Monday, March 08, 2021

“Diário Do Ano Da peste” (impressões pessoais)

 

Para comemorar, se é que se pode dizer assim, um ano da chegada da covid19 a Portugal, a biblioteca de Coimbra sugeriu para leitura este livro de Daniel De Foe.

 

Esta obra é um relato impressionante da vida londrina em tempo de pandemia. Nessa altura, Londres viu-se assolada pela peste bubónica que dizem que regressou também em 2020 algures lá para o Oriente.

 

Em tempos de peste, pode-se ver o estado mais selvagem e animal do Ser Humano. Ao longo destas páginas, podemos sentir o dramatismo da situação que de nada difere dos tempos que estamos a viver.

 

Apenas a crença no sobrenatural e na religião era mais vincada nessa altura. As pessoas aceitavam a situação com mais fatalismo. Hoje a Ciência está muito mais avançada. Apesar disso, continuamos a não saber como responder a uma situação grave de saúde pública.

 

As doenças que afetam populações em massa trazem consigo desigualdades sociais, fome e outras doenças talvez mais graves e com efeitos a longo prazo. Estamos a ver isso hoje com os confinamentos, a perda de muitos postos de trabalho que levam a um menor poder de compra das famílias. Muitas chegam a passar necessidades básicas.

 

Nas crianças, os efeitos do confinamento e da subsequente falta de convívio social podem ser dramáticos. Os especialistas já alertaram para estes efeitos que podem até ser mais graves do que a própria pandemia.

 

Sem dúvida, a saúde mental é a mais afetada. Aqui também havia respostas diferentes de pessoa para pessoa. Se a maioria apresentava sintomas visíveis de doença, outras pessoas padeciam de uma morte silenciosa com o envenenamento do sangue. Enquanto isso, faziam a sua vida normal e contagiavam os outros. Com a covid19 acontece a mesma coisa, a diferença é que quem não tem sintomas não morre. Tendencialmente, a covid19 não tem uma taxa de mortalidade tão elevada como a peste bubónica. Mesmo assim, tenho dúvidas de que esta peste seja tão mortal como era no tempo em que este livro foi escrito. Mesmo dentro deste livro, notou-se um maior número de sobreviventes á medida que a pandemia evoluía e os médicos encontravam antídoto para a combater.

 

Este livro também deu para arrancar algumas gargalhadas, apesar da seriedade do tema. Recordo o episódio do autor do diárioa confrontar inúmeras mulheres a sair do armazém do irmão que tinha partido para o campo a apoderarem-se de chapéus. De morrer a rir.

 

Melhor ainda foi a história do mendigo da gaita de foles que adormeceu na rua e foi levado pela carreta de transportar os mortos. Então corria o boato de ele se levantar de entre a pilha das vítimas da peste e pregar um susto de morte nos coveiros que atiravam as vítimas para a vala comum. Ainda apimentaram a história acrescentando que ele saiu do meio dos corpos e começou a tocar a gaita. Já estou a imaginar a cara dos coveiros…

 

Em suma, o Ser Humano, por mais que evolua, terá sempre comportamentos primitivos perante a adversidade. Felizmente uma pandemia demora séculos a repetir-se e quem viveu uma dificilmente é vivo quando outra deflagrar.

 

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