingos, levanto-me bastante tarde porque vou para a Internet tirar as notícias do Ciclismo e actualizar o blog. Nestas semanas de férias também tenho consultado o e-mail para ver o que está a acontecer. Num local onde não chega a banda larga tem de ser assim.

Desta vez a actualidade velocipédica dá conta da transferência de Tom Stamsnijder da Rabobank Continental para a Geroldsteiner. Como não podem subir todos á equipa principal, alguns dos nossos promissores atletas tentam a sua sorte noutras equipas da Protour. Agora sei que o Tom um dia regressará como o Max e o Van Bon.

Por falar em Protour, foram actualizados os rankings e a nossa equipa encontra-se em segundo lugar. Muito bom! Se não fossem todos os azares de início de época, estaríamos em primeiro lugar. Também seria pedir demais aos poucos ciclistas disponíveis naquela altura do ano.

O ciclista da Rabobank que se encontra melhor posicionado neste ranking é o campeão Óscar Freire. O ciclista espanhol está em 14º lugar.

Depois de descansar, e enquanto preparava toda a roupa e demais coisas, continuava com o meu tratamento. (ver texto “Musicoterapia à base de música pimba”). Só que- quem estava a passar as músicas- enganava-se nas pistas da mesa e algumas músicas entravam a meio e por cima das que estavam a tocar. Foi enquanto não começou a tarde desportiva! É que os campeonatos distritais não param.

Arrancaram os Campeonatos do Mundo de Atletismo para Deficientes e Ricardo Vale arrecadou a medalha de bronze nos 10 000 metros. Parece que aquele queniano suspeito voltou novamente a arrecadar o ouro. Segundo os meus colegas, este atleta passeava-se com o tabuleiro da comida sem o entornar. Com que então é cego!

Como eu disse, evito ver notícias dos Campeonatos. Apesar de ficar sempre contente por eles terem sucesso, a tristeza que eu sinto por não estar ali é insuportável. Eles não têm culpa, mas não posso acompanhar os feitos deles como das outras vezes. Se os Campeonatos fossem noutro lugar...

Situação do dia:
A Internet aqui funciona a duas velocidades: lenta e demasiado lenta. Quase não dá para fazer nada aqui e os erros por as páginas demorarem a abrir são normais. Foi por causa dessa situação que, se calhar, coloquei a mesma mensagem 3 vezes no blog.

Bacorada do dia:
“Como isto não está aberto, eu vou fechá-lo.” (mas como é isso possível?!)

Tudo isto mexe comigo

Eu evito ver todo o tipo de reportagens e ouvir todo o tipo de notícias relacionadas com os Mundiais de Atletismo que vão decorrer na Holanda a partir de agora.

Cada vez mais tenho a impressão que ali realizaria todos os meus sonhos e mais alguns. As lágrimas vieram-me aos olhos ao ver que os atletas tinham ao seu dispor bicicletas tandem para se poderem deslocar. Eu daria tudo para voltar novamente a andar de bicicleta. A minha última prova de Ciclismo foi na Lousã no dia 13 de Junho de 2003.

Para mim andar de bicicleta outra vez seria extraordinário. É algo que adoro fazer, mas que não tenho essa oportunidade. Aqui em Portugal não são dadas condições para que isso se concretize. Ninguém quer andar connosco e nós para aqui estamos. Sonho muitas vezes que volto a fazer Ciclismo. Nesses sonhos estou feliz. Muitas vezes os meus guias nessas provas ou passeios são...ciclistas holandeses. Sei que nunca irei ter essa oportunidade, mas se por acaso tivesse essa sorte, seria um prazer enorme poder correr com as pessoas que eu gosto e muito admiro. Também já sonhei que esses mesmos ciclistas são guias dos meus colegas. Todos esses sonhos são muito bonitos. São o máximo que uma pessoa como eu pode ter para equilibrar a vida. Se me tivessem deixado ir, eu cumpriria esse sonho e arranjaria uma pessoa lá na Holanda para andar comigo que é também o que eu anseio. Não tem de ser um ciclista, basta ser um qualquer holandês que saiba andar bem de bicicleta. Estando lá não seria difícil encontrar alguém.

Outro sonho que eu poderia ter realizado era o de ser voluntária numa competição de Desporto para Deficientes. Se me tivessem ajudado, também poderia ter concretizado esse objectivo. Fiquei extremamente triste ao saber que voluntários vindos de todo o Mundo vieram ajudar. Eu faria também isso com grande prazer e dedicação. Gosto imenso de fazer esse trabalho e foi nessas funções que este ano tive oportunidade de viver os dias mais felizes que tive. Inclusive, tive o privilégio de viver uma experiência bonita que jamais esquecerei (ver texto "Valeu a pena ter ficado").

Eu já nem falo nos amigos que deixei e que adoraria ver novamente. É triste uma pessoa não saber nada das pessoas de quem gosta durante tantos anos. Se ao menos pudesse contactar com elas de qualquer maneira...

Tudo isto é culpa de uma só pessoa. Eu vi esse senhor a ter ainda o descaramento de dar entrevistas na televisão. É uma vergonha um indivíduo tão insensível que não compreende o que é uma pessoa estar a sofrer por não ter saúde dar a cara pelos atletas que tanto trabalham. Se ele estivesse calado era melhor!

Foi por estes acontecimentos que ficou marcado este dia. A revolta e a tristeza continuam a dominar o meu estado de espírito. Nem notícias completamente cómicas como esta me animaram. Parece que no Parlamento boliviano houve pancadaria. Tinha de ser nessas paragens! Depois das impressionantes imagens que chegam dos estádios de Futebol argentinos, brasileiros, uruguaios e por aí fora, também os políticos resolvem engalfinhar-se em plena Assembleia da República, amarrotando os seus fatos e gravatas e desgrenhando os seus cabelos cuidadosamente penteados e carregados de gel.

Políticos à bofetada em pleno Parlamento é algo sempre bonito de ver. A mensagem que eles transmitem para os cidadãos que votaram neles é a de que as coisas (afinal) podem se resolver de forma pouco democrática. Isso é que é um incentivo à ordem nacional!

Já estava a ver algo de semelhante aqui no Parlamento. Ia ser demais! O nosso Primeiro-Ministro a sair debaixo de uma mesa com os botões da camisa todos arrancados, com o cabelo todo no ar e com umas nódoas negras na cara por ter apanhado uma tareia da oposição. Ia ser lindo!

Claro que me tinha de distrair com alguma coisa. Ainda por cima não havia Futebol! A minha mãe mandou-me esperar a padeira, mas ela não veio por estar de férias. Também tem direito. Ou não? O problema é que a minha vizinha esqueceu-se de avisar que ela não vinha e foi uma tarde que eu passei a secar. Pelo que referi atrás, estava com uma disposição para grandes esperas que era de ficar ali toda a tarde.

Acabei ao final da tarde por fazer uma coisa divertida: filmar uns leitões de várias cores. Ficaram mesmo engraçados!

O impressionante Gravesen

Realmente há cada jogador no universo futebolístico! Depois do italiano Genaro Gattuso, passei também a ser uma fã incondicional do dinamarquês Thomas Gravesen. O corpulento médio acaba de ser despedido do Real Madrid por...andar à pancada no treino com o brasileiro Robinho.

Olhando melhor para os atributos físicos deste verdadeiro viking, posso garantir que o jogador que teve o azar de ser vítima dos seus dolorosos socos e pontapés não deve gozar de boa saúde. O homem é impressionante! É de fazer inveja a muitos profissionais da segurança particular, mais conhecidos por guarda-costas.

O próprio Mike Tyson sonhou um dia ter uma compleição física parecida com a de Gravesen. Fartou-se de trabalhar, de malhar horas a fio no ginásio, de carregar blocos de cimento e nada. Revoltado, desatou por aí a fazer umas maldadezitas. Até comeu carne humana viva, mais propriamente a cartilagem da orelha do Hollyfield para ver se ficava bem nutrido e forte como o Gravesen.

O homem assusta mesmo! Sugeria ao jogador dinamarquês que, quando acabar a sua carreira futebolística, deve ir para segurança de uma discoteca ou para steward de um estádio. Com a segunda hipótese ficaria, de cera forma, ligado ao Futebol que é o que todo o jogador anseia depois de pendurar as botas. Quem é o sujeito que vai ousar cometer qualquer infracção ou meter-se em desordens sabendo que tem aquele brutamontes por perto.

Eu não conheço outro jogador de Futebol assim. Nem aproximado sequer! O Patrick Vieira que é um jogador bastante agressivo, o Gattuso que é um jogador extremamente impetuoso, o Petit que é um jogador combativo e até mesmo aquele inglês que eu não me estou a lembrar do nome que se farta de enviar adversários para a enfermaria são jogadores fisicamente normais. Nada que se compare ou que se aproxime mesmo à imponência deste nórdico que- para completar a sua imagem sinistra- ainda usa a cabeça rapada à segurança de estabelecimento nocturno.

Sinceramente! Eu temi pela integridade física dos jogadores portugueses e só descansei quando vi aquele enorme corpo a dirigir-se para a linha lateral para ser substituído.

Já falamos da Selecção Nacional que perdeu esse confronto com os dinamarqueses.

O meu último dia útil de férias foi passado a preparar alguns textos e fotos. Havia que actualizar o blog o mais possível. Recorde-se que este espaço nunca está actualizado por falta de tempo. Que saudades do tempo em que eu tinha isto tudo actualizadinho. Isso foi aí em Maio.

Chegaram os electricistas para tentar a espinhosa tarefa de conseguirem que os quatro canais da televisão sejam visionados em minha casa como deve ser. Às voltas com a antena, sempre tentavam. Só que, quando uns canais funcionavam perfeitamente, havia sempre outros a funcionar abaixo de péssimo. Quando se tentava corrigir essas dificuldades eram os outros que passavam a não se ver bem.

E como quem canta seus males espanta, um dos electricistas cantava em cima do telhado enquanto mudava a antena de um lado para o outro. A música que ele entoava quase na perfeição era o “I Believe I Can Fly”. Era impressionante como ele até dominava a letra da música e tudo. Se fosse ao “Chuva de Estrelas”, ao “ídolos” ou a outro programa do mesmo género teria sucesso.

Ele estava a cantar tão bem quando deparou com um ninho de vespas e começou aos berros. Se não estivesse em cima do telhado, correria a sete pés.

Os meus pais ficaram com uma televisão no quarto para poderem ver a “Floribella” no quentinho dos cobertores quando o Inverno chegar.

Com tudo isto, estava na hora do início do jogo entre a Letónia e Portugal a contar para o apuramento para o Europeu de sub-21. Portugal venceu quase às escuras numa incrível história que irei contar mais adiante.

Não muito longe da Letónia, a Selecção Nacional orientada por Luiz Felipe Scolari perdeu com a Dinamarca por 4-2. Gravesen e seus companheiros beneficiaram das mãos de manteiga de Ricardo e da permeabilidade dos nossos defesas para fazerem a festa.

O jovem Nani estreou-se da melhor maneira na Selecção de Todos Nós. Apontou um golo e mostrou que é a estrela mais cintilante do momento no Futebol Português.

Outra figura incontornável do nosso Futebol é- e nem outra coisa poderia ser- o presidente do Gil Vicente. E ai de quem diz que não conhece tal personagem. O homem tem imensa piada. Numa entrevista concedida...ou melhor, num monólogo concedido à RTP, António Fiúza disse de sua justiça. O homem não deixava mesmo que lhe fizessem perguntas. Parece ter sido carregado com pilhas daquelas que nunca mais acabam. Isto para além de ter esvaziado todas as gavetas que tinha lá em casa e de ter trazido todo o seu conteúdo para a entrevista.

Se fosse eu a entrevistá-lo, dava-me uma coisinha má e passava-me. Ele nem respondia ao que lhe era perguntado e desencorajava qualquer jornalista a fazer-lhe perguntas. Vêm aí dias complicados, a julgar pela intransigência do presidente do Gil Vicente!

Situação do dia:
Visita à Letónia é sinónimo de que algo de estranho vai acontecer. Da outra vez assistimos a uma cena de strip dedicada a Cristiano Ronaldo em pleno relvado. Agora, nem que alguém resolvesse fazer strip, corria o risco de não ser vista. É que as luzes do estádio onde decorria o jogo apagaram-se e o que restava teve de ser disputado a meia-luz. O resultado em termos televisivos foi algo indescritível. Portugal ainda marcou dois golos nessas condições. Diverti-me imenso!

Afinal os reforços estavam em casa!

Era o último dia em que os clubes portugueses podiam inscrever jogadores na Liga. Normalmente neste dia é um corrupio e uma confusão com todos os emblemas a tentarem contratações de última hora. É o “salve-se quem puder” a funcionar e o “deixar tudo para o último dia” tão ao jeito do ilustre povo lusitano.

Os “três grandes” destacavam-se naturalmente. O Porto procurava ainda um lateral-direito de raiz e acabou por o achar na América do Sul, mais propriamente no Uruguai.

No Sporting, Deivid acabou por ir experimentar as emoções do Futebol Turco. Para o substituir, os responsáveis leoninos optaram por contratar o também brasileiro Alecsandro.

E o Benfica? Bem, o Benfica acabou por se demarcar dos demais concorrentes. Para não correr o risco de entrar outra vez em agressões físicas e chantagens por causa de um ou de outro jogador que outro emblema português também pretendesse, o Glorioso arranjou uns reforços à maneira. Os reforços do Benfica dão pelos nomes de...Karagounis e Karyaka. E dizem os mais distraídos: mas esses jogadores já eram do Benfica e foram dispensados. Pois! Essa foi boa! Queriam surpresas? Nada melhor que reforçar a equipa com jogadores que já lá estavam para fintar jornalistas e adeptos. Ah! Já me esquecia! Marcel foi emprestado ao Braga.

Apesar de ser um dia de grande agitação no Futebol Português- até porque o “caso Mateus” está para lavar e durar- foi com Ciclismo que eu sonhei e com um ciclista que anda pelas ruas da amargura porque já não tem equipa. (se tivesse bons atributos futebolísticos ainda algum empresário charlatão o oferecia a um emblema desesperado à procura de um jogador para reforço de última hora) Estou a falar do holandês Koos Moerenhout que alinhou na Phonak- a equipa do Floyd Landis. Sonhei que esse ciclista tinha ganho uma prova. Se calhar o que ele queria agora era mesmo uma equipa. Mas vai ter. Isso posso garantir.

Situação do dia:
Estava eu na minha actividade normal, isto é, a descansar sentada no sofá quando ouvi um barulho estranho. Nem sei o que parecia. Voltei a ouvir o mesmo barulho e constatei que era um gato a miar. Por incrível que parecesse! É que o gato miava com uma voz não sei como. Ele aproximou-se da porta e entrou. Era o Mong que vinha de dormir a sua sesta no quintal. Como tinha acabado de acordar, apresentava aquele registo de miado que metia bastante piada. Posso garantir que era bastante sexy aquela voz!

E voltei mesmo para trás ao chegar à Moita

Desde já advirto que qualquer semelhança entre este texto e um outro que aqui existe neste blog intitulado “O labirinto da Moita” é pura coincidência. Ou talvez não!

A principal diferença entre este texto e o acima citado é que um descreve um sonho e outro descreve o que realmente se passou. Estou a escrever este texto com o outro aberto e reparo que existe muita coisa em comum. Vinha pelo caminho a pensar como foi possível sonhar com uma coisa, com imagens, pessoas, situações, locais que iria ver na realidade. Como foi possível as coisas acontecerem de maneira a proporcionar a realização parcial desse sonho? Como é misteriosa a mente humana! Eu que há dias tinha acabado de ler, justamente, um livro sobre esse mundo maravilhoso e tão desconhecido que é o mundo dos sonhos.

Vamos passar então a descrever o que se passou naquela manhã de dia 30 de Agosto de 2006 quando eu tencionava ir até à praia:

Preparei-me bem cedo para mais uma ida até Mira. Era minha intenção aproveitar aqueles últimos dias de férias para bronzear ainda mais a minha pele e tomar mais uns banhos naquele mar cinzento.

O ritual era sempre o mesmo: preparar a mochila e o chapéu-de-sol, colocar tudo às costas e meter-me ao caminho em direcção a Anadia onde iria apanhar a camioneta para a Praia de Mira.

Ao contrário do sonho, que se passava ao anoitecer, era de manhã cedo. Não sei se foi por ser a primeira vez que passava ali depois do sonho. O que é certo é que as imagens vieram-me de forma bem presente. “(...)ia caminhando em direcção à Moita. O trajecto era tal e qual como é realmente.”

Mas as coincidências iriam, no entanto, ser ainda mais extraordinárias. Teria, realmente, de voltar para trás ao chegar à Moita. Não por me ter distraído, mas sim por me dizerem que já não havia camioneta para a praia. Teve de se arranjar um motivo que permitisse essa situação! “(...)não tive outro remédio senão voltar para trás.”
Não foi junto ao chafariz. Foi no local que acabaria por dominar o resto daquele sonho. O Sol brilhava. Nada de noites escuras nem de luzes.

O que se passou a seguir foi incrivelmente anunciado no sonho. Vejamos o que eu escrevi na altura e que pode servir para descrever este episódio:

“A certa altura houve alguém que me perguntou para onde é que eu ia. Assustei-me e estremeci. Era uma idosa que mal dava para distinguir as feições na escuridão. Daí a momentos estava no lugar que esta foto mostra. Apesar de a foto já ter mais de dez anos, este local está na mesma ou quase. Havia a estátua do Poeta Cavador e podemos seguir por aquela estrada. Passei lá a pé no outro dia e parece que tiraram de lá a estátua. Não faço ideia onde a puseram nem porque motivos a removeram dali. Isso também não interessa para esta história. ”
Diferenças aqui em relação ao sonho? Para além de ser de dia e de a senhora que me chamou estar já no local onde se passou o sonho, eu mal vi a senhora porque ela encontrava-se no andar de cima da sua casa e eu encontrava-me na estrada. Realmente ela já tem idade e perguntou para onde é que eu ia. Ou melhor: se eu ia para Mira. Só depois é que ela me informou que a camioneta tinha deixado de viajar para lá desde o dia 27.

Quem era a senhora? Lembram-se daquela senhora que me ofereceu boleia até à Moita da outra vez que eu fui à praia? (ver texto “O mar como conselheiro”). Depois acabei por vir com o meu pai e tivemos um furo que nos levou a fazer o resto do caminho a pé.

Essa senhora mora, justamente, aí onde se passou o sonho do dia 18. E o que é que existia mais no sonho? Um prédio novo. E onde fica esse prédio? Escassos metros à frente do local onde existiu a estátua do Poeta Cavador e da casa da senhora que me disse que já não podia ir até à praia. Continuemos a recordar passagens do sonho de dia 18 realizadas no dia 30.

“(...)A cena já se passava de dia. Parece que era de manhã e o Sol já brilhava intensamente. Encontrava-me às voltas por ali sem saber que rumo tomar. Ouvia grande animação num local. Parece que o objectivo era chegar até lá. Só que havia tantos caminhos, tantas entradas que era fácil uma pessoa se perder. Como era possível estar perdida num local que eu conheço bem? Havia ali uma espécie de átrio comum a muitos prédios. As portas e as entradas eram muitas e de vários tipos. Por mais que andasse, ia sempre dar ao mesmo sítio. Apesar desta adversidade, até me estava a divertir ao mesmo tempo que pensava no que aquele espaço se havia transformado.(...) De facto esse prédio existe na realidade, só que fica uns metros à frente. Não faço ideia nenhuma para que seja. Tenho um dia de perguntar. No sonho as suas paredes brancas e cinzentas com mármores e azulejos eram imponentes.”

Arrepiei-me! Foi essa a imagem que mais me marcou no sonho- a do Sol a bater nos meus olhos com forte intensidade reflectido pelos vidros das janelas do prédio. Como foi possível viver aquilo na realidade? Olhei para o prédio. Na altura admirei-me por ter sonhado com ele. Não havia barulho e não andava perdida. Apenas fiquei a olhar para aquele edifício por causa do sonho e da inacreditável coincidência que estava a acontecer sem eu saber a razão.

Ainda incrédula com o que acabava de acontecer, segui rumo a casa. Iria dormir mais um pouco e depois passaria o resto do dia a escrever mais uns textos.

Pousei a tralha que tinha para levar para a praia e liguei o computador para escrever uns textos. Como estava sozinha em casa resolvi chamar uns amigos meus. Ia chamando à sorte:
- “Slava! Feijoa!”
Por incrível que pareça, o Slava apareceu mesmo ao primeiro chamamento. É que esse gato tem uma característica especial: quase nunca aparece. O mais normal era ter aparecido a Feijoa. Mas já que ele apareceu, havia que aproveitar.

Para além de se ter lembrado que tem casa e donos, o Slava também vinha de muito bom humor e danado para a brincadeira. Rebolava-se no chão, roçava nas coisas que havia por ali, brincava com sapatos...enfim!

Foi então que tive a ideia de o filmar. Quando ele andasse cerca de um mês sem pôr as suas patas borralhentas em casa, sempre havia o filme para matar saudades dele. E será possível ter saudades de um gato que raramente pára em casa?

Depois de aturar o Slava (e era enquanto ele não se lembrava de ir sei lá para onde) ainda fui dormir um pouco antes de actualizar os textos para o blog.

E assim se passou mais um dia em que eu vi um sonho parcialmente realizado. Não foi a primeira vez e, provavelmente, não será a última!

Musicoteapia à base de música pimba

Segundo vários estudos, parece que cada vez mais os portugueses apostam nas chamadas medicinas alternativas. Como eu tenho andado algo em baixo por não ter ido à Holanda, resolvi também experimentar.

A Musicoterapia foi a minha escolha para afugentar os meus males. Mas nem se pense que fui a um consultório daqueles bem requintados ou que a música recomendada era relaxante. Nada disso! Sou uma pessoa tesa, sem dinheiro para grandes loucuras.

Foi por essa razão que optei por um tratamento caseiro à base de...música pimba. Para isso apenas foi necessário sintonizar qualquer rádio dos inúmeros que tenho em casa na Rádio Botaréu e deixar que os terapeutas José Malhoa, Romana, Ágata, Emanuel, Ruth Marlene e muitos outros fizessem milagres.

Para quem queira experimentar esta nova terapia e tem dúvidas em relação aos seus benefícios, devo dizer que resulta mesmo. Ao ouvir música bem alegre e bem portuguesa qualquer espírito- por mais deprimido que esteja- ganha um novo alento e uma força de viver extraordinária. Eu já não quero outra coisa, meus amigos!

O Verão continua e, apesar de as férias estarem a terminar, a temperatura continua a convidar a ir à praia. Iria até lá no dia seguinte. Iria! Disse bem. Aguardem pelo próximo texto e descubram também que parte de um sonho que tive dias antes se realizou.

Este dia foi passado em casa a escrever alguns textos e ainda fiz também uma corridinha para manter a forma. A noite estaria reservada para mais uma sessão de Musicoterapia à base de música pimba. Agora não quero mais nada!

Thursday, November 09, 2006

Dei tanto carinho e Substral às plantas p'ra isto!

Se as plantas fossem da minha prima, o belga Steven Kleynen corria o risco de ir parar ao hospital com outros ferimentos que não os provocados pelo embate nos vasos. É que a minha prima tem tanta obsessão por plantas Quee não deixaria o ciclista ir embora virado ao hospital sem o presentear com uma mega tareia. Para isso, iria socorrer-se de cabos de vassoura, colheres de pau, cordas e outros apetrechos que magoem imenso.

Realmente os vasos, as casas, os rails, as árvores, as rochas, os carros estacionados e não sei que mais estão sossegadinhos na berma. Alguns atletas mais distraídos é que vão cumprimentá-los efusivamente.

As pessoas que colocaram os vasinhos das plantas no seu jardim e que as tratavam com tanto amor e carinho, jamais iriam imaginar que Steven Kleynen algum dia se iria distrair ou errar a trajectória e espatifar aquilo que ornamentava aquele lugar.

Se a pessoa fosse, realmente, fanática por plantas e até falasse com elas a toda a hora (como a Floribella), seria um dia de luto naquela casa porque já não existiam as criaturinhas que ouviam todas as mágoas e queixumes e que sabiam todos os segredos.

E será que a dona das plantas estava em casa quando se deu o “atropelamento”? Se estava, deve ter ficado em estado de choque ao ver o que fizeram com as suas plantinhas que estavam tão sossegadinhas ali. Depois ainda exclamava:
-“E eu que as tratava sempre tão bem! Dava-lhes tanto carinho, alimentava-as com Substral e com tudo o que era bom, falava com elas como falo para o meu marido ou melhor ainda, comprava uma lingeri nova e ia-lhes mostrar...fazia tudo por elas e vem este tarado e parte-me isto tudo. Que vai ser de mim agora! Ai que desgraça! ”

E com um bocado de sorte, não sei se a pobre senhora não iria também para o hospital tomar uns calmantes. Se a pessoa fosse como a minha prima, havia molho e do grosso. As plantas eram algo sagrado e estragá-las seria um crime sem perdão. Nem sei o que ela era capaz de fazer ao sacana que lhe quebrasse uma haste que fosse das suas plantinhas lindas e saudáveis.

Vamos supor que a pessoa não se encontrava em casa: aí ela ficava boquiaberta ao ver o ninho de destruição e desordem em que o seu jardim se transformou. Ela que estivera, precisamente, a regar e a alimentar as suas ricas plantinhas antes de sair. Agora encontrava os vasos partidos e as plantas no chão.

Mas porque é que alguns ciclistas vão incomodar as coisas que estão sossegadas no seu lugar? Que pestinhas! De referir que, para além de ter dado cabo dos vasos, o ciclista partiu as clavículas e apanhou um traumatismo craniano.

Como o Benfica não jogou, nada de relevante se passou no Domingo do regresso do Campeonato.

A confusão prosseguiu na Segunda-feira quando entrou em cena também o Moreirense. O clube minhoto que desceu à II Divisão quer agora regressar à II Liga para ocupar a vaga do Gil Vicente que corre o risco de ser irradiado de todas as provas.

De facto a temperatura vai muito alta e com tendência a subir ainda mais com os últimos desenvolvimentos. O Leixões continua (e com razão) a reclamar a subida à I Liga. Quando é que isto irá acabar e como?

A FIFA ameaça Portugal, caso o Gil Vicente insista em recorrer a tribunais civis. Os noticiários não falam de outra coisa e promete haver novidades brevemente.

Dentro das quatro linhas, a Briosa estreou-se a empatar com o Vitória de Setúbal a um golo.

Bacorada do dia:
“Hélio Machado” (quem é o senhor?)

Monday, November 06, 2006

Auto da Luz

A tarde estava quente na cidade de Lisboa. Para os lados de Belém um taxista esperava pelos seus clientes enquanto ouvia o relato.

Aquele taxista não era um taxista comum. Era alguém que levava os seus clientes para um lugar muito especial:. Para o Diabo que os carregue ou então para o Quinto dos Infernos. As pessoas condenadas chegavam e o senhor nem lhes perguntava para onde era a viagem. Sem meias palavras, deixava-os sabe-se lá onde. Num sítio que se dizia ir dar mesmo ao Inferno.

E perguntam: onde ficava aquele local? Ninguém sabia ao certo. Diziam que ficava para os lados da Segunda Circular, mas um local com essas características teria de ficar fora da cidade num local mais ermo e desabitado.

As pessoas que eram vistas a entrar naquele veículo nunca mais apareciam para contar onde tinham estado e os rumores eram muitos. A situação, de tão misteriosa que era, originava alguma apreensão e histórias das mais rocambolescas que se podem contar.

Segundo rumores populares, as pessoas que eram vistas a entrar no veículo eram, normalmente, pessoas condenadas por pecados cometidos. Há quem diga que apenas era o espírito dessas pessoas que vagueava por ali e que apanhava o taxi. Dizia-se que o taxista nem existia ou que era o Diabo transformado. Já nem se sabia em quem acreditar, mas esta passagem veio deixar algumas pistas sobre o que acontecia. Pelo menos, naquela tarde de Domingo, as coisas aconteceram dessa maneira. Poderá ter sido uma excepção, mas não acredito.

Eram cerca de quatro da tarde quando um juiz se abeirou do taxi infernal e disse:
- “Boas tardes! Era para a Luz, se faz favor!”
O taxista olhou para ele com aqueles olhos sinistros que tinha. O juiz continuou:
- “De que é que está à espera para me levar à Luz!”
O taxista voltou a não responder e o juiz insistiu:
- “Ande lá homem! Mexa-se e rápido que tenho imensa pressa. Não quero perder por nada aquilo que se vai passar.”
Finalmente, o taxista quebrou o silêncio e com a sua voz saída das trevas argumentou:
-“Para a Luz vai passar-se muita coisa hoje.”
Deu uma gargalhada diabólica e arrancou a grande velocidade.

Enquanto o taxi seguia pelas ruas da Capital, o juiz e o taxista foram mantendo um estranho diálogo. Senão vejamos:
Juiz: - “Hoje ao final da tarde quero ver o que vai acontecer para os lados da Luz. Até já sinto um formigueiro nos pés.”
Taxista: -“Eu também, acho que se vai passar alguma coisa lá. Meu amigo! Eu tenho o poder de premeditar o que vai acontecer, mas quero que o meu amigo fique ansioso. Eu adoro fazer sofrer as pessoas!”
Juiz: - “Como assim?!!!”
Taxista: -“Eu sou o Diabo e tenho por missão guiar as pessoas para o mal.”
Juiz: -“E o que faz o Diabo dentro de um táxi?!!”
Taxista: -“Cumpro a minha missão que não lhe posso dizer qual é.”
Juiz: -“Onde eu me vim meter!”
Taxista: -“Não foi por acaso que o Senhor Doutor escolheu o meu táxi para ir até à Luz! ”
Juiz: - “Ai não?!!!!”
Taxista: -“Isso aconteceu porque eu quis. O senhor fez algo que agradou muito a Satanás. Tomou uma bela decisão! Ah! Ah! Ah! Ah!”

Parece que o Juiz foi conduzido para os lados da Luz e foi para a porta do Estádio à espera que algo acontecesse.

As horas passavam e o Estádio mantinha-se deserto. Nem parecia que deveria haver ali um jogo de Futebol. Apesar de estranhar todo aquele ambiente, o Juiz permaneceu por ali.

O taxista regressou ao seu posto para os lados de Belém. A tarde estava óptima para dar um passeio pelas ruas lisboetas. Muita gente se abeirou do táxi, mas não seguiu viagem. Nem podia.

Tinham passado cerca de duas horas desde o momento em que o taxista regressou ao seu posto. Um sujeito de fato e gravata começou a rondar a viatura. Era um empresário de Futebol e também queria- curiosamente- ir para o Estádio da Luz.

O taxista esfregava as mãos. As pessoas estavam ansiosas por ir para o palco onde, segundo elas, iria haver algo extraordinário. Ou então não! O taxista já sabia que ali não se iria passar nada, mas ele era o Diabo e queria que as pessoas rebentassem de tão curiosas que ficavam.

O Empresário de Futebol entrou no veículo do Diabo e este lá rumou a toda a velocidade em direcção à Luz. Durante a viagem, os dois intervenientes interagiram num diálogo curioso.:
Taxista: -“Então já conseguiu colocar o jogador?”
Empresário: -“Parece que ele apanhou um táxi na passada Quinta-feira e nunca mais voltou. Não sei dele!”
Taxista: - “Foi para o Céu! Ele aturou-o tanto, aceitou tanta falcatrua que o senhor lhe fez, aguentou sem descansar os rombos financeiros que o senhor infligiu e que o fizeram passar fome...”
Empresário: - “Eu só queria a minha comissão!”
Taxista: - “Muito bem! O Inferno aguarda por si um dia. Por agora, vá secar para o Estádio da Luz. Você e os outros...”
Empresário: -“Tenho a certeza de que me vou divertir imenso! Uh! Uh!”
Taxista: -“Vamos a ver se se diverte ou se sou eu que me divirto à custa de vocês todos!”
Empresário: -“Mas está a gozar comigo?!! Eu não admito uma coisa dessas!”
Taxista: -“Olhe que eu sou o Diabo e posso mandar o senhor para as profundezas do Inferno já.”
Empresário:- “Ora vá! Eu não tenho medo de ninguém. Nem do Diabo!”
Taxista: -“Chegámos! Saia antes que eu me chateie e o leve para...”

O empresário ficou junto à entrada principal do Estádio do Glorioso, mas estava algo incrédulo por não ver ali nada que indiciasse que ia haver jogo. Nem parecia o Estádio da Luz.

O táxi arrancou deitando fumo. A grande velocidade e fazendo grande chinfrineira com os pneus, foi seguindo o caminho de Belém. Uma enorme algazarra fê-lo parar de repente. Um coro de assobios direccionavam-se para um autocarro que passava por ali. Os seus ocupantes traziam bananas e sacos de amendoins e estavam muito entusiasmados porque iam ao Jardim Zoológico cumprimentar os macacos e acariciar as trombas dos elefantes.

De dentro do autocarro vermelho e azul, e debaixo de um coro de protestos, surgiu um homem: o Fiúza. Farto de tanto protesto, resolveu abandonar o autocarro à sua sorte e apanhar também o táxi do Diabo.

O Diabo arreganhou-se todo e perguntou ao Fiúza se ele também queria ir para o Estádio da Luz. Viria a arrepender-se porque o Fiúza, quando começa a falar, ninguém o consegue calar. É caso para dizer que nem o Diabo o atura.

O taxista ia passado! Já tinha ouvido mais de 100 vezes que era uma injustiça o Gil Vicente ter descido de divisão.

A conversa estava a aborrecer o Diabo de tal forma que ele voltou para trás e deixou o Fiúza no Estádio do Restelo a enfrentar sozinho a ira dos adeptos do Belenenses. É que o Diabo achou que não havia pior castigo do que enfrentar os adeptos azuis que lhe estavam cá com um pó...

Enquanto isso, no Estádio da Luz os dois homens apanharam a maior seca do Mundo à espera de algo que afinal não chegou a acontecer.

Sunday, November 05, 2006

Przemyslaw Kazmierczak

Mal começou o Campeonato e já grandes nomes se destacam. Bom! Quando eu aqui falo em grandes nomes, é em grandes nomes mesmo. E complicados.

Vai ser lindo este ano, vai! Este jogador do Boavista promete causar grandes embaraços aos relatores e repórteres deste País. Eu sempre quero ver!

Certa tarde, num jogo entre o Nacional da Madeira e o Felgueiras, um repórter de rádio lia a constituição das duas equipas até chegar a um jogador do Nacional da Madeira com um nome que, para ele, era bastante complicado. Ele, pura e simplesmente, desistiu e passou a divulgar os suplentes do Felgueiras.

Muita vez isso irá acontecer este ano! Aliás, no dia em que o Boavista apresentou este jogador aos sócios, os repórteres já imaginavam tempos difíceis. Na altura eu também me esqueci de apontar este momento, mas nunca é tarde para se falar neste assunto.

E Jardel já marca! Contra o Desportivo das Aves, o avançado brasileiro parece ter encontrado o caminho dos golos.

E eis que chega o momento do “nosso ” jogador entrar em campo e logo contra o Sporting. Os repórteres optaram por abreviar o nome e chamar-lhe apenas “Kaz”. De outra maneira não podia ser!

O Sporting venceu o Boavista por 3-2 num jogo interessante para início de época.

Situação do dia:
Já que este texto é dedicado aos nomes, a título de curiosidade, no jogo entre o Beira-Mar e o Aves estiveram em campo o Faria e o Farah.

Bacorada do dia:
“Este é...é ele mesmo...” (ninguém parece ter ficado a saber quem era.)

Regressa o Futebol, regressa a confusão

Começa finalmente o Futebol e a confusão vai-se adensando.

Parece ter caído uma bomba enorme no mundo do Futebol que o sacudiu de tal maneira que ele promete ruir ao mais pequeno sopro.

Basta dizerem que o Glorioso pode não se estrear por não saber quem é o adversário para tudo ficar assim. Belenenses, Gil Vicente e Leixões prometem estar presentes na Luz para jogar. Realmente, dava um belo torneio quadrangular. Luís Filipe Vieira ainda brinca com a situação e diz que existem balneários para todos.

Parece que, desta vez, entrou em cena o Leixões que também ambiciona estar na I Liga. O Gil Vicente não se conforma com a descida de divisão na secretaria e promete viajar para Lisboa. Belenenses aguarda com expectativa tudo o que se irá passar.

Assistiram-se a cenas nunca antes vistas. Ao que o Futebol Português chegou! Não se falou mesmo de outra coisa. Até já dizem que a FIFA pode suspender os clubes e as selecções portuguesas de todas as competições por causa do Gil Vicente. Eis a balbúrdia de regresso! É enquanto a bola não começa a rolar e não se começa a falar dos árbitros.

Antes do começo do Campeonato Português, assisti à vitória do Sevilha sobre o Barcelona que esteve, simplesmente, irreconhecível. A equipa de Deco foi derrotada por 3-0.

O Porto deu o “pontapé de saída” para a já atribulada Época 2006/2007 e venceu a União de Leiria por 2-1.

Situação do dia:
O médio do Sevilha Christian Poulsen deve ter visto o jogo entre o Benfica e o Áustria de Viena para não repetir o erro fatal do jogador Troyansky aquando do terceiro golo do Benfica apontado por Petit. O médio dinamarquês não se fez rogado e, perante a necessidade de trocar de calções, executou a tarefa mesmo junto à linha lateral.

Bacorada do dia:
Tarek Sektioui” (busca, busca, mata, mata!)

Futebol ao rubro

E o Gil Vicente não se conforma com a decisão do Conselho Disciplinar da Liga. O famoso "caso Mateus" promete ainda dar que falar e a agitação irá ser grande.

O Benfica em principio irá jogar com o Belenenses e o clube de Barcelos irá jogar com o Leixões que reclama também a subida alegando mérito desportivo.

Eu sou da opinião de que o Leixões é que devia ocupar a vaga do Gil Vicente e não o Belenenses. No Futebol Português existe esse hábito de manter equipas que descem no mesmo escalão sempre que algo acontece em vez de subir as equipas que ficaram imediatamente a seguir na classificação em relação ao último clube que subiu. Por isso há sempre guerras e discussões!

O Verão vai quente, mas fiquei em casa a descansar e a ouvir o que reservava o sorteio da Liga dos Campeões para os clubes portugueses. E lá vamos nós outra vez ter de jogar com o Manchester United! Isso é que é uma sorte!

E foi assim que se passou mais um dia de férias sem grande história.

Situação do dia:
A minha mãe tinha ido para os pinhais. Como se estava a demorar imenso, ficámos preocupados com medo que algo tivesse acontecido. Ainda por cima ela vai para os pinhais e eu nem sequer sei onde ficam esses pinhais para a procurar. Finalmente, ela apareceu e disse que o carro da lenha tinha ido pela ladeira abaixo. A solução foi ela ter de andar a apanhar a lenha toda outra vez!

O mar como conselheiro

Não dormi naquela noite. O meu espírito estava povoado por inúmeros pensamentos que não me deixavam sossegada.

Apesar dessa noite em claro, peguei nas minhas coisas e rumei à praia. Quem sabe o mar seria bom conselheiro para um dia tranquilo.

O tempo parecia não estar bom para a praia, mas toda aquela neblina iria passar e o Sol iria aparecer para bronzear a pele. Bastam-me dois dias de praia para ficar bronzeada. Ainda bem!

Claro que fui a pé até à paragem e que adormeci no autocarro. Nem a viagem se fazia!

O Sol teimava em não abrir. Queria que aquele dia de praia tivesse Sol de manhã à noite para o aproveitar bem.

O cinzento do mar confundia-se com o cinzento do Céu. Estava algum frio e pouca gente andava na água. Eu adoro ir para o mar assim que chego à praia. Pouso as minhas coisas na areia e, enquanto me banho, vou dando uma espreitadela para me certificar que ninguém mexe na minha mochila ou me enterra a roupa na areia.

Apesar de o tempo estar pouco convidativo para praia e para banhos, a água até nem estava fria. Quando se saía é que se sentia algum frio. Nada melhor do que estar largos minutos dentro de água.

Depois do banho de mar, enrolei-me em duas toalhas com ar de quem tinha muito frio, deitei-me na areia à beira-mar, liguei o rádio e adormeci ao som das ondas. Todo aquele ambiente me dava uma envolvência especial e embalava-me num sono agradável.

Acordei eram já horas de almoçar. Como acontece sempre da parte da tarde, vou para o início da praia porque o mar começa a subir. É aí que fico até à noite.

Depois do almoço peguei num dos meus livrinhos que tinha levado e comecei a ler. O livro falava de ingleses e de uns povos que habitavam algures na Ásia. O rádio estava sempre ligado.

O Sol já queria espreitar timidamente. Eu desesperava por ele. Corria o risco de não me bronzear.

Quando acabei de ler o livro voltei-me a deitar na areia à espera do Sol. Desta vez ele veio e a temperatura tornou-se agradável. Assim fiquei até ir para casa.

Era um daqueles dias em que estava a ser agradável estar na praia até tarde.

Quando cheguei a Anadia, umas senhoras da Moita ofereceram-me boleia. Como eu estava à espera do meu pai, não aceitei. Ir-me -ia arrepender. É que aquela viagem foi atribulada.

Depois daquele percalço que vou contar a seguir, cheguei finalmente a casa e pude descansar toda a noite.

Situação do dia:
Os dias vão ficando cada vez mais pequenos. Por esse facto, o meu pai veio me buscar a Anadia. Só que o inesperado aconteceu. Íamos já a chegar à nossa terra quando a motorizada parou bruscamente naquela parte do caminho onde não existem casas. A roda havia rompido e lá fomos nós a pé com as coisas e com a motorizada à mão até casa de uns senhores. Entregue a motorizada para a virem buscar no dia seguinte, lá fomos a pé cortando a noite escura até casa. A minha mãe devia estar preocupada por causa da demora.

Pessoas inflexíveis que não ajudam ninguém

Esperei todo esse dia por notícias vindas de Lisboa. O telefone manteve-se mudo. Desesperada, resolvi eu telefonar para perguntar o que se passava. Do outro lado da linha atendeu-me uma senhora que devia ser secretária que me foi dizendo que era livre de ir à Holanda, mas que não podia ficar junto dos atletas.

Ainda insisti e ela veio com um discurso que a mim não dizia nada. Sem saber que desculpa esfarrapada deveria mais usar, e perante a alternativa de contactar alguém lá na Holanda, foi dizendo que- e passo a citar- “os holandeses eram pessoas extremamente inflexíveis e não iriam aceitar ajudar-me”.

Já quase a perder a compostura disse-lhe que alguns holandeses já tinham feito alguma coisa por mim. Aos poucos ela foi deixando perceber que estava quase sem argumentos. Saiu-se com a solução de eu voltar a pedir a essas pessoas para me ajudarem mais uma vez. Eu contra-argumentei que os amigos que eu tenho não tinham soluções para este problema. Eles até me poderiam ajudar, mas seria pedir demais e abusar um pouco. Há que medir um cada uma das situações. As pessoas que me ajudam numa dada ocasião não me poderão ajudar no que está ao alcance de outras pessoas que têm tudo e mais alguma coisa para resolver todos os meus problemas.

Teci-lhe ali um discurso e perguntei porque é que não me tinham dado ao menos o contacto de alguém de lá. Ela veio novamente com essa história da inflexibilidade, do rigor e não sei que mais. Eu apertei-a contra a parede e aí ela disse-me a verdade. Aquilo que eu já desconfiava, aquilo que não era nenhuma novidade face ao tipo de pessoa que é. Ela apenas disse:
- “O secretário técnico (Prof. Jorge Carvalho) não quer...”
Ah! Afinal sempre tinha razão! O problema é esse Senhor que é um ser inqualificável. Ele é que é a “pessoa inflexível e que não ajuda ninguém”. Eu já sabia. O holandês inflexível afinal é lusitano de gema.

Eu explodi! Ainda mais revoltada perguntei que mal tinha feito eu a esse Senhor, se não o conhecia? Perguntei também o que levava esse Senhor a tratar tão mal os atletas de Coimbra. Quis saber qual a razão da falta de comunicação entre a Federação e a ACAPO-Centro. Ela disse para eu fazer essas perguntas aos dirigentes da ACAPO.

Sei que ela não tinha culpa de ter acima uma pessoa tão sinistra como o Senhor Jorge Carvalho. Afinal de contas, ele é o principal responsável pelo desmoronar de todos os meus sonhos. Eu continuo na minha: eles souberam fazer as coisas de maneira a não me deixarem margem de manobra sequer para eu pedir ajuda a gente ligada à organização. Tenho quase a certeza de que alguém lá me iria compreender e me iria ajudar. Poderia até fazer voluntariado. Fiz voluntariado em tanta coisa e gostaria de fazer um dia algum trabalho desse género numa competição de Desporto Para Deficientes. Acho que, para os próprios atletas, seria bom terem alguém a ajudá-los com os mesmos problemas. Seria um sinal de esperança. Senhor Jorge Carvalho, já fiz voluntariado em inúmeras provas importantes e nunca ninguém viu o meu problema como um entrave a fazer o meu trabalho. Curiosamente, essas questões surgem de onde jamais deveriam surgir. Porque é que não me ajudaram por aí? Ah! Já sei, os holandeses “são pessoas inflexíveis que não ajudam ninguém”.

Senhor Jorge Carvalho, fique sabendo que “as pessoas inflexíveis e que não ajudam ninguém”, mais conhecidos por holandeses na minha terra, ajudaram-me em 2005 quando eu vivia uma experiência que não desejo a ninguém, nem ao Senhor que me fez tanto mal. Por sua vez, nem uma palavra de alento recebi da parte de quem tem obrigação de ser solidário, já que necessita da solidariedade alheia.

No dia 8 de Junho de 2006, as mesmas “pessoas inflexíveis que não ajudam ninguém” (alguma razão hão de ter para recusar ajuda ao Senhor e seus amigos) estiveram até tarde na Figueira da Foz para me receberem, apesar de estarem cansados. Trataram-me extremamente bem, saliente-se, e fizeram-me sentir nessa tarde a pessoa mais feliz à face da Terra. Eles tiveram a preocupação de perguntar como é que eu estava agora. Coisa que os senhores nunca tiveram a amabilidade de procurar saber. Ao saber que alguém se preocupava comigo, ficaria feliz por não ter sido esquecida.

Fique sabendo, Senhor Jorge Carvalho, que quatro ou cinco “pessoas inflexíveis que não ajudam ninguém” (como se usa dizer aí pela Capital) vendo que eu tinha dificuldade em ver os degraus da escada, quase me levantaram os pés do chão para eu não cair por ali abaixo e estiveram comigo até me ir embora.

No dia dos Campeonatos Nacionais em Seia em que eu não fui por falta de transporte, apareceram duas ou três “pessoas inflexíveis que não ajudam ninguém” nas imediações do Pavilhão onde decorriam os Mundiais de Ginástica Acrobática. Pois é, apesar de toda a tristeza que senti de não ir correr, acabei por ter o mais bonito dia a que pude assistir durante um evento desportivo. Se calhar, depois das provas organizadas por si, os atletas nem tempo teriam para se encontrarem. Mas estava eu a falar daqueles seres humanos a que aí em Lisboa chamam “pessoas inflexíveis que não ajudam ninguém”. Essas pessoas não me conheciam e eu não sei de onde saíram. Tão depressa apareceram como desapareceram. Deu tempo de tirar umas fotos. Antes de “evaporarem” Dolce Vita adentro, eles deram-me um chapéu laranja que ainda hoje guardo em Coimbra.

O senhor não me conhece e isso foi fatal agora. Eu sou amiga de todas as “pessoas inflexíveis e que não ajudam ninguém” e não admito que venham para aqui com essas desculpas. Correu mal! Inclusive, estou a pensar em aprender a Língua e a cultura para Setembro.

Para terminar, se os holandeses são- como aí lhe chamam em calão alfacinha- “pessoas inflexíveis que não ajudam ninguém”, como se chamarão pessoas que, além de não ajudarem ninguém só destroem as pessoas que lhes pedem ajuda?

Vale-me ao menos o Glorioso que passou à fase de grupos da Liga dos Campeões ao vencer o Áustria de Viena por 3-0. Os golos tiveram a particularidade de serem todos apontados por jogadores portugueses. Rui Costa, Nuno Gomes e Petit deram enormes alegrias aos adeptos. Quinta-feira será o sorteio.

Situação do dia:
O terceiro golo do Benfica apontado por Petit surgiu de uma situação bizarra. O lateral-direito do Áustria de Viena Fernando Troyansky saiu desparado do campo a correr para os balneários. O que é que eu pensei?!! Deu-lhe uma súbita dor de barriga e ele teve de ir à casa de banho sem demora. Provavelmente até iria tomar um daqueles comprimidos que se dissolvem na boca sem água e que andam por aí a fazer enorme sucesso. Enganei-me! O jogador argentino foi trocar de calções. Como é um rapaz bastante pudico e não quer mostrar as suas partes íntimas a ninguém, foi ao balneário e trocou de calções à vontade. Aposto em como ele até trancou a porta!

Bacorada do dia:
“O empresário que come do empresário...” (complexidade do Futebol Português a toda a prova!)

Moments that i never will forget






Da esperança à tristeza e à revolta

Saí de casa cedo e rumei à cidade. Estava um Sol radiante e o dia prometia ser quente. Não estou só a falar de temperaturas. Era um dia decisivo para a realização daquilo que eu mais desejava: ir à Holanda com os meus colegas e ali reencontrar alguns dos meus amigos que não vejo desde 2001.

Era o que eu mais queria neste momento. Era a oportunidade de realizar todos os meus sonhos que tanto anseio. Visitar a Holanda tornou-se um objectivo prioritário, mais ainda quando a minha doença se agravou. É minha intenção ir até lá enquanto ainda tenho alguma acuidade visual. Gostaria de ainda ser eu a tirar fotos que guardarei como guardo religiosamente as que tirei em 2001. (ver fotos) Aí estão registados momentos inesquecíveis da minha vida passados ao lado de pessoas que não esqueço até hoje e que sonho encontrar. Que bonito seria reencontrar essas pessoas tão especiais no local onde eu sonho estar e onde alguma coisa me diz que encontrarei aí a minha felicidade. Só que há pessoas que impedem que eu seja feliz. Não sei porque é que elas fazem isso, mas gostaria de saber um dia.

Estava a dar uma segunda oportunidade a essas pessoas para se redimirem do que fizeram em 2003 quando também não me deixaram ir à Holanda. No entanto, o que essas pessoas fizeram foi fazer com que toda a mágoa e todo o ódio que eu sinto por elas se alastrasse ainda mais.

Eu não conheço pessoas tão insensíveis como os dirigentes da Federação Portuguesa de Desporto Para Deficientes. As pessoas que têm a oportunidade e a obrigação de me ajudar não fazem nada, ou melhor, até fazem. Aquilo que é mais baixo e que não passaria pela cabeça do mais maquiavélico ser deste Mundo.

É incrível eu dizer isto mas, se não fosse o Carlos Lopes e o Paulo Coelho se lembrarem em 2005 de promover um encontro de atletas e se terem lembrado de mim- apesar de a minha presença nesse almoço ser incerta devido aos problemas nos olhos- estaria até ao dia de hoje sem ver os meus colegas. Isto é demais! Na altura os meus colegas, que eu ilibo de todas as críticas que aqui faço e só não vou mais longe porque também eles merecem outros dirigentes a comandar os seus destinos, homenagearam-me. Os poucos dirigentes que estiveram presentes no almoço também me prometeram ajudar, só que tudo caiu no esquecimento e nunca mais disseram nada, apesar de saberem o que me estava a acontecer.

Ao mesmo tempo, pessoas anónimas de Norte a Sul de Portugal, completamente fora daquilo que é lidar com alguém diferente, foram impecáveis comigo e deram o seu contributo para que eu me sentisse mais feliz, apesar de receber más notícias a cada consulta que ia. Se não fossem essas pessoas e alguém muito especial que, apesar de estar bem longe e de eu também não o ver há muito, me deu sempre uma palavra amiga. Não sei o que seria da minha vida. Enfrentar toda aquela situação sozinha não é fácil. Hoje estou eternamente grata a todos os que me deram o seu apoio e, ao mesmo tempo, estou bastante triste por as pessoas da FPDD esquecerem tudo aquilo que fui e o que dei ao Desporto Para Deficientes.

Não queria que me dessem dinheiro. Apenas imploro que me deixem ser feliz ao lado das pessoas de quem eu gosto. Não queria mais nada. Apenas que me respeitassem enquanto Ser Humano e enquanto atleta. Gostaria que todo o trabalho que faço diariamente com tanto sacrifício e sem condições humanas e materiais fosse recompensado com uma simples participação em provas nacionais. O outro dia fiquei bastante triste porque os senhores dirigentes, ou lá quem foi, tiveram a ideia de organizar o Campeonato Nacional de Atletismo Para Deficientes Mentais em Coimbra. O que se passou foi que alguns dos meus colegas deficientes visuais participaram nessas provas e ninguém teve a gentileza de nos dizer a nós, atletas que treinamos naquele mesmo Estádio, que também poderíamos participar. Nesse dia eu estava na cidade e não me custava nada ir lá fazer as provas ou, simplesmente, cumprimentar os meus colegas que não vejo há muito. Isto é brincar com uma pessoa! Não tem outro nome. Ainda por cima, aqueles dirigentes deveriam saber que teríamos falta de transporte para nos deslocarmos a Seia. Lutei muito para conseguir regressar ao Desporto. Vão esses senhores e fazem-me isto!

Pior foi o que me fizeram agora. Foi uma machadada final em mim, nos meus sonhos e nos meus sentimentos mais profundos. Ligaram-me no dia 1 de Agosto e prometeram dar uma resposta. Até ao dia 18 ainda não tinham dito nada. A minha irmã ligou para o Carlos Lopes que foi averiguar o que se passava. Da Federação disseram-lhe que a resposta tinha seguido para a Delegação da ACAPO em Coimbra. Só que eles tinham obrigação de saber que a Delegação fecha durante o mês de Agosto. Se não sabiam, é ainda mais grave e mais lamentável. É sinal de que eles, pura e simplesmente, riscaram a Delegação de Coimbra e os atletas de Coimbra do mapa. Já imaginava uma coisa dessas quando não levaram o Paulo aos campeonatos de 2005, apesar de ele ter mínimos. Agora veio a confirmação. Lamentavelmente, trabalhamos os dois para aqueles senhores lá de Lisboa nos fazerem isto.

O telefonema da minha irmã a dar conta dessas péssimas notícias surgiu quando já tomava o caminho da paragem do autocarro para a rodoviária. Não pude controlar as lágrimas que me escorriam pela cara. Sorte que as ruas de Coimbra são um deserto no mês de Agosto.

Foi já em Anadia que alguém me perguntou qual a razão da minha tristeza. Foi uma pessoa amiga que me deu boleia para casa. Não pude esconder toda a revolta que ia dentro de mim.

A minha mãe ligou para Lisboa e uma funcionária prometeu ajudar. A esperança voltou a surgir de forma ténue. Sabia que certo dirigente é aquela pessoa que se sabe...

Ao mesmo tempo que ouvia alguma música holandesa que tenho, as lágrimas caíam. Seria difícil mudar o rumo das coisas. Mais uma vez, as pessoas negaram-me ajuda.

Mas falemos de outro assunto mais leve e mais festivo. O Sporting apresentou-se aos seus associados frente ao Inter de Milão de Luís Figo. O jogo terminou empatado a zero e Figo foi alvo de uma bonita homenagem por parte dos dirigentes e adeptos leoninos. Sinal de que o mundo do Futebol, tantas vezes acusado de ser cada vez mais desumano, ainda reconhece o humanismo e o mérito das pessoas. Por seu lado outras modalidades desportivas que ainda procuram credibilidade não seguem esse exemplo.

Situação do dia:
Estava um dia muito quente e os gatos procuravam um local onde não sentissem tanto os efeitos do calor. A noite já caía quando o gato Léo se lembrou de se estender ao comprido no pior sítio onde alguma vez se pudesse deitar: no meio da estrada. E se vinha um carro?!!!

Os bons filhos à casa tornam

Depois de Leon Van Bon ter regressado à Rabobank (ver texto “Van Bon: o Rui Costa da Rabobank”), também Max Van Heeswijk se prepara para fazer o mesmo.

Estes regressos de antigos atletas só provam que, cada atleta que sai da equipa para representar outras cores tem sempre uma porta aberta para quando decidir regressar.

Nunca deixo de acompanhar os atletas que abandonam a Rabobank. Agora tenho plena consciência de que essas ausências não são definitivas. Não é um adeus que o ciclista diz à equipa, mas sim um até breve.

Outro atleta que também se diz que poderá regressar à Rabobank é Laurens Ten Dam que está a fazer uma excelente temporada e está a despertar o interesse de diversas equipas da Protour. Obviamente que, de entre todas as propostas, o atleta parece estar interessado em regressar a uma casa que tão bem conhece e de onde saiu em 2004 para representar a Bankgiroloterij que viria a desaparecer meses depois. O regresso do atleta de 25 anos à Rabobank não promete ser pacífico. A actual equipa de Ten Dam, a Unibet.com não o quer libertar e o caso promete fazer correr muita tinta.

Por falar em ex-atletas da Rabobank e já que é a eles que dedico este espaço, um dos ciclistas que tem andado em maré de azar nas últimas épocas é o Bobbie Traksel. Este jovem ciclista que se revelava uma forte promessa, foi sendo vítima do extremo infortúnio e perdeu-se. Há duas épocas que Traksel sofre lesões e quedas graves que o impedem de competir por longos períodos e lhe comprometem o resto da época desportiva. É mesmo caso para o jovem holandês consultar uma profissional das ciências ocultas!

Azarado também parece ter andado o ex-Rabobank Bas Giling por terras espanholas. De tudo aconteceu a este ciclista! No lugar dele, antes de sair para a rua, não tinha consultado uma bruxa, mas sim o horóscopo para a semana inteira.

Por último e para colocar um ponto final neste capítulo dedicado aos antigos atletas da Rabobank, ou eu muito me engano, ou outro atleta que já vestiu de laranja e azul poderá regressar em 2007. Estou a falar do amigo do Van Bon- o Koos Moerenhout. Este atleta representa a Phonak que tem os dias contados no mundo do Ciclismo. A associação de atletas da equipa suiça a dossiers relacionados com doping leva ao fechar de portas e ao desemprego de todos os seus elementos que não têm culpa de tudo o que está a acontecer.

A confirmar-se também o regresso de Moerenhout à Rabobank, temos de volta a “velha guarda”. Com o abandono de ciclistas como Erik Dekker e Marc Wauters, estes “novos” elementos que reforçam a equipa poderão ser preciosos na manutenção da mística laranja e azul.

As temperaturas de Verão aconselhavam a ir até à praia, mas fiquei em casa mais uma vez.

A minha madrinha apareceu por aqui e esteve a conversar um pouco. De resto, nada de relevante se passou.

No dia seguinte iria até Coimbra buscar umas coisas que não trouxe e que me estavam a fazer falta.

Bacorada do dia:
“Uma rola ainda é melhor que um pássaro.” (há que questionar a que espécie animal pertence a rola.)