27 de maio de 2019. O dia mais longo e mais negro da minha vida. O dia em que os meus piores pesadelos se tornaram realidade. O dia em que um segundo mudou irremediavelmente o resto de uma vida.
Dois anos volvidos, vou percorrendo este caminho que o Destino me traçou. Há dias em que as coisas vão correndo na medida do possível mas também há outros em que sinto saudades do que deixei para trás e que agora é impossível fazer.
Do que eu sinto mais falta? De correr na rua e ver Futebol na televisão. São sobretudo estas duas coisas que fazem com que muitas vezes chore. Quando me falam de um golo bonito, sinto-me triste, por mais que o descrevam.
Nesta altura do ano em que o tempo começa a estar mais agradável também me assola uma certa tristeza por não poder ir correr para a rua, como fazia antes de ir trabalhar. Era a corrida matinal que me dava alento e força para enfrentar jornadas de trabalho que eram autênticos suplícios nos últimos seis meses antes do dia em que tudo aconteceu. Foi justamente por não estar a conseguir trabalhar e por cada vez ter mais dificuldade que aceitei fazer esta cirurgia que veio a dar origem à destruição do meu olho.
Apesar de desde sempre saber que ia perder a visão, perdê-la desta forma foi terrível demais. Aquele momento de há dois anos atrás jamais se apagará da memória. A dor física e psicológica sentida naquele momento ninguém apagará. Ainda hoje, dois anos volvidos, escrevendo estas linhas, sinto arrepios de me lembrar daquele momento.
Foi um dia muito longo. As horas passaram como anos, as sombras passavam nos meus olhos sem luz e a esperança em dias melhores esfumou-se.
Tive de me reinventar, dar a volta por cima, tentar viver de acordo com esta minha nova condição. Encontro algo de positivo nesta minha nova existência que levo de há dois anos a esta parte. Dedico-me mais á leitura e á escrita. Da minha vida anterior, foi o quanto restou e agarrei-me a estes dois prazeres como um náufrago se agarra a um colete salva-vidas. A leitura e a escrita ajudam-me a viajar, a criar mundos paralelos, ajudam a soltar o espírito e a alma. Ler nesta nova condição acaba por ser uma atividade que estimula a imaginação e a criatividade.
O Desporto também é outro pilar na minha vida. Ironicamente, só agora que perdi a visão é que pude dedicar á minha modalidade desportiva de eleição- o Futebol. No outro dia tive oportunidade de dizer isso mesmo numa entrevista. Enquanto via, apenas jogava Futebol. Na rua. Agora sou pioneira na vertente do futebol feminino para cegos, facto que me enche de orgulho. Espero com isto incentivar todas as mulheres deficientes visuais que gostam de futebol a praticar, para que façam parte do futebol e encontrem nene o seu lugar.
Tenho em mente outros projetos. Em abril último criei uma rubrica no Youtube em que escolho o melhor livro que li durante a semana para falar sobre ele.
Tenho em mente outros projetos mas não sei o que a vida ainda me reserva.
Há dois anos atrás fiquei sem chão. Penso nas pessoas que perdem a visão de forma inesperada. Pessoas que viam a cem por cento e de repente se vêm cegas. Se para mim que sabia que ia cegar foi difícil e ainda continua a ser, imagino o que sofrem pessoas que enfrentam inesperadamente esta situação. É muito difícil mas o Ser Humano a tudo se adapta e tudo suporta.
Há que seguir em frente. Não é fácil viver assim mas não é impossível.
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