Apresento-vos uma novidade. Que eu me lembre, nunca antes havia lido um livro de autoria de um escritor romeno. Para tudo há sempre uma primeira vez.
Esta obra, mais uma tendo como pano de fundo a Segunda Guerra Mundial, é um clássico da literatura. Apesar de ser considerado um romance de época, é algo mais do que isso.
Esta obra leva-nos a refletir até que ponto somos realmente livres e donos das nossas próprias decisões.
Nesta obra é contada a história de Ioan- um pacato camponês que cometeu a ousadia de se apaixonar por uma mulher muito cobiçada que também o amava. A sua união não era bem vista pelos pais de ambos e um polícia, para lhe arrebatar a mulher, engendrou um oportuno esquema para o afastar. Tendo um apelido que facilmente se confundia com os apelidos de judeus, o guarda denunciou-o como tal. Despojou-o da mulher, dos filhos e da casa e enviou-o para um campo de trabalhos forçados onde veio a ter problemas justamente porque não era judeu e os outros judeus olharam-no sempre de lado.
A partir daí, sempre considerado do lado oposto aos que o foram capturando ao longo da sua fuga, passou pela prisão, pela tortura e por um impressionante número de campos de concentração. Isto tudo sem que ele nada tivesse feito e apenas por desígnios burocráticos.
Chegou mesmo a ser considerado da raça ariana pura, imagine-se, sendo depois capturado pelos aliados que venceram a guerra.
Isto tudo nos leva a refletir sobre um novo tipo de escravatura. A do homem pela máquina nas mais diversas vertentes da sociedade. O individualismo perdeu-se e um indivíduo é tratado como um número e integrado num grupo de indivíduos com determinadas características. Chegou-se ao ponto de, por questões burocráticas, não se libertar um prisioneiro inocente porque ele estava inserido no sistema como pertencente a um dado grupo. Para o libertar, teriam de libertar os outros.
Hoje em dia, cada vez se vê mais este tipo de comportamento no nosso quotidiano. Nos serviços de saúde somos um número, nas grandes empresas somos um número que tem como única finalidade ser produtivo. Não interessa se temos problemas em casa, se estamos bem de saúde, se nos morreu o cão, a cobra ou o gato.
Nas finanças tanto faz dever um cêntimo ou um milhão de euros. São logo os nossos bens penhorados porque o sistema não distingue, apenas acusa que se deve .Com tudo isto, perdeu-se simplesmente humanidade. O homem escravo da máquina tornar-se -á como ela, mais cedo ou mais tarde.
Eis como um livro sobre a Segunda guerra Mundial se torna ao mesmo tempo um pretexto para uma discussão bem interessante.
Mais uma vez, o génio dos autores de Leste a surpreender. É isto que os distingue dos povos ditos ocidentais que têm menos criatividade, espontaneidade e seguramente muito menos bagagem cultural, fruto de uma educação mais rigorosa e diversificada.
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