Thursday, March 24, 2011

O que é que eles estão a roer?



Cães extremamente esfomeados, viagens impossíveis, horror que se transforma quase em comédia ao acordar…eis os ingredientes desta espécie de pesadelo que até começou de forma perfeitamente inofensiva.

Antes de entrarmos propriamente na descrição do sonho convém dizer que, tal como acontece sempre que há Futebol e não é transmitido pela televisão, eu deito-me debaixo das cobertas bastante cedo. Nesta noite estava até algum calor e eu acordei de madrugada com uma música a passar na rádio que há muito não ouvia.

Entremos definitivamente nas aventuras oníricas desta madrugada! O cenário é a minha casa onde a minha mãe preparava com bastante dedicação as coisas para a minha irmã que ia viajar até ao Luxemburgo. Ela faria essa viagem…no camião de um rapaz da minha terra que, na realidade, não tem um camião mas sim um tractor.

Eu estava revoltada pelo facto de a minha mãe encarar esta aventura da minha irmã de ânimo leve. Na realidade a minha mãe jamais deixaria que fizéssemos tal viagem. No sonho a minha revolta era pelo facto de ela não me deixar a mim fazer essa viagem e deixar que ela a fizesse. Estava realmente muito zangada. Se eu quisesse viajar teria forçosamente de ser às escondidas.

Que raiva! A minha mãe embalava carinhosamente roupa quentinha para a minha irmã levar para o frio do Luxemburgo. Corria contra o tempo. A viagem era dali a algumas escassas horas.

Foi nesse estado de revolta e fúria que me coloquei junto ao portão que dá para o terraço a olhar para a estrada. Estava um dia de Sol com algumas nuvens. Situaria o tempo da acção aí a meio da manhã, seria sensivelmente meio-dia.

Na estrada passava imenso trânsito e era maioritariamente composto por veículos de grande porte. Lembro-me de ter passado um camião todo branco, desses que transportam as mercadorias para o meu local de trabalho. Esse veículo abriu a porta do lado do condutor e voltou-a a fechar.

Constatei que, a certa altura, os veículos afrouxavam em determinada zona da estrada. O que se passava? Atropelaram algum animal? A medo fui-me aproximando, até porque outro carro parou mesmo.

Na estrada havia detritos de toda a espécie, desde galhos de lenha a folhas rasgadas de revistas ou de jornais. Seria por isso que os veículos abrandavam a velocidade? Provavelmente, mas havia mais qualquer coisa ali.

Olhando para a berma do outro lado de minha casa (sempre a mesma berma onde há tempos vira o corpo do meu primo quando o procuraram toda a noite e outros mais) pareceu-me ver algo que inicialmente não consegui distinguir.

Aproximei-me mais e constatei que era um dos cães que ali estava agachado. Teria sido atropelado? Lentamente fui caminhando na direcção onde ele estava e então vi que o outro cão também lá estava. O que vi que eles estavam a fazer deixou-me intrigada. Um de cada lado, puxando para cá e para lá enquanto rosnavam e roíam, os dois cães partilhavam um animal que se encontrava esfolado. Não consegui distinguir que animal era, já não tinha cabeça e estava parcialmente comido. Faltava ali o terceiro cão mas não me parecia que os cães estivessem a comer o outro irmão. Parecia-me até que o animal que eles comiam era maior do que eles. Uma cabra? Uma ovelha? Algo do género.

Enquanto os dois cães se banqueteavam, havia uma espécie de banda sonora. Como classificar a música instrumental que não existe na realidade? Ao mesmo tempo erra cómica mas, sendo utilizada neste contexto, dava um ar sinistro ao quadro. No sonho essa melodia era familiar. Era simplesmente a música daqueles cães, como se eles fossem personagens habituais de uma novela ou de um filme e lhes tivessem atribuído essa música.

Afinal o outro cão andava por aí pelos pinhais a ladrar. Ouvia-o ao longe. Ele é ligeiramente mais escuro do que os irmãos.

Aquela cena dos cães a comer intrigou-me. Corri para dentro o mais depressa que pude e chamei a minha mãe em tom alarmado para vir espreitar o que é que os cães estavam a roer na berma da estrada. Enquanto gritava pela minha mãe, ia saltando por cima dos galhos de lenha que ali no terraço eram mais numerosos do que na estrada. Provavelmente os meus pais tinham ido à lenha para cozer a broa ou mesmo para assar um leitão e espalharam os galhos pela estrada.

Aflita, perguntei a minha mãe se a gata Feijoa estava lá dentro. Não me parecia que o animal que os cães estavam a dilacerar fosse a Feijoa. Na verdade era um animal muito maior mas…

Fiquei descansada quando a minha mãe respondeu afirmativamente à minha pergunta.

Acordei com a música dos cães na cabeça. Tive pena de não a ter trauteado ao gravador do telemóvel para a posteridade mas era de madrugada e podia acordar os vizinhos. Ela estava tão nítida na minha mente que era fácil fazer isso nos minutos seguintes a ter despertado deste pesadelo. Depressa a esqueci. Foi pena porque também constatei que me assustei à toa.

Quando adormeci novamente as preocupações já foram de outra índole. Agora estou no meu local de trabalho a fazer o turno de fecho. É domingo e está uma noite bem escura. Eu estou extremamente chateada porque não quero estar sozinha na paragem do autocarro.

Acordei definitivamente. Para variar comi laranjas ao pequeno-almoço daquele que provavelmente seria o meu último dia de trabalho naquela loja e naquelas funções.

P.S.: Quase um mês passado, ainda continuo a trabalhar no mesmo local e nas mesmas funções. Há que aguardar pacientemente que tudo fique pronto para finalmente mudar.

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