Sunday, August 27, 2006

Valeu a pena ter ficado


Já se sabe que ao sábado nunca me levanto a horas. Nem que eu prometa levantar-me cedo.

,Levantei-me tão tarde que nem vi o par masculino do Kazaquistão a fazer um brilharete de maneira a conseguir a medalha de bronze.

Como era à entrada que se passavam as coisas mais hilariantes e como tínhamos de esperar pela jornada da noite, foi lá que fui passar o tempo. Não estava sol, mas a temperatura estava agradável para se estar ali.

Um grupo de crianças pedia autógrafos a outras crianças da idade delas ou até mais pequenas. O menino do Kazaquistão que tinha ganho a medalha de bronze parecia um pequeno herói a assinar autógrafos a outros meninos e meninas. Era uma cena curiosa!

Voltei a tirar fotos por ali. Estava quase toda a gente naquela zona. Havia gente com mascotes (bonecos de peluche) e com outros artefactos para apoiarem os colegas que iam competir daí a nada.

Mais uma vez, foi com os holandeses que eu mais convivi. Não é coincidência. Eu sempre os procuro. Foi nessa confusão que apareceram vindas sei lá de onde umas pessoas. Vindas da Holanda, certamente. Só algumas horas depois ao ver as fotos me apercebi que aquelas pessoas nada tinam a ver com a Ginástica. Provavelmente iam assistir às provas.

Alguns já estavam preparados a rigor para o jogo que ia acontecer entre a Holanda e Portugal. A conversa seguia animada, as fotos sucediam-se, o ambiente estava divertido. Foi então que alguém me ofereceu um chapéu laranja que eu não iria largar mais durante esse dia. Era de meter inveja!

Vinha uma australiana com muitos balões verdes e amarelos. Chegada à rua, a moça desatou a rebentá-los numa zona com uma acústica fantástica para pôr toda a gente em estado de alerta. Com a ameaça de terrorismo que por aí anda...Ainda houve alguém que perguntou com ar assustado:
- “Que é isso?! Anda aí a guerra?”
Um colega nosso que estava a guardar a porta disse em voz bem alta para a menina, como se o tom de voz mais elevado a levasse a perceber o que lhe diziam:
- “Agora vais pôr isso no lixo!”
Ela lá apanhou o que restava da “guerra” e foi pôr no lixo.

A contagem decrescente para o final da última semana de campeonatos já se fazia sentir. Faltava uma jornada de provas antes de ser dado um ponto final nos eventos que deram um outro colorido à cidade de Coimbra e (porque não?) à minha vida. A cerimónia de encerramento estava aí e iria ser um momento marcante. Algo inesquecível.

Tudo se passou exactamente como na passada semana. Chamaram todos os intervenientes ao palco. Só que as pessoas eram deferentes. Havia muita juventude e mais alegria. Isso levaria a que o desfecho fosse outro. Tocava a famosa música “Love Generation” e toda a gente exteriorizava toda a felicidade que sentia. Ginastas, voluntários e outros participantes davam as mãos. Já de si estava a ser um momento bonito. Foi então que toda a gente se precipitou de forma espontânea para o praticável e começou a saltar e a cantar aquela música que toda a gente sabe de cor e que acabaria por marcar a vida de cada um.

Crianças e adultos, negros e brancos, homens e mulheres, juízes e atletas, dirigentes e voluntários, todos deram as mãos e participaram no fim de festa mais bonito e mais alegre que alguma vez vi. Cada vez que saltava naquele praticável sentia que ia mais além, que era o meu espírito que se elevava, tinha a sensação de voar. Tudo parecia um sonho. Estava rodeada de gente de todos os cantos do Mundo e isso dava-me uma enorme satisfação. Comecei por dar a mão a um menino da África do Sul e vi-me depois rodeada por pessoas de vestes coloridas que estavam tão felizes como eu.

Pela instalação sonora era pedido para nos sentarmos todos no chão para serem ouvidos os habituais discursos de encerramento. Ninguém ouvia, tal era a animação. Só ao fim de três ou quatro pedidos, toda a gente se sentou no praticável. Estava rodeada de pessoas que já não eram as mesmas que, momentos antes, saltavam comigo. O que interessava era aproveitar aquele momento de felicidade que estava a ser marcante.

Aquele final de festa foi emocionante porque tudo se passou sem que nada fosse premeditado. Alguém teve a ideia de ir para o praticável e as largas centenas de pessoas que se encontravam ali seguiram atrás. Como é incrível o comportamento colectivo! Quem quer que terá sido a primeira pessoa a invadir o praticável, contribuiu para um excelente momento de união da comunidade desportiva. Nunca vi nada assim tão bonito e tão espectacular.

Valeu a pena ter ficado por Coimbra. Aquele momento acabou por ser um merecido prémio. Já não contava viver uma situação destas e ainda bem que isto aconteceu. Para recordar para o resto da minha vida!

Passada a euforia e porque tudo o que é bom acaba depressa, era chegada a hora de irmos para a festa que era longe do Pavilhão. No outro dia a festa foi no Estádio por haver instabilidade climatérica. Não foi preciso apanhar transportes. Desta vez, o evento iria ser na Escola Superior Agrária. Era longe e toda a gente tinha de arranjar lugares nos autocarros.

Fui num autocarro que já abarrotava de gente. Já ia junto à porta de entrada. Ali estava também um senhor holandês. Tinha de ser! E eu que não tinha largado aquele chapéu laranja. O jogo entre a Nossa Selecção e a “Laranja Mecânica” era tema de conversa.

O autocarro não podia parar mais perto do local da festa. Antes de chegarmos, tínhamos de percorrer a pé um caminho sinuoso e mal iluminado. Estavam tramadas as pessoas que bebessem uns copitos a mais.

A brisa da noite trazia um desagradável cheiro a bosta e a estábulo. Estávamos na Escola Superior Agrária. Depois já toda a gente se tinha habituado àqueles aromas bem rurais e já se podia comer. É que as mesas estavam repletas de petiscos variados. A dificuldade era escolher o que se devia comer.

Como tenho vindo a referir, os elementos das delegações não são os mesmos. Fiquei algo desapontada ao ver o comportamento dos elementos de uma certa delegação cujos seus representantes arrasaram com a sua dança na semana anterior. (ver texto “O rapaz da camisola vermelha e seus acompanhantes”) Os caríssimos senhores e senhoras preferiram disfrutar da gastronomia portuguesa

Toda a gente andava empenhada em trocar lembranças. Eu dei uma das minhas camisolas ao menino de Kazaquistão que ganhou a medalha de bronze. Tinha pins, um pequeno galhardete de Hong Kong e uma caixa de rebuçados que me deram os americanos. Tinha perguntado, horas antes, a umas raparigas da Alemanha se elas tinham algo para trocar. Só ao final da noite é que elas decidiram dar-me um cachecol da Selecção Alemã em troca da camisola. Mais vale tarde que nunca. Com o chapéu laranja da Holanda e o cachecol da Alemanha, fiquei a matar. (ver foto)

A festa chegava assim ao final. O último autocarro ia partir e eu tinha de arranjar maneira de ficar perto de casa. Custou a convencer o motorista. Por fim, ele sempre me deixou ficar junto ao Estádio. É que já eram horas impróprias de andar na rua!

Situação do dia:
Toupeira dum raio! Numa altura em que já havia muitas camisolas trocadas, vi alguém com uma camisola de voluntário e perguntei-lhe a que horas é que vinha o autocarro. O problema é que aquele não era nenhum voluntário. Era um membro da delegação de...Hong Kong!

Sunday, August 20, 2006

Urbanidade e Probidade

Um colega nosso deixou toda a turma boquiaberta ao usar e abusar destes dois termos. E anda por cima não tínhamos um dicionário por perto para sabermos com exactidão o que é que ele queria dizer. O dicionário que eu tenho aqui já é quase uma relíquia mas vou satisfazer a curiosidade de todos os que, como nós naquele dia, se estão a interrogar sobre o significado destas duas palavras repetidas vezes sem conta pelo nosso colega numa aula.

Segundo as sábias e já amarelecidas páginas do meu dicionário, Urbanidade é: qualidade do que é urbano; civilidade; polidez; delicadeza e cortesia. Resta-me lembrar em que sentido é que ele aplicou este termo. É que já lá vai algum tempo.

Probidade (quando apontei esta palavra até a escrevi com u, o que diz bem do desconhecimento que tinha sobre ela) é, segundo as letras gastas do dicionário: qualidade de quem é probo. Para quem não sabe, um indivíduo probo é alguém que tem um carácter íntegro, justo, recto e honrado. Probidade é ainda: honradez; integridade de carácter e observância rigorosa dos deveres.

Mais uma vez volto a referir que não me recordo em que contexto é que o nosso colega aplicou tão caros termos. É o que faz estar a escrever este texto com quase dois meses de atraso. Que pena foi eu ter perdido o sentido original dos termos.

Se havia dúvidas de que todos no curso aprendemos uns com os outros, elas são desfeitas neste episódio. Cada um de nós ali tem algo para ensinar aos outros e cada um tem algo a aprender com os colegas. Somos diferentes, temos vivências diferentes e chega a ser engraçado o que aprendemos.

O problema é que naquele dia ninguém chegou a saber ao certo o que queriam dizer aquelas duas palavras. Só hoje é que eu resolvi ir ver o seu significado para ficar tudo esclarecido e para sublinhar este episódio de mais um dia na minha vida.

Esse dia amanheceu com algumas nuvens, mas sem frio. Ainda me custava a acreditar como foi possível um jogador ver tantos cartões num só jogo. Ou melhor: como foi possível um árbitro mostrar tantos cartões a um mesmo jogador?

Estávamos numa aula normalmente quando ouvimos algo que nos fez estremecer. Era o sinal de mensagens do telemóvel de uma nossa colega. Aliás, os toques e os sinais de mensagens de cada um chegam a fazer-nos sorrir. Nós já conhecemos os toques que cada um tem no telemóvel.

No Pavilhão, desta vez, fiquei a ver as provas na bancada. Ali podia-se conversar, conviver, conhecer gente nova...

Aconteceu uma situação bem curiosa: enquanto se esperava pelas pontuações da dupla feminina de Porto Rico, tocava na instalação sonora precisamente a música “Puerto Rico” dos Vaya Con Dios. Terão feito de propósito?

As provas acabaram e toda a gente ficou na rua à espera dos autocarros. A noite estava esplêndida. Respirava-se um clima agradável. O Céu estava de um azul como há muito não via. Foi então que eu aproveitei para tirar umas fotos a quem andava por ali para ter uma recordação de tudo o que se estava ali a passar naquele momento. Foi nessa altura que confirmei a minha teoria de que as coisas mais importantes se passavam ali. Pena não ter descoberto isso na semana anterior.

Já sabia que, infelizmente, não iria a Seia (ver texto “Chorar de manhã para não fazer figuras tristes à noite”). No dia seguinte estaria novamente no Pavilhão. Naquela altura não o sabia, mas estava prestes a viver um dos momentos mais felizes da minha vida e a participar numa das coisas mais bonitas que alguma vez vi no Desporto.

Situação do dia:
Estava a falar com a nossa professora de Braille muito quentinha quando sinto uma coisa gelada pelas minhas costas abaixo. Até saltei! Foi uma colega que resolveu enfiar um cubo de gelo pelas minhas costas abaixo. Ela afastou-se rindo às gargalhadas.

Bacorada do dia:
“Faltas, feriados, férias, licências...” (já sei a quem devo pedir explicações de Espanhol.)

O senhor Ernesto

Com o passar dos dias, o cansaço vai-se acumulando e o sono teima em não nos largar. E as férias que demoram!

Agora tenho de combinar como será a viagem a Espanha no próximo dia 3 de Julho. Vou com uma colega do Norte e as coisas devem ficar bem combinadas.

Parece que peguei no sono em plena aula de Português. Senti uma mão a tocar-me. Era a professora, claro está. Só que naquele dia houve gente que se deitou mais tarde para festejar a vitória de Portugal e estava sem disposição para as aulas. Não foi o meu caso, mas eu não via a hora de ir para o local onde me sentia bem: no Pavilhão.

Eu e a minha colega apresentámos um trabalho para uma aula em que tínhamos de planear o dia de expediente de uma administrativa. Para a coisa se tornar menos monótona, eu apresentei aquilo de maneira a não ser maçador. É que maçador já era o exercício por natureza. Eu prefiro coisas mais criativas e menos pesadas. Mesmo assim, tive criatividade a apresentar o trabalho e fui justificando de uma forma engraçada a razão de termos feito assim e não de outra maneira.

A criatividade foi tanta que pusemos que o trabalho da pessoa foi interrompido por um tal de senhor Ernesto que apareceu imprevisivelmente na empresa e com ar exaltado. O indivíduo pedia explicações à alegada administrativa por um erro que apareceu numa factura.

A crítica argumentou que o senhor Ernesto deveria ter marcado previamente a reunião e não deveria ter aparecido dessa forma nas instalações da empresa. Eu contra-argumentei que o indivíduo estava furioso e, nessas condições, ele precipitou-se em direcção à empresa. Eu ria-me porque imaginava a administrativa a preparar a reunião da tarde muito bem. Eis que aparece o senhor Ernesto aos berros, aos empurrões ás pessoas, completamente fora de si a protestar. Afinal imprevisto era imprevisto.

No Pavilhão iria ter um final de tarde em cheio. Voltei a falar com pessoal vindo da Holanda. Tinha prometido a uma amiga minha que iria perguntar a alguém se era possível uma pessoa deficiente visual praticar Ginástica Acrobática. Quis o destino que fosse perguntar isso a duas treinadoras holandesas com quem falava alegremente. Elas disseram que na Holanda havia duas raparigas deficientes visuais que eram ginastas.

A conversa prosseguiu e fiquei a saber que essa rapariga morava perto da cidade onde normalmente se realizam os campeonatos de Atletismo para deficientes. E como eu adorava lá ir! Aliás, o meu sonho é ir à Holanda.

Voltei a ficar a fazer segurança no sítio do costume: na bancada de imprensa, mas nem por isso larguei os holandeses ou eles me largaram a mim. Continuavam divertidos a fazerem-me sinais com ar simpático.

As provas da noite iam começar. Suíços e polacos faziam um barulho infernal. Os tradicionais sinos provenientes da Suiça faziam-se ouvir. Comecei a imaginar os meus colegas que tinham dores de cabeça da parte da manhã ali com aquela barulheira toda. Era bom o Pavilhão estar assim cheio e com muita animação nas bancadas.

Algumas pessoas iam perguntando onde eram as casas de banho. Tive também de ir perguntar a uma colega para não induzir as pessoas em erro. Imaginem que elas iam aflitas e tinham de andar por ali às voltas? Afinal de contas, estava a indicar-lhes bem o caminho.

Quando as bancadas começaram a ficar mais vazias saí dali e fui dar uma volta para ver como estava o ambiente. No local onde se vendiam produtos dos campeonatos passava um DVD com os resumos da passada semana. Fiquei por ali a recordar as prestações de alguns ginastas. Alguns tive mesmo oportunidade de conviver com eles mais de perto. Estava-me a lembrar das duas atletas chinesas.

Realmente os atletas ucranianos tiveram uma excelente prestação e mereceram ganhar o concurso de pares masculinos. O grupo de quatro ginastas chineses que eu tanto admirei nos treinos (ver texto “Ataque de choro”) era um regalo para os olhos. Não vi in loco a exibição deles em competição, mas tive oportunidade de recordar a prova posteriormente. Foram eles que me mostraram o quão bela é a Ginástica Acrobática.

Mas havia uma parte no DVD que me despertou a atenção: aquela parte onde estamos todos juntos no palco. Eu apareço lá juntamente com toda a gente. Nem de propósito: para banda sonora daquela parte escolheram a música “Absolutely Everybody”.

Depois havia ainda uma parte de apanhados de pessoas em situações curiosas. Eu não tenho a certeza, mas parece que me apanharam a mim no dia da cerimónia de abertura a esfregar os olhos húmidos. A imagem passou muito rápido e nem deu para ver se era eu ou não. Se era realmente eu, foi para eu aprender que não se vai para ali fazer uma figura digna de um enterro.

Nem dei pelo tempo a passar. Enquanto o filme não chegou ao fim não me vim embora. Estava divertida com o que estava a ver. Sentia-me bem. Sorria pelo facto de, provavelmente, me terem apanhado naquele dia. Foi nesse estado de espírito que fui para casa. A noite estava amena e calma. Ainda me vinha a rir no caminho para casa.

Perdi o sono com aquele DVD. Os resumos do Mundial foram todos vistos até ao fim. Parece que o Brasil venceu o Japão com uma bela exibição de Ronaldo- o tal que dizem que está gordo, pesado, fora de forma...

Como não tinha sono ainda fui ouvir um pouco de música antes de me deitar.

Situação do dia:
Josip Simunic entrou para a história dos mundiais de futebol ao ser o jogador que mais cartões viu num só jogo. Foram nada mais, nada menos que quatro cartões (três amarelos (?!!!!!) e um vermelho). O árbitro que apitou o jogo entre a Croácia e a Austrália também entrou para o livro dos recordes ao mostrar tanto cartão ao mesmo jogador sem o expulsar e ao acumular um sem fim de asneiras que fizeram com que os croatas não seguissem em frente. Para o anedotário.

Bacorada do dia:
“Qual é o feminino de papel?” (não é o feminino, é o fêmeo.)

Chorar de manhã para não fazer figuras tristes à noite



Mais uma vez, adormeci com a televisão ligada e fiquei sem ver o resumo do jogo entre Trinidad e Tobago e o Paraguai.

Como Portugal ia jogar com o México, vesti-me de acordo com a situação. Não nos iam deixar ver o jogo. Em todo o lado as pessoas iriam ter uma pausa para apoiar a Nossa Selecção. Só ali é que as pessoas se armam em sei lá o quê. Numa cambada de seres sem sentimentos que não sabem lidar com os outros. Desde que a nossa psicóloga se foi embora (ver texto “Quando alguém tem de partir”) as coisas pioraram consideravelmente. Está um verdadeiro inferno. Mas que fazer? Nada. Eles é que mandam. Nós, simplesmente, obedecemos de cabeça baixa e com alta dose de desmotivação.

Aquele dia já ia começar mal. Assim que cheguei à porta da ACAPO, logo a Ave de Mau Agoiro me disse que se calhar não ia aos Campeonatos Nacionais de Atletismo em Seia por não haver transporte. Essa não! Fiquei aterrada. Depois de tudo o que me aconteceu ao longo destes últimos dois anos, aquele regresso aos campeonatos iria ter um grande simbolismo. Iria mostrar às pessoas que não baixei os braços e que continuo a lutar contra o meu destino traçado por algo que eu nada fiz para merecer. Trabalhei imenso ao longo destes últimos meses, sacrifiquei-me bastante, lutei contra a falta de condições materiais e humanas, fiz de tudo para regressar ao convívio com os meus colegas...

A minha disposição naquele dia não era a melhor. Caia por terra tudo o que eu tinha feito com tanto esforço. Ainda mais triste fiquei ao lembrar que houve campeonatos para os deficientes mentais em Coimbra e que deixaram participar os meus colegas. Nesse dia eu estava na cidade. Não me custava nada ter ido até lá. Começo a ficar farta dessas coisas. Por mais que uma pessoa lute e se sacrifique, as pessoas que deviam ajudar são as mais insensíveis. Isso deixa-me triste e desmotivada para a vida. Não custava nada às pessoas responsáveis da organização daqueles campeonatos ligarem-me e dizerem que podia participar e realizar o sonho de estar com os meus colegas que fui obrigada a deixar.

A minha sorte é que tenho pessoas que me ajudam sem me conhecerem bem e sem que eu tenha feito alguma coisa. O ano passado foram essas pessoas que atenuaram um pouco o que de mau se estava a passar na minha vida. A essas pessoas fico bastante grata por tudo. Pelo contrário, eu tenho lutado bastante até para ajudar os meus colegas e todos os deficientes que gostam de Desporto. Tenho muito amor pelo Desporto e, por isso, nunca vou baixar os braços. Situações como esta começam a cansar mas eu acredito que um dia alguém me ajude também e reconheça tudo o que eu fiz e continuo a fazer com grande sacrifício. Não quero dinheiro. Apenas quero fazer aquilo que gosto e estar com as pessoas de quem gosto e com quem me sinto feliz.

É melhor parar por aqui este capítulo senão não saio daqui. Claro que fui para as aulas, apesar do péssimo estado anímico em que me encontrava. As técnicas vieram propor à turma que fizesse desenhos e slogans para uma campanha de sensibilização para as pessoas serem mais cautelosas para com os deficientes e outras pessoas com mobilidade reduzida. O objectivo era que um fosse posteriormente escolhido para este evento. Apesar da pouca inspiração e de há muito não fazer um desenho, arrisquei-me a fazer um. Diz a crítica que nem ficou mau. Se calhar era para me animarem naquele dia que bem precisava. Podem dizer de vossa justiça. Podem ver o desenho.

Para quem não entendeu o significado deste desenho, ele é composto por um sinal de proibição onde estão desenhadas viaturas estacionadas em cima de um passeio. Em baixo estão representadas algumas pessoas a quem os carros estacionados nos passeios provocam grande transtorno. Assim, podemos ver uma pessoa com bengala branca, uma senhora idosa, alguém em cadeira de rodas e uma mãe a empurrar um carrinho de bebé.

Depois do almoço fomos normalmente para as aulas, apesar de haver jogo decisivo para Portugal. Nem me importei muito de não ter visto o jogo. Isso comparado com a notícia que recebi logo cedo não era nada. Fomos para a aula de cabeça e ouvidos no que se passava no corredor. As reacções que vinham da rua indicavam-nos com clareza as incidências da partida e não nos enganavam.

Para mal dos nossos pecados, o intervalo do jogo coincidia com o intervalo das aulas. Essa pausa serviu para perguntar como estava a decorrer a partida. E sempre vimos a repetição dos golos. Já não se perdeu tudo.

Portugal venceu e isso é que interessa. Agora que venha a Holanda ou a Argentina. Eu tenho medo da Argentina. É uma equipa difícil e que pratica um excelente futebol. Deve ser uma das equipas mais fortes deste Mundial. A Holanda contra Portugal? Bem, eu sou suspeita. Adoro a Holanda. Será sempre mais acessível que a Argentina, mas vamos ver. O que interessa é que Portugal ganhe, seja a quem for.

No Pavilhão a história era outra. Mais uma cerimónia de abertura igualzinha à da semana anterior. Iria dar o mesmo vexame? Se a cerimónia era a mesma...

A cerimónia era a mesma, mas o contexto era diferente. Desta vez fui lá para cima. Para o mesmo local onde fiquei no passado sábado. (ver texto “E agora?!!!!!”) Ali era difícil passarem-se as mesmas coisas. Depois, os “causadores” daquele estado de coisas estavam, infelizmente, nas suas terrinhas lá no país distante onde eu nunca ouvi dizer que se tivessem lá passado umas boas férias. Haverá lá praia? Sol e calor?

Ainda bem que o espectáculo da cerimónia foi repetido! Assim pude estar mais atenta à representação das lendas de Coimbra. Estava espectacular e muito original aquela representação de acontecimentos algo trágicos que são parte integrante da história da cidade.

O espectáculo acabou e as bancadas despiram-se rapidamente. O amarelo das cadeiras ocupava assim o colorido das pessoas que nelas estiveram sentadas. Era hora também de pensar em ir até casa que já se fazia tarde.

É sempre a mesma coisa: sempre adormeço e deixo de ver os resumos.

Situação do dia:
Isso é que eu sou uma segurança! Vejam lá que estive uns bons dez minutos para colocar de novo a vedação nas escadas que davam acesso à bancada de imprensa. (ver foto)

Bacorada do dia:
“Esta frase trata as pessoas como máquinas.” (ultimamente não ando a compreender o significado de algumas coisas que se dizem, ou sertã impressão minha?)

Arroz de pombo


Não sei se foi por lidar muito com pessoal do Leste. O que é certo é que sonhei com ucranianos. Não me lembro muito bem do conteúdo do sonho.

A manhã estava fresca e eu lá tinha de preparar mais um dia de bolina. Pior é quando os computadores não colaboram. Fico fula quando quero fazer uma coisa e os computadores são ainda mais teimosos que eu. Ainda por cima, muita gente mexe naqueles computadores. Deixam-nos ligados, instalam o que não devem e eles ressentem-se. O computador tinha uma imagem no Ambiente de Trabalho naquela manhã e estava constantemente a bloquear. Óptima maneira de começar mais um dia!

Para abrir o apetite, e antes de irmos para almoço, foi dada uma sugestão óptima- para quem gosta- eu não comia tal coisa. Já se tem feito lá em casa e nem lhe toco. Tratava-se de arroz de pombo. O pessoal começou a falar desse prato não sei porque carga de água e voltaria a falar mais à frente. Ainda houve pessoal que mandou calar os colegas porque já estava com fome e aquela conversa fazia crescer ainda mais água na boca. Se continuassem a falar de arroz de pombo, teríamos outra inundação na sala como no outro dia. (ver texto “E eu não disse que ia chover?”)

A tarde passou depressa. Eu agora até ando a gostar bastante de Matemática. O pessoal deve julgar que enlouqueci, mas agora é Estatística e essa parte da Matemática é a minha favorita. Eu detesto equações e outras contas complicadas. Estatística já não é assim.

Fui novamente para a porta de entrada. Era lá que sempre havia assunto. Tinha estranhado não terem ensaiado para a cerimónia de abertura. Isso tinha uma explicação: a cerimónia iria ser igual à da passada semana. Arranjei um folheto dos campeonatos e fiquei a perceber que o espectáculo era baseado nas lendas da cidade de Coimbra. Desta vez os ensaios decorreram só na véspera.

Disseram-me que na sala dos voluntários estavam algumas fotos expostas e que, entre elas, estava uma foto minha. (ver foto) Essa foto ilustrava bem a felicidade que estava a sentir naquela noite. Era outro o meu olhar e apresentava um sorriso aberto- algo que não se via há muito tempo. A minha vida tem sido cheia de complicações, problemas, turbulências e o meu sorriso desapareceu com a impossibilidade de ser feliz. Agora recuperava novamente a alegria perdida. Voltava a ser feliz e isso dava-me um grande alento. Aquela foto mostrava bem a mudança que houve em mim ao longo destas últimas semanas. Nem me reconhecia na foto. Uma colega é que disse que era eu.

Com essa colega, estive a conversar antes de sair. Constatei que o Mundo é bastante pequeno. Temos amigas em comum. Ela foi colega da nossa professora de Braille que é minha amiga. É curioso!

Para final de noite ficavam os resumos do Mundial. Já estava bastante cansada e caí no sono.

Bacorada do dia:
Entraram por uma escada...” (onde é essa escada para eu não passar por lá?)

A

Exposição sobre as estações do ano





Digno de apanhados



A manhã estava enevoada como nos últimos dias. O Verão anda distante.

Era mais uma semana que se iniciava depois do emocionante e inesquecível fim-de-semana que vivi. Bem cedo tinha de me pôr a pé, tal como acontece todos os dias da semana. Naquele dia levantei-me mais cedo ainda, apesar de julgar que me tinha levantado à mesma hora. Fiquei espantada quando vi as portas ainda fechadas e já passava das oito e meia. Ainda esperei alguns minutos até que as portas abrissem finalmente. Quando vi as horas no computador é que vi que o relógio estava adiantado. O que uma pessoa faz com o sono!

Foi pelo computador que acertei o relógio para horas decentes. É que aquilo era fuso horário mesmo de pessoa desleixada. Ia começar mais uma semana de aulas daí a nada.

Nesse dia teríamos uma actividade diferente. Os alunos de uma escola de Coimbra que nos haviam visitado há tempos fizeram uma exposição sobre as estações do ano, acessível a deficientes visuais. (ver fotos) Cada estação do ano era feita de material sugestivo e típico dessa época. Os nomes das coisas sugeriam também essa estação do ano e estavam escritos a Braille. À entrada havia uma enorme bola que representava a Terra e que estava também elaborada com diferentes materiais e texturas de modo a facilitar uma abordagem táctil de quem não vê. Tudo estava excelente a pensar em nós.

No regresso a viagem foi animada. Arranjámos um belo emprego para um colega nosso: guia turístico. Ele alinhou na brincadeira e lá foi indicando tudo o que havia para ver (ou então não) naquela cidade. Para isto ter mais piada e para as pessoas que lêem isto terem a dimensão da risota que era, resta dizer que esse nosso colega nem é de Coimbra. Já estão a ver a cena...

O Pavilhão voltava a ter movimento depois de um dia mais calmo. As delegações para o campeonato dos mais novos iam chegando. Lá dentro só os franceses é que treinavam. Havia mais delegações que deviam treinar, mas ainda não tinham chegado.

No secretariado estava uma colega com uma renovada delegação do Kazaquistão- para mal dos meus pecados. É que eu queria que tivessem ficado os outros. Naquela altura ainda não tinha a certeza se eles tinham ido ou ficado. Aquelas senhoras acabavam de chegar e deixavam passar o pessoal que chegava depois delas. Normalmente o que acontece é que tudo quer passar à frente. Incrivelmente elas deixavam-se ficar para o fim.

Um senhor australiano também esperava alguma coisa no secretariado. Meti conversa com ele, mas na Austrália fala-se Inglês de uma maneira que é difícil perceber. Apesar de não o compreender bem, ele disse que eu sabia falar bem Inglês. Que ideia!

Não havia mesmo nada para fazer, mas eu estava a pressentir que tinha de ficar ali. Fui para a entrada da porta. Ali devia-se passar algo. Tinha cá uma fé...

Eu posso não ser craque a falar Inglês, mesmo assim vou desenrascando. Pior é quando encontro pessoas daqueles países de Leste que faziam parte da Antiga União Soviética. Chega a ser hilariante a conversa com essas pessoas. Vejamos este exemplo: um chefe de delegação de um desses países dirigiu-se a mim e a uma colega minha na única língua que lhe ensinaram a falar. Como não entendíamos nada, falámos-lhe em Português. Foi então que ele resolveu improvisar umas palavras em Inglês que se calhar aprendeu nos filmes. Ainda foi pior. Minutos depois esse mesmo senhor voltou a passar por nós. Nessa altura passava muita gente ao mesmo tempo pela mesma porta. Aí entendi bem o que o senhor disse porque sei alguma coisa em servo-croata e as línguas eslavas são parecidas. Sabendo falar uma entenderemos o essencial de todas. O senhor simplesmente pediu desculpa às pessoas que iam a entrar com ele naquela passagem estreita.

Comecei a pensar que devia ir aprender Russo que assim já os entendia a todos e não deixava ir algumas pessoas embora sem lhes dar uma palavra. Curiosamente aquele treinador era compatriota dos jovens que eu apreciava a dançar, daí eu ter-me embrenhado em tais reflexões. Havia de haver uma campanha que tivesse o objectivo de ensinar essas pessoas a falar Inglês. Não era por nada. É que devem ser pessoas com muito para nos contar e nós não podemos conversar com elas.

Uma algazarra interrompeu essas minhas reflexões profundas. Nem queria acreditar no que estava a ver ao longe! Tantos holandeses! Esses sabem todos falar Inglês. Felizmente posso falar com eles e que alegria isso me dá.

A entrada deles no Pavilhão foi atribulada. Alguns tropeçaram no degrau. Eu não percebia porque é que tanta gente ali tropeçava. Haveria outros ainda que iriam ali tropeçar e eu ainda me iria admirar mais. Depois de todos terem entrado, apressei-me logo a meter conversa com eles. Os que estiveram aqui na semana anterior nem os vi e isso causou-me alguma tristeza. Tanto que eu queria ter falado com eles. Era com eles e com os outros. Só que aos outros via-os a todo o instante. O que faz as pessoas não falarem a mesma língua!

Estava a escurecer. A noite ia caindo lentamente. Começava a ficar fresco e eu apressei-me a vestir uma camisola de manga comprida. Dois senhores búlgaros que ficaram de uma semana para a outra vagueavam de um lado para o outro. Esperavam os restantes elementos da sua delegação, mas quem espera desespera. Passaram ali horas a fio. Não criavam raízes porque iam vagueando por ali.

Vieram os polacos. Eram muitos e entraram aos trambolhões pela porta principal do Pavilhão. Já estava escuro e aquela entrada enganava muito. Mas esperem pelos alemães que iriam mesmo cair lá.

Eu estive a ver o que se passava ali com a entrada para tanta gente tropeçar. Uma colega disse-me que aquilo enganava muito e as pessoas julgavam que ali não havia aquele degrau. É curioso, aquele senhor de quem eu falei há pouco e os restantes elementos da sua delegação passaram lá n vezes e não tropeçaram.

Vinha o pessoal de Hong Kong. Ninguém tropeçou. Eu cheguei à conclusão que os grupos mais numerosos na ânsia de entrar todos ao mesmo tempo provocavam aquela situação. Quando passava uma pessoa sozinha ou um grupo pouco numeroso não havia problemas.

Vieram os alemães e eram muitos. A minha teoria ia ser confirmada. Se tropeçaram um ou dois holandeses, quatro ou cinco polacos, os alemães iriam tropeçar quase todos. O pior é que eles riam-se quando alguém tropeçava. Mas riam mesmo à gargalhada. Houve gente que ainda estava do lado de fora que se ria dos colegas que tropeçavam, chegavam à entrada e faziam a mesma coisa ou pior ainda. Dava-me a sensação que eles tropeçavam mais porque já se vinham a rir dos outros. Houve alguém que tropeçou de tal maneira que quase entrou no elevador em desequilíbrio. Foi risada geral!

O tempo passava a voar. Para os búlgaros que ali continuavam a esperar os colegas cada segundo era uma hora. Mais ninguém ali andava senão eles. O que lhes valia era que a noite estava amena. Até estava uma noite bonita. Para mim estava. Como tinha encontrado os holandeses, tudo estava perfeito.

Estava na hora de ir para casa. Fui ao secretariado e constatei que não eram só os búlgaros que esperavam. Sentada na mesma cadeira onde horas antes estava o senhor australiano, estava uma senhora inglesa á espera do mesmo autocarro onde vinham búlgaros, ingleses e não sei quem mais. Incrivelmente, o diálogo foi fluente. Eu entendi-a perfeitamente e ela entendia-me a mim na perfeição. Ainda há poucas horas, no mesmo local, me via em palpos de aranha para compreender aquele australiano.

Eu disse á senhora que havia dois búlgaros que estavam na rua à espera do autocarro. Estava a acabar de dizer isto e já eles dois estavam lá dentro. A conversa acabou por ser a quatro. Eles também falavam Inglês.

Com a conversa ficou tardíssimo. Os três heróis da espera acabaram por ir todos para a rua esperar e conversar um pouco. Eu despedi-me e segui o meu caminho para casa onde ainda iria ver os resumos do dia do Mundial.

Situação do dia:
A minha senhoria ainda não tinha vindo de Seia. Estava sozinha. Estava tão distraída que enchi demais a bacia de lavar a loiça. Levava a bacia a abarrotar de água da loiça e isso deu mau resultado. Entornei parte da água por mim abaixo. Foi um banho inesperado

Bacorada do dia:
“E ainda por cima esta água não era lavada!” (não estava limpa).

Sempre a correr

Eu bem ouvi o relógio a despertar, mas a preguiça era muita. Apressei-me a desligá-lo e virei-me para o outro lado.

Acordei algumas horas depois e entrei em pânico ao ver que já estava atrasada. Tudo foi feito á pressa. Até fiquei sem tomar o pequeno-almoço- coisa que quase nunca acontece.

Saí de casa numa corrida desenfreada até ao Pavilhão. O dia estava cinzento e fresco. Tentava ir o mais depressa possível. Não iria chegar a tempo de apanhar o autocarro que levaria algumas delegações ao aeroporto.

As imediações do Pavilhão estavam desertas. Nem um carro passava na estrada naquela manhã de domingo. No interior parecia não estar ninguém. Da minha colega nem sinal. Se calhar já tinham ido embora. Cheguei atrasada mais de dez minutos.

Pareceu-me ouvir vozes. Eram os seguranças. Perguntei-lhes se tinham visto alguém e eles responderam negativamente. Foi nesse momento que chegou a minha colega. Suspirei de alívio! Afinal não estaria tão atrasada como julgava estar. No dia seguinte isso iria ser cómico. Na altura não sabia que tinha o relógio adiantado mais de vinte minutos. Não sei como fiz aquilo.

Preocupada com as horas a que as pessoas deviam chegar ao aeroporto, a minha colega ligou para o responsável dos transportes que se encarregou de verificar o que se estava a passar com o autocarro que não aparecia. Afinal as pessoas já tinham ido sem passar pelo Pavilhão para apanhar as voluntárias. Ficámos chateadas.

Na sala dos convidados ainda restavam alguns petiscos para comer. Como não tínhamos tomado o pequeno-almoço, aproveitámos aquelas coisas que se podiam estragar e devorámo-las antes de irmos para casa descansar um pouco mais.

Disseram que iria noutro autocarro que levaria os ingleses e os polacos ao Porto. Depois de mais umas horas de sono fui almoçar à cantina. Tinha de me despachar. O autocarro já estava pronto para partir.

Quando saí, ouvi o barulho de um motor. Olhei e vi que o autocarro já ia a arrancar. Foi aí que apliquei a minha corrida rápida e encetei uma perseguição desenfreada ao autocarro. Houve gente que assobiou. Isso fez-me pensar que certa pessoa ainda por ali andava, mas não havia tempo para olhar para trás.

Finalmente o autocarro parou e eu segui para o Porto. Pelo caninho ainda estivemos à espera de um senhor inglês que parece que adormeceu no quarto. Se a noite foi longa para toda a gente, para os ingleses foi muito mais.

Ouvi dizer que os ingleses eram barulhentos e irrequietos. Ali eles iam sossegados demais. Uma senhora já de idade falava connosco. O resto dormia. Estavam de tal maneira que a certa altura ouvimos um estrondo. Tinha sido um que caiu do banco do autocarro onde estava a dormir.

Chegámos ao Porto e foi altura das despedidas. Rapidamente seguimos de volta para Coimbra. Naquele dia já não havia nada para fazer. Ia para casa descansar e ver o jogo do Brasil com a Austrália. Mais uma vez, pensei que ia atrasadíssima.

É incrível como o Ronaldo se transformou num jogador completamente diferente. Apesar de ainda marcar alguns golos, tornou-se um jogador imóvel e pesado. Ele que era um jogador que punha a cabeça em água aos adversários. Lembro-me que quando ele jogava no Barcelona fazia jogadas inacreditáveis que acabavam em golo. Num jogo contra uma equipa que vestia camisola azul-celeste (Celta de Vigo ou Compostela) o “Fenómeno” como lhe chamavam fintou à vontade todos os jogadores dessa equipa. Foi uma delícia! Eu estava a ver esse jogo e nunca vi nada assim. Aqueles jogadores ficaram desorientados. Tão espantados como as pessoas que assistiram a essa verdadeira obra-prima do futebol. Hoje pedir a Ronaldo para voltar a fazer uma coisa dessas será pedir o impossível. Parece que esse Ronaldo acabou- para grande tristeza de quem o admirava como eu.

Situação do dia:
Quando os ingleses saíram fomos verificar se havia alguma coisa no autocarro. Achou-se uma caneta. Eu resolvi ficar com ela julgando ser uma recordação dos ingleses. Qual não foi o meu espanto quando li o que dizia a caneta e verifiquei que era de...uma agência funerária de Coimbra. Mesmo assim fiquei com ela.

Sunday, August 13, 2006

O rapaz da camisola vermelha e seus acompanhantes

Depois do Rapaz do Boné Verde vindo do Leste da Europa em 1999, também vindo de uma República da Antiga União Soviética chega o Rapaz da Camisola Vermelha. Bem, ele trazia uma camisola vermelha porque a trocou com os ingleses mas isso não interessa nada. É que o artista- independentemente da indumentária que trouxesse- era alguém que não passava despercebido.

Não sei quem venceu a final do concurso "Dança Comigo". Se aquele rapaz se atrevesse a dançar ali o pessoal ficava todo de boca aberta. Mas não era só ele. Os colegas também. Os Black Eyed Peace deviam ir à terra deles gravar um vídeoclip. Era sucesso garantido. Da maneira como eles dançavam aquelas músicas...Aquilo era tudo deles.

Mas voltemos um pouco atrás. Aquele grupo de estranhas pessoas começou a dar nas vistas assim que chegou a Coimbra. De uma forma ou de outra, ninguém ficava indiferente a alguns deles, senão à sua totalidade.

Eu achava interessante como no mesmo país havia pessoas bastante louras e com nomes muito semelhantes aos russos e havia outros elementos que nem sei como os caracterizar. Tinham mais a ver com asiáticos do que com europeus. Davam-se todos bem. Dançavam, brincavam, estavam juntos... Pareciam vindos de diferentes extremos do globo, mas eram do mesmo país. Isso dava-lhes um encanto especial.

Nada sei sobre o país deles. Não sei se é um território muito ou pouco extenso. Sei é que há pessoas ali completamente opostas. Não têm mesmo nada a ver!

O rapaz de quem estou a falar e pelo qual comecei este texto é um daqueles casos de uma daquelas pessoas que eu não sei como classificar. De estatura média, cabelos escuros como os dos chineses e pele do mesmo tom dos asiáticos. Dava para ver que era um pouco irrequieto e que essa maneira de ser talvez fizesse com que se reparasse nele. Diziam que ele era bonito! Para mim ele era alguém a quem eu não ficava indiferente. Aconteceu isso em diversas situações.

Um dia vinha a sair da cantina. Lá estava ele junto à paragem do autocarro com outros colegas. Olhei-o por breves momentos e segui com os níveis de distracção em alta.

No dia seguinte, entraram todos ao mesmo tempo na cantina. Ele lá ia também.

Terá sido nesse dia também a cerimónia de abertura e sucedeu aquilo que eu tive oportunidade de narrar. (ver texto "Ataque de choro") Não sei explicar o que se passou por mais que tente encontrar explicações.

Não sei se foi ele, se foi um colega- não me lembro bem- que tirou uns copos de água de uma máquina e desceu as bancadas a bebê-los. Eu não conseguia fazer tal número, mas ele era homem para isso. Mas continuo a dizer que não tenho a certeza se era ele.

Voltei a encontrá-lo na cantina numa altura de grande desordem. O artista estava-se a desenrascar.

No sábado até me estava a admirar de não o ter visto. Também pouco tempo estive nas bancadas. Fui para a zona dos jornalistas e ali ele não estava, de certeza.

Já no Estádio- onde estava a decorrer a festa de encerramento e de confraternização entre os participantes- disseram que os nossos amigos andaram a presentear quem apareceu junto ao Pavilhão com uma sessão de autógrafos. Parece que todos autografaram um boné e deram a alguém que passou por lá.

Ainda me disseram para eu ir ter com eles, mas sempre me faltou a coragem. O primeiro que eu encontrava era sempre ele e acabava ali a conversa. É que eles não sabiam falar inglês. Apesar de me encorajarem a ir, eu fiquei ali a olhar para eles mais uma vez.

Andavam todos a dançar junto àqueles palanques que nós carregámos. Eu ria com ar divertido sem nunca tirar os olhos deles.
Ainda tentei agarrá-lo e dançar com ele, mas fiquei onde estava porque sabia que não havia a mínima hipótese de comunicar. Nem com sinais de fumo lá íamos. É que aquele espaço já tinha fumo a mais e causava ruído.

Assim se passaram as horas bem divertidas. A certa altura houve um colega dele que quase largou as calças de fato de treino ali de tanto dançar. Elas foram escorregando. Comecei-me a lembrar de uma música já antiga do conjunto António Mafra que se passava durante uma festa. Não me recordo do título. Sei que havia uma parte em que eles também se referiam a alguém a quem caíram as calças e que andava aflito com as mãos nos bolsos ou na cinta.

O nosso artista- o que trazia a camisola vermelha- parecia nunca se cansar. Com as mãos sempre no ar e a mexer ali continuava divertido. Além de dançar bem, assobiava bem alto de modo a se fazer ouvir com a música alta como estava.

Houve uma altura em que eu os deixei de ver. Tinham ido embora e nunca mais o voltaria a ver. Quem sabe um dia o destino pregue uma daquelas partidas e aconteça uma surpresa. Só que eu não acredito muito. Nunca se sabe.

Foi uma noite inesquecível em que eu me diverti como há muito não me divertia. Aquele mês estava-me a correr bem. Tudo me fazia feliz. Parecia estar a viver um autêntico conto de fadas.

Era de madrugada quando cheguei a casa. Desta vez tinha chave para abrir a porta e estar sossegada no meu quarto. Aquele rapaz não me saía da cabeça. Através do ecrã da máquina fotográfica ia revivendo o que se tinha passado há alguns momentos atrás. Ainda fui ouvir um pouco de música. Como tinha de me levantar cedo e já era bastante tarde, o melhor mesmo era não me deitar.

Havia outra coisa que me fazia rir bastante: a maneira como eu desci do palco. Se é que se pode chamar “descida” àquela forma brusca de descer. É que não é todos os dias que se cai e se tem a sorte de uma multidão estar lá em baixo e impedir que a pessoa se estatele no chão. Cada vez que recordo esse episódio...

O sono invadiu-me. Programei o despertador, mas de nada me ia servir.

Sunday, August 06, 2006

E agora?!!!!!







O cansaço acumulado de uma semana agitada fez com que me levantasse tardíssimo. E eu que planeei ir para o Pavilhão mais cedo! Se eu soubesse o que se ia passar tinha saído de casa mais cedo. Já vão ver.

Dormia tão bem que nem dei conta da minha senhoria a sair de casa. Ou então ela não fez barulho nenhum. Ela tinha-se preparado para ir para um casamento para Seia e isso fez toda a diferença na história inacreditável que passo a narrar.

Nesse dia não me estava a apetecer tomar banho em água fria como da outra vez. (ver texto “Tudo pronto para apoiar Portugal”) Eu não sei ligar aquele esquentador. Há dias em que o ligo bem, mas há outros em que apanho uma valente dor de dedos e não o consigo ligar.

Ainda meio ensonada peguei na mochila das coisas de tomar banho e fui até à ACAPO em busca de um banho quente. Enfiei apenas uns calções e fui como estava. Com a azáfama de sair não levei chave e isso foi fatal.

Chegada à ACAPO, dei com o nariz na porta. A delegação não estava aberta. Pior foi que quando cheguei a casa dei também com o nariz na porta. A chave tinha ficado lá dentro no bolso das calças. E agora?

O Inferno pareceu ter subido à Terra naquele momento. Não sabia o que fazer. Da outra vez (ver texto “E eu não disse que ia chover”) a minha senhoria estava em casa. Toquei à campainha na esperança que ela lá estivesse também e me abrisse a porta.

Talvez ela tivesse ido ao Pingo Doce e não demorasse. Sentada nas escadas esperei que ela viesse mas o tempo ia passando. Não sabia que horas eram nem há quanto tempo ali estava. Não tinha relógio. Estava de chinelos e só trazia a mochila com uma muda de roupa interior. Não tinha ainda tomado o pequeno-almoço e nem tinha colocado as gotas nos olhos- o que já estava a fazer falta.

À medida que o tempo ia passando ia ficando cada vez mais desesperada. Comecei a perguntar aos outros habitantes do prédio se tinham visto a minha senhoria. Ninguém a tinha visto nem sabia o contacto dela. Fiquei desesperada e irrompi num pranto inconsolável. Estava ali sem nada.

O meu espírito estava cinzento como o tempo que se fazia sentir. Não chovia, nem estava frio. Aquelas escadas é que pareciam frias e duras. Eram uma espécie de trono de uma eterna espera. Subi-as e fui até quase ao cimo do prédio perguntar a uma senhora idosa que se dava bem com a minha senhoria se a tinha visto ou se tinha o contacto dela. Nem uma coisa, nem outra.

Desesperada voltei a descer e fiquei a pensar no que havia de fazer. Quanto tempo iria eu estar ali à espera? E o jogo de Portugal que já devia estar quase a começar. Como eu disse, não tinha ideia do tempo.

Fui até às traseiras do prédio. Há uns meses atrás andei lá à procura de umas calças de pijama que o vento tinha arrancado dos arames. (ver texto “E alguma coisa o vento levou”) A varanda era um óptimo local para entrar. Se eu subisse a mangueira...mas tinha medo. A operação era a arriscadíssima e bastante perigosa.

Fui até ao café pedir ajuda. Uma das pessoas que lá estava era o neto da senhora que mora no último andar do prédio. Portugal já estava a jogar e o café estava a abarrotar de gente. Nem imaginam o vexame! Só faço figuras tristes.

Foram duas pessoas ver o que se podia fazer. Pensou-se em chamar os Bombeiros, a Polícia...sei lá. Tudo isto porque uma criatura como eu que é o cúmulo da distracção deixou a chave dentro de casa. Já quando foi o Europeu de Atletismo em 1999 eu saí do quarto e deixei a chave lá dentro. A minha colega teve de ir pedir a uma empregada para abrir a porta do quarto.

No café tinham o contacto da minha senhoria que disse que estava em Seia num casamento. Bem podia esperar por ela até à noite! Sem roupa, sem comer, sem medicamentos, sem telemóvel, sem documentos...Ela disse que uma pessoa de família tinha uma chave, mas só vinha à noite. Não podia esperar porque me encontrava naqueles propósitos e tinha de ir para o Pavilhão.

As pessoas foram procurar uma escada para se poder entrar e foi isso que aconteceu. Quando me apanhei dentro de casa nem quis acreditar. Foi um alívio.

A primeira parte do jogo entre Portugal e o Irão estava a terminar. Aguardei pelo intervalo e fui tomar banho em água fria- para castigo. Estava tão nervosa que nem senti se a água estava fria ou quente. Coloquei as gotas e fui comer. A fome apertava.

Esta poderia ter sido a situação do dia, mas algo mais hilariante ainda se iria passar mais tarde.

Só assisti à segunda parte do jogo, vejam lá! Mesmo assim fui bem a tempo de assistir ao belíssimo golo apontado por Deco. Foi nessa altura que coloquei a minha bandeira na janela. (ver foto)

Assim que terminou o jogo fui virada ao Pavilhão. Desta vez levei a chave. À hora que eu iria chegar a casa bem podia dormir na rua!

A final de pares femininos já tinha decorrido. Ganharam as atletas russas. Havia que fazer o controlo anti doping a uma atleta do par chinês, mas não estava fácil. Eu e outras colegas estivemos a fazer companhia a essa atleta e a tirar umas fotos.

Mais para a noite eram os trios femininos e os pares masculinos a entrar em acção. Nos pares masculinos gostei particularmente dos ucranianos e de um dos pares ingleses. E foram mesmo os homens do Leste que venceram a medalha de ouro.

No final todos os participantes foram chamados ao palco. Atletas, treinadores, juízes, pessoal da organização e voluntários desfilaram num final de festa bastante bonito. (ver foto dos voluntários)

Toda a gente se deslocou para o Estádio que lá é que ia ser o local de todas as emoções e de todas as danças.

Situação do dia:
Toupeira dum raio! Depois de o dirigente da Federação Internacional de Ginástica ter dado os campeonatos por encerrados, houve um número que ainda faltou ser visto e avaliado. Era mesmo para final de festa. E perguntam vocês e bem: o que foi desta vez? Bem, íamos a descer do palco depois da cerimónia de encerramento e eu distraí-me a olhar para um polaco que caminhava ao meu lado. Estava um pouco escuro e os revestimentos do piso eram vermelhos. Ia tão distraída a olhar para quem ia que me enganei. Fui para meter um pé no que julgava ser um degrau e o resultado foi um valente trambolhão dali abaixo. Mas esperem...Lá em baixo estavam umas largas dezenas de pessoas que me agarraram por onde puderam e não me deixaram tocar no chão que era de alcatifa, saliente-se. Se queriam ver mil e uma mãos a agarrar-me...Ainda hoje me farto de rir.

Bacorada do dia:
“E ele nem ao menos te pediu desculpas!” (desculpas de quê, de eu me ter posto a olhar para ele como um boi olha para um palácio e ter ido por ali abaixo?)

Uma aventura no Estádio versão voluntários da Acrobática

Mais uma vez adormeci e não vi o resumo do jogo da Holanda- o que é um autêntico sacrilégio.

Regressei a Coimbra. Não estava calor nem frio. Havia, no entanto, um clima abafado que fazia adivinhar que vinha mais trovoada e mais aguaceiros. Nos últimos dias a trovoada foi a companheira inseparável e indesejável de quem espera que o bom tempo convide a passear e a ir até à praia.

Ia ficar em Coimbra no fim-de-semana. E que fim-de-semana! As peripécias e aventuras seriam mais que muitas. Esperava por mim um dia emocionante e inesquecível.

Na cantina lá tive um encontro de terceiro grau com aquelas pessoas que se sabem. (ver texto “Ataque de choro”) O rapaz que eu vi há dias na paragem de autocarro junto à escola e na cerimónia de abertura vestia uma camisola vermelha. A fila dos alunos misturou-se com a dos atletas e ele nem estava numa nem noutra. Mas seria possível que aquele rapaz e seus restantes colegas fossem sempre almoçar quando eu também ia almoçar? À sexta-feira até saímos meia hora mais cedo e tudo. A minha sina era encontrá-los. Isso levou-me a pensar que, se eu acertasse tanto no Euromilhões como os encontrava, estava milionária de maneira a não saber mais o que fazer ao dinheiro. Também exclamei que, se me dessem umas notas de cinco euros pelas vezes em que me cruzava com eles, estava rica também.

Passou-se um dia de aulas igual aos outros. A hora de ir para o Pavilhão chegou. Finalmente iria ver uma competição de Ginástica Acrobática a sério. Fui para casa e não vi os chineses que tanto me agradaram a competir.

As provas da noite eram de pares masculinos e pares femininos. Eram as qualificações para a final a realizar no dia seguinte. Foi possível observar a beleza deste desporto que me era completamente desconhecido. Nos treinos tinha observado que aqueles atletas eram capazes de fazer coisas extraordinárias. Nas provas faziam coisas ainda mais bonitas.

A noite já ia alta quando os voluntários que restavam ali foram chamados ao Estádio Cidade de Coimbra. A prova consistia em carregar dois pesadíssimos palanques que não cabiam nos elevadores. A festa de encerramento ia ser lá devido às condições climatéricas.

Estavam ali cerca de dez pessoas que se aventuraram a carregar aqueles blocos. Iria ser uma verdadeira aventura.

Estivemos às escuras durante bastante tempo. Ninguém nos vinha acender as luzes. Estava a ser divertido. A noite até estava agradável para se passear na rua. A escuridão fazia-nos rir e ali ficámos até que se lembrassem de nos acender as luzes.

Fez-se luz e um primeiro grupo agarrou-se com todas as forças a um dos palanques. Eu estava nesse grupo. Apesar de serem muitas pessoas a esforçarem-se ao máximo para o transportar, aquilo era pesadíssimo. Para agravar as coisas, tínhamos de subir escadas e as forças começavam a faltar. As veias dos nossos braços pareciam explodir do esforço que estávamos a fazer. Se alguém fraquejava, o bloco parecia mais pesado para o dobro. As escadas eram um suplício. A certa altura a alça da minha mochila ficou presa num dos lances de escadas e eu fiquei apavorada. Tudo não passou de um susto e lá fomos para cima com aquele peso morto que ameaçava cair em cima dos nossos pés ao mínimo descuido. Ofegantes e a transpirar por todos os poros da pele chegámos, finalmente, ao local onde iria ser a festa. Toda a gente suspirou de alívio e quis ir ver a figura que o outro grupo fazia com o outro palanque que era mais pesado. O grupo do primeiro palanque tinha ficado com os braços a tremer e nem se atrevia a pegar em um pedaço de madeira que fosse.

Depois da aventura dos palanques fui para casa cansadíssima, transpirada e com as mãos sujas de me agarrar ao corrimão de umas escadas que são pouco usadas. Já quando foi o Euro 2004 sujei as mãos naquela escada também.

O banho do dia seguinte ia ser algo dramático. Outra aventura. Ou melhor: a escalada à casa da porta fechada. Melhor ainda “O Resgate da Chave” e ainda “Uma Aventura no Prédio”.

Situação do dia:
Durante aquela situação em que esperávamos que as luzes se acendessem contámos com um companheiro muito especial- um cão preto que não nos largou. Esse cão parecia que já nos conhecia há longa data e vinha deitar-se ao pé de nós. Quando as luzes se acenderam o cão entrou connosco para dentro do Estádio. Nós ríamo-nos porque aquele animal parecia mais um ajudante. Na verdade, ele só atrapalhava porque se metia debaixo dos nossos pés e nós tínhamos medo de o pisar e de ele nos morder. Quando íamos com o palanque para cima, ouvíamos um colega nosso a chamar o cão. Pareceu-me a mim que ele lhe chamava Tadeu e achei piada. Depois perguntei-lhe que nome é que ele chamava ao cão. Ainda me ri mais quando ele disse que lhe chamava Tareco. Mas Tareco é nome de gato!

Bacorada do dia:
“O tom de voz deve ser calmo e agressivo...” (assim a pessoa nem sabe se o seu interlocutor está zangado ou contentíssimo pelo seu comportamento.)