Wednesday, May 12, 2021

Não somos de cá

 

Esta é a saga de quatro amigos na estação de Santa Apolónia, em estações de metro e qualquer coisa que tenha linhas dum lado e doutro.

 

É uma história para contar numa sombria tarde de inverno com uma lareira aconchegante como companhia. Daqui a uns anos, o avô rui contará aos netos ávidos de histórias as peripécias passadas em Lisboa no longínquo oito de maio de dois mil e vinte e um.

 

No tempo dos comboios, começava ele por narrar…

 

Os comboios andavam em linhas, o metro também era uma espécie de um comboio, só que andava em linhas debaixo do chão. Em Lisboa havia a estação de Santa Apolónia com muitas portas, muitas entradas e muitas saídas. Saímos de Coimbra para Lisboa com o objetivo de ir treinar Futebol para cegos na parede. O nosso treinador ia connosco. Tinha a árdua e exigente tarefa de guiar quatro cegos pela movimentada estação. Nenhum de nós conhecia o funcionamento do metro.

 

Como a estação tinha tantas portas para sair para a rua, não sabíamos qual delas dava para o metro. A Nicinha dizia que tinha de ser uma que tinha escadas rolantes á direita mas acabámos por subir e descer as mesmas escadas que nada tinham de rolantes e a Nicinha não sabia onde elas iam dar porque, apesar de conhecer razoavelmente Santa Apolónia, jamais se embrenhou nessas escadas.

 

Quando finalmente demos com a entrada para o metro, sempre o esperámos na linha oposta. E dizia a Nicinha: mais valia apanharmos o autocarro para o Cais do Sodré.

 

Ao fim de mais de uma hora e outras tantas ligações para amigos que nos esperavam, lá conseguimos chegar ao Cais do Sodré para nos juntarmos ao resto do pessoal e seguirmos para o treino na parede.

 

Fora uma tarde memorável com a presença da glória Humberto Coelho que nos deu carinho e alento nesta nossa aventura de jogar Futebol sem ver. Sem dúvida uma tarde inesquecível.

 

No regresso, começámos por perder a ligação ferroviária da parede para o Cais do Sodré. Tudo isto levou a uma louca correria por estações de metro. Subimos escadas, descemos escadas. Sempre estávamos na linha oposta ao metro que tínhamos de apanhar. Não somos de cá, em Coimbra não há metro…

 

Com tudo isto, acabámos por perder o comboio. Tivemos de esperar até às dez da noite. Conversando enquanto a noite caía, dividindo a comida, trocando impressões sobre o dia maravilhoso que tivemos…depressa passou o tempo e já estávamos de regresso.

 

Era mais de meia noite quando regressámos a casa.

 

Exaustos mas de coração cheio.

 

 

 

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