Sunday, April 17, 2011

“A Festa Das Bruxas” (impressões pessoais)



Mais uma empolgante obra de Agatha Christie que me prendeu do início ao fim da história. Apesar de a trama ser complexa, desde início que acertei no desenlace.

Tudo começou numa inofensiva festa da noite das bruxas para a qual Judith convidou a sua amiga Ariadne Oliver. No meu entender, Ariadne Oliver foi uma personagem criada por Agatha Christie para ela própria entrar na história de forma original. São muitas as semelhanças entre Ariadne e a própria criadora. Ambas são escritoras de romances policiais de sucesso e ambas criaram um singular detective. O detective finlandês alegadamente criado por Ariadne tem paralelo com Poirot que é belga e é o mais marcante personagem criado por Agatha Christie.

Na festa a que Ariadne assistiu, uma miúda conhecida como sendo uma mentirosa e exibicionista de nome Joyce apregoou para quem a quisesse ouvir, ainda durante os preparativos, que assistira pessoalmente a um assassinato. Ela profere estas declarações para impressionar Ariadne.

No decorrer da festa há um jogo em que se tem de tirar maçãs com a boca de um balde cheio de água, bem como outras interessantes actividades. No final da festa nota-se a ausência de Joyce. Uma busca mais minuciosa pela adolescente de treze anos leva à descoberta macabra do seu corpo com a cabeça afogada num enorme balde com água e maçãs.

Inicialmente pensou tratar-se de uma brincadeira com consequências graves ou de um crime de natureza passional mas Ariadne, com o seu instinto de detective, imediatamente associou a morte de Joyce ao comentário que lançou para o ar. Foi por isso que recorreu a Poirot que logo se colocou no terreno para averiguar o que tinha acontecido.

Poirot por sua vez contacta um seu amigo que é polícia para averiguar eventuais mortes duvidosas ocorridas nos últimos anos. Depois desta informação, havia que indagar se acaso Joyce teria assistido a algum desses presumíveis crimes.

A lista de mortes era pouco extensa mas a Poirot chamou a atenção, por acaso, uma ocorrência que se veio a verificar não ser crime mas que viria a despoletar dois outros crimes. A senhora que falecera de causas naturais fez inicialmente um testamento a favorecer a sua sobrinha Rowena Drake (a anfitriã da festa onde decorreu a morte de Joyce). Depois o testamento foi alterado e a senhora deixou parte da sua fortuna à sua empregada Olga que foi acusada por Rowena Drake e seus familiares de ter falsificado o testamento. Passados dias Olga desapareceu. Toda a gente depreendeu que regressara à Checoslováquia (seu país natal).

Poirot também se deparou com a morte violenta de um jovem advogado que ficou conhecido pela sua arte de falsificar. A versão oficial da morte deste jovem apontava para uma rixa com origem na sua vida amorosa que acabou mal.

Depois ainda havia a morte de uma professora mas essa foi só para despistar. Fiquei com a convicção de que as mesmas pessoas seriam as autoras de algumas destas tragédias. Não me enganei.

Entretanto o irmão de Joyce também é morto. Poirot continua a trabalhar para desvendar o mistério que se afigura complicado.

A casa da parente de Rowena Drake ficava junto a uma antiga pedreira que foi brilhantemente convertida num misterioso jardim por um ambicioso e estranho arquitecto chamado Michael Garfield.

Sempre desconfiei de Rowena Drake desde praticamente o primeiro capítulo. Não me escapou o facto de ela sugerir um balde de zinco para o jogo das maçãs em vez de um de plástico. O facto de ser a beneficiária inicial do testamento da sua tia também reforçava essa ideia.

A partir do capítulo vinte também passei a desconfiar de Michael quando ele se negou a mostrar a Miranda (filha de Judith- a amiga de Ariadne) onde era o poço dos desejos. Além disso, ele foi bastante ríspido com Poirot e escorraçou-o do seu jardim. Poirot depreendeu que ali se escondia alguma coisa e que o arquitecto se preparava para ir embora.

Poirot compreendeu que a pequena Miranda e sua mãe corriam perigo e pediu a Ariadne que as acolhesse em sua casa. Entretanto foi dada ordem para que se fizessem buscas na pedreira para procurar presumivelmente o corpo de Olga.

O corpo foi encontrado dentro do poço que Michael se recusava a mostrar a Miranda. O cadáver denotava vestígios de recurso a arma branca. Tudo estava claro. Olga fora morta por quem falsificou o testamento.

Foi à morte de Olga que Miranda assistiu alguns anos antes. Rowena e Michael carregavam a checa já morta para a introduzir no poço. Como amiga íntima de Joyce, Miranda contou – lhe que vira o crime. Na festa Joyce tomou a história como sua para se exibir perante Ariadne. Rowena, que no dia do crime ficara com a ideia que alguém a observava, ficou preocupada e resolveu silenciar Joyce. O irmão de Joyce também exigia dinheiro aos criminosos para não contar que também ele sabia da história. Não admirava que ele tivesse sempre dinheiro.

Quando Ariadne e Poirot fugiam a toda a pressa com Judith e Miranda rumo à casa da escritora, a jovem implorou que parassem para comer alguma coisa. Como tinha grande cumplicidade com Michael, ela logo combinou encontrar-se com ele para a resgatar para juntos realizarem um ritual de sacrifício que culminaria com a morte de Miranda. Ela sentia-se culpada pelo que aconteceu à amiga.

Dois dos primeiros suspeitos do crime acabaram por encontrá-los no cume da montanha. Michael preparava-se para envenenar Miranda e esta aceitava pacificamente por se sentir culpada pela morte de Joyce. Sem saída, Michael acabou por beber o veneno.

A obsessão de Michael por fazer obras estrondosas nos pedregulhos das ilhas gregas e a sede de dinheiro de Rowena fizeram deles uma dupla mortífera que cometeu todos aqueles crimes. A sua tia morreu, de facto, de morte natural mas eles eliminaram Olga e o advogado para apagarem os indícios da sua estratégia. Joyce e o irmão foram mortos porque eram presumíveis testemunhas dos seus actos criminosos.

No final surge a revelação de que Miranda era filha de Michael. Sem saberem dos laços de sangue que os uniam, ambos demonstravam uma cumplicidade incrível. Judith escondeu da filha e de Michael esse facto.

Finda esta interessante obra, mergulho na sociedade cabo-verdiana dos anos setenta.

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