Friday, March 12, 2021

Memória com Carlos Costa (Trio Odemira)

 

Fiquei a saber hoje que morreu Carlos Costa, um dos irmãos fundadores do Trio Odemira. Tinha oitenta anos de idade.

 

Foi com alguma emoção que me lembrei de um momento há muitos anos atrás. Eu devia ter uns sete ou oito anos. Sim, eu tenho uma memória com este cantor que agora deixa o mundo dos vivos.

 

A minha mãe costumava-nos levar á festa de Nossa Senhora das Neves em Vila Nova de Monsarros. Nós íamos a pé até lá. É perto, mas não há luz elétrica durante todo o caminho. Normalmente até encontrávamos mais gente.

 

A festa era muito concorrida porque iam lá artistas consagrados que estávamos habituadas a ouvir apenas na rádio ou a ver na televisão. Nada comparado aos arraiais com grupos de baile na nossa aldeia. A pirotecnia também era para mim uma festa. Adorava aquele espetáculo, aquela explosão de cores. Era emocionante.

 

A minha mãe dizia sempre a quem estava a cobrar bilhetes que só ia ver como é que a capela estava enfeitada. Depois voltaria para trás e não ficaria no recinto da festa. Tal nunca acontecia. Era tanta gente. Alguma vez iam controlar quem entrava ou saía?

 

Houve um ano em que o Trio Odemira atuou nessa festa. Eu fui caminhando sempre para a frente do palco. Houve uma certa altura em que o Trio Odemira começou a escolher pessoas para levar para cima do palco para cantar com eles. Não me lembro qual era a música. Só sei que foi esse elemento, Carlos, que me pegou na mão e me levou para cima do palco.

 

Se fiquei contente ou me senti especial, não sei dizer na altura. Anos mais tarde, quando via o Trio Odemira na televisão ou via uma foto como capa de um CD ou cassete, apontava com orgulho dizendo: este senhor já pegou em mim pela mão e levou para cima do palco.

 

As pessoas abandonam a vida terrena, mas as memórias continuam vivas, por mais precoces que sejam. Nunca me esqueci deste momento, mas agora conto esta história em homenagem a Carlos Costa.

 

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