Faltam poucas horas
para o início do Mundial 2018. Mal posso esperar pelo começo da
competição. Enquanto isso não acontece, trago aqui a primeira
memória que tenho com um Campeonato do Mundo de Futebol.
Talvez este episódio
tenha ocorrido no Mundial do México em 1986. Tinha eu então nove
anos. Situo este episódio nesse Mundial porque me lembro de a imagem
ser ainda a preto e branco e nós lá em casa só tivemos televisão
a cores pouco tempo antes de a nossa avó falecer, em 1989. O Mundial
de 90 já foi visto a cores e eu lembro-me de ter visto a Argentina a
jogar contra a Alemanha. Lembro-me que a Alemanha jogou com o
equipamento alternativo- camisola verde e calções brancos.
Recuemos então mais
atrás no tempo, seguramente. Não sei com quem jogava o Uruguai mas
não tenho dúvidas que era o Uruguai que estava a jogar e era desse
país o guarda-redes que eu me lembro de ver rebolar no chão.
Nesse tempo, não
via muito Futebol, mas sempre que apanhava um jogo, ficava ali a ver
e foi isso que aconteceu nesse dia. Vi que o guarda-redes se rebolava
no chão. Talvez fosse a primeira vez que vi tal coisa e logo a minha
mente começou a trabalhar a duzentos à hora. Se ainda hoje
trabalha, imaginem a imaginação que não teria com nove anos de
idade.
Estava apenas e só
o indivíduo no chão. Agora lembro-me que ninguém o ia socorrer.
Provavelmente estava a queimar tempo. Isto já são conjeturas de
agora, que vi milhares de jogos, seguramente. Comecei então a
imaginar como estariam os familiares e amigos dele a ver o jogo e
aquele lance em particular. Estariam preocupados. Depois a minha
mente resvalou e comecei a imaginar como era a casa dele, por dentro
e por fora. Até imaginei como seriam as casas ao lado da sua.
O primeiro Mundial
que acompanhei de uma ponta à outra foi o de noventa e quatro. Aí
já com outra bagagem futebolística.
Continuemos pois a
abordar as incríveis loucuras da minha mente. Desta vez enquanto,
alegadamente, deveria estar a repousar. Quando acordo e levo algum
tempo para voltar a adormecer, é certo e sabido que irei padecer de
paralisia do sono. Depois é ver se a sei aproveitar a meu favor e
fazer coisas engraçadas.
Desta vez consegui
uma sessão de massagem para as minhas costas...sem sair da cama e
sem gastar um cêntimo que fosse.
A sessão de
fisioterapia começou quando eu comecei a sentir um formigueiro no
corpo e a ouvir ruídos desconexos. Vinha aí a paralisia do sono!
Aproveitando o facto
de estar a sentir enorme formigueiro nas costas, ordenei:
-Oh coisinhos, e se
me fizessem uma massagem? As minas costas estão a precisar.
Imediatamente, nãos
minúsculas percorreram o meu lombo. Era como estar a receber
electro-estimulação. Brutal!
E de repente, assim
vindas do nada, surgem-me umas memorias muito estranhas. Fragmentos
do meu passado que me assolam. Imagens que estavam guardadas lá bem
atrás e que eu tinha esquecido de todo e não percebo por que é que
o meu subconsciente ou lá o que é as vai desenterrar.
É curioso que isso
passou-me a acontecer...desde que eu trabalho. Um dia, falei deste
assunto a algumas pessoas que andam no Reiki e que percebem dessas
coisas estranhas da mente. Uma delas disse-me para eu apontar esses
episódios. Faço mais. Partilho-os aqui. Este e mais um.
Estas coisas
acontecem quando estou a desempenhar as minhas habituais tarefas e
sem aviso prévio. Num flash, sou transportada para fragmentos da
minha vida que já estavam arrumados algures e dos quais nunca mais
me lembrei. É o caso deste que achei curioso. Muitas das vezes,
estes episódios são acompanhados também pelos cheiros ou outras
sensações que senti na altura.
Este episódio
remonta a um tempo em que andava na escola primária. Há mais de
trinta anos, portanto. Como a minha aldeia é um local pequeno,
qualquer episódio assim fora do normal que aconteça, é um rebuliço
enorme. Nesse dia fomos para a escola e o assunto do dia era o
abandono do lar por parte de uma senhora da minha terra depois de uma
noite de desacatos. Ela ia pedir o divórcio. Foi a primeira vez, sem
dúvida, que ouvi falar em tal palavra e, provavelmente, por não
estarmos familiarizados com o tema por vivermos num meio muito
pequeno e por sermos ainda crianças, a nossa professora explicou-nos
o que era um divórcio. Era quando um casal se separava.
Nesse final de
tarde, depois de terminada a escola, a minha mãe resolveu ir “ao
lugar”. Como viuvemos fora da povoação, a minha mãe refere-se ao
facto de se deslocar para dentro do aglomerado de casas como “ir ao
lugar”.
Eu acompanhei a
minha mãe. Não me lembro se a minha irmã também foi. Obviamente
que não se falava de outra coisa, que não dessa separação. Não
sei como, talvez porque a minha mãe pertence também à raça humana
e a raça humana adora ir bisbilhotar um pouquito do que se passa na
vida dos outros, num rasgo de magia, vi-me no interior dessa casa que
agora mostrava um ar mesmo deprimente. De abandono total.
A imagem que me
assolou o cérebro foi a da arca congeladora completamente desprovida
de conteúdo. Invadiu-me as narinas aquele cheiro típico de
congelador.
Fiquei estupefacta
com a memória que o meu cérebro trouxe para a superfície. Ainda
hoje estou para saber a razão por que isto acontece.
Portugal venceu a
Argélia por 3-0 num final de tarde em que estava a chover muito, o
que causou grande espécie para os argelinos. Quem não se incomodou
foi Gonçalo Guedes que, perante o regresso de Ronaldo, apontou dois
golos. Bruno Fernandes também esteve em bom plano a assistir e a
marcar. Do lado da Argélia, nenhum dos meus “amigos” jogou.
Ainda falta cerca de
meia hora para iniciar este jogo entre Portugal e a Argélia e já
por aqui ando a espalhar o meu charme. É que vou passar o jogo a
falar precisamente de quem não o está a jogar. Infelizmente, os
meus três mosqueteiros não vão a jogo, tal como o Saleh não jogou
pelo Egito frente a Portugal. Nesse dia, tinha prometido fazer uma
crónica com dez páginas se ele jogasse. Isso não aconteceu e as
coisas precipitaram-se à maneira de fazer uma crónica um pouco
diferente, mais baseada também em conversas que ia tendo no
Instagram com alguns egípcios.
Os argelinos que
sigo no Instagram...são precisamente aqueles três. O halliche
chegou a estar convocado mas teve um problema físico que o afastou
deste jogo. O Hichem fez a CAN 2017 e não tem sido convocado. Fez
também uma época irregular no Moreirense devido às lesões e acaba
de se transferir para a Arábia Saudita. Soube ontem. O Saleh também
lá joga...e o Jorge Jesus foi para lá.
O Hamzaoui? Nunca
fez parte da seleção principal da Argélia. Como é possível? É
possível porque ele simplesmente não tem sorte na vida e não
merece de maneira nenhuma o azar que sempre o tem perseguido. Ele é
um guerreiro, um lutador...isso admiro nele. Passa o jogo todo a
correr. A ele, dedico esta minha crónica onde vim para aqui bem cedo
avacalhar um pouco.
Comecemos por animar
aqui as hostes com um pouco de música!
Eu disse animar ou
acalmar? Bem, não interessa.
Para quem não está
a ver quem é o hHmzaoui, relembremos a sua obra. Escusado será
dizer que os adeptos do Feirense jamais o esquecerão. Terá feito em
Santa Maria da Feira o jogo da sua vida. Reza a lenda que os
analistas do site Goalpoint- um site de ratings e estatísticas- não
souberam o que fazer à vida, pois tinham a nota dez guardada para
dar a um jogador dos três grandes. Mas o Hamzaoui nessa tarde de 24
de Setembro de 2016 vinha inspiradíssimo e fez isto:
O Ronaldo e o Bale
fizeram altos golos de bicicleta. São jogadores fora de série, por
isso jogam no RFeal Madrid. São campeões europeus. Ganham milhões.
E ele? Faz isto mas anda lá pela terrinha, simplesmente porque não
teve sorte a partir daí. Foi uma pena. Mesmo depois daquela horrível
lesão que sofreu em Chaves num lance fortuito com o red Carlos
Ponck, apreciei-o a jogar contra o Tondela. Foi incansável. Correu
que se desalmou. Eu tenho para mim que, se ele não se tivesse
lesionado, o Nacional não tinha descido de divisão. Mais, ele podia
estar num clube maior do que o Nacional. No Vitória de Guimarães,
quem sabe. Depois de o Soares ter saído para o Porto. Os Argelinos,
e também os Tunisinos, costumam ter sucesso no Guimarães. Da
maneira que ele estava a jogar, ia dar o salto para uma equipa que
lutasse por outros objetivos, seguramente. Mas as linhas da vida por
vezes não são retas e acontecem coisas na vida das pessoas que
fazem as suas vidas mudarem completamente de rumo. Fica para a
posteridade aquele golo e a exibição frente ao Feirense. Foi a
partir desse dia que o segui mais de perto e verifiquei que ele era
um craque.
Para quem lhe perdeu
o rasto, ele foi emprestado pelo Nacional ao USM Alger. Parece que
não tem jogado muito devido às lesões e porque no ataque dessa
equipa há um goleador que dá pelo nome de Darfalou. Como eu sigo a
equipa, sei que é ele que aponta a esmagadora maioria dos golos.
Outra curiosidade- ele alinha com o Número Quatro- um número
estranhíssimo para um avançado.
Aproximar-se a hora
do jogo. Esqueceram-se que Portugal vai jogar com a Argélia?
É impressão minha,
ou estou ali a ver adeptos da Argélia com cachecóis de Portugal.
Ah, devem ser cachecóis que de um lado são da Argélia e do outro
são de Portugal. Hei-de reparar melhor.
Um símbolo das
quinas enorme, ali das bancadas.
Slimani e Bruno
Alves- isso é que vai ser um duelo!
Quer-se dizer que, a
par do jogo, vamos ter um round de Vale -Tudo entre o Tuga Bruno
Alves e o argelino Islam Slimani. Vamos a ver quem ganha. Devia era
de haver um árbitro de desportos de combate em campo, para além de
árbitros de futebol.
O brahimi é capitão
de equipa???!!!
olhando para o onze
da Argélia e não vendo os três mosqueteiros. Que dor de alma. Já
disse que os três mosqueteiros são o Hamzaoui, o Hichem e o
Halliche.
Já há um livre
perigoso para nós porque o Jogador Número Três da Argélia cometeu
ali uma falta dura. Abre as pernas Ronaldo. Toma balanço mas a bola
ainda sobra para João Moutinho que remata com perigo.
Portugal carrega.
Atenção que o
Ronaldo tem fome. De vencer, pois claro.
Ronaldo remata ao
lado.
Sai um coro de
assobios. O Brahimi está no chão.
Pelo contrário, Rui
Patrício é ainda mais aplaudido do que o próprio Ronaldo que agora
coloca a bola dentro da baliza mas já havia fora de jogo.
Se aqui estivesse o
Hamzaoui, o William já agora estaria com a língua de fora. Ele
arrancaria do meio-campo e só pararia sei lá onde.
O Bruno Alves ficava
positivamente a rosnar e a arreganhar os dentes só de pensar como
foi possível o Hamzaoui vir por ali fora. Esse corredor de fundo.
Mais um lance de
perigo, desta vez de Bruno Fernandes que hjoje é titular.
Com o Hamzaoui,
Senhor Madjer, aquela bola não se perdia.
Fica por assinalar
uma escandalosa grande penalidade a nosso favor. Uma grande
penalidade do tamanho de um castelo. Imaginem só que o Slimani quase
fez um ipon de judo ao Pepe. Segundo o comentador, queria levá-lo
para casa.
Era o Brahimi que
tinha a bola, nnão era?
Bernardo Silva
assiste Gonçalo Guedes para o golo. É o primeiro.
Fraquita esta
defesa. Nota-se quem falta ali- o Haliche...e o Hichem.
Se não fosse o
guarda-redes, levavam outro.
Que nojo de defesa.
Mas o Hichem não é muito melhor? Não falo do Halliche porque não
está por lesão. Com o Hichem na defesa...e o Hamzaoui no ataque,
tinham-se apurado para o Mundial.
Ai a defesa deles!
No Mundial, mau é se a seleção apanha uma defesa como esta.
Ah, agora lembrei-me
que o Hichem também terminou a época lesionado. Mas acho que já
recuperou.
Daqui a pouco, o
Mahrez enfia dois sordos aos seus colegas da linha defensiva. Ele
está a rosnar. Até se confunde com o rosnar de fome dos nossos.
O Mahrez protesta
também porque está a chover. Tem razão. Não há direito estarmos
a chegar ao verão e estar o tempo assim.
Golo ao minuto
dezassete...marcado pelo Jogador Número Dezassete que é o Gonçalo
Guedes.
Aquele Jogador
Número Catorze da Argélia parece ser tão caceteiro. E ainda está
ali a trocar argumentos com o árbitro.
Que cruzamento
venenoso de Raphael Guerreiro!
Está a chover
muito. Os jogadores argelinos que jogam na terrinha estranham a
chuva.
Ronaldo assiste para
Bruno Fernandes marcar mais um golo. Quase que era mais um golo. De
Bernardo Silva.
Oh Brahimi, querias
lesionar o Gonçalo Guedes? Se os adeptos já te assobiavam, lá fora
chacinavam-te. Bem podias fugir!
Ao menos o cabelo do
Brahimi não se molha com esta chuva.
O Mahrez a assistir
assim um avançado chamado ...Hamzaoui, com esta chuva...ia ser um
perigo.
Gonçalo Guedes está
agora lesionado. Que se passou? Parece já estar recuperado.
Pepe e as suas
indisposições? Hoje é por causa do Slimani. Ah, fez-lhe mal a
comida do Marcelo.
Chegamos ao
intervalo com uma vantagem de 2-0.
Demoram a regressar,
os argelinos. Estão a ouvir o que o Hichem tem a dizer sobre as
agruras da chuva por videoconferência. Brahimi para o Hichem. “está
cá um frio!”. Hichem lá nas Arábias com a roupa colada ao corpo
também...por causa do calor.
OLHA O BENTALEB! O
Bentaleb era jogador da minha equipa no PES. Está no meu Hall Of
Fame. Eu tenho lá alguns jogadores do Benfica. Normalmente são
esses que eu guardo. Também tenho alguns que não são. Um deles é
este.
Tomara eu que aquele
jogador saia de campo, o Jogador Número Catorze. Ainda lesiona
alguém.
Quase que era mais
um golo.
De livre, Ronaldo
permite que o guarda-redes da Argélia defenda. O guarda-redes
argelino volta a negar mais um golo a CR7.
E Gonçalo Guedes
marca mais um. A Argélia está toda destroçada. A Ducati tinha
pneus de chuva, enquanto que as poeirentas motorizadas dos argelinos
já estão com os motores gripados.
Ah, ainda bem que
saiu o Jogador Número Catorze da Argélia. Entra um dos colegas do
Hamzaoui. Se o Madjer convoca jogadores desta equipa...ao menos o
Hamzaoui à chuva ainda corria mais. Ele ia curtir a chuva. Agora
lembrei-me disto:
Falta o golo do
Ronaldo. A bicicleta desta vez também não tinha pneus de chuva.
Não era o Vinte E
Um, era o Catorze que estava a distribuir fruta mas já saiu.
E perguntas os
argelinos: Baguim do Monte? Onde raio fica isso?
Anormalmente,
Quaresma e Ronaldo não se entendem neste lance.
Foram tantos os
remates de Ronaldo neste jogo, que as luvas do guarda-redes da
Argélia se romperam. Cá para mim, também são feitas de um
material que se desfaz com a chuva. É que lá na Argélia não chove
assim de certeza. No deserto nem pensar.
Não é com Bruno
Alves que Slimani está a lutar. É com Pepe.
O jogador que entrou
há pouco e que se chama...Bagdad, rematou à figura de Rui Patrício.
Portugal chega ao
quarto golo por João Mário a passe de Bruno Fernandes. O VAR anulou
o golo porque Gonçalo Guedes agitou a bola com a mão.
Com as luvas
molhadas e ainda pouco rodadas, o guarda-redes argelino quase que
deixava escapar a bola para dentro da baliza.
O Jogador Número
Dezoito da Argélia é o tal que é colega do Hamzaoui.
A Argélia ainda
cria perigo. Ao se fazer a um remate de cabeça de um jogador
argelino, Rui Patrício apoia mal a perna no chão. Felizmente parece
não ser nada. No contra-ataque, Quaresma também cria perigo.
Agora é que a
Argélia se lembra de jogar.
E termina o jogo.
Como a Argélia não jogou nada, fiquemos com a magia e o perfume de
quem sabe. Do Mestre!
Há duas razões
pelas quais hoje trago esta música estranhíssima. A primeira é que
o Mundial está à porta e a segunda é que, por via disso, Portugal
faz o seu último jogo de preparação frente à Argélia.
Decidi recuar
precisamente ao último Mundial em 2014 no Rio de Janeiro. A onda
média da Antena 1 dava os relatos de todos os jogos do Mundial. Nos
intervalos das partidas, passava sempre música dos países que
estavam a jogar, quer músicas de apoio às seleções, quer outro
tipo de músicas.
Vou falar daquele
início de noite em que a França jogou precisamente com a Argélia-
um dérbi, portanto. Estava-se no intervalo dessa partida e, por
entre as já citadas canções de apoio às duas seleções, surgiu
esta música que eu achei completamente a despropósito. Mas que raio
era isto? Para apoiar a Argélia ou a França?
Como estávamos no
intervalo do jogo, tinha passado pelas brasas. Fiquei abismada a
ouvir isto. Apesar de não saber o nome da música e do intérprete,
tentei a minha infalível tática de encontrar músicas- escrever uma
parte da letra. Foi assim que encontrei.
A partir desse dia,
sempre que ouço falar em Argélia, mais do que ouço falar em
França- música francesa não falta- a primeira coisa que me vem à
ideia é esta música que logo ecoa na minha cabeça ainda com os
acordes estranhos e completamente a despropósito que ouvi da
primeira vez, em junho de 2014.
Para hoje, uma
memória bem lá do fundo do baú. Daqueles tempos em que odiava Pink
Floyd, mas que esta música ainda era a única que conseguia ouvir.
Como as coisas mudaram!
Quero falar da
Bobocas. Foi uma gata preta que durou aí uns catorze anos, logo,
cresceu a par connosco. Muitas foram as manhãs de Inverno em que
ela, juntamente com outros gatos que foram morrendo ou desaparecendo,
passava as manhãs enroscada nos cobertores, aquecendo os meus pés,
os da minha avó e os da minha irmã.
Mas que tem a gata
preta a ver com a música? Bem, recordo uma ocasião em que a Bobocas
se encontrava na nossa cama. Como sempre, o rádio estava ligado. Eu
fazia-lhe festas. Devia ser inverno. Não raras vezes, passava esta
canção na rádio. Nesse momento estava a passar. Lembro-me bem.
Como já disse, não
estava a prestar grande atenção à música. Apenas brincava com a
minha gata. Agora associo a música a essas saudosas e ternurentas
memórias.
Muitas vezes, o
facto de se ser deficiente visual impede alguns meliantes de bom
coração de praticarem atividades criminosas contra nós. Já ouvi
uma história de um predador sexual andar a perseguir uma mulher na
rua...mas desistiu ao reparar que ela era cega.
Também já têm
surgido histórias que apontam no sentido inverso. Essas
provavelmente serão mais. Aqui neste sonho, o que me causava
impressão era o facto de um psicopata assassino ter morto de forma
impiedosa e com uma arma branca um jovem que era cego.
Eu não podia com
tamanha crueldade. Como o crime se deu em Lisboa, sempre fui dizendo
que ali eram uns selvagens sem coração e sem respeito pelos outros.
A vítima chamava-se
Miguel e o seu corpo veio para Coimbra para as instalações da
ACAPO. Estava escondido dos olhares indiscretos...nas casas de banho
dos homens. A porta estava fechada mas ouvia-se um barulho
inquietante que não consigo descrever. Só sei que era desagradável
de ouvir.
Mudemos de assunto!
Há cegos que têm lindos cães-guia. Apaixonantes mesmo. Eu prefiro
os Labradores pretos mas há um que eu conheço que é de um castanho
muito bonito. Não admira que, num mundo rebuscado como é o dos
sonhos, algumas mulheres se tenham apaixonado por ele...e ele se
tenha apaixonado por algumas delas.
A minha irmã ouviu
algumas dessas histórias e estava-me a contá-las. Histórias que eu
já sabia. Consta que o cão abandonou o dono para se entregar aos
seus amores. Imaginem!