Na verdade, foi um regresso ao passado.
Antes de descrever este sonho devo situá-lo no tempo e no
espaço.
Em tempos eu adorava brincar com pedras nos montes de areia
do rio. Depois atirava-as para a estrada ou para o pequeno riacho que há perto
de casa dos meus pais.
O meu vizinho habitualmente tinha ali um enorme monte de
areia com pedras de todas as cores e
tamanhos. Eu passava horas esquecidas por ali. Por vezes anoitecia e eu
nem dava conta. Imaginava padrões de roupa nas pedras e era só dar-lhes um
rosto.
Depois atirava-as ao riacho, á estrada e acima do telhado,
dependendo do monte de areia onde estava. Muitas vezes levava para lá carrinhos
de ferro daqueles que abriam as portas para levar as pedras mais pequenas a
viajar. Haja criatividade e imaginação!
Explicação dada para contextualizar este sonho, encontrava-me junto ao riacho. Tinham-me dito que estavam
lá duas pessoas e iam discutir umas com as outras. Já demasiado adulta para
brincar com pedrinhas, resolvi voltá-las a atirar á água para assustar quem lá
estivesse.
Meti pés ao caminho. Na verdade não é muito longe. Trazia
este casaco que hoje também trago vestido. Um casaco preto com um capuz que
enterrei até quase á boca e que me deu um aspeto sinistro.
Fui apanhando as pedras do monte da areia e afinei os
ouvidos para confirmar se ali estava alguém.
Ouvi vozes, primeiro a sussurrar, depois mais exaltadas. De
onde eu estava, quem quer que ali estivesse, não me conseguiria ver. A menos
que eu levantasse a cabeça. O objetivo era pregar um susto de morte àquela gente.
Quando os ouvia a falar mais alto, lá ia uma pedra. Por vezes eles não ouviram mas outras vezes paravam por terem sentido
qualquer coisa.
Quando as vozes ficavam mais exaltadas, eu pegava em
pedras maiores que faziam mais barulho
ao cair. O objetivo não era acertar-lhes.
Houve uma ocasião em que eles quase chegavam a vias de facto. Da minha
parte veio uma intervenção mais
enérgica. Para além de os bombardear com
uma enxurrada de pedras, também levantei a cabeça, expondo o capuz preto.
As pessoas que ali estavam pararam de discutir e fugiram com
medo.