Wednesday, December 22, 2010

Tinha quatro anos quando se deu a tragédia de Camarate

Ainda não está provado se este fenómeno se deve ao problema que tenho mas pensa-se que sim. Parece que este fenómeno me acompanha quase desde que nasci. Consiste em me interessar por um tema específico e o dominar tão bem que qualquer especialista ao meu lado é um autêntico amador.

Devido ao meu problema (aí os médicos são unânimes) comecei a falar e a ter a imaginação muito desenvolvida por volta dos seis meses mas comecei a andar muito tardiamente- quase com três anos.

Serve esta pequena introdução para referir que um dos primeiros temas que dizem que eu dominava era a morte de Francisco Sá Carneiro e Adelino Amaro da Costa. A primeira coisa que despertou o meu interesse, a título de curiosidade, foram os palavrões. Hoje digo poucos mas por volta de um ano de idade não articulava duas palavras sem que uma fosse do mais puro vernáculo. Não me lembro dessa fase mas desta lembro-me vagamente e inclusive há alguns traumas que hoje guardo desse tempo.

De facto algo se passou comigo naquela altura porque não sou indiferente aos documentários que normalmente a televisão passa por esta altura do ano. Vejo documentários sobre outros acontecimentos e nenhum me causa a mesma sensação que causa este sobre a queda da avioneta do Primeiro-ministro de Portugal em Camarate. Fico arrepiada ao recordar aquilo e, até há bem pouco tempo, me limitava a dizer que foi por eu ter apanhado uma espécie de trauma quando a minha avó e a minha mãe acompanharam e comentaram os acontecimentos. Eu nessa noite lembro-me de ter ficado com uma espécie de medo. Fiquei tão assustada que inventei desde logo uma espécie de papão ou de monstro a que inexplicavelmente chamei de Zapla. Ainda hoje fico sobressaltada de forma inconsciente sempre que me ocorre assim vinda do nada essa palavra insignificante à mente. Lembro-me perfeitamente que o Zapla nasceu na noite em que se deu a tragédia de Camarate.

Depois do medo deve ter surgido a minha curiosidade. Provavelmente nos dias que se seguiram à tragédia fui absorvendo toda a informação que pude. E assim ia eu para o Hospital de Aveiro. Não sei ao certo se foi nesse ou no ano seguinte que fomos operadas aos olhos. Sei que era lá que as pessoas se deleitavam a ouvir-me falar da tragédia que vitimou Sá Carneiro. A mesma miúda reguila que abria todas as portas que encontrava e vasculhava o que lá havia, que apanhava todos os papéis nos consultórios, que corria aquilo tudo de uma só penada sabia o nome de todos os passageiros que iam naquele pequeno avião e o que faziam. Agora lembrei-me que, se fomos operadas nesse ano, foi antes de se dar a tragédia. Provavelmente frequentávamos as consultas após a operação. Faz todo o sentido.

Trinta anos passados sobre a tragédia, ainda não se chegou à conclusão se se tratou de um simples acidente de aviação ou de um brutal atentado que por acaso nem se destinava a Sá Carneiro mas sim...a Soares Carneiro que era o candidato a Presidente da República nas eleições que se iam realizar dentro de dias. Hoje quem ouve Freitas do Amaral falar, fica sem a mínima dúvida quanto à origem da tragédia. Freitas do Amaral ainda vai escrever mais um livro sobre este assunto. Ele que afirma ser um acaso ainda cá estar para contar a história. Se não tivessem trocado os planos e não tivessem ido para Setúbal a ordem de Sá Carneiro em vez de irem para o Porto, as vítimas seriam ele e Soares Carneiro. Agora em jeito de brincadeira talvez há trinta anos, se me pedissem a opinião, só pelo simples facto de me ouvirem, estes políticos que foram discutindo o assunto anos a fio tivessem chegado a alguma conclusão.

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