Sunday, December 26, 2010

Se o dinheiro acabar no Mundo



Farta de ouvir todas as manhãs sempre as mesmas notícias alarmantes sobre dificuldades económicas, pus-me a imaginar no que aconteceria quando o dinheiro acabasse definitivamente em todo o Mundo.

Antes de terem sido criadas as notas e as moedas, os nossos antepassados usavam o sistema de troca directa. Todas as transacções efectuadas envolviam a permuta de produtos. Numa aldeia trocava-se milho por trigo, tomates por alfaces, maçãs por laranjas e por aí em diante. Assim, cada um trocava directamente aquilo que tinha em demasia por outro produto que não abundasse na sua horta ou pomar pelo produto de um vizinho que não tinha esse produto mas que tinha outro em demasia.

As transacções internacionais também funcionavam assim. Na altura dos Descobrimentos, os Portugueses iam às Índias abastecer-se de seda e outros tecidos e de especiarias que trocariam na Europa por outros produtos. Depois inventou-se a moeda e tudo mudou. Para pior? Talvez. Se hoje ainda funcionasse o regime de troca directa, não haveria uma crise como a que prolifera um pouco por todo o lado e talvez a criminalidade não fosse tão elevada. Provavelmente uma grande percentagem dos crimes cometidos têm como móbil o dinheiro ou bens materiais que valem uma grande soma dele quando vendidos. Muitas vidas seriam, por isso, salvas e seriam poupadas à extrema violência pessoas mais vulneráveis como os idosos que são frequentemente vítimas de assaltos com recurso aos tratos mais desumanos.

Uma pergunta está agora a atormentar o meu espírito: como é que o dinheiro está assim a desaparecer? Para onde é que ele está a ir? Como foi destruído? Provavelmente caiu em mãos erradas que o estão a reter e a multiplicar por uma pequena minoria dos cidadãos. Só assim se explica que a crise não afecta minimamente certas pessoas que continuam a comprar artigos de luxo com ainda mais voracidade que em anos de prosperidade económica.

Muito dinheiro deve também estar a circular em meios obscuros como as organizações de crime organizado, os traficantes de drogas ou armas e os falsificadores. Alguém retira o dinheiro dos meios legais e o transfere para esses meios sujos onde é difícil de controlar ou aceder. Essa pode ser, no meu entender, uma explicação plausível para a crescente falta de dinheiro no Mundo.

O chamado dinheiro de plástico, nomeadamente os cartões de crédito e débito, também serão responsáveis por esta situação. A crise latente dos bancos terá a ver com a falta de liquidez das dívidas contraídas por empresas e particulares. Muitas pessoas gastam mais dinheiro do que aquele que têm e não pagam as prestações dos seus empréstimos.

A debilidade económica dos bancos- que me leva hoje a reflectir sobre a escassez do dinheiro- é uma situação preocupante para a economia mundial. Se os bancos estão sem dinheiro, quem o pode ter para o disponibilizar. Talvez as economias paralelas ou os grupos do crime organizado mas a esses ninguém pode pedir dinheiro para solucionar a crise.

Daqui a largas dezenas de anis, com alguma imaginação à mistura da minha parte, prevejo que gradualmente se volte ao sistema de troca directa. Quem se sustenta com o que a terra produz sente menos os efeitos da crise e pode até vender ou trocar os seus produtos com outras pessoas que também cultivem o suficiente para se alimentarem.

A antevisão de um retorno à troca directa não é de todo disparatada. Hoje em dia já há alguns estabelecimentos de troca de produtos usados. De roupa, livros e demais objectos que nos deixam de ser úteis mas que ainda podem servir para outras pessoas. Será este um sinal do retorno ao regime de transacções dos nossos antepassados?

No comments: