Friday, September 01, 2006

Desmontar o cenário



E chegaram ao fim os campeonatos de Ginástica Acrobática para grande pena minha. Uma vaga saudade já se apoderava de mim e, mal tinha chegado a casa, já revia as fotos que tirei ao longo de duas semanas a pessoas que nunca mais irei ver.

Foram duas semanas que valeram a pena. Conheci gente diferente, vivi situações divertidas e passei a conhecer um Desporto do qual pouco ou nada sabia. Agora tudo acabava e estava só outra vez a recordar as pessoas que encontrei ao longo deste tempo. Foi aí que constatei que aqueles holandeses que andavam nas imediações do Pavilhão não faziam parte da Ginástica. Eram apenas curiosos que andavam por ali. De qualquer maneira, tenho fotos com eles também.

Depois de umas poucas horas de descanso, fomos ainda para o Pavilhão desmontar o cenário. Antes disso fomos almoçar, mas o apetite era pouco porque tinha tomado o pequeno-almoço há pouco tempo. Esperava-nos uma tarde de trabalho árduo, principalmente a desmontar praticáveis.

No palco principal ainda restavam vestígios da competição. Folhas, flores, garrafas de água e cartazes de apoio ainda se podiam observar por ali. Um cartaz enorme (ver foto) verde e amarelo que os australianos fizeram para apoiar os colegas encontrava-se caído sob as bancadas. Apanhei-o e guardei-o entre as minhas coisas. Seria uma óptima recordação de fim de festa.

Começámos pelo pavilhão insuflável onde os atletas aqueciam. Não éramos muitos. Com toda a garra fomos arrancando alcatifas e blocos de madeira do chão para serem embalados. Entre nós havia um rapaz que não conhecíamos. Era...holandês, mas não parecia. Tinha cabelos escuros e facilmente se confundiria com qualquer lusitano devido à sua aparência mais latina. Se eu não lhe perguntasse de onde era, não chegava lá.

Em dia de jogo entre Portugal e a Holanda, ele passou a ser a vítima de todas as piadas. Eu ainda mudei de assunto e ainda lhe falei de Ciclismo. Aí já havia consenso. Afinal ele percebia alguma coisa do assunto. O que eu não percebia era de enrolar as fitas que suportavam os blocos de madeira.

Aos poucos o pavimento voltou a ver a luz do Sol e fomos tirar alcatifas para o palco principal. Agarrámo-nos com unhas e dentes ao praticável que, no dia anterior, aguentou com centenas de pessoas lá em cima a saltar. Se ele falasse...Parece que aquele praticável- de origem holandesa tal como o outro- ainda ia para um campeonato que ia decorrer em Portimão.

Os holandeses podiam perder com Portugal de goleada, mas de praticáveis resistentes percebem eles. É que ainda foi dito por graça que o grande teste à qualidade do produto tinha sido feito ali aquando do encerramento. Eles estavam de parabéns por fabricarem um produto de elevada resistência e qualidade superior.

A cortina negra que envolvia o Pavilhão caiu finalmente. Significava o final da nossa participação neste evento que foi espectacular a todos os níveis. O balanço é bastante positivo pela minha parte. Espero por mais eventos com este para sair um pouco da monotonia que é a minha vida.

Para o encerramento havia a entrega de certificados e iríamos jantar na cantina. Como estava em cima da hora para começar aquele emocionante jogo- principalmente para mim- abdiquei do jantar e despedi-me com ar saudoso. Ficava a promessa de um encontro entre todos mais tarde.

Quando cheguei a casa já o Cristiano Ronaldo estava a ser massacrado com entradas duras do lateral direito holandês. Daí a poucos minutos, o jogador madeirense foi obrigado a abandonar o jogo lavado em lágrimas.

Aquele jogo era de loucos. De parte a parte havia excesso de ímpeto e Costinha já estava expulso.

A batalha prosseguiu com entradas duras, falta de fair play e insultos. Deco acabou por ir para a rua devido a responder à letra a jogadores holandeses que andavam já de cabeça perdida por o resultado já lhes ser desfavorável. É que o Maniche deve ter algo contra holandeses. Sempre que joga com eles corre-os com ameixas monumentais. Já no Euro 2004 assim foi.

Qualquer pessoa que estivesse pouco familiarizada com o jogo a que estava a assistir, à primeira vista, iria julgar que se tratava de um jogo entre duas equipas da América Latina. As semelhanças eram por demais evidentes. Como a Argentina, o Paraguai e o Brasil andavam a portar-se bem, vieram os europeus mostrar que também sabem algo de batalhas campais. Nunca vi nada assim entre duas equipas europeias.

Portugal acabou por seguir em frente, apesar de ter perdido Costinha e Deco para o próximo jogo.

Situação do dia:
O jogo estava tão quente, tão emocionante, tão disputado que os repórteres da SIC mandaram às urtigas o conceito de imparcialidade. Quando Portugal já alinhava com nove jogadores e a Holanda com dez, o relator com a emoção à flor da pele e após uma entrada de Van Bronckhorst disse o seguinte:
-“ E Van Bronckhorst vai ver o segundo cartão amarelo! RUA!!!”
Se fosse possível, acho que o próprio jornalista se encarregaria de expulsar o jogador holandês que alinha no Barcelona.

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