Sunday, April 30, 2023

Sangue à entrada da porta

 

De vez em quando, o meu subconsciente leva-me a memórias e tempos longínquos.

 

Já não é a primeira vez que sonho com a matança de frangos que se fazia lá em casa ainda no tempo da minha avó e da  Senhora  Justina (para mim também uma segunda avó).

 

Normalmente os frangos eram preparados na casa de forno, com o lume a crepitar e uma enorme panela de água a ferver para ser mais fácil retirar-lhe as penas.

 

Nunca na vida se mataram frangos dentro de casa. Eram sempre mortos na rua, lá atrás, junto ao quintal. Muitas vezes eu ia assistir. Uma vez, a minha avó cortou a cabeça  completamente a um frango e ele ainda conseguiu voar bem alto alguns metros sem cabeça. Foi incrível! Nunca mais me esqueci.

 

No meu sonho, está montado o ambiente para  a preparação dos frangos na casa de forno. Aqui o mais estranho e intrigante é que as aves eram mortas á entrada da porta. Talvez para facilitar a vida. O sangue corria livremente por ali. Estava-me a meter impressão. Era muito.

 

Ainda com essa imagem na cabeça, acordei. Tinha dormido apenas cerca de uma hora.

 

“Benjamim” (impressões pessoais)

 

Para além de compositor e músico, chico  Buarque destaca-se também como escritor. Esta semana foi homenageado no nosso País com a presença do presidente do Brasil Lula Da Silva. Ele que foi agraciado com o prémio Camões em 2019.

 

Este foi o segundo romance do cantor brasileiro. A incursão pela escrita não cantada e musicada, digamos assim.

 

Neste livro  conta a história de um antigo modelo fotográfico que vive ensombrado pela morte de uma mulher que amou. Ele encontra uma jovem muito parecida com essa mulher e começa-se a travar uma luta interior nele.

 

Apesar de as suas ideias serem um pouco complexas (veja-se o que acontece com as suas músicas)  Chico Buarque escreve de uma forma simples, capaz de prender o leitor. De resto, muitas das suas músicas também contam histórias e dizem muito nas entrelinhas, na chamada linguagem invisível.

 

É este o estilo inconfundível de Chico Buarque.

 

Saturday, April 29, 2023

Barulhos na madrugada

 

Por volta das três e meia da madrugada acordei com o barulho daquilo que  inicialmente pensei que fosse água a pingar no chão do andar de cima.

 

Dei um salto da cama e fui espreitar. De facto, aquilo parecia água a pingar no soalho de madeira. A minha preocupação era se a água viesse parar acima da minha cama ou ao chão onde tinha coisas elétricas ligadas. Mas o vizinho não estava em casa? Pareceu-me ouvi-lo. Seria possível que estivesse a dormir e não ouvisse água a cair? Se eu conseguia ouvir…

 

Se não  caísse água cá em baixo, não havia problema. O barulho era o menos.  Dali a umas horas se veria. Tinha de estar alerta.

 

Voltei-me a deitar ainda preocupada. O barulho cessou por momentos.

 

Depois já era noutro sítio que se ouvia o mesmo martelar. Parecia mesmo água a cair ou a pingar mas escutei melhor. Como seria possível ser água em vários sítios diferentes? É que agora o barulho vinha do lado das janelas e não do lado da porta da cozinha como acontecia há pouco.

 

Mais uma vez verifiquei se havia algo molhado no chão. Não dando pela presença de água, voltei-me a deitar. O barulho voltou a parar um pouco. Mau…

 

Passado um pouco, dez minutos se tanto, o  barulho voltou ainda com mais intensidade. Foi aí que constatei que não era água a pingar do andar de cima o que ouvia. O barulho era acompanhado de um farfalhar. Seria um inseto ou algo assim que havia entrado para dentro de casa e ali tinha ficado. Uma daquelas borboletas enormes talvez. Aquelas a quem chamam peneiras.

 

Também me lembrei que podia ser um morcego mas eu fechei a janela ainda de dia. Como foi que ele entrou? Lembrei-me de uma ocasião em casa dos meus pais que dormi com um morcego no quarto toda a noite. Também ele fazia barulho mas lá estamos no campo, é normal entrar bicharada para dentro de casa, inclusive cobras. Aqui estamos na cidade e o máximo que vi  aqui dentro foram abelhas. Mas os morcegos andam na cidade.

 

O barulho parava por instantes e logo recomeçava. Ia prestando mais atenção. Realmente era qualquer coisa com asas a bater no estuque, não era no andar de cima. De vez em quando, a criatura passava em voo rasante, bem próximo da minha cara, batendo as asas. Ia mais para a hipótese de uma borboleta. Daquelas grandes. Se fosse um morcego, tinha de ter cuidado para ele não me morder na cara. Pode ter raiva.

 

Já na posse da informação de que não era água o que ouvia e que era qualquer coisa que tinha entrado durante o dia, resolvi abrir a janela de par em par. Eram aí umas cinco da madrugada. Nem assim a criatura ia para a rua. continuava a dar voltas por ali  e a bater na parede.

 

O despertador tocou. Apesar de ser sábado, ia-me levantar para fazer um treino na pedaleira. O  que quer que por aqui esteja, que vá para a rua!

 

Enquanto treinei, nunca mais ouvi barulho. Não sei mesmo se a criatura foi para a rua ou, no caso de ser um morcego, se continua escondida algures.

 

Que inferno!