Wednesday, December 22, 2010

“Money” (impressões pessoais)




Quando comecei a ler este livro pensei que fosse mais um livro para descontrair e que iria ser fácil falar sobre ele. No entanto, à medida que a leitura foi avançando, constatei que haveria algo de interessante para abordar tendo como pano de fundo esta obra escrita pelo inglês Martin Amis.

Este livro é extenso mas aparentemente fácil de ler devido à linguagem acessível do narrador que é ao mesmo tempo o personagem principal. A linguagem é tão acessível que é frequente se recorrer ao calão e ao vernáculo. Uma colega minha não narraria as suas tropelias melhor. Qualquer semelhança entre o relato das aventuras deste John Self e as tropelias de qualquer cidadão comum não é pura coincidência.

John Self (aqui o nome já nos remete para algum simbolismo) é um indivíduo que trabalha na realização de polémicos anúncios de publicidade e que é burlado por um americano que lhe promete rios de dinheiro mas que não passa de um falsário.

John é um indivíduo cheio de vícios, portanto o dinheiro queima-lhe nas mãos, como se costuma dizer. Está sempre bêbado, frequenta locais pouco recomendáveis e envolve-se sempre em confusão. Deleitei-me com as histórias das suas visitas a bares em que o punham na rua sem que ele se lembrasse do que tinha feito para os donos do estabelecimento estarem a agir assim apesar de ele acenar com prestigiados cartões de crédito e notas de grande valor.

Enquanto John esbanjava dinheiro que não lhe pertencia e acumulava dívidas sem o saber, o burlão manobrava nos bastidores para que o inglês se perdesse cada vez mais no mundo do álcool e da prostituição de luxo. Enquanto isso prometia-lhe sucesso no seu filme que se chamava “Dinheiro Sujo” ou “Dinheiro Limpo”. Para o efeito conluiou-se com alguns dos actores mais famosos e contratou outros para se relacionarem socialmente com John Self.

Enquanto John se perdia no Mundo obscuro ia recebendo telefonemas misteriosos de alguém que o seguia e lhe relatava o que ele tinha feito já embrenhado no álcool. O episódio do bar gay é delicioso. Na verdade quem lhe telefonava era o burlão que o queria gozar. Quando finalmente John se encontrou com o homem misteriosos do telefone e lhe deu uma tareia veio a verificar-se que se tratava do indivíduo que lhe extorquiu tudo.

Quem o acabou por salvar pagando a viagem de retorno a Londres foi a sua namorada que era uma interesseira. Quando foi trabalhar em profissões duvidosas nos Estados Unidos, a antiga namorada de John amealhou dinheiro e não deixou de o proteger das autoridades e dos credores.

Em Londres John passou a viver uma vida modesta na qual passou a trabalhar honestamente e passou a ser um ser melhor.

Martin Amis- o autor desta obra- é também um personagem dela. É vizinho de John e convive com ele. Martin e John têm comportamentos opostos. John leva uma vida de risco enquanto que Martin leva uma vida regrada, John é apegado ao dinheiro e aos bens materiais enquanto que Martin se interessa pela cultura. Não conheço a personalidade deste escritor inglês para aferir do objectivo de criar um personagem contrário a ele. Se foi mesmo para haver um contraste entre os dois, a ideia está muito bem conseguida. Talvez John seja o que Martin gostaria de ser ou talvez seja mesmo o que Martin é. Volto a referir que não conheço o escritor em causa, senão interpretaria melhor o objectivo do antagonismo entre as duas personagens.

O mesmo acontece com uma personagem que sofreu uma mutação, digamos assim, das características de Martin para as de John. Trata-se do actor Spunk Davis que inicialmente era descrito como alguém desinteressado do dinheiro, que entregava os seus lucros a instituições de caridade e que apenas se interessava pela elevação espiritual. Depois passou a ostentar a riqueza e a ficar como todas as estrelas de cinema. O seu comportamento passou a ser mais aproximado ao de John e a afastar-se das características de Martin.

Da leitura deste livro surge a velha máxima de que o dinheiro não traz felicidade. Nota-se que à medida que as personagens vão tendo dinheiro perdem os valores enquanto seres humanos. John a certa altura compara-se a um robô. Não há melhor para descrever a transformação negativa que o dinheiro incute nas pessoas.

Por vias conturbadas, esta história acaba por nos trazer esta mensagem: o dinheiro só traz problemas. Apesar de extensa, esta obra proporcionou uma leitura agradável e descontraída para no final nos transmitir uma mensagem séria. Dou nota positiva a este livro, apesar de se afastar um pouco dos que mais me fascinam. Esses seguem dentro de momentos com mais uma empolgante obra de Agatha Christie. “Porque Não Pediram A Evans” é o prato para os próximos dias.

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