Monday, June 27, 2011

As escadas de Abrantes

Cada noite de sonhos que vivo, cada surpresa que apanho.

O facto de algumas coisas me passarem pela frente durante o dia leva o meu subconsciente a recriar cenários e situações completamente desconcertantes. Desta vez escolheu Abrantes como palco de mais uma versão de um dos sonhos mais recorrentes que tenho. Estou a falar daquele tipo de sonho em que tenho de subir escadas sem qualquer tipo de corrimão ou segurança, muito íngremes e com o vácuo a ameaçar à medida que subimos.

Por incrível que pareça, esses sonhos decorem com edifícios que deveriam ter infra-estruturas compatíveis com pessoas com deficiência. Lembro-me de as próprias instalações da ACAPO só serem acessíveis através de escadas de madeira e inclusive, de a própria casa da presidente da ACAPO de Coimbra não ser nada acessível. Esse sonho foi um dos mais comentados do meu blog. Foi mítico.

O que estaria reservado desta vez em Abrantes? É o que passo a descrever.

Fora uma noite de intensa actividade onírica da qual só resta esta história. E mais não é nada pouco.

Sonhei que ia participar numa acção de formação ou em algo desse género. A minha vontade de participar era pouca ou mesmo nenhuma. Foi bastante contrariada que me desloquei até lá. Previa que aquele evento fosse, como se diz em bom Português, uma grande seca, um frete, uma grande chatice.

Parece que aquilo era para me darem um louvor qualquer de bom comportamento, imagine-se. Eu bem-comportada? Só mesmo em sonhos. Eu nunca me porto bem e muito menos sou reconhecida pelas minhas virtudes, pois modestamente não as possuo. Reconheço isso com toda a frontalidade.

Para termos acesso ao local onde ia decorrer o evento, havia que subir, subir, subir até mais não poder. Era quase uma escalada. O prédio não tinha elevador mas tinha inúmeros andares. O nosso destino, por azar, era no último. Ora se não tinha de ser!

O espaço era escuro. À medida que subíamos, esfumava-se a pouca claridade que vinha da entrada do rés-do-chão. Se algum dia me fazem entrar numa coisa dessas, eu desando com quanta velocidade tiver dali para fora e só paro na estação de comboios ou na Rodoviária lá do sítio. Nem que esteja no Estrangeiro.

A escada era de madeira castanha, íngreme, irregular e apenas com uma fina e frágil corda que deveria impedir, à partida, as pessoas de se estatelarem lá em baixo. Pois...

A escalada (sim porque aquilo já não era subida, era escalada mesmo, pelo menos corda não faltava...) parecia não ter fim. À medida que íamos subindo, íamos tomando cada vez mais consciência do perigo e o medo já era intenso. Eu já não estava a achar o mínimo de piada àquela escada que já estava a inclinar para fora de tão íngreme. Mal cabia um pé num degrau, só para que conste.

Para complicar as coisas, já não se via a ponta de um chavo ali e éramos muitos. Qualquer deslize e íamos todos parar lá abaixo. Já estávamos a uma altura considerável do chão. O pânico começou a apoderar-se de nós. Já se ouviam gritos de pavor.

A certa altura, aí no décimo andar do edifício, a escada deixou de ter a tal corda. Ficámos horrorizados. E agora? Aquilo ia acabar mal. O abismo esperava-nos lá muito em baixo.

O inevitável aconteceu. Eu desequilibrei-me e voei na imensa escuridão. Seguiram-se todos os outros que estavam comigo e...a própria escada que se partiu positivamente em duas.

Ia em queda livre quando acordei sobressaltada. Depois voltei a adormecer e a sonhar com outras coisas. Quando o despertador tocou já custou mais acordar.

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