Wednesday, December 29, 2010

Diplomas na mão

Fui hoje finalmente buscar os meus diplomas à secretaria da ESEC. Como o curso era bietápico, tive direito a dois diplomas- um do bacharelato em Comunicação e outro da licenciatura em Comunicação Social.

Enquanto segurava os diplomas nas mãos questionei-me sobre a utilidade deles. Dada a minha situação actual, não valeu de nada ter-me esforçado arduamente para os conseguir. Ao contrário do que muitas das minhas colegas pensam (é com grande revolta que as ouço dizer isto quase todos os dias) estudar no Ensino Superior não é fácil. Inclino-me talvez a pensar que elas é que tiveram juízo ao não prosseguir os estudos. O resultado é o mesmo: estou onde elas estão e no meu caso ainda estou pior do que elas porque elas têm sempre a hipótese de progredir na carreira.

Se para uma pessoa sem deficiência o Ensino Superior requer grande dedicação, para quem tem necessidades especiais a situação ainda se complica mais. De facto poderia ter tirado melhores notas do que aquelas que tirava mas a certa altura abriu-se uma outra porta na minha vida- a do Desporto- e comecei a ser bem sucedida nessa área. Mesmo assim tirava notas ainda melhores do que muitos dos meus colegas que hoje estão a trabalhar na área. Isso revolta-me. Havia disciplinas em que tirava acima de catorze. O que me complicava a vida eram as cadeiras práticas. Naturalmente as armas não eram as mesmas dos meus colegas mas fiz o melhor que pude.

Houve uma época em que o curso se tornou predominantemente prático e eu desanimei um pouco. Depois para complicar as coisas disseram-me que para ser animadora de rádio não era preciso vir para ali estudar. Na altura pensei mesmo em desistir mas decidi ir até ao fim.

A cadeira de Matemática também me deu um bocadinho de trabalho. Tive de ficar um ano a fazer essa maldita disciplina porque não podia ingressar no quarto ano que dava direito à licenciatura sem ter concluído todas as cadeiras dos três anos de bacharelato. Houve males que vieram por bem. Esse foi o melhor ano da minha vida até à data. Tendo mais tempo livre, aproveitando a crescente ascensão na minha carreira desportiva com a participação em provas internacionais e em estágios, dediquei-me mais arduamente ao Desporto dentro e fora dos recintos desportivos. Foi impulsionada por todos os êxitos que fui tendo que nasceu por brincadeira a melhor das minhas obras ao cimo da Terra- uma página na Internet sobre Desporto Para Deficientes Visuais. Quando a coloquei online jamais fazia ideia de onde aquilo ia chegar. Surpreendi-me quando em Outubro de 2000 recebi um telefonema da Rádio Vaticano de Roma. Pensei tratar-se de uma brincadeira mas foi mesmo a sério. Também me fui apercebendo que esta era única página em língua portuguesa sobre esta vertente do Desporto que estava a ser negligenciada inclusive pelas instâncias que tinham o dever de o dar a conhecer.

No quarto ano surgiu um novo alento no curso. Desconhecia que havia uma cadeira de Guionismo. Ao ter algumas aulas fui-me fascinando. Foi uma das minhas disciplinas favoritas do curso e gostava ainda hoje de me aprofundar mais nessa área aproveitando o facto de eu gostar de escrever, ter alguma criatividade e ter pouca mobilidade e autonomia para ser uma jornalista convencional. Agora com a minha situação actual, cada vez vejo mais a escrita como a saída profissional mais viável para mim. Ainda sonho voltar a fazer rádio mas os preconceitos das pessoas impedem-me de ao menos lhes mostrar que é possível eu desempenhar o meu trabalho como outra pessoa qualquer. Se possível até gostava de fazer as duas coisas. Isso era o prazer supremo. São duas coisas de que gosto imenso.

Ao longo destes anos de curso recordo o facto de quase nunca ter mexido num computador antes de ter ingressado na ESEC e ter uma cadeira de Informática. Foi então que passei a aproveitar todas as horas livres que tive nos primeiros tempos para ir para as salas de Informática treinar com os computadores. Em pouco tempo já tratava os computadores por tu e se hoje não tenho qualquer tipo de problemas a resolver as questões mais complicadas da Informática, devo-o a esse facto. Foi com os erros que fui aprendendo, através da curiosidade e da vontade de explorar as máquinas. Só assim me foi possível acompanhar os meus colegas nas aulas de Informática.

Quando surgiu a Internet tive alturas de sair das instalações da escola por volta das dez da noite, até porque havia que fazer pesquisas para trabalhos. Para o de História principalmente que foi o responsável por muitas das saídas tardias da escola.

Passados três anos já conseguia construir sem problemas uma página web decente e muitas das vezes recorria mesmo à escrita de linguagem HTML à mão. Não havia nada que eu não conseguisse fazer com um computador. Numa ocasião cheguei à sala de Informática e todos os computadores estavam ocupados. Por acaso aquele onde eu tinha os meus trabalhos estava livre e desligado. Ia para o ligar e disseram-me que ele estava avariado e que já por ali tinha andado o professor a ver se o arranjava. Teimosa como sou, resolvi ligá-lo. Estava a dar um erro qualquer. Já não me lembro do que lhe fiz. Só sei que deixei os alunos que estavam na sala de boca aberta ao tê-lo posto a funcionar sem problemas. Se bem me lembro, o computador esteve ligado comigo lá a trabalhar até cerca das oito ou nove horas da noite. E não se queixou.

Agora que seguro finalmente os diplomas nas mão, vou recordando as vicissitudes dos tempos de estudante e temo que eles não me sirvam de nada para melhorar as minhas condições actuais de vida. É revoltante ter andado a sacrificar-me tanto para nada.

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