O uivo

Este é um dos pesadelos mais recorrentes que tenho e tem origem no que aconteceu há vinte e dois anos atrás na véspera da morte da minha avó. Nessa noite de 14 para 15 de Fevereiro, Dick uivou junto à janela do nosso quarto. A minha irmã ficou assustada porque na altura nem lhe pareceu ser o cão a emitir tal som. Essa tenebrosa recordação nunca mais me largou e hoje fico apavorada sempre que um cão uiva.

Há cães que já uivam porque é normal. Há uma cadela que está presa num barracão em frente de minha casa que emite uivos medonhos. Ela está ali sozinha e os donos trazem-lhe comida. Já nem ligamos quando constatamos que é ela que uiva. Já quando o meu próprio cão uiva, já ando preocupada com o facto de estar para acontecer alguma tragédia.

Impressiona o facto de as imagens e os sentimentos serem tão reais que, se não acordasse, ia jurar que isto aconteceu mesmo. Nada foi alterado oniricamente. Nada das habituais artificialidades típicas dos sonhos. Poderia ter acontecido tal e qual como sonhei.

Estava na cozinha com a minha mãe. Conversávamos normalmente quando um uivo estridente e prolongado do nosso cão Chalana nos interrompeu. Senti de imediato um aperto no coração, uma sensação de tristeza e medo.

Apesar de se ter calado, a minha mãe relativizou a situação dizendo que já era normal o cão uivar assim.

Não me convenci. Aquele uivo estava carregado de mau agoiro e de tristeza.