Friday, June 17, 2011

O reacender dos sonhos

Tivemos sorte. O dia apresentava um belo Céu azul e as temperaturas estavam bem convidativas para se passar um belo dia ao ar livre. Melhor não poderíamos ter para o nosso passeio de barco à vela pela Ria de Aveiro.

O Sporting Clube de Aveiro acolheu-nos para esta actividade que eu tanto tinha curiosidade em viver. Como tenho vindo a dizer, desde há algum tempo que adoro o ambiente aquático e todas as actividades ali desenvolvidas.

Dividimo-nos em grupos para assim ser mais fácil nos organizarmos nos barcos. Antes de iniciarmos o passeio de barco, ouvimos algo sobre navegação em geral e mais particularmente navegação à vela.

Tivemos de esperar largo tempo até chegar a nossa vez. Aproveitámos para conversar um pouco e apanhar sol- actividade que aprecio muito, pois agora são escassas as oportunidades que tenho de andar na rua por razões profissionais.

Estava ansiosa por me ver dentro de água e estava a ver o tempo a passar mais lentamente. Ao fim de uma ou duas horas de espera, foi a vez de o meu grupo embarcar nesta aventura.

O ancoradouro tinha uma espécie de ponte de madeira que ameaçava desmoronar com tanta gente que ali passava. Somente uma corda nos impedia de cair à Ria. Fui ajudada a atravessar com alguma apreensão. Comecei-me a lembrar de sonhos em que divisões de casas e prédios têm essas cordas apenas como segurança e às vezes nem cordas há. Relembre-se aquele famoso sonho da casa de um casal amigo. Eles por acaso também estavam presentes, saliente-se.

Uma sensação nova e interessante foi a de ter de fazer o transbordo de um barco para o outro. Fomos quase para o meio da Ria num barco a motor e só depois passámos para o barco à vela. Tenho visto na televisão ou lido alguns episódios em que alguém troca de barco. Imaginava que fosse complicado e arriscado especialmente para uma pessoa como eu. Afinal não foi assim tão complicado.

Nem imaginam o quanto me agrada andar de barco e sentir a frescura da água! Ao longo da viagem fomos ouvindo os monitores, experimentado a navegar e fazendo perguntas. Eu logo perguntei se seria viável uma pessoa deficiente visual praticar vela. Podemos praticar vela desde que tenhamos como acompanhante alguém normovisual. Não quereria praticar vela como Desporto, apenas como lazer, como forma de sentir esta liberdade intensa de cada vez que ando de barco ou simplesmente ando na água.

Comecei a ouvir contar histórias de navegações feitas à noite. Comecei-me a lembrar de “Os Lusíadas”, dos feitos dos nossos navegadores, de Colombo e do meu sonho de navegar em Alto Mar durante a noite à luz das estrelas. Deve ser espectacular. Sonhei com isso há muitos anos atrás e relembrei esse meu desejo com algumas leituras e também com estas histórias que hoje vou ouvindo. Este não foi o único dos meus sonhos que seria invocado no dia de hoje.

A nossa experiência de navegação chegava ao fim. Que pena! Estava a ser tão agradável… Agora havia que juntar toda a gente para a entrega simbólica de diplomas e para os indispensáveis discursos finais e fotos de grupo.

Ílhavo seria o nosso próximo destino. Foi ali que realizámos o piquenique e era ali que se encontrava o navio Santo André, agora transformado em museu e que iríamos visitar.

Ver um navio por dentro era também uma das minhas curiosidades. Imaginava que um navio fosse quase tão confortável e acolhedor como uma casa. Essa imagem surge-me essencialmente da literatura. Seria realmente assim?

De facto dava a sensação de estarmos numa qualquer fábrica de peixe. Havia utensílios e locais para preparar o bacalhau para ele vir com alta qualidade para as nossas mesas. Todos os aposentos deste navio em muito se assemelhavam a uma qualquer academia ou instalação industrial com um refeitório, uma cozinha, quartos com camaratas…

Fascinei-me essencialmente com uma sala ampla e vazia que me disseram que servia para salgar o bacalhau depois de cortado. Aquilo era imenso e disseram-me que por vezes vinha cheio do melhor amigo dos portugueses até ao tecto. Não admira, portanto que o bacalhau esteja em vias de extinção!

As escadas que davam para a parte superior do navio eram íngremes em demasia e bastante estreitas. Subir, sobe-se sempre. O pior é descer. Ouvia eu as explicações dadas para cada objecto existente na sala do leme do navio. Não ouvia com a atenção devida porque pensava em como haveria de descer aquelas escadas. Lá teria de ser de gatinhas. Fui também constatando que não era a única a preocupar-me com as escadas. Era audível o burburinho de comentários em relação a como se desceria dali para fora.

Só me esqueci vagamente das escadas quando alguém perguntou para que servia certo objecto que encontrou. Foi-lhe explicado que se tratava de uma cúpula preta que servia para ver o mar e os outros barcos nas terras do Norte da Europa nas alturas em que o Sol era tão intenso que dificultava a visibilidade. Isso acontecia durante o Verão.

Foi aí que me lembrei de outro sonho que tenho e que consiste em visitar um país do Norte da Europa- provavelmente a Noruega- durante o Verão só para ver o Sol a altas horas da madrugada quando é suposto aqui ser de noite. Isso sempre me fascinou.

A visita chegou ao fim. Sempre a resmungar, tive de descer a escada de costas. Foi um alívio quando coloquei os pés em terra firme. Os degraus estreitos tinham acabado.

Muito se atrasa tal pessoal na conversa! Muito tempo demoram certas pessoas a despedir-se! Foi já com algum atraso para algumas pessoas que tinham de apanhar transportes para Espinho ou lá para onde era que iniciamos a viagem de regresso.

Ainda houve tempo para pararmos na Costa Nova para saborearmos as bolachas americanas e outras guloseimas. Foi nessa altura que toda a gente fez contas às queimaduras solares, tal como os intervenientes numa batalha fazem aos ferimentos de guerra. Até parecia que tínhamos estado na praia. Toda a gente apresentava um escaldãozinho para testemunhar este dia agradavelmente bem passado.

Seguimos com as nossas actividades dia 18 de Junho em Mira, certamente com algo mais para relatar.

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