Tuesday, December 21, 2010

O médico enlouqueceu

Numa fronteira onírica entre Coimbra e Vila Nova, numa zona de difícil acesso, ficava o consultório do Dr. Manuel.

Eu desloquei-me à sua consulta numa tarde em que se antevia uma tempestade ou um qualquer outro tipo de fenómeno natural que estava previsto pontualmente para uma determinada hora.

No consultório foi-me dito que o Dr. Manuel tinha enlouquecido. Andava agora pelas ruas a qualquer hora do dia ou da noite a conduzir uma viatura do INEM com os semáforos e as sirenes ligadas, causando o pânico e o caos.

Estava uma noite algo melancólica. Ameaçava desabar um temporal de proporções gigantescas. Os relâmpagos já cruzavam o Céu e os trovões já ribombavam. O Dr. Manuel já tinha passado à minha porta inúmeras vezes. Quando tentava a toda a pressa desligar o computador e as luzes por causa do temporal, lá vinha a ambulância conduzida pelo Dr. Manuel a descer a ladeira. Vinha do lado de Vila Nova. Eu queria-me despachar a desligar tudo mas algo me turvava os movimentos.

Para se refugiarem do temporal, inúmeras pessoas conhecidas e desconhecidas reuniram-se em volta da lareira de minha casa. Conversava-se até em amena cavaqueira mas quando ao longe se ouvia o som da sirene da ambulância do Dr. Manuel que cortava os sons tenebrosos do temporal, toda a gente ficava em silêncio. Quando por fim o silêncio era quebrado, toda a gente lamentava a loucura do médico.

A minha colega de trabalho também estava ali sentada à lareira a contar as tropelias com que nos brinda normalmente à hora do almoço. Mais um barulho de alarme da ambulância do Dr. Manuel e também ela se calou. Aquilo incomodava imenso. Era um ambiente desolador de cada vez que o alarme daquele veículo se ouvia ao longe, cortando o som do vento, da chuva e dos trovões.

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