Tuesday, November 08, 2011

O susto

É sempre um prazer recebermos a nossa tia em nossa casa. No tempo em que a família andou de costas voltadas, quase não tínhamos notícias dela e isso intrigava-nos. É a única irmã da nossa avó que ainda é viva e a sua idade muito avançada faz com que nós tenhamos um certo carinho e grande estima por ela. Digamos que ela é a matriarca da família.

Às vezes a minha madrinha passa lá por casa e deixa-a ficar. Ela, a minha mãe e a minha vizinha passam a tarde a conversar e a recordar tempos antigos e pessoas que eu nem sequer conheço.

Era final de tarde de mais um Domingo em que a nossa tia ficou em nossa casa. Já começava a cair a noite. Envergando umas calças de treino vermelhas e uma camisola branca, eu estava entre a sala e a cozinha que já estava a ficar na penumbra do final de tarde. A cadela apareceu-me e eu afagava-lhe a cabeça. A minha tia deu com a bengala nas minhas pernas mas eu não liguei. Devido à sua idade avançada, pensei que ela estava numa das muitas fases em que não conhece as pessoas ou não sabe onde está.

Continuei no mesmo sítio a fazer festas à cadela. Os meus pais estavam ambos na rua. A minha tia, quase em pânico, levantou-se do sofá aos gritos pelo meu pai. Levava as mãos ao peito e já se ia a precipitar para a rua, correndo o risco de cair. Finalmente percebi o que se passava. Ela não me reconheceu no escuro.

Tive de lhe gritar que era eu que ali estava e que a cadela estava ao meu lado. Ela voltou-se a sentar. Alarmados pelos gritos da minha tia, os meus pais já vinham para dentro porque julgaram que ela tivesse caído. Encontraram-na a rir do episódio que se tinha passado.

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