Sunday, July 25, 2010

Uma ilha só para mim

Com a crise que por aí anda (e não é só aqui em Portugal) alguns países fazem o que podem e o que não podem para colocar o seu défice e a sua dívida internacional em valores mais equilibrados. A situação mais alarmante é a da Grécia que adoptou um rígido plano de austeridade que todos os dias é contestado pelos cidadãos nas ruas. Todos os países da Zona Euro se propuseram a ajudar os gregos e agora mais dívidas há para pagar.

Terão sido, portanto, os Gregos a terem a ideia de vender algumas ilhas do seu território para fazerem face à falência que os assola. Malditas agências de rating americanas! Há pelo menos mais dois países que seguiram o exemplo grego e colocaram também algumas ilhas à venda a preços muito convidativos- Moçambique e a Nova Zelândia.

Espero ardentemente que me calhe um prémio chorudo no Euromilhões para poder comprar uma dessas ilhas e ir para lá. Era da maneira que me livrava de muita gente e de muitas situações complicadas que sempre me incomodam.

Se acaso acontecesse, coisa que eu não acredito, eu ganhar o prémio máximo teria de escolher um desses três destinos para instalar por lá o meu quartel-general. Mas que destino escolher? A Grécia seria uma possibilidade porque sempre me poderia dedicar ao turismo para aqueles lados mas...eu queria sossego e a Grécia é demasiado perto de Portugal e das chatices.

Nunca escolheria Moçambique. Completamente descartada. Fala-se lá Português e só isso bastaria para as pessoas me chatearem ainda mais. Se tivesse dinheiro, compraria essa ilha mas para oferecer como local de retiro para os meus pais. O meu pai, que andou na Guerra Colonial em Moçambique, gostaria um dia de voltar àquele território. Por que não viver lá em determinadas épocas do ano e voltar a comer dos frutos tropicais tão do seu agrado quando os trazemos do supermercado? Teria novamente macacos em casa e usufruiria das maravilhas naturais do país que só teve oportunidade de conhecer enquanto se escondia no mato da ofensiva inimiga.

Para mim restava-me ir para a Nova Zelândia. Era o mais apropriado para quem quer cortar com a vida que leva. Como diz Ricardo Araújo Pereira “vou fazer a minha vida para outro lado onde as pessoas dizem ah e tal...” mas não chateiam porque aquilo passaria a ser meu e mais nada. Se me querem chatear, que chateiem os vizinhos! Eu corria logo o primeiro ou a primeira que se metesse na minha vida. Ora eu vim de tão longe para ter sossego e agora chegam-me aqui uns (na verdade até já lá estavam, eu é que sou má) e resolvem-me importunar?

Para evitar dissabores e mexericos fingiria não saber falar Inglês ou não entender o que eles me perguntavam. Todo esse esforço até seria evitado caso os nativos da ilha fossem maoris. É que eu não entendo mesmo nada do que eles dizem. Boa! Vamos encher a ilha de maoris!

Mas...eu penso que os maoris também falam Inglês. Oh não! Bem, se eu vier para ali com ar de ditadora, eles nem abrem a boca, sabendo ou não falar Inglês. Ali só os mando trabalhar para mim enquanto eu me refastelo a ler ou a ouvir música ao sol. Mandaria construir uma enorme casa (para os outros limparem, claro esta, se eu hoje sou pobre que nem sei lá o quê e não mexo uma palha…) com um grande jardim enfeitado com feijoas. A exportação desse exótico fruto ajudar-me-ia a ganhar uns trocos por fora, se bem que não precisasse disso. Nunca se sabe…

Então e o tão almejado Complexo Desportivo que tanto sonhavas erguer quando fosses rica? Agora mudaste de ideias, foi? Claro que não. O Complexo Desportivo agora teria Spa e tudo. Há que adaptar as infra-estruturas à realidade do local onde estão situadas. Já não seria possível eu ajudar os atletas deficientes de Portugal...a não ser que...abrisse lá também um- lá está- para ganhar umas massas por fora. A partir do outro lado do Mundo podê-lo-ia gerir. O da Nova Zelândia seria uma pequena filial desse e serviria para fomentar a prática do Futebol, tal como o conhecemos por cá pelo nosso burgo. Era da maneira que aquele artista já tinha clube. Como eu gosto muito dele, da sua forma de encarar o jogo, iria convidá-lo para me ajudar a fundar um clube chamado...New Zealand Red Boys- o Benfica lá do sítio. Depois faria um protocolo com a equipa-mãe- o Glorioso para a captação de talentos. Eu estou cá com umas belas de umas ideias...

Ainda há pouco disse que ficaria esticada ao sol a ler, a ouvir música e a consultar a net através da rede sem fios. Isso é uma maneira de falar. Nos intervalos do meu tempo de extremo ócio trabalharia, até porque é triste uma pessoa engordar, mesmo que de vez em quando vá dar uns mergulhos no mar, com ou sem ondas de três metros como as de S. Martinho do Porto do ano passado.

E então os teus amigos e a tua família? Que ingrata tu és! Claro que a minha família lá ia passar uns dias de férias para descansar da loucura do dia-a-dia. A minha irmã só lá iria se não me chateasse com os seus falsos moralismos e os meus amigos, só os altamente seleccionados lá poriam os pés. Os outros não iriam.

E ai dos turistas que se portassem mal! Eram corridos dali para fora e tanto me fazia que fugissem á pressa em barcos daqueles insufláveis que existem nas lojas chinesas. Por falar nisso, a minha viagem para lá seria feita inteiramente de barco. Se o barco fosse descoberto e desse para ver as estrelas e a Lua, era maravilhoso. Já há muito que tenho esse sonho de navegar em alto mar assim. Quando há tempos reli “Os Lusíadas” esse sonho reacendeu no meu espírito. Como quem ganha o Euromilhões fica mais excêntrico do que nunca, toca de dar largas a essa excentricidade. Nem que se demore mais de dois anos a chegar ao destino! Vai valer a pena, oh se vai!

Como não ganho o Euromilhões, nem compro uma ilha para fazer o que quiser, por aqui vou gozando mais uma folga na companhia dos meus amigos, por acaso os mesmos que levaria para a tal ilha distante. Há muito que não passava um dia assim!

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