Friday, March 04, 2011

O cemitério relvado

Só quando acordei é que dei conta do horror que fora este pesadelo. A cabeça que emergia da relva e que em sonho não reconheci de repente pareceu-me a do meu vizinho- ele que anda com alguns problemas pessoais. Tudo isso deixou-me preocupada.

Sonhei que alguém tinha morrido. Não sei precisar se se tratava de alguém da minha família ou alguém que eu conhecesse.

Num cemitério de relva, tal como os que se costumam ver nos filmes ou nas novelas, duas colegas minhas de trabalho envergando umas vestes brancas abriam uma cova. Eram umas estranhas coveiras, elas as duas. O que significaria isso?

Naquele cemitério as campas eram rasas e quase imperceptíveis. As coveiras improvisadas, e minhas colegas de trabalho na realidade, continuavam a trabalhar na campa ao lado de uma que eu não sabia que existia. Eu observava-as. Parece que mediam alguma coisa e se preparavam para terminar o seu estranho trabalho.

De repente quando olhei, aquilo que não era mais do que um relvado bem verde e com bom aspecto transformou-se na mais intrigante das visões. Alguém tinha deixado parcialmente a descoberto metade de uma cabeça de um homem relativamente jovem, moreno e de cabelos escuros. No sonho não o reconheci.

Apesar de não ter identificado a quem pertencia aquele corpo parcialmente destapado, apressei-me a sair dali a todo o custo. Ao fazê-lo, tropecei num enorme ramo de flores brancas e murchas.

Já em casa, procurava uma t-shirt que tenho. Quando a encontrei verifiquei que ela não estava em condições de vestir por estar extremamente engelhada.

Na cozinha de minha casa o filho do meu vizinho misturava vinho com gasosa de uma caneca para a outra até a bebida ficar em tons rosa.

Parece que se tinha passado uma longa noite já com todas estas peripécias inquietantes. Afinal eram só duas horas da madrugada e cinquenta e dois minutos. Esperava-me um longo período de tempo em que ficaria a tremer, com o coração a bater descontrolado e com aquela imagem da cabeça a emergir da relva a assolar a minha mente, por mais que eu a tentasse apagar e tentasse pensar em algo mais agradável. Realmente estava preocupada com o meu vizinho. O rosto do sonho tinha muitos traços dele e na altura nem me apercebi. O horror demonstrado e que me levou a sair dali foi o meu estranho pavor a cadáveres que sinto nos sonhos e que não corresponde ao que se passa na vida real.

Comecei a pensar no que se terá passado na vida real para o meu subconsciente transformar algo neste intrigante pesadelo. A preocupação manifestada com o meu vizinho era um facto. O outro deverá ter sido um episódio passado no “Quem Quer Ser Milionário” em que Malato questionava uma concorrente sobre o seu medo de pisar campas em igrejas. Ela disse que andava aos saltinhos porque por vezes as campas nem se notavam, tal como as do meu sonho.

Já não é a primeira vez que tenho um sonho com estes contornos. No passado dia seis de Dezembro tive um sonho muito parecido que também está descrito neste espaço. Na altura lembro-me que o cadáver era de uma senhora idosa e que os coveiros eram uns homens com coletes reflectores. Tinha ido parar ao cemitério inadvertidamente por um atalho.

Felizmente quando voltei a adormecer, o pesadelo não teve sequelas. Aliás, o que despoletou a minha inquietação esteve sensivelmente a meio do sonho e não imediatamente ao acordar. Já estava a sonhar com coisas diferentes em cenários diferentes do cemitério antes de acordar e isso também ajudou ao facto de este sonho não ter continuação.

Curiosamente uma das protagonistas deste pesadelo apareceu no local de trabalho com umas conversas algo intrigantes sobre suicídio. Talvez por o pesadelo ainda fervilhar na minha mente, passei aquelas duas horas em que estive a trabalhar juntamente com ela a prestar atenção ao que ela fazia. Podia-lhe dar na cabeça de ir beber produtos corrosivos que servem para desinfectar. Quando ela saiu por momentos de ao pé de mim, quase entrei em pânico e desatei a chamá-la com um tom de voz excessivamente desapropriado. Afinal ela estava no balcão com a minha outra colega que me perguntou o que é que eu queria. Nem soube o que lhe responder e lá fui dizendo que não queria nada. É certo que eu não simpatizo muito com ela mas não desejava que ela fizesse qualquer disparate. Iria impedi-la se o tentasse.

Com o correr do dia, as minhas preocupações passaram a ser outras. Estou sem Internet, tudo porque alguém se enganou a preencher o raças de um número.

No comments: