Sunday, August 27, 2006

Valeu a pena ter ficado


Já se sabe que ao sábado nunca me levanto a horas. Nem que eu prometa levantar-me cedo.

,Levantei-me tão tarde que nem vi o par masculino do Kazaquistão a fazer um brilharete de maneira a conseguir a medalha de bronze.

Como era à entrada que se passavam as coisas mais hilariantes e como tínhamos de esperar pela jornada da noite, foi lá que fui passar o tempo. Não estava sol, mas a temperatura estava agradável para se estar ali.

Um grupo de crianças pedia autógrafos a outras crianças da idade delas ou até mais pequenas. O menino do Kazaquistão que tinha ganho a medalha de bronze parecia um pequeno herói a assinar autógrafos a outros meninos e meninas. Era uma cena curiosa!

Voltei a tirar fotos por ali. Estava quase toda a gente naquela zona. Havia gente com mascotes (bonecos de peluche) e com outros artefactos para apoiarem os colegas que iam competir daí a nada.

Mais uma vez, foi com os holandeses que eu mais convivi. Não é coincidência. Eu sempre os procuro. Foi nessa confusão que apareceram vindas sei lá de onde umas pessoas. Vindas da Holanda, certamente. Só algumas horas depois ao ver as fotos me apercebi que aquelas pessoas nada tinam a ver com a Ginástica. Provavelmente iam assistir às provas.

Alguns já estavam preparados a rigor para o jogo que ia acontecer entre a Holanda e Portugal. A conversa seguia animada, as fotos sucediam-se, o ambiente estava divertido. Foi então que alguém me ofereceu um chapéu laranja que eu não iria largar mais durante esse dia. Era de meter inveja!

Vinha uma australiana com muitos balões verdes e amarelos. Chegada à rua, a moça desatou a rebentá-los numa zona com uma acústica fantástica para pôr toda a gente em estado de alerta. Com a ameaça de terrorismo que por aí anda...Ainda houve alguém que perguntou com ar assustado:
- “Que é isso?! Anda aí a guerra?”
Um colega nosso que estava a guardar a porta disse em voz bem alta para a menina, como se o tom de voz mais elevado a levasse a perceber o que lhe diziam:
- “Agora vais pôr isso no lixo!”
Ela lá apanhou o que restava da “guerra” e foi pôr no lixo.

A contagem decrescente para o final da última semana de campeonatos já se fazia sentir. Faltava uma jornada de provas antes de ser dado um ponto final nos eventos que deram um outro colorido à cidade de Coimbra e (porque não?) à minha vida. A cerimónia de encerramento estava aí e iria ser um momento marcante. Algo inesquecível.

Tudo se passou exactamente como na passada semana. Chamaram todos os intervenientes ao palco. Só que as pessoas eram deferentes. Havia muita juventude e mais alegria. Isso levaria a que o desfecho fosse outro. Tocava a famosa música “Love Generation” e toda a gente exteriorizava toda a felicidade que sentia. Ginastas, voluntários e outros participantes davam as mãos. Já de si estava a ser um momento bonito. Foi então que toda a gente se precipitou de forma espontânea para o praticável e começou a saltar e a cantar aquela música que toda a gente sabe de cor e que acabaria por marcar a vida de cada um.

Crianças e adultos, negros e brancos, homens e mulheres, juízes e atletas, dirigentes e voluntários, todos deram as mãos e participaram no fim de festa mais bonito e mais alegre que alguma vez vi. Cada vez que saltava naquele praticável sentia que ia mais além, que era o meu espírito que se elevava, tinha a sensação de voar. Tudo parecia um sonho. Estava rodeada de gente de todos os cantos do Mundo e isso dava-me uma enorme satisfação. Comecei por dar a mão a um menino da África do Sul e vi-me depois rodeada por pessoas de vestes coloridas que estavam tão felizes como eu.

Pela instalação sonora era pedido para nos sentarmos todos no chão para serem ouvidos os habituais discursos de encerramento. Ninguém ouvia, tal era a animação. Só ao fim de três ou quatro pedidos, toda a gente se sentou no praticável. Estava rodeada de pessoas que já não eram as mesmas que, momentos antes, saltavam comigo. O que interessava era aproveitar aquele momento de felicidade que estava a ser marcante.

Aquele final de festa foi emocionante porque tudo se passou sem que nada fosse premeditado. Alguém teve a ideia de ir para o praticável e as largas centenas de pessoas que se encontravam ali seguiram atrás. Como é incrível o comportamento colectivo! Quem quer que terá sido a primeira pessoa a invadir o praticável, contribuiu para um excelente momento de união da comunidade desportiva. Nunca vi nada assim tão bonito e tão espectacular.

Valeu a pena ter ficado por Coimbra. Aquele momento acabou por ser um merecido prémio. Já não contava viver uma situação destas e ainda bem que isto aconteceu. Para recordar para o resto da minha vida!

Passada a euforia e porque tudo o que é bom acaba depressa, era chegada a hora de irmos para a festa que era longe do Pavilhão. No outro dia a festa foi no Estádio por haver instabilidade climatérica. Não foi preciso apanhar transportes. Desta vez, o evento iria ser na Escola Superior Agrária. Era longe e toda a gente tinha de arranjar lugares nos autocarros.

Fui num autocarro que já abarrotava de gente. Já ia junto à porta de entrada. Ali estava também um senhor holandês. Tinha de ser! E eu que não tinha largado aquele chapéu laranja. O jogo entre a Nossa Selecção e a “Laranja Mecânica” era tema de conversa.

O autocarro não podia parar mais perto do local da festa. Antes de chegarmos, tínhamos de percorrer a pé um caminho sinuoso e mal iluminado. Estavam tramadas as pessoas que bebessem uns copitos a mais.

A brisa da noite trazia um desagradável cheiro a bosta e a estábulo. Estávamos na Escola Superior Agrária. Depois já toda a gente se tinha habituado àqueles aromas bem rurais e já se podia comer. É que as mesas estavam repletas de petiscos variados. A dificuldade era escolher o que se devia comer.

Como tenho vindo a referir, os elementos das delegações não são os mesmos. Fiquei algo desapontada ao ver o comportamento dos elementos de uma certa delegação cujos seus representantes arrasaram com a sua dança na semana anterior. (ver texto “O rapaz da camisola vermelha e seus acompanhantes”) Os caríssimos senhores e senhoras preferiram disfrutar da gastronomia portuguesa

Toda a gente andava empenhada em trocar lembranças. Eu dei uma das minhas camisolas ao menino de Kazaquistão que ganhou a medalha de bronze. Tinha pins, um pequeno galhardete de Hong Kong e uma caixa de rebuçados que me deram os americanos. Tinha perguntado, horas antes, a umas raparigas da Alemanha se elas tinham algo para trocar. Só ao final da noite é que elas decidiram dar-me um cachecol da Selecção Alemã em troca da camisola. Mais vale tarde que nunca. Com o chapéu laranja da Holanda e o cachecol da Alemanha, fiquei a matar. (ver foto)

A festa chegava assim ao final. O último autocarro ia partir e eu tinha de arranjar maneira de ficar perto de casa. Custou a convencer o motorista. Por fim, ele sempre me deixou ficar junto ao Estádio. É que já eram horas impróprias de andar na rua!

Situação do dia:
Toupeira dum raio! Numa altura em que já havia muitas camisolas trocadas, vi alguém com uma camisola de voluntário e perguntei-lhe a que horas é que vinha o autocarro. O problema é que aquele não era nenhum voluntário. Era um membro da delegação de...Hong Kong!

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