Por volta das três e meia da madrugada acordei com o barulho
daquilo que inicialmente pensei que
fosse água a pingar no chão do andar de cima.
Dei um salto da cama e fui espreitar. De facto, aquilo
parecia água a pingar no soalho de madeira. A minha preocupação era se a água
viesse parar acima da minha cama ou ao chão onde tinha coisas elétricas
ligadas. Mas o vizinho não estava em casa? Pareceu-me ouvi-lo. Seria possível
que estivesse a dormir e não ouvisse água a cair? Se eu conseguia ouvir…
Se não caísse água cá
em baixo, não havia problema. O barulho era o menos. Dali a umas horas se veria. Tinha de estar
alerta.
Voltei-me a deitar ainda preocupada. O barulho cessou por
momentos.
Depois já era noutro sítio que se ouvia o mesmo martelar. Parecia
mesmo água a cair ou a pingar mas escutei melhor. Como seria possível ser água
em vários sítios diferentes? É que agora o barulho vinha do lado das janelas e
não do lado da porta da cozinha como acontecia há pouco.
Mais uma vez verifiquei se havia algo molhado no chão. Não
dando pela presença de água, voltei-me a deitar. O barulho voltou a parar um
pouco. Mau…
Passado um pouco, dez minutos se tanto, o barulho voltou ainda com mais intensidade. Foi
aí que constatei que não era água a pingar do andar de cima o que ouvia. O
barulho era acompanhado de um farfalhar. Seria um inseto ou algo assim que
havia entrado para dentro de casa e ali tinha ficado. Uma daquelas borboletas
enormes talvez. Aquelas a quem chamam peneiras.
Também me lembrei que podia ser um morcego mas eu fechei a
janela ainda de dia. Como foi que ele entrou? Lembrei-me de uma ocasião em casa
dos meus pais que dormi com um morcego no quarto toda a noite. Também ele fazia
barulho mas lá estamos no campo, é normal entrar bicharada para dentro de casa,
inclusive cobras. Aqui estamos na cidade e o máximo que vi aqui dentro foram abelhas. Mas os morcegos
andam na cidade.
O barulho parava por instantes e logo recomeçava. Ia prestando
mais atenção. Realmente era qualquer coisa com asas a bater no estuque, não era
no andar de cima. De vez em quando, a criatura passava em voo rasante, bem
próximo da minha cara, batendo as asas. Ia mais para a hipótese de uma
borboleta. Daquelas grandes. Se fosse um morcego, tinha de ter cuidado para ele
não me morder na cara. Pode ter raiva.
Já na posse da informação de que não era água o que ouvia e
que era qualquer coisa que tinha entrado durante o dia, resolvi abrir a janela
de par em par. Eram aí umas cinco da madrugada. Nem assim a criatura ia para a
rua. continuava a dar voltas por ali e a
bater na parede.
O despertador tocou. Apesar de ser sábado, ia-me levantar
para fazer um treino na pedaleira. O que
quer que por aqui esteja, que vá para a rua!
Enquanto treinei, nunca mais ouvi barulho. Não sei mesmo se
a criatura foi para a rua ou, no caso de ser um morcego, se continua escondida
algures.
Que inferno!