Friday, July 30, 2010

Discutiram por minha causa

Como já não vou mais a casa antes das merecidas férias, hoje trouxe já o saco que hei-de levar para a praia. Tinha folga e fui para Coimbra de tarde. Estive ainda algum tempo à espera do autocarro. Encostei o enorme saco encarnado que já tem histórias de viagens para contar ao banco da paragem e fui matando o tempo a ouvir música.

Quando a camioneta da TRANSDEV chegou, perguntei ao condutor onde podia colocar o saco. Ele disse que tinha de ir pela porta de trás mas esta parecia-me fechada. Ele voltou a repetir, desta vez aos berros. Foi aí que uma passageira se atirou a ele como uma fera temível. Com uma voz incrivelmente aguda, a senhora tratou de dizer ao condutor que eu era deficiente e acrescentou mesmo:
- NÃO É PRECISO USAR ÓCULOS PARA VER ISSO.

O condutor defendeu-se com o facto de não me conhecer. Eu entrei e dei o dinheiro trocado ao condutor que continuava empenhado em discutir com a passageira que o acusava de não ter sensibilidade nem educação. O homem transpirava imenso, trazia a camisa desabotoada até meio do tronco (apesar do calor, aquilo não eram maneiras de se apresentar) e estava vermelho, quase a ponto de ter uma apoplexia a qualquer instante. Entretanto a passageira discutia com ele e espetava-lhe os dedos em riste quase na cara.

Eu fui para trás, para onde estava o meu saco que entretanto alguém (não sei se a mesma pessoa) me ajudou a colocar lá. Desliguei a música por momentos e empenhei-me em ouvir a discussão que estava no auge. O conteúdo não passava das mútuas acusações de falta de respeito e educação.

As coisas acalmaram um pouco, apesar de o condutor ter perguntado à sua antagonista se esta o ia enervar o resto da viagem. A viagem não durou muito para a minha defensora. Numa terra cujo nome agora não me ocorre, algures entre Anadia e Mealhada, ela saiu. Para a despedida, novo round ainda mais intenso começou. Segundo a passageira, o condutor não tinha parado no local indicado para ela sair. De ao pé de onde eu estava ela gritou:
-MAS EU TOQUEI A CAMPAÍNHA E O SENHOR NÃO ME DEIXA SAIR?

Recuperando a animosidade de há uns minutos atrás, o condutor respondeu que a paragem estava á esquerda. Novas acusações de falta de educação e de profissionalismo foram proferidas alto e bom som.
- Tenho de aturar de tudo?- rosnou o condutor para os outros passageiros quando finalmente a sua antagonista saiu também a resmungar.

De referir que o condutor veio um bom pedaço a insurgir-se contra aquela passageira já depois de ela ter saído. O motivo da discussão, o meu saco, foi relembrado. O funcionário da TRANSDEV foi mais longe ao questionar como é que o marido da sua opositora a aturava. É que ele só a viu daquela vez e já estava farto dela.

Não sei se foi o motorista, se foram os seus interlocutores que mudaram a conversa de rumo. O assunto da passageira que se insurgiu contra o motorista por este não me vir ajudar e, mais tarde, por alegadamente a ter deixado mais à frente na paragem cessou.

Para a história fica então uma discussão bem acesa por minha causa à qual eu assisti de camarote, ou melhor, sentada num dos bancos do mesmo autocarro em que ela teve lugar. Não mexi uma palha para intervir.

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