Causou grande celeuma, como não podia deixar de ser, a iniciativa de uma escola em Carcavelos que promoveu o dia da saia. Toda a gente nesse dia usaria saia, incluindo rapazes.
Percebe-se o que levou o estabelecimento de ensino a criar esta iniciativa. Talvez fosse para chamar a atenção para a igualdade de género, não discriminação ou fosse lá o que fosse.
Eu ponho-me ao lado dos que não calaram a revolta. Ao longo da minha vida, sempre detestei que me impusessem como eu me vestiria. Desde tenra idade que depreendi que não me sentia bem usando saias e vestidos. Sentia-me um corpo estranho dentro dessas roupas e, por volta dos nove ou dez anos, jamais alguém me obrigou a usar esse tipo de roupa. Se fosse professora ou aluna dessa escola, havia de fazer tamanho barulho. Em alternativa, faltaria ás atividades. Seria o mais sensato. Enfiar uma saia no meu corpo jamais em tempo algum.
Esta coisa de definir os géneros consoante a roupa que vestem foi meramente criada pelo Homem moderno. Simples viviam os nossos antepassados que se cobriam com o que tinham no corpo. O que os distinguia era a cor da pele ou sinais do corpo como hoje fazemos com os animais domésticos. A Adie é identificada e distinguida dos restantes gatos pela sua pelagem malhada, a Feijoa já era castanha e por aí em diante. Sinceramente, os seres humanos é que resolveram criar etiquetas de comportamento para tudo e não compreendem que há mais para além do azul masculino e do rosa feminino, como é comum identificar os dois géneros- algo que também repudio nesta minha condição de me manter neutra em relação aos géneros, apesar de biologicamente ser mulher mas identificar-me mais com coisas do género masculino, incluindo roupas, como atrás referi.
Agora faço uma pergunta difícil: se por acaso um aluno ou professor dessa mesma escola um dia aparecesse de saia sem ser no dia a ela destinado, o que fariam os diretores da escola? Seriam eles permissivos? Certamente que esta sociedade que se julga tão aberta e liberal iria olhar essa pessoa de lado. Por vezes chego a colocar-me no lugar dos homens que fossem como eu. Nos tempos que correm, é perfeitamente normal uma mulher vestir calças, roupa desportiva, usar ténis, ter os cabelos curtos, não usar maquilhagem. As pessoas perguntam por que não se arranja mais, não fica atraente, mas não passa daí. Imaginem um homem a sentir-se livre e feliz usando saias e vestidos! O quão aprisionado se deve sentir.
Hoje em dia, já há homens casados, com bons empregos, pais de família que quebram preconceitos e vão para os trabalhos de saia. Se as mulheres usam calças, por que não os homens terem a liberdade de usar saias? Se assim o desejarem, por que não? Só estou contra o facto de terem impingido saia naquela escola a toda a gente. Podiam antes ter dado a escolher. Se quiserem, hoje os professores e alunos do sexo masculino podem vir de saias. Hoje é o dia da saia. Obrigar a vestir seja o que for é um atentado contra a liberdade.
Aliás, sou contra os resscode em empresas e eventos. Acho que não se deve obrigar alguém a andar vestido de uma forma que não o faça sentir bem. Eu falo por mim. Não tendo liberdade de escolha para muita coisa devido a imponderáveis que não posso mudar, limitarem-me a ação na escolha da indumentária é um duro revés para mim. Sinto-me bem usando roupa desportiva e sobretudo calçado prático. Usar calçado mais formal faz-me sentir diferente para pior.
Já alguma vez alguém se lembrou de levar estas questões a um tribunal de direitos humanos? Eu acho isto simplesmente inadmissível. Se o colaborador é competente, não é por causa dos modestos trapos que lhe cobrem o corpo ou pelo calçado que deixa de o ser. Já pensaram que o facto de o colaborador ser obrigado a usar determinado tipo de vestuário pode interferir no seu rendimento? Pessoas com autoestima baixa ou que não se sentem á vontade podem levar estas questões que parecem de somenos importância a um extremo considerável.
Será que realmente vivemos numa sociedade livre? Ou a liberdade que aparentemente nos querem impor nos oprime ainda mais? Esta questão do vestuário tem muito que se lhe diga. Numa sociedade igualitária, os valores não devem ser impostos, devem ser facultativos sem que haja julgamentos negativos quando alguém decide fazer uma escolha que não está em conformidade com o que é expectável que faça.
Por uma sociedade mais livre e humana, há que lutar contra estas pequenas coisas.
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