Wednesday, September 15, 2010

“As Esquinas Do Tempo” (impressões pessoais)



2010 será recordado, aconteça o que acontecer ainda, pelo ano em que grandes vultos da Cultura Portuguesa desapareceram de entre nós. De imediato nos lembramos de José Saramago mas também Rosa Lobato de Faria foi uma perda irreparável.

Por alturas do seu falecimento comprei este livro nos Correios em Anadia mas só agora tive oportunidade de o ler e assim recordar um estilo único de uma escritora incomparável. Já tinha lido outra obra dela e recordava-me de ter sido uma leitura bem agradável pela maneira simples como a escritora narra os factos. É capaz de prender o leitor, mesmo que o que esteja a narrar pouco interesse.

A história presente neste romance é bastante curiosa e muito interessante. Sempre me interessou esta temática de outras encarnações, viagens ao passado e tudo o mais que vá para além da compreensão humana. É também uma história cheia de coincidências intrigantes que deixam o leitor a reflectir um pouco sobre a sua existência e a existência de todos os que o rodeiam.

Margarida Saldanha tinha por coincidência o mesmo nome da sua bisavó e as suas irmãs tinham também os mesmos nomes das irmãs da sua bisavó. Os seus antepassados viviam numa enorme casa em Vila Real que, por incrível que pareça, albergou Margarida Saldanha aquando uma visita desta a Vila Real. Margarida pernoita num quarto que a perturba profundamente, especialmente devido à presença de um quadro em que está representado um homem parecido com o seu namorado Miguel. Na manhã seguinte Margarida Saldanha acorda em 1908 e ocupa o lugar da sua bisavó Margarida Mendonça que também viajou no tempo e estava agora encerrada no convento de Chelas para fugir ao Marquês de Pombal que perseguia a família Távora.Fiquei algo surpreendida com o que se passava nos conventos naquela época.

Esta passagem, no meu entender, está algo confusa e só mais à frente é que eu percebo que Margarida Saldanha viajou no tempo e ocupou o lugar de Margarida Mendonça que também desapareceu no mesmo quarto. Como Margarida Saldanha apareceu deitada nessa mesma cama, não houve problema.

O homem do quadro também se chama Miguel, é sobrinho do noivo de uma das suas irmãs e, tal como acontece no século XXI, também naquela época ambos vivem apaixonados e chegam a ter mesmo casamento marcado. Mas Miguel morre vítima de acidente rodoviário e Margarida regressa novamente à nossa época. Margarida Mendonça ocupa novamente o seu lugar e casa com Júlio.

Quando Margarida regressa, depara-se com o pedido de casamento de Miguel. Confusa com o que lhe aconteceu, conta tudo o que passou ao seu noivo que a compreende. Entretanto Miguel tem uns amigos italianos- Giuliana e Fábio. Giuliana é uma criatura vinda do futuro que está a viver fora da sua época também.

O mais intrigante é que Margarida vai encontrando pelas ruas pessoas parecidas com as que encontrou na sua viagem ao passado e fica assustada. Tentativa de explicar aquelas sensações que temos de conhecer certas pessoas de algum lado sem nunca as termos visto? Um assunto a reflectir, sem dúvida.

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