Tuesday, December 21, 2010

Sapatilhas brancas

Há sonhos verdadeiramente incríveis. Este é um deles. Ora aí está um familiar meu que, se bem me lembro, nunca fez parte dos meus sonhos. Para tudo há uma primeira vez.

O meu tio, este que participa neste sonho, esteve à beira da morte no Hospital de Anadia por problemas relacionados com o álcool. Recuperou e agora anda pelo centro de dia de Vila Nova. Costuma às vezes visitar-nos acompanhado de pequenos cães. Por causa disso, numa ocasião, foi mordido pelo meu cão que é uma autêntica fera.

Quando éramos pequenas, ele sempre nos dava todos os trocos que tinha no bolso. A sua mulher (por acaso irmã do meu vizinho de cima- o “Passarito”) morreu há cerca de uns dez anos atrás também devido ao álcool.

Um dia a minha mãe perguntou ao meu tio se ele não tinha vontade de deixar de beber por ter visto morrer dois irmãos e a esposa. Resposta pronta:
- Ia deixar o vinho, uma coisa que é tão boa?

Esta faceta de mãos largas do meu tio esteve presente neste sonho. Junto a minha casa, numa terra que pertence à minha vizinha, ele deu-me umas sapatilhas impecavelmente brancas cujos atacadores, por mais que os tentasse colocar correctamente, ficavam sempre curtos.

Quando ele me deu as sapatilhas já se queixava de dores no peito e, algumas horas depois, fomos confrontados com a sua morte no mesmo local onde eu me tinha encontrado com ele.

Especulava-se muito sobre a natureza do seu falecimento mas eu defendi sempre a causa natural. Terá sido um ataque cardíaco. Algumas pessoas questionavam sobre os motivos que o meu tio teria para viajar até á Polónia, imagine-se. Provavelmente o meu tio não sabe sequer onde raios fica isso.

No mesmo local (sempre no mesmo local) olhava para as sapatilhas impecavelmente brancas. Tinham sido as últimas que me tinha dado.

Agora lembrei-me: em minha casa, na minha cama, tenho uma espécie de manta da serra que os meus tios (a esposa do meu tio ainda era viva) compraram na Feira da Moita pelo Natal e me deram.

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