Monday, July 26, 2010

Com dignidade e empenho

Não é novidade para ninguém, faço mesmo questão em não esconder, que não estou muito satisfeita no local onde estou a trabalhar. Os motivos são vários, bastante diversificados e já têm sido expostos em textos anteriores que eu tenho andado a escrever ultimamente como forma de descarregar o que me vai na alma.

Fico lisonjeada quando a entidade patronal me dá aval positivo e quer que eu continue para alem do términos do meu contrato. Sinto-me um pouco desconfortável ao saber que os desaponto por alegadamente não poder continuar. Esta ambiguidade no meu interior está a deixar-me sem saber o que fazer da minha vida.

Uma decisão eu já tomei. Irei continuar até 1 de Setembro a demonstrar todo o meu empenho nas minhas tarefas laborais, aconteça o que acontecer dali para a frente. Com toda a dignidade tentarei suportar até lá todos os obstáculos físicos e psicológicos que possam surgir ainda para além do que já aconteceu e que não foi nada agradável para o meu estado de espírito que nos últimos dias tem sofrido com a recordação de datas e acontecimentos que eram dispensáveis na minha vida e que, graças a eles, hoje estou na situação em que estou quando podia ter tudo a que tinha direito.

Custa um pouco chegar ao pé de alguém que depositou grande confiança em mim e dizer que, em princípio, não irei continuar. Apesar de agradecer tudo o que fizeram por mim e por me terem dado a oportunidade de demonstrar as minhas capacidades- coisa que quase nenhuma empresa faz por nós em Portugal- valores mais altos se levantam.

A saúde mental e física é, sem dúvida, o maior desses valores. São conhecidas as minhas limitações em fazer certo tipo de tarefas, as mesmas limitações que arruinaram a minha carreira desportiva há seis anos atrás. Em inícios de Setembro irei ter uma consulta e aí se verá o que está a acontecer com a minha situação. Tenho um pouco de receio que esteja algo a correr mal por estar exposta a situações de risco. Não estou apenas a falar da exposição ao esforço físico. Também a pressão psicológica poderá levar ao agravamento da minha saúde ocular.

Falo da frustração que sinto por ver que os meus colegas desempenham com mis eficácia e rapidez todos os tipos de tarefas. Digo-lhe que é frustrante para eles verem-me alegadamente a render menos. Digo-lhe que o que os meus colegas poderão sentir em relação a mim é legítimo e perfeitamente normal. Que só ando a atrapalhar o trabalho deles, que não mereço sequer vencimento. Ele argumenta que a minha contratação foi um risco calculado, que muito faço eu, que apesar de alegadamente não ser tão produtiva como os meus colegas, me esforço mais do que eles por executar as tarefas com as limitações que tenho. Tem toda a razão. Há dias em que chego a casa de rastos, completamente esgotada.

Para além da minha frustração em ser menos produtiva que os outros, também vivo com a frustração de ter estudado, de ter algum talento e de estar ali presa até não sei quando. Isso assusta-me e entristece-me ao pensar que se estão a esgotar todas as possibilidades de fazer aquilo de que gosto. A forma como vim ali parar após uma gigantesca e indesejável volta que deu a minha vida também é um factor negativo. Tinha tudo em determinada altura para singrar na vida, apenas me faltou sorte e saúde. Isto é que é difícil de compreender por colegas minhas e por quem está de fora.

Tenho tido algumas ideias ultimamente a pensar no meu futuro, tenho reflectido imenso e chegado a algumas conclusões. Disse-me um amigo meu que uma pessoa com deficiência não é ninguém se não tiver uma profissão ligada às artes. Cada vez mais me convenço disso. Ele é músico. Não ganha muito mas vai ganhando o suficiente para ir investindo cada vez com mais força naquilo que lhe dá prazer- tocar, cantar e compor para vários grupos e artistas. Igualmente tenho outros amigos que vingam em profissões artísticas e no Desporto, tal como eu um dia logrei vingar. Sendo artista, seja em que área for, a sociedade vai olhar para a pessoa deficiente como uma pessoa capaz. Ninguém a pressiona. Tudo o que ela faz é fruto do talento que tem. As dificuldades que, por exemplo, eu agora estou a sentir por causa da produtividade e da competição não se colocam. Temos um trabalho único e consentâneo com as nossas dificuldades e limitações. Se um dia vier a ser reconhecido, não será por pena ou caridade, será por mérito nosso.

De há cerca de um mês a esta parte que cada vez mais me vou vendo a fazer algo na escrita criativa. Desde os tempos em que andava na escola primária até ao Ensino Superior, tive professores que sempre me gabavam o talento para escrever. Enveredando por aí resolveria muitos problemas. Para já a falta de visão não seria um entrave. Mesmo quando cegasse completamente poderia continuar a escrever. Quer as pessoas queiram, quer não, isso é o que me espera. Quando esse dia chegar não sei o que irei fazer. Foi por um dia destes ter chegado a casa e ter notado a sala mais escura numa bela tarde de Sol que esta ideia ganhou força. Há dias em que eu vejo melhor do que em outros. Em dias que eu vejo pior penso sempre que será o fim e fico deprimida.

Depois há os meus pais, principalmente a minha mãe, que está um pouco frustrada com o emprego que arranjei. Naturalmente que ela queria que eu arranjasse algo relacionado com o meu curso. Para eu fazer com que ela se sinta mais orgulhosa na sua velhice, tenho de escrever. Lembro-me que ela andou de porta em porta lá na aldeia com um pequeno conjunto de folhas que eu escrevi para um trabalho académico. Toda a gente gostou e ela veio do lugar a resplandecer de felicidade. E aquilo não era nada.

Gostaria de escrever um livro. Sobre quê? Para começar escreveria a minha biografia. A minha vida já tem muito que contar, apesar de ser relativamente jovem. Outro projecto engraçado seria a ideia que nasceu neste mesmo espaço- a descrição de sonhos. Será que alguém no Mundo se lembrou disso? Já tenho alguns, os que fui publicando aqui no blog e outros que foram sendo escritos na esperança de também virem para aqui mas houve um atraso enorme e eles não vieram aqui parar. Ainda continuam guardados no computador e por editar. Alguns são bem engraçados.

Como estou a trabalhar, mal tenho tempo para descansar, quanto mais para escrever. É isto que me entristece- estar presa a um emprego que não me dá prazer, que me absorve e me frustra.

Sinceramente não sei o que fazer à minha vida.

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