Wednesday, June 15, 2011

Secreções

Esta é a crónica de uma noite ininterrupta de sonhos em que não me lembro de alguma vez ter acordado.

O sonho passa-se na minha terra. Havia uma festa de arromba e muitos turistas vieram visitar-nos, imagine-se. Eu acompanhava-os na direcção de minha casa. Lembro-me de os ver a passar junto à ponte, carregados de sacos e malas e com vestes coloridas. Parte deles eram estrangeiros.

Uma amiga nossa de que já falei neste espaço, que faleceu em Novembro passado e que detestava Desporto estava, imagine-se, a comentar um jogo qualquer. Ela tinha um hálito horrível e por isso era difícil estar ao pé dela.

Passemos a outro cenário- o hospital- para onde fui numa sexta-feira à tarde de autocarro. O motivo pelo qual lá estava internada prendia-se com uma operação aos olhos. Nos sonhos quase sempre estou no hospital porque fui ou vou ser operada aos olhos. Como eu detesto esses sonhos!

A acção passa-se na quarta-feira da semana a seguir ao meu internamento. Farta de ali estar, questionava a demora em me darem alta daquela vez. Recordei o que na realidade se passou da última vez em que fui operada. No dia a seguir à cirurgia deram-me alta. Outra situação que me intrigava prendia-se com o facto de os médicos ainda não terem aparecido para me ver. Dava a sensação de estar ali esquecida e isso incomodava-me. Estava mesmo farta de ali estar.

Contentava-me em ver televisão à noite no quarto enquanto mascava uma pastilha elástica que engoli. Estava a dar algo na televisão sobre…homossexuais.

A pastilha estava algo peganhenta e temi que ela se colasse ao aparelho digestivo. E agora? O que fazer?

Não me restava alternativa que não fosse fazer aquela coisa bem desagradável que é induzir o vómito.

Para esse fim dirigi-me à casa de banho que, para meu azar, estava bastante concorrida. As três portas onde se encontravam as sanitas estavam abertas. Entrei numa- a terceira- que estava mais distante do burburinho e lá executei o indesejável serviço. Deu resultado. A pastilha foi expelida.

Mais um dia se passava no hospital. Era final de tarde e olhava o trafego de final de tarde pela janela da enfermaria. Esperava ansiosamente os meus familiares que me vinham visitar.

Envergava um pijama cor-de-rosa que na realidade até é da minha irmã. Padecendo de prisão de ventre, dirigi-me novamente à mesma casa de banho onde havia decorrido a saga da pastilha…em cadeira de rodas. Isso é que foi uma noite de intenso disparate do meu subconsciente! Estou a ver que sim.

Estava eu muito sossegada a dedicar-me às ditas coisas da Natureza, quando de repente a minha vizinha me deita a mão à porta, a abre e se começa a rir às gargalhadas, aquelas gargalhadas mesmo sarcásticas que ela costuma soltar quando ouve uma flatulência ou quando ouve uma boca bem porquinha e brejeira. Raças da mulher, que já tinha idade mais que suficiente para ganhar juízo, pois que para nova não caminha ela.

Nem é preciso dizer o quão irritada fiquei com tal abuso de privacidade. Ela adora bisbilhotar. O despertador tocou quando eu estava no auge do meu ataque de fúria. Se isso não tivesse acontecido, com a queda para o disparate do meu subconsciente, provavelmente acabaria a mergulhar a cabeça da minha vizinha na retrete ou algo assim.

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