Monday, April 25, 2011

“Trevas Sobre China Lake” (impressões pessoais)



Este é o livro que até agora lidera os livros que já li em 2011 e conseguiu destronar “A Festa Das Bruxas” da enorme Agatha Christie.

Adorei este livro! É o máximo que posso dizer. A história é intensa e imprevisível. Teve tudo o que eu gosto num bom livro. Meg Gardiner está de parabéns com este thriller em que a personagem principal tinha algo de autobiográfico da própria autora. Tal como a autora, a personagem era advogada e vivia em Santa Barbara.

Foi nessa localidade que nasceu uma seita religiosa como muitas que nascem, na realidade, nos Estados Unidos. A seita “Os Eleitos” ameaçava a população com a chegada próxima do Apocalipse e com a necessidade de combater o mal para se salvarem no dia do Juízo Final.

A seita retratada no livro manifestava-se em funerais de vítimas de SIDA e em cerimónias fúnebres de homossexuais empunhando cartazes ofensivos e entoando palavras de ordem. Lembro-me que, na realidade, nos Estados Unidos, há uns tempos atrás, existiu uma seita religiosa assim que até chegou a ser processada pelos familiares de uma estudante por se terem manifestado no funeral dela. Se não estou enganada, era a mesma seita cujo seu líder ameaçou queimar exemplares do Alcorão aquando da passagem de mais um aniversário do 11 de Setembro. Lembro-me desses factos agora, que leio isto e encontro semelhanças.

A protagonista da história encontrava-se no funeral da mãe de uma amiga que morreu com SIDA por práticas de vodu. Evan não gostou de ver a mãe da sua amiga e os restantes familiares enxovalhados pela seita e confrontou o líder.

Quando regressou ao carro, a protagonista tinha um panfleto da seita e constatou que a autora do mesmo era a sua ex-cunhada que se tinha convertido. Como o seu irmão era piloto, era ela quem tomava conta do sobrinho de seis anos porque a mãe (a autora do panfleto) os tinha abandonado.

Intrigada, resolveu ir ao local de culto da seita para abordar a cunhada. Deparou-se com uma cena no mínimo rocambolesca em que um homem foi morto por...um camião carregado de abóboras para o Halloween. Tudo o que dizia respeito ao Halloween era repugnante para “Os Eleitos” que, em vez de socorrerem a vítima, desataram a destruir as abóboras que eram símbolo de Satanás. A cena arrancou-me alguns sorrisos.

Alarmada com o fanatismo da seita a que a cunhada se converteu, Evan resolve ir à base de China Lake colocar o irmão a par de tudo o que está a acontecer. Pelo caminho, Evan depara-se com um homem que estará sempre presente, de forma inexplicável, onde quer que ela se encontre.

Em China Lake, “Os Eleitos” liderados pela esposa de Peter, tentaram raptar o sobrinho da protagonista que viria a ser detida juntamente com o seu irmão e pai da criança em causa. Uma monumental campanha de vingança e de despeito estava por detrás do comportamento da seita. A esposa de Peter nutria uma paixão doentia por Brian, o irmão de Evan, que nunca lhe ligou nenhuma. Usando a seita e arrastando a mãe da criança para lá, ela que era fortemente influenciável e algo inocente, o objectivo era ficar com o filho do homem que amava de forma mórbida.

Para além de ameaçarem com o Apocalipse, a seita fazia por provocar os sinais da sua chegada para assim assustarem os habitantes e fazê-los aderir ao grupo. A proliferação da raiva era um desses métodos. Eles possuíam um autêntico laboratório de criação de animais raivosos, na sua maioria, cães cruzados com coiotes. O homem que foi atropelado pelo camião das abóboras era cirurgião plástico e padecia de raiva. O médico era homossexual assumido e o seu companheiro, que também era médico, tinha sido assassinado por membros da seita para roubar botox com o objectivo de fazer armas biológicas.

Peter foi assassinado e o seu corpo queimado em casa de Brian que viria a ser preso como principal suspeito da morte do pastor.

O fanatismo da seita era incrível. Com o pretexto de estarem a ser vigiados pelos satélites norte-americanos que estão ao serviço da besta, os membros da seita comunicavam entre eles presencialmente. O uso de telemóveis, da Internet ou de cartões magnéticos estava proibido. Nos dias de hoje é quase impossível viver sem telemóveis ou sem Internet.

A certa altura, questionava se Brian também não pertenceria a uma seita com ideias contrárias às da professada pela sua ex-mulher. Isto porque “Os Eleitos” viam-no como um servo de Satanás mas isso talvez se devesse simplesmente ao facto de pertencer à Força Aérea norte-americana. Eu é que pensava que havia um segundo grupo contrário ao de Peter que estivesse também a agir de forma maldosa e que terá sido responsável pela morte deste.

Voltando ao fanatismo da seita, de destacar este episódio curioso do uso daquela espécie de pistolas de controlo de Stock nos supermercados para detectar o número da besta que é o 666 em quem pretende entrar nos seus locais de culto. Como trabalho no ramo e vejo coisas dessas todos os dias, não pude deixar de esboçar um sorriso de cada vez que via uma. Lembrava-me desse episódio.

“Os Eleitos” continuavam a fazer as suas maldades que por vezes roçavam o cómico, à protagonista e chantageavam o seu irmão que estava preso porque queriam um míssil para destruir Santa Barbara e assim representar o Apocalipse. A acção estava agendada para o Halloween. “Os Eleitos” queriam castigar as pessoas por assinalarem a data de Satanás.

Descobriu-se que Peter também estava infectado com raiva. Quem o matou foi o homem que sempre aparecia ao lado de Evan para a ajudar e que agia como agente duplo. Não pertencia à seita mas colaborava com eles no roubo de armas às forças de segurança norte-americanas. Desapareciam armas que eram fornecidas à seita e era ele que as roubava. Cheguei a desconfiar do amigo de Brian e também o culpei de ter morto Peter.

Depois de muita acção e muitas reviravoltas, deparamo-nos com a cena quase final de Brian entregar um míssil desactivado aos membros da seita em troca do filho que entretanto tinha sido raptado juntamente com a mãe que entretanto tinha abandonado “Os Eleitos”. O míssil havia sido roubado de um museu. Avisados e salvos pelo homem que “ajudava” Evan, os membros da seita conseguiram escapar. À protagonista cabia agora encontrar o seu namorado que também foi raptado e colocado numa espécie de laboratório nuclear de onde desapareceu, o sobrinho e a mãe deste.

Através das mensagens encriptadas nos desenhos que a cunhada foi deixando, a protagonista e o irmão chegaram a uma outra casa que desconheciam que também era usada pela seita. Ali guardavam um autêntico arsenal de armas. Era ali que estava Jesse, o namorado de Evan. Junto a ele estava uma bomba pronta a explodir.

Seguiu-se o ajuste de contas final entre a família da protagonista e os membros da seita liderados pela esposa de Peter. Era notória a desorganização do grupo nos momentos finais. O episódio da discussão em torno de um ponto ou uma vírgula mal colocada na Bíblia é bem elucidativo da forma como nascem diferentes religiões ou seitas e, dentro da mesma seita, nascem células diferentes. Isto vem reforçar a minha crença de que a religião é o Homem que a faz consoante a interpretação da Bíblia. Neste caso tínhamos dois elementos da mesma seita, estando um deles a usar o grupo para fins de vingança pessoal, e ambos acabam de costas voltadas por não concordarem com o que dizem as Sagradas Escrituras.

A líder da seita continua a não desistir de resgatar a criança que foge com a mãe. O tiroteio acaba por apressar a explosão da bomba e tornar o cenário apocalíptico mesmo. Brian é alvejado a tiro e Jesse saca de uma arma para atingir mortalmente o membro da seita que discutia com a sua líder.

Entretanto Jesse que é deficiente motor oferece-se para levar Brian ao hospital num jipe que não é adaptado e ordena a Evan para recuperar o sobrinho que entretanto continua com a mãe que tenta fugir à louca que os persegue e ao fogo que está cada vez mais perto.

Enquanto salva o filho, a esposa de Brian é apanhada pelo fogo. O mesmo acontece com a líder da seita que a perseguia mas o corpo da mulher má nunca foi encontrado. Foi uma pena a esposa de Brian ter acabado assim mas se calhar a sua morte é vista como uma remissão dos erros que cometeu e que levaram à insegurança do próprio filho.

Os protagonistas acabam felizes com o desaparecimento de parte dos membros da seita.

A abordagem que vou fazer ao livro seguinte vai ser um pouco diferente. Aguardem para ver. Uma coisa posso garantir, a temática continua a incidir sobre as crenças.

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