Wednesday, November 02, 2011

A culpa é dos estrangeiros, dizem os treinadores de bancada

No rescaldo da derrota da Selecção Nacional ontem em Copenhaga por 2-1, já era de prever que não se falasse de outra coisa por todo o lado.

O restaurante que eu frequento para almoçar não seria excepção. É lá que me divirto ao ouvir os parciais comentários de adeptos maioritariamente afectos ao Sporting. Não se cingem apenas ao Futebol. A crise que Portugal atravessa também merece destaque nas suas conversas à hora do almoço.

Como apenas tenho uma hora para almoçar, não me junto ao debate mas vou-me refastelando a ouvir o que essas almas bem vividas e sábias têm a dizer.

Hoje o tema dominante foi o desaire da Selecção em Copenhaga e o fraco rendimento em campo de Cristiano Ronaldo e companhia.

Segundo estes treinadores de bancada, a culpa da nossa Selecção não render é dos estrangeiros que são cada vez mais no nosso Futebol, sem que ninguém faça nada para travar este fenómeno.

Queiram desculpar, senhores treinadores de bancada, mas tenho de discordar convosco. Se há imensos estrangeiros no Futebol Português, nomeadamente da América Latina, também não é menos verdade que há também cada vez mais jogadores portugueses a emigrar. Muitos deles alinham em ligas mais competitivas do que a portuguesa. Na minha opinião, o jogador português de hoje em dia está com outra bagagem competitiva que não teria se continuasse a alinhar nos nossos campeonatos.

O problema dos estrangeiros em excesso não é só nosso. Basta ver um qualquer jogo da Liga Inglesa ou mesmo da Liga Espanhola e contar quantos jogadores nacionais alinham no onze inicial dessas equipas. Chegaremos à conclusão de que o fenómeno do excesso de estrangeiros não é exclusivo só de Portugal. Vivemos numa sociedade globalizada, sem fronteiras, onde qualquer empresa pode ter colaboradores da nacionalidade que lhe apetecer. Fazendo parte deste contexto social, o Futebol teve também de conviver com esta realidade.

A principal diferença entre os estrangeiros que militam nessas ligas mais poderosas e os que actuam cá reside na qualidade mas também não vamos comparar as realidades futebolísticas e os orçamentos praticados cá e lá. Eles têm dinheiro, por exemplo, para adquirir os nossos melhores jogadores portugueses. Nós não temos dinheiro sequer para os segurar nos nossos clubes e por isso contratamos estrangeiros.

O excesso de estrangeiros não é, nem nunca será, desculpa para o desaire que aconteceu ontem. Se formos a ver o nosso onze, a maioria dos jogadores já nem actua em Portugal, actuando nas ligas mais poderosas e competitivas do Mundo. Mais, é desde que os nossos melhores jogadores emigraram para ligas mais competitivas que a nossa Selecção passou a ser presença habitual nas grandes competições mundiais. Lembro-me que há vinte anos atrás ficávamos muito aquém da qualificação. E lembro-me que jogávamos com a Escócia e com a Suíça que não são aqueles colossos que assustam qualquer equipa. Nem aos play off chegávamos.

O problema da Selecção Nacional, na minha opinião, é o excesso de vedetismo que afecta alguns dos principais craques. Dá a sessação de que não estão ali com vontade e que se pudessem mandavam o patriotismo e o nacionalismo às ortigas e continuavam a preparar-se nos seus clubes que lhes pagam chorudos ordenados. Hoje o Futebol já deixou de lado o amor à camisola e à Pátria e passou a alinhar pela batuta do dinheiro.

Os clubes são os próprios a não ver com bons olhos a presença dos seus jogadores nas selecções nacionais e, se acaso eles chegam lesionados e não podem alinhar nos próximos jogos, já é motivo de muitas quezílias entre clubes e federações nacionais. Se um Cristiano Ronaldo não alinha no jogo do seu clube, são logo largos milhões de euros que se perdem com publicidade, direitos de imagem e essas coisas modernas que hoje minam o Futebol e o estão a matar por dentro.

Não, a culpa não é do excesso de estrangeiros. Simplesmente a nossa Selecção paga o preço de ter craques a mais, sem que eles juntos formem uma equipa ganhadora.

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