Tuesday, December 28, 2010

“Porque Não Pediram A Evans” (impressões pessoais)



Mais uma emocionante história destas a que Agatha Christie me tem habituado ultimamente. Na verdade eu não quero outra escritora para me proporcionar estes momentos de suspense e incerteza quando estou a ler uma obra.

No outro dia constatei com alguma tristeza que já não havia na Box mais livros desta colecção. Eu que tencionava adquirir quantos pudesse independentemente de estar ou não a trabalhar. Espero que a colecção das Edições Asa volte a estar disponível porque estou viciada nestes livros.

Sobre esta obra em particular, tenho a dizer que não foi protagonizada por Hercule Poirot ou Miss Marple. Tal como na obra “Um Brinde À Morte” o protagonista é um desconhecido nas andanças da investigação criminal.

O protagonista está calmamente a jogar golfe com um amigo quando, ao recuperar uma bola perdida, encontra um moribundo que terá caído de um penhasco que antes de morrer se limitou a perguntar porque não pediram a Evans. Não pediram o quê? Quem era Evans? Isto e muito mais foi o que Bobby Jones e a sua amiga Frankie quiseram saber quando se puseram a investigar este caso por conta própria ao aperceberem-se de algo errado que os levou a concluir que a identidade do homem que morreu não era a que constava da identificação oficial feita alegadamente por familiares que reconheceram uma foto que a vítima trazia no bolso.

No dia da tragédia, Bobby tinha um compromisso religioso e deixou outro indivíduo (Roger) a guardar o corpo. Roger trocou a foto da cabecilha da organização criminosa pela foto de outra mulher que também pertencia ao gangue que o veio a reconhecer como sendo seu irmão através dessa fotografia.

Nesta obra, tal como aconteceu por exemplo em “Anúncio De Um Crime” Agatha Christie transforma os culpados em vítimas e as vítimas em culpados para nos confundir.

Através de um método pouco ortodoxo, Frankie estabelece-se em casa dos familiares de Roger por desconfiar que este estaria implicado no crime. Na verdade não se enganou mas a história conheceu muitos avanços e recuos até lá chegar. Ao se integrar no ambiente da casa, Frankie depressa está tentada a ilibar Roger do crime e a implicar um visitante que por lá aparece- o Dr. Nicholson- por simplesmente o ter achado estranho e não ter, de maneira nenhuma, simpatizado com ele.

A esposa de Nicholson aparentava ser uma mulher terrivelmente assustada e submissa ao marido. Ao conhecer a mulher do médico especialista na reabilitação de toxicodependentes e pacientes de doenças mentais, Frankie não fazia ideia de que ela era a mulher que se encontrava na foto que fora trocada do bolso do falecido por Roger.

Bobby veio a conhecer a mulher do médico uns dias mais tarde após mais uma investida à sua clínica para investigar o caso. Nessa altura já estavam na posse de dados que confirmavam que a identidade da vítima havia sido adulterada e já havia sido falhada uma tentativa de eliminar Bobby que milagrosamente sobreviveu a uma dose mortal de morfina. O autor do envenenamento fazia-se transportar no carro de Nicholson. Como Nicholson tinha acesso a drogas, tudo indicava ser ele o culpado. A mulher confessou a Bobby que desconfiava que o marido a queria matar porque estava apaixonado pela esposa de Henry que era o irmão de Roger e que cada vez mais se estava a tornar refém do vício da morfina.

A partir do relato de Moira Nicholson, passou a não haver dúvidas na cabeça dos protagonistas (e dos leitores) sobre a identidade do culpado. Mas em Agatha Christie nem tudo o que parece é.

Pelo meio ainda há a morte de Henry atribuída a suicídio pelo sofrimento causado pela dependência da droga. A rapidez com que Nicholson chegou ao local do crime não abonou nada a seu favor.

Quando Moira desapareceu e Bobby a tentou procurar, caiu numa cilada e foi parar a uma casa onde o fizeram prisioneiro. Atraída por um alegado bilhete de Bobby, Frankie depressa se encontrou também no mesmo local e nas mesmas condições. Quando olharam para o seu carcereiro, Bobby e Frankie pensaram ter a confirmação que tinham acertado na identidade do criminoso mas uma conversa sobre orelhas fez lembrar a Frankie que as orelhas de Nicholson eram quase imperceptíveis e que aquele homem que os detinha e ameaçava não era ele.

Depressa se aperceberam que era...Roger- um excelente actor e falsificador. Fora ele quem matara o irmão e que ao logo da história foi falsificando documentos e disfarçando-se. Nicholson nada tinha a ver com esta história. Era apenas uma vítima dela e o bando apenas se queria também ver livre dele.

Mas quem era então o cabecilha do bando? Por incrível que pareça, os papéis estavam invertidos. A cabecilha era...a esposa de Nicholson- a tal que confessou estar a morrer de medo do marido para atrair as atenções para ele e deixar os elementos do seu bando em paz.

Ao longo da investigação, Bobby e Frankie constataram com alguma inquietação que neste caso surgiam muitas referências ao caso do milionário John Savage que alegadamente se suicidou por pensar que sofria de cancro. É este caso a chave para todo o enredo da história. Algo que parecia ser secundário era afinal de extrema importância.

John Savage conheceu a criminosa que agora dava pelo nome de Moira durante uma viagem e rapidamente ficou atraído pela sua delicadeza e simpatia que não faziam antever o espírito assassino da mulher.

Sendo um homem muito rico, Moira aproveitou-se desse facto para engendrar um plano para lhe sacar a fortuna. Foi aí que pediu ajuda a Roger que tinha fama de falsificador. Disfarçado de Savage e aparentando grande perturbação, Roger redigiu um testamento em que deixava toda a sua fortuna à sua amiga e o resto seria para instituições de caridade. Como testemunhas desse testamento escolheu um velho jardineiro da casa com mais de setenta anos e quase cego e a cozinheira que não primava pela inteligência. Estranhamente, a criada para todo o serviço que era uma mulher de grande astúcia foi preterida. No dia seguinte, Gladys Evans- a empregada que ficou de fora na assinatura do testamento- encontra o genuíno John Savage morto no quarto onde alegadamente dormiu. Toda a gente pensou ter-se tratado de suicídio mas na verdade fora morto por Roger que se fizera passar por ele na véspera.

O passo seguinte de Bobby e Frankie consistia em encontrar a empregada Evans que na verdade...trabalhava em casa dos pais de Bobby. Entretanto casara e alterara o seu apelido para Roberts.

Ao descobrirem esse coincidente facto, arrancaram a toda a velocidade em direcção à pacata aldeia onde Bobby vivia e onde Alan foi morto. Ao chegar a casa, Bobby encontrou Moira à porta. A empregada já a tinha reconhecido.

Moira atraiu os dois jovens para um café nas imediações e tentou envenená-los novamente pondo algo nos cafés enquanto os jovens foram atraídos à porta por ela que afirmou que Roger ali estava. Frankie desmascarou-a.

A pergunta do homem que foi atirado do penhasco por Roger estava respondida. Porque não pediram à Evans para ser testemunha do testamento? Porque Evans era inteligente demais e facilmente depreenderia que algo estava errado. O homem que foi atirado do penhasco também buscava uma explicação para o caso e ia-se encontrar com Evans transportando uma fotografia de Moira no bolso para que fosse identificada. Sabendo das suas intenções, Moira mandou Roger segui-lo e eliminá-lo antes que todo o plano fosse desmascarado por Evans (Roberts) e Alan- a primeira vítima mortal e que desencadeou a complexa investigação.

O próximo livro que vou ler foi comprado hoje. Trata-se de um livro escrito por uma das minhas grandes referências, senão a maior no ramo da escrita criativa. Tendo-me esquecido de trazer outro livro de casa, comprei “A Chama Imensa” de Ricardo Araújo Pereira. Vai ser certamente uma leitura agradável e divertida.

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