Wednesday, July 14, 2010

Marcha do gás-pimenta

Tomando conhecimento de que houve alguns desacatos nos festejos de S. João na Figueira da Foz, a nossa equipa de reportagem meteu pés ao caminho, preparou também as coisas para ir à praia e lá partiu.

O assunto ainda dominava a actualidade dos figueirenses em algumas tascas pouco recomendáveis com cheiro a peixe da véspera e a vinho azedo.

Na rua, uma mulher aí com uns sessenta anos e com uma bata muito suja discutia e gesticulava com uma pequena assistência de outras duas pessoas que se limitavam a acenar com a cabeça afirmativamente.

O motivo da exaltação era ainda o que se havia passado na véspera. Achámos que havíamos encontrado a pessoa perfeita para nos informar sobre o que se passou. Foi à terceira tentativa que a senhora finalmente deu conta de que alguém estava a falar com ela. É que ela continuava a discutir e a gesticular. O suor já lhe escorria em bica pelo rosto que já ganhava uma tonalidade entre o vermelho e o lilás.

Quisemos saber algo mais sobre a nossa interlocutora, se estava presente in loco ou não aquando dos desacatos com a Polícia e o que os havia provocado.

Adelaide Nóbrega, 63 anos, natural e residente na Figueira da Foz não perdia por nada o S. João. A doméstica que é viúva vive estas festividades com alguma emoção e, uns dias antes, já se mostra ansiosa por ir assistir ao desfile das marchas populares na Avenida 25 de Abril.

Afinal o que se passou este ano? “Estávamos todos ansiosos por ver as marchas. Diziam que algumas estavam mesmo muito bonitas. Só que não conseguimos ver coisa nenhuma, só as cabeçorras dos músicos. Eu já estava com os azeites mas deixei-me estar quieta. Houve gente que foi protestar junto do júri e deu no que deu.”

Adelaide Nóbrega recorda com emoção a chegada da Polícia para acalmar a multidão. “Alguém chamou a guarda e nós ficámos ainda mais furiosos. Os polícias abusam da autoridade e já se preparavam para nos atacar com bastonadas. Ouça, nós só queríamos ver as marchas em condições”

E não agrediram a Polícia? “Eu não. Juro pela minha mãezinha que está no Céu que não toquei num único botão da farda dos polícias. Se houve alguém que agrediu polícias, foi muito bem feita. Ninguém os mandou meterem-se connosco. Nós só queríamos ver as marchas como devia ser.”

A nossa interlocutora desconhece que tenham tirado o gás pimenta a um dos polícias e lho tenham jogado contra ele próprio. Contámos-lhe este episódio e a nossa entrevistada quase se desfez em lágrimas de tanto rir. “Isso foram coisas da Maria da Petinga que estava a protestar enfiar uma vassoira em cada uma das cabeças que se enfiassem à frente e não nos deixassem ver as marchas. Ela já estava enervada. Meterem-se com ela não é nada aconselhável.”

E está assim contada a história de uma verdadeira noite de S. João em que o arraial...de porrada não faltou. Para o ano o S. João decorrerá sem incidentes e, de preferência, com um coreto de músicos lá do alto a tocar para a multidão poder ver as marchas tal como esperou o ano inteiro.

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