Sunday, May 31, 2020

Carta aberta a Michael Jordan (por causa dos golos do Taremi)



Caro Michael Jordan,

Confesso que nos últimos anos não tenho acompanhado a NBaA mas vibrava com os jogos nos meus tempos de liceu. Não perdia um jogo aos sábados ´â tarde e curtia os afundanços, os triplos e os desarmes mesmo á boca do cesto.

Mas não é por causa do basquetebol que te estou a escrever. É por causa do futebol, que aí por essas paragens ~é chamado de soccer. Por aqui pela Europa é a modalidade desportiva mais apreciada. Aqui em Portugal houve dois clubes a fazerem vídeos com imagens do teu documentário. É de um desses vídeos que venho falar.

Provavelmente nunca ouviste falar do Rio Ave Futebol Clube da cidade de Vila do Conde. Esse clube fez um vídeo com montagens de imagens tuas a reagir aos golos da equipa. Vou falar particularmente do jogador que alinha com a camisola número noventa e nove, para o caso de teres curiosidade em investigar. Desde logo, a qualidade desse jogador irá chamar-te á atenção, por mais que não percebas deste desporto de bola no pé.

O nome dele é Mehdi Taremi e é do Irão- um país que não goza de muita simpatia lá pela tua pátria. Eu sempre defendo que o Desporto deve ficar á margem da política. Se o atleta tem qualidades, não é a bandeira, a religião ou a cor da pele que vai impedi-lo de espalhar magia e ser idolatrado por todo o Mundo.

Ele é realmente um craque e está a dar um brilho extra à nossa liga que tem vindo a perder jogadores de qualidade por força da menor capacidade financeira em comparação com outras ligas europeias para segurar talento. Temos de procurar jogadores em outros mercados e futebolistas com o talento do Taremi são sempre bem-vindos.

Na minha opinião, ele é um dos melhores jogadores do nosso campeonato. Os seus golos merecem ser vistos e admirados. Por essa razão, convido-te a passar alguns minutos a ver os golos do Rio Ave e especialmente do Taremi. Quem sabe poderá surgir um vídeo com reações genuínas da tua parte.

Saudações Desportivas!

Friday, May 29, 2020

Contratempos



Para quem já se esqueceu- ou ainda mais grave- para quem ainda não leu estes meus escritos por aqui, relembro que nos sonhos sempre acontece algo que me aborrece, que me desagrada, que me deixa completamente fora de mim. Parece que tudo conspira para me prejudicar.

Estas três situações são disso exemplo. Começo com uma aula. Já começa a ser habitual também regressar ás aulas nos sonhos e, normalmente, não costumo dar uma para a caixa, como se costuma dizer. Desta vez não foi diferente.

Teresa também la estava e tínhamos de fazer um trabalho de grupo. Pelo menos eu fazia par com ela num exercício. Tínhamos de responder a perguntas. Eu julgava que as tinha acertado mas apareceram todas erradas, como que por golpe de magia. Mas como era isso possível? Tinha por dado adquirido que as tinha acertado. Ainda as reli e não estava a compreender por que estavam erradas.

Regresso à minha terra. Na vida real já lá não coloco os pés há muito. Junto à rotunda havia grande inundação na estrada. Que engraçado! Era só ali. Na estrada junto a minha casa estava seco. Para além de a água dar pelos joelhos, também o Céu estava muito esquisito, com umas tonalidades de vermelho. Resolvi documentar tal fenómeno tirando fotografias ou filmando. Havia gente que parecia flutuar na água de pé. Essa gente iria ficar na fotografia, por mais que eu tentasse apenas fotografar a paisagem.

Por fim, estou numa consulta de oftalmologia. E final de tarde e um médico chamado David tenta colocar-me umas lentes nos olhos, por mais que eu diga que não adianta. Vou dizendo que não consigo mesmo ler. Ele vai afirmando que estou a fingir. Eu digo que não, não haveria necessidade de estar a fingir. Ele não me ouve e vai colocando lentes e mais lentes umas por cima das outras. Já me estava a irritar!

Acordei. O despertador ainda não tinha tocado. Notava-se que já era de dia lá fora. Mais um dia começava!

Wednesday, May 27, 2020

Primeiro ano do resto da minha vida



Parece que foi ontem! Há um ano atrás, com o coração nas mãos e a sensação terrível que algo iria correr mal, percorria as mesmas ruas de sempre com a sensação que as iria olhar pela última vez. Não me enganei, infelizmente. Foi a última vez que percorri as ruas sem o auxílio da bengala branca, acessório que agora me acompanha para todo o lado.

Naquela tarde de há um ano atrás, mais ou menos por esta hora a que hoje escrevo, senti a minha vida desabar. Fiquei mesmo sem chão, apesar de ter a cegueira como dado adquirido na minha vida. Quando me foi removido aquele penso ensanguentado, tudo o que tinha por certo e adquirido, deixou de o ser. Com a escuridão, que no meu caso até era colorida, vinha uma incerteza sombria.

Quase todos os dias deste último ano revi este momento curto mas intenso que mudou a minha vida. Por vezes dou comigo a pensar se as coisas não teriam um final diferente se por acaso não me tivesse virado para me acomodar mais na cama. Talvez a válvula não se movesse, quem sabe. Talvez não sentisse aquela dor lancinante, cortante. Aquela dor que foi a mais intensa que senti, que me deixou completamente gelada ainda longe de saber as consequências que trazia consigo.

O tempo não pode voltar atrás. Há que aprender a viver assim. Não há outro jeito. Este último ano foi de descoberta, de desafio, de superação, embora ande ainda um pouco à deriva sem saber o que me reserva o futuro, especialmente em termos profissionais.

Espero que, com o tempo, a minha vida retome a normalidade. Foram muitas as coisas que tive de deixar de fazer. Ler a negro foi uma delas. Agora talvez leia mais livros que antigamente, porque os leio em formato digital. Também utilizo o computador de forma diferente. Antes não tinha qualquer leitor de ecrã. Agora tenho de me habituar a ele. É o que estou a tentar fazer neste momento e é por isso que ainda não regressei ao trabalho. Os programas e aplicações que usava talvez sejam incompatíveis com os leitores de ecrã. Domino o Word mais ou menos para escrever texto corrido, como faço para o meu blog, mas ainda não tenho as bases suficientes para trabalhar com programas e aplicações mais complexas. Aguardo chamada para a reabilitação em Lisboa mas, com a pandemia, tudo se atrasou. Depois da reabilitação, tenciono voltar a trabalhar. Espero bem que isso aconteça, nem que seja numa função diferente.

O que me doi mais não poder fazer é correr de manhã antes de ir para o trabalho. Há um ano atrás ainda tinha autonomia para andar na rua sem bengala, para correr sem qualquer tipo de problema. Hoje isso deixou de ser possível. É do que sinto mais falta. Tive mesmo de adaptar a minha atividade desportiva. Adquiri uma pedaleira e é com ela que faço grande parte dos meus treinos, juntamente com os halteres. Dantes não pegava muito nos halteres porque havia o risco de descolamento da retina. Agora o estrago já esta feito. Apesar de ter ainda resíduos visuais, a tendência é para a cegueira total. Também estou inserida no projeto do Futebol para cegos. A prática desta modalidade está a dar-me ferramentas importantes de orientação espacial e, naturalmente, está-me a proporcionar um objetivo de vida- algo que ficou para trás há um ano atrás naquela cama de hospital. Ser a primeira jogadora feminina desta modalidade e abrir a porta a novas praticantes está-me a dar um sentido à vida que não tinha há uns meses atrás.

Ver Futebol na televisão também foi algo que tive de deixar de fazer, com muita pena minha. Algumas vezes ainda choro quando me dizem que aquele golo foi muito bonito. Há uns meses atrás, o Rio Ave marcou um golo que me disseram que foi uma obra prima. Ainda por cima foi finalizado pelo meu jogador favorito da primeira liga- o Taremi e contra os nossos rivais lá de cima. Se eles tivessem ganhado, fugiam-nos no primeiro lugar. Com este golo do Rio Ave, a diferença entre o Glorioso SLB e eles é apenas de um ponto. Fiquei com pena de não ver esse golo. Por mais que mo descrevam, não será a mesma coisa.

Tenho uma assistente pessoal, com ela pude voltar a fazer caminhadas. Também já regressei ao meu grupo de caminhadas , embora com limitações.

Por último, sou suplente da atual direção da ACAPO de Coimbra. Tenho muito pouca experiência e a política é algo que não me fascina mas vou ajudando no que puder.

Assim se passou um ano! Passou rápido mas as memórias daquele dia jamais se apagarão. Foram marcantes, como podem compreender.