Friday, December 10, 2010

Se eu vivesse num país nórdico



O Inverno está aí. Com ele chega o frio impiedoso, os dias mais curtos e as noites mais longas. É nestas alturas que me sinto mais melancólica. As mudanças de estação são terríveis para mim.

Começo a imaginar o que seria se vivesse num país onde a paisagem fosse predominantemente coberta de neve, onde as temperaturas fossem extremamente baixas e onde haveria poucas ou nenhumas horas de Sol. A escuridão completa durante algum tempo.

Um dia, enquanto se falava de planetas e da certeza de o Sol nascer todos os dias, eu comecei a imaginar o reboliço que não seria se acaso um dia, por qualquer fenómeno insólito, o Sol não nascesse.

Também já sonhei uma vez que era mais de meio-dia e ainda era de noite. As pessoas estavam admiradas e eu estava a curtir aquele momento. Afinal de contas seria algo que vinha revolucionar todo o quotidiano de todo um planeta. Isto se não fosse Inverno e não estivéssemos na Noruega ou na Islândia. Nestas alturas do ano eles já estão habituados a estas coisas.

Aqui em Portugal acontecer um fenómeno desses seria interessante. Para já não se falaria de outra coisa nos noticiários e os nossos políticos ficariam também felizes da vida por as atenções terem sido de si desviadas. Ninguém iria trabalhar e toda a gente faria autênticas romarias pelas ruas para curtir o estranho fenómeno. Os velhotes ficariam escondidos em casa por acreditarem ser este um sinal do fim do Mundo e muita outra gente encheria as igrejas a rezar.

Aqui as pessoas não sabem que os noruegueses, por exemplo, já sabem que a partir de certa altura do ano vão deixar de ter luz solar. Sinceramente, eu seria incapaz de viver num país desses em pleno Inverno. Seria deveras deprimente. Se eu odeio esta época do ano, principalmente quando estou longe de casa e sem o conforto de uma fogueira, imagine-se viver naquelas paragens. Que horror! Jamais iria para lá trabalhar.

Já imagino os islandeses agora a manifestarem-se com a iluminação artificial a alumiar os seus cartazes de protesto. Andariam agasalhados até aos dentes e em passo lento para não escorregarem na neve que não pára de cair. Pensando bem, até gostaria de ir lá passar um dia ou dois para ver como é que eles vivem assim sem ver a luz do dia. Seria estranho. Isso não vai acontecer porque eu não tenho dinheiro para lá ir.

Eu odeio andar de noite pela rua. Se vivesse num desses países, teria de meter baixa ou tiraria férias. Pedia imensa desculpa mas tinha de hibernar por não me adaptar a essas condições.

Lembro-me que quando era miúda havia um programa para jovens que mostrava a vida de crianças em diferentes partes do Mundo. Uma das reportagens de que me recordo tinha a ver precisamente com a vida de uns miúdos na Islândia que tinham de ir para a escola…de noite. Na altura eu admirei-me e comecei a imaginar o quão infelizes eles eram por não poderem brincar na rua como eu e os meus vizinhos. Hoje eu digo que é por isso que eles se criam tão enfezados, capazes de cair de cama quando a temperatura sobe um pouco mais ou apanham um pouco mais de Sol. Quanto ao facto de eles serem infelizes, penso que eles já estão habituados e não conhecem a realidade de andarem rua abaixo, rua acima com um pneu vazio de um atrelado como eu fazia quando era criança.

Nunca mais me esqueci desta reportagem e, alguns anos depois, recordei-me ainda mais dela quando uma amiga minha da minha terra (que por acaso brincou muito comigo no campo) nos tentou enganar dizendo que, em pleno Inverno, se tinha de deslocar à Islândia para jogar Voleibol. Houve uma pessoa que a viu…em Anadia e depois lhe perguntou se a viagem até a Islândia tinha sido boa. Ela disse que tinha adorado porque os passarinhos poisavam nos telhados das casas. Não evitei soltar uma gargalhada. Passarinhos lá só se fossem corujas ou algo do género e mesmo assim tenho as minhas dúvidas se há dessas aves por lá. Quando se entranhou aquela história na cabeça dela, certamente que ela não teve o cuidado de ir estudar um pouco das características geográficas da Islândia, senão não debitava uma bacorada daquelas. De referir que ela terá visto os pássaros no telhado de uma casa ali bem perto, em Anadia, e mesmo assim não sei. Estava-se na altura do Natal.

De referir que um dos meus sonhos é visitar um país nórdico durante o Verão. Isto porque em Junho acontece exactamente e o contrário. Lá é dia praticamente vinte e quatro horas. A experiência mais aproximada que tenho desse fenómeno foi quando estive na Polónia. Pelas quatro da manhã já era de dia e já havia grande movimento pelas ruas como se fossem oito ou nove da manhã aqui.

Este ano o Festival Eurovisão foi na Noruega. Por volta das onze e meia da noite já estava o novo dia a querer nascer. Deve ser um espectáculo maravilhoso ver o Sol a nascer por volta da meia-noite. Aí sim. Valeria a pena ver isso. Quando me calhar uma quantia jeitosa no Euromilhões tenho de pensar em fazer essa viagem. Para já esse território deixa de ter a presença da luz solar durante alguns meses.

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