Sunday, April 17, 2011

Sol e neve



O dia estava esplêndido. O Sol brilhava com grande intensidade e a temperatura estava agradável quando saímos de Coimbra rumo ao ponto mais alto de Portugal.

Havia que apanhar um autocarro a tempo de estar nas instalações da ACAPO às oito horas. Na paragem encontrei um amigo meu que vinha acompanhado por uma amiga sua e fomos dos primeiros a chegar ao local do embarque.

Os autocarros dos SMTUC foram parando e largando outros passageiros que também iriam na excursão. Já estava quase toda a gente quando o autocarro que nos levaria rumo ao Interior chegou.

A viagem foi animada. Foram divulgados os grupos que foram criados para melhor organização das pessoas. Por acaso eu não estava inserida em nenhum grupo e podia andar com quem me apetecesse.

A informação que chegou fez-nos pular de contentamento. Segundo as previsões, havia neve na Serra. A diversão estava garantida. À medida que subíamos, foi lida informação sobre o local que iríamos visitar.

Ia olhando para a paisagem através da janela do autocarro ansiando por ver os primeiros indícios de neve. Já se sentia o arrefecimento gradual da temperatura.

Uma alegria imensa e uma enorme paz de espírito invadiram-me quando os primeiros indícios de neve começaram a pintar a paisagem de branco. Que emoção! Já não via neve ao vivo há bastantes anos.

Continuámos a subir e o branco foi dominando a paisagem. Ia registando aquelas emoções da paisagem através das fotografias que tirei com o meu telemóvel. Não há palavras para descrever o que sentia a olhar para um Céu luminoso e para a neve que cobria a paisagem. Simplesmente brutal!

Chegou a hora de sairmos. Havia que procurar casas de banho para aliviar as bexigas. O incómodo era ter de esperar longo tempo na fila. E eu que estava ansiosa por ir para a neve. Já tinha apanhado um punhado dela e constatei que ela era fofa e maleável. Acho que foi a primeira vez que agarrei neve verdadeiramente.

É inadmissível um local visitado por tantos turistas só ter uma casa de banho para senhoras e outra para homens. Havia que esperar.

Alguém de dentro da casa de banho aparentava padecer de diarreia. O nosso grupo logo esboçou um coro de gargalhadas que saiu de forma instintiva. Há comportamentos por parte dos seres humanos que saem assim sem pensar. Sabemos que não são correctos mas, quando damos conta, já nos rimos e já gozamos com a infelicidade dos outros. É que enquanto nos ríamos das tropelias da desconhecida na casa de banho, íamos debatendo o quão embaraçoso é estar numa casa de banho pública a padecer de desarranjo intestinal. Rindo imenso, a minha habitual companheira desta jornada e de algumas colónias de férias (uma expert em assuntos íntimos das entranhas) ia começando a contar uma das mil e uma histórias das inúmeras vezes em que lhe deu a “caganeira”. Calámo-nos. A responsável por esta autêntica conversa de merda acabava de sair de fininho da casa de banho. Era uma senhora de cabelos brancos e que envergava um casaco castanho. Não a conhecíamos.

E chegou finalmente a altura de virmos para fora para desfrutar da neve que nos tinha trazido até ali. Ao longo de alguns minutos brincámos, tirámos fotos, fizemos vídeos e, claro, eu fazia questão de ser fotografada sempre com as mãos a abarrotar de neve branca, fofa e fria que ia moldando. Era até eu não poder mais de frio nas mãos.

Chegou a hora de abandonarmos a Serra da Estela com o Sol a reflectir na neve. Outras paragens esperavam por nós.

O próximo destino foi o Sabugueiro onde fizemos compras e onde almoçámos. Havia imensas lojas onde podíamos adquirir recordações. Havia que escolher. Lá procurámos uma loja onde comprámos o que queríamos. Eu comprei um salpicão, um queijo da Serra, uma garrafa de licor serrano para o meu pai e um cão de peluche para mim. Foi o primeiro a que deitei a mão. Um dia não são dias.

À hora do almoço toda a gente sofreu do mesmo mal- o calor. Toda a gente veio tremendamente agasalhada para a neve mas estava um calor quase tórrido. Ou então era de termos muita roupa vestida. Em instantes passei do gorro, do casaco e das duas camisolas de lã para a manga curta. Parecia Verão.

Em Seia esperava-nos uma tarde bem divertida. Era um dos pontos altos da nossa viagem- a visita ao Museu do Pão. Depois do almoço, o comboio turístico da cidade levou-nos até ao museu. Acho que nunca lá tinha ido.

Toda a gente ansiava por café. Foi ali que tomei o primeiro e único café do dia. A seguir houve que esperar numa fila para uma outra casa de banho. Mais um local visitado por tanta gente apenas com uma casa de banho. Desta vez fomos nós a rirmos da nossa colega. Não foi por lhe ter dado uma dor de barriga, foi porque lhe caiu uma quantidade imensa de moedas dos bolsos das calças. A sinfonia das moedas a bater no chão da casa de banho meteu piada. E ela apanhou-as todas.

Tivemos de esperar longamente que um grupo enorme de pessoas terminasse também a sua visita. Foi a maior seca que apanhámos. Os de Aveiro já se preocupavam com os transportes e o resto do grupo desesperava.

Finalmente começámos o nosso percurso no museu. Havia lá uma exposição curiosa em que estavam representados os presidentes da República em massa pão. Mais uma iniciativa inserida nas comemorações dos cem anos da República.

Como trabalho com pão todos os dias, abordei esta visita como sendo uma espécie de visita de estudo. Toda a história do pão estava ali representada. Achei particularmente interessante o facto de algumas das representações serem feitas com figuras em tamanho real. Eu até coloquei dúvidas, num primeiro olhar, se aquele padeiro que se movimentava com a pá na direcção do forno era real. Depois de uma maior atenção é que reparei que não era mas enganou-me bem.

A visita foi bastante interessante e divertida. Todo o nosso grupo estava feliz por tudo ter corrido bem. Assim foi demonstrado na viagem de regresso no comboio em que já se cantava e tudo.

O dia chegou ao fim. Pela janela do autocarro assistia ao cair da noite e reflectia no quão divertida e revitalizante para o espírito foi a viagem.

Consta que nessa noite dormi como há muito não dormia. A neve trouxe-me uma paz de espírito incrível.

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