Wednesday, December 22, 2010

Erros, equívocos, decisões precipitadas, acções a quente...

Se me pedissem para caracterizar a minha vida até à data, diria que toda ela foi completamente feita e desfeita de erros, equívocos e decisões menos correctas. Com tudo isto, aqui estou eu num beco sem saída.

A situação que agora estou a viver resulta de más decisões tomadas por mim e de alguma inocência da minha parte em não resistir a pressões dos outros que se aproveitam por vezes da minha fragilidade e dos meus problemas para me moldarem a todo o custo a minha vida.

Nesta altura encontro-me fortemente decepcionada porque não soube esperar por uma oportunidade que pudesse surgir para refazer a minha vida e voltar a ter prazer em fazer alguma coisa.

O que se passou foi o seguinte: estou empregada num supermercado sem perspectivas de progredir na carreira ou de vir um dia a passar para uma outra área mais condigna com a minha formação académica. O facto de eu ter os problemas que tenho impede que tenha objectivos tal como a maioria das minhas colegas ali dentro têm. Até gosto do trabalho mas não me vejo a fazer isso o resto da vida porque sofri muito para ter uma licenciatura. Também o Ensino (especialmente a componente prática) é bastante desgastante para quem tem problemas. À custa de excelentes notas em disciplinas teóricas como Guionismo e outras do mesmo género consegui ter êxito nos estudos. Sofrer tanto para agora ficar o resto da vida ali é uma coisa que me deixa triste só de pensar que tal pode vir a acontecer.

Há tempos surgiu a hipótese de fazer o tão almejado estágio profissional num local onde eu já estive. Da primeira vez que lá estive as coisas não correram bem principalmente porque o meu estado de saúde se agravou e, com isso, perdi inúmeras coisas na vida que me eram fundamentais para viver feliz. Prevendo o que ia acontecer decidi vir-me embora. Desta vez estaria disposta a ajudar porque sempre adorei participar em projectos e iniciativas que pudessem fazer felizes as pessoas com deficiência. Poderia dar ideias para iniciativas, tal como cheguei a dar durante os curtos seis meses em que lá estive, divulgar as actividades da instituição como fazia e muito mais. Como iria fazer o estágio profissional teria um salário que me permitisse ter outras condições de alojamento sem ter de estar a dividir quartos com alguém que danificasse as minhas coisas ou tivesse comportamentos prejudiciais à minha saúde. Poderia ainda requisitar livros da biblioteca bem apetrechada que lá existe e poderia retomar o Desporto apenas e só para manutenção. Em suma iria ter vida para além do trabalho, coisa que não tenho actualmente e me está a deixar completamente desolada.

Ali teria igualmente tempo para escrever, tal como eu fazia em 2004. Na altura em que fui operada toda a gente dizia que eu escrevia muito bem. Gostava que essas mesmas pessoas vissem como eu escrevo hoje. Escrevo certamente de maneira diferente. Eles poderiam averiguar se escrevo melhor ou pior do que nessa época. Estive quase dois anos sem escrever, até que o mundo dos blogues me recuperou o ânimo para escrever. Que eu escrevo de maneira diferente dessa época não tenho dúvidas, se o meu talento continua intacto depois do que eu passei só as pessoas que conheciam o meu trabalho anteriormente poderão opinar sobre isso. Já me entusiasmava em lhes mostrar o que tenho andado a fazer mas o facto de eu estar neste emprego que não me oferece saídas profissionais nenhumas, que me impede de passar um dia decente com a minha família e com os meus gatos, que me impede de desenvolver convenientemente os meus projectos de escrita e que me tira o tempo para praticar Desporto e participar em outras actividades impediu que se concretizassem os meus intentos.

Quando recebi o mail a confirmar que não tinha sido escolhida e que as pessoas escolhidas integraram os estágios de imediato deixou-me completamente desolada. Não é todos os dias que aparece uma proposta de estágio profissional para uma pessoa com necessidades especiais e com licenciatura. Ainda por cima num local que eu tive pena de deixar na altura mas que teve de ser devido aos problemas que estava a ter. Não estou arrependida de ter saído de lá. Apenas teve de ser por não haver condições para continuar. Pensei bastante antes de ter decidido sair de lá mas as constantes más notícias vindas dos Covões que inclusive me fizeram pensar no suicídio assim o determinaram. Hoje iria para lá continuar aquilo que deixei e tentar ajudar com mais afinco. Como agora passei a ter outro objectivo que passa por fazer carreira na escrita, talvez me pudessem ajudar. Nesta altura nem sei o que fazer, a quem recorrer. O tempo que este trabalho me rouba para procurar ajuda e dedicar-me ao que eu gosto de fazer de outra maneira impede-me de dar o passo em frente que falta. Talvez ali conseguisse.

Hoje arrependo-me de ter cedido à pressão de pessoas que quiseram a todo o custo empregar-me onde eu estou e culpo-me por não ter esperado alguns meses por esta proposta. Tenho um amigo meu que recusou esta proposta de trabalhar no supermercado. Ele também é licenciado, curiosamente no mesmo curso do que eu, mas o sonho dele sempre foi dar formação na área da Informática. Hoje ele dá aulas de Informática numa instituição. Recusou este emprego, ouviu desaforos mas resistiu e hoje está a fazer o que sempre sonhou. Eu, à primeira tentativa de pressão, lá tive de aceitar. Colocaram-me alegadamente sem alternativas. Este erro, este equivoco e esta decisão tomada sem pensar hoje está a arruinar a minha vida.

Graças a este equívoco, sinto que estou a perder a minha identidade, aquilo que me caracteriza. Há muito que deixei de ter prazer na vida. As pessoas dizem-me que há que conservar um emprego que é hoje em dia um bem precioso. Dadas as circunstâncias da vida hoje, sou obrigada a aguentar isto mas não deixo de sentir mágoa por ter cedido à pressão exercida por duas pessoas naquela tarde de Novembro do ano passado. Continuaria em casa mas não perderia os meus rendimentos e as minhas regalias em termos de saúde. Há que notar que sofro de uma doença progressiva que consiste em as células do cérebro que comandam a visão morrerem progressivamente até que não exista comunicação visual entre os meus olhos e o meu cérebro. Se a minha saúde sofre um revés como sofreu naquela altura como será?

Quem esperou dois anos por um emprego (ou por um estágio profissional como é o meu caso) também esperaria por uma proposta como esta que surgiria alguns meses depois. Se eu adivinhasse, nem que me tivessem encostado uma arma à cabeça naquela tarde eu teria aceitado. Esta decisão precipitada está a acabar com a minha vida. Simplesmente isso. Não tenho tempo nem para me alimentar convenientemente. Chego a casa exausta e não dá para fazer nada. Há dias em que chego com a cabeça feita em água. Não vale nada esforçar-me, dar o máximo, se depois o problema que eu tenho me impede de progredir para além de simples ajudante que não ganha mais do que o salário mínimo, que gasta mais de vinte e cinco euros de duas em duas semanas para nem vinte e quatro horas estar com a família, que se levanta de madrugada às segundas-feiras para estar às nove horas no emprego e que tem de apanhar um táxi (quando os há junto à Rodoviária) e por vezes nem às nove horas chega, que tem de pagar aos trinta euros de Internet quando em casa a tinha quase de borla e que passa mais de doze horas por dia num ambiente hostil onde não se sente bem. Começo a ficar completamente desmotivada, até porque não encontro soluções para alterar este estado de coisas.

Este erro, este equívoco, esta decisão precipitada está a arruinar-me cada vez mais. A vida não é só trabalho e os dias que passo naquele ambiente, sem a minha família e amigos, sem as coisas de que gosto e sem o meu espaço protegido estão a arruinar-me. Acaba de se esgotar a minha esperança de alterar este estado de coisas.

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