Monday, June 27, 2011

Reviver estes momentos de novo e sem contar

Foi na quarta-feira à tarde que recebi um telefonema da ACAPO a perguntar se eu estaria interessada em participar numa prova de Ciclismo que iria decorrer em Coimbra. Mas é claro que estaria interessada! Até me estava a admirar de os Jogos de Portugal serem em Coimbra e de nós não termos ninguém no evento. É que há muito que o Desporto foi extinto nesta delegação, infelizmente.

Fiquei radiante com a hipótese de vir a participar no evento mas já me tinha inscrito também como voluntária. O facto de o meu equipamento de Ciclismo também ter ficado em casa também me preocupava mas não era por isso que iria deixar de participar.

Tudo se resolveu. Contactei o responsável dos voluntários e informei-o do que se estava a passar. Quanto aos equipamentos, a delegação de Lisboa iria emprestar-nos. Quanto ao facto de já não treinar há muito tempo, nada podia fazer. Ia assim. O que contava era participar.

E chegou o grande dia. Já não me lembrava dos rituais que se tinham de seguir antes das provas. Desde 2008 que não sei o que isso é. É desde essa altura que eu não treino em condições. Depois arranjei emprego e ainda ficou pior em termos de disponibilidade para se treinar. Apenas se dão umas caminhadas e pouco mais.

Juntámo-nos aos nossos companheiros por volta do meio-dia. Depois tivemos de levantar as acreditações e almoçar. A prova estava marcada para as duas e meia da tarde. Seria ao pé do meu antigo local de trabalho. Já estava a ver as minhas antigas colegas, reparando que havia bastante movimento, curiosas como são, a irem ver do que se tratava e a verem-me lá.

E chegou o grande momento da partida dada por Rosa Mota, a quem tinha acabado de contar aquele mítico sonho. A minha guia era uma rapariga de Lisboa que certamente iria estranhar ser guia de uma atleta (ou de uma ex-atleta) mais pesada.

Lá começamos o calvário pelo circuito. Eu bem gostaria de voltar aos meus velhos tempos mas estou velha e com os joelhos muito danificados de anos de actividade desportiva sem acompanhamento médico adequado e de uma queda que dei há quase um ano e que foi aqui relatada. O meu joelho esquerdo, quando chega à noite, apresenta mais do dobro do seu tamanho. Quando trabalhava no pão ainda era pior do que agora, que estou sentada todo o dia.

Estava-me a custar não poder dar mais mas não podia fazer milagres. Houve uma altura em que eu simplesmente fechei os olhos e tentei esquecer o cansaço, as dores nas pernas e a sede que já sentia. A minha companheira queria desistir quando só faltava uma volta para o fim mas eu não deixei. Já que tínhamos chegado até aqui, havia que continuar para depois ainda sermos classificadas. Nem que chegássemos lá com mais de meia hora de atraso.

Assim foi. Fui última mas não esperava outra coisa em virtude das circunstâncias. Em 2002 ou 2003 não teria dificuldade em vencer isto e inclusive em ficar à frente de alguns homens. Agora as minhas capacidades são bem mais limitadas e tenho também mais anos e mais quilos em cima.

Mesmo assim lá conseguimos uma medalha e o aplauso efusivo dos que ainda resistiam à beira da estrada para nos ver chegar. Valeu a pena. Já nem podia com as pernas mas estava contente por ter feito esta prova. Incitaram-me a voltar a treinar mas tal não depende de mim. Gostaríamos de abrir novamente o Ciclismo na nossa delegação mas serão precisos guias e isso é difícil de arranjar.

Há que reabrir o Desporto urgentemente aqui. Há que pensar numa maneira de tal acontecer. A mim pouco resta que não seja o Desporto de manutenção. O Ciclismo e as caminhadas seriam interessantes.

Foi uma longa tarde de espera pela Cerimónia de Abertura que por acaso se deu quando algumas provas já tinham começado. Estava prevista uma festa memorável.

No fim de jantarmos, fomos para as imediações do Estádio Cidade de Coimbra onde aproveitei para conversar com antigos companheiros e adversários. Foi bom revê-los. Já há imenso tempo que não os via. Lamento não ter visto os meus antigos companheiros do Atletismo mas as provas foram em Leiria e eu não fui até lá. Realmente achei estranho as provas serem em Leiria, quando Coimbra tinha uma pista de Atletismo.

Tinha, disse bem. Nem a euforia e a emoção de estar a participar novamente numa Cerimónia de Abertura conseguiram ofuscar a tristeza que senti ao ver a pista completamente destruída. O local onde passei grande parte da minha vida estava agora com enormes crateras e com areia por todos os lados. É mesmo triste. Já não entrava ali há três anos e jamais me passou pela cabeça aquilo estar assim tão degradado. Foi por isso que as provas foram em Leiria!

A noite era de festa e havia que aproveitar. Depois do desfile e da Cerimónia de Abertura, seguiu-se o concerto de Mickael Carreira. Apesar de não fazer de todo o meu género musical, não deixei de me divertir e até de trautear algumas músicas.

Este dia memorável chegava ao fim. Tudo pareceu um sonho mas a minha indumentária, os adereços que trazia e a medalha no bolso da mochila eram bem reais.

Havia agora que descansar. Amanhã haveria um novo dia pela frente em que eu vestiria agora a pele de voluntária e estaria, por assim dizer, do outro lado.

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