Parece um contrassenso- leio um livro sobre a forma de olhar o Mundo que nos rodeia. Eu, que sou cega?
Bem, este livro baseia-se sobretudo na visão mas eu consegui adaptar os ensinamentos aos outros sentidos, sabendo de antemão que não posso ver.
Ao ler esta obra, lembrei-me de um trabalho que fiz no meu curso também sobre esta temática ou algo aproximado. Li também uma obra mas não foi certamente esta. Lembro-me também de exemplificar o que fui escrevendo com imagens que podiam ser interpretadas de diferentes formas. O que este livro aborda não é, portanto, novidade para mim. Foi apenas uma espécie de reciclagem.
A autora desta obra alerta-nos para diferentes tipos de cegueira e vieses. Nós não olhamos o que nos rodeia de uma forma neutra. Há sempre fatores que condicionam o que vemos.
A autora apresenta muitas imagens no livro. Para quem não vê, elas são descritas de uma forma que conseguimos imaginar. Quem perdeu a visão há pouco tempo como eu, consegue imaginar muito bem o que está a ser descrito.
As mesmas imagens apresentadas a diferentes pessoas dão origem a outras tantas interpretações ou descrições. Quando se busca algo como por exemplo a solução de um crime ou um diagnóstico médico, deve-se apresentar os mesmos dados a diferentes pessoas. Há sempre alguém que vê o que não conseguimos ver.
A autora também nos alerta para aquela situação em que andamos á procura de alguma coisa muito específica e acabamos por negligenciar algo ainda mais importante. Isso acontece amiúde em exames médicos ou puzzles de um crime.
Temos de ser sucintos e claros nas nossas descrições e não subjetivos. Os adjetivos na descrição do que vemos devem ser evitados para não influenciar a interpretação dos outros que está já de si condicionada pelas suas experiências, crenças e convicções.
Estou a escrever isto e, mais uma vez, me vem á memória o trabalho académico que fiz. Também me lembro de uma disciplina que tive que se chamava comunicação com a imagem. Talvez tenha sido para essa cadeira que fiz esse trabalho. Faz todo o sentido. Lembro-me de estarmos numa aula a ver imagens e a professora perguntava a cada um as sensações que tinha ao visionar o slide. Houve uma vez em que apenas eu consegui interpretar bem essa imagem. Quem diria.
É sempre bom ler livros relacionados com o que aprendemos no nosso percurso académico. Recordar é viver.
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